terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Pelo telefone , nas avenidas e no campus

 


O  samba abre caminho na passarela da formação da identidade cultural brasileira a partir de 1916. Composto por  negros nos  morros , pelas  camadas mais pobres , pelos  brancos letrados , ele foi criando raízes por onde  passou . Além de  ser  estudado nas salas de aula , o gênero também é  tocado  por  váriosgrupos na  universidade , seja  nas rodas de samba das  faculdades . 

No  início do século XX ,o ponto de encontro dos  jovens músicos cariocas  era a casa  da  Tia Ciata , cozi-nheira  baiana , mãe  de  santo e  símbolo da  resistência da cultura  negra  no  Rio de  Janeiro . Lá  João da  Baiana , Pixinguinha , Sinhô , Donga ,entre outros ,costumavam  jogar  versos nos saraus enquanto tocavam. Assim surgiu   “  Pelo Telefone “  do  violonista  Donga e do  jornalista Mauro de  Almeida , primeiro samba gravado na  história da  música brasileira . Ao  longo do  tempo , o  Gênero  sofreu  transformações  como a  mudança  de acentuação  rítmica , permitindo  que  fosse  mais  “dançado” para desfilar . Ismael  Silva , Bide e  Marçal são os responsáveis pelo feito ,além de terem criado primeira  escola  de samba , a  “ Deixa Falar ", em … ,  que  depois  virou  a  Estácio e houve  a entrada de  instrumentos  como a  cuíca , com a  imperme-abilidade ,incorporou as novidades musicais  vindas do  caribe e  dos  Estados Unidos . 

Quem passa  pela   avenida da  Raia ou pela  praça do  Relógio  consegue ouvir a  batucada que  as  baterias universitárias diariamente fazem . Só na  USP , existem mais de  20 grupos formados pro alunos que  ensaiam para tocar nos jogos e nas  competições técnicas de  samba . O  envolvimento das  pessoas fez  surgir grupos maiores com  pessoas de  faculdades diferentes e  até  de  fora da universidade como o  Bloco  da  USP  e o  Batucada  Samba Clube . Embora ambos não existam  mais , eles  deixaram  heranças  interessantes  : o  pri-meiro transformou-se  no Cordão da  USP que , se-guindo a  tradição , tem  samba enredo e  estandarte pró-prios , já o  segundo que  desfilou pela  primeira vez nas  prévias carnavalescas deste  ano com  cerca de  250  ritmistas  de 50  diferentes baterias . Marcelo Garcia , cofundador do Cordão ,defende que  “  o samba  deve  estar  presente na  Universidade , assim  como o funk , o  maracatu , o  teatro  e  todas  outras  manifestações  culturais cabíveis .O  encontro ,o evento em si  proporciona  ambiente ímpar , democrático e construtivo para troca de  pontos  de  vista  e  opiniões  “  .  Com  essa visão , ele  acredita que  as  Baterias Universitárias da USP deixaram de  ser um  mero espaço de  batuque ,assim como o samba nunca  deixou de  ser um  símbolo  de  resistência  política , por  proporcionar  o encontro de  pessoas  que  percebem e  discutem questões co-mo  o feminismo e a  apropriação cultural .                      '

 Há  ainda diversas rodas  de  samba que  acontecem no  campus . Todas  as  primeiras  segundas -  feiras  do mês  um  grupo se reúne  na  Psicologia e todas  quartas-feiras outro grupo se encontra na  Faculdade de  Ar-quitetura e  Urbanismo .Além das que acontecem  esporadicamente na  Pedagogia , na  Física .Para  Marcelo Moreno , aluno da  Fau  e  frequentador da  roda de  samba ,o  encontro  tem  importância similar a  de qual-quer outro tipo de  organização estudantil  como atlética  ou  atividades  extracurriculares ,  como  as  festas . " Você tem  contato com  gente  que  as  vezes não teria , aprende  outros  tipos de  coisas  que  as  aulas  não oferecem  " , afirma  Moreno .

Por  ter sido o gênero mais  gravado , o  samba  transformou - se  em um dos principais componentes da cul-tura brasileira .  "  É  como se a  tradição do  samba  fosse  inventada e  cultivada . A  partir de um momento , ela  simplesmente  passou a  fazer  parte  do imaginário  e do  universo de  vida  das  pessoas  " reflete  Ivan Vilela , professor do  departamento de  Música da  escola de Comunicações e  Artes .Na  história destacam-se  grandes  sambistas que em algum momento vão influenciar ou já  influenciaram as pessoas que entram em contato com o gênero .Noel  Rosa , uma vez que suas músicas  retratavam o cotidiano da  cidade .Já Cartola  seguia  um  caminho  mais  subjetivo , ligado  às questões  amorosas , em suas  composições .O  sambista e  sua  mulher , Zica , eram  donos  do  ZiCartola  , restaurante  da  Rua da  carioca que se tornou  reduto dos  boêmios , intelectuais  e  sambistas  entre 1963  e  1965 . Dona  Ivone Lara aparece  na  história secular ,as-sim  como  Clementina  de Jesus . Por fim , a  madrinha do samba , Beth  Carvalho  que com  seu  cavaco e  voz imponente  continua  encantando com  suas  interpretações . 

A  batucada  brasileira continua  viva  nos  morros , nos  palcos , nos  cinemas , nas  ruas e bares , nos  fones de  ouvidos , nos  serviços de  streaming e na  Universidade . " Os  jovens  encontraram  uma  maneira de re- sistência  cultural que é  resgatar  o  samba , diante de  um  mercado , que é  avassalador , no  sentido de de-senraizar , de alienar musical e  culturamente as  pessoas  "  , defende  Ivan  Vilela . Conhecer  um  pouco  a  história do samba é  descobrir  um  retrato do  cotidiano do  Rio de Janeiro nas  décadas  de  1930 e  1940 , constatar a  deselegância  nem  tão discreta assim da garotas  paulistanas  e usar a  música como instrumento de  resistência e  batalha  por causas que  sejam  tão  parecidas com as  de 100 anos  atrás .

Fonte  -  JORNAL  DO  CAMPUS   PRIMEIRA  QUINZENA                                                                  Maio  - 2016  -  CULTURA   -  GUILHERME   CAETANO 




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