No início do século XX ,o ponto de encontro dos jovens músicos cariocas era a casa da Tia Ciata , cozi-nheira baiana , mãe de santo e símbolo da resistência da cultura negra no Rio de Janeiro . Lá João da Baiana , Pixinguinha , Sinhô , Donga ,entre outros ,costumavam jogar versos nos saraus enquanto tocavam. Assim surgiu “ Pelo Telefone “ do violonista Donga e do jornalista Mauro de Almeida , primeiro samba gravado na história da música brasileira . Ao longo do tempo , o Gênero sofreu transformações como a mudança de acentuação rítmica , permitindo que fosse mais “dançado” para desfilar . Ismael Silva , Bide e Marçal são os responsáveis pelo feito ,além de terem criado primeira escola de samba , a “ Deixa Falar ", em … , que depois virou a Estácio e houve a entrada de instrumentos como a cuíca , com a imperme-abilidade ,incorporou as novidades musicais vindas do caribe e dos Estados Unidos .
Quem passa pela avenida da Raia ou pela praça do Relógio consegue ouvir a batucada que as baterias universitárias diariamente fazem . Só na USP , existem mais de 20 grupos formados pro alunos que ensaiam para tocar nos jogos e nas competições técnicas de samba . O envolvimento das pessoas fez surgir grupos maiores com pessoas de faculdades diferentes e até de fora da universidade como o Bloco da USP e o Batucada Samba Clube . Embora ambos não existam mais , eles deixaram heranças interessantes : o pri-meiro transformou-se no Cordão da USP que , se-guindo a tradição , tem samba enredo e estandarte pró-prios , já o segundo que desfilou pela primeira vez nas prévias carnavalescas deste ano com cerca de 250 ritmistas de 50 diferentes baterias . Marcelo Garcia , cofundador do Cordão ,defende que “ o samba deve estar presente na Universidade , assim como o funk , o maracatu , o teatro e todas outras manifestações culturais cabíveis .O encontro ,o evento em si proporciona ambiente ímpar , democrático e construtivo para troca de pontos de vista e opiniões “ . Com essa visão , ele acredita que as Baterias Universitárias da USP deixaram de ser um mero espaço de batuque ,assim como o samba nunca deixou de ser um símbolo de resistência política , por proporcionar o encontro de pessoas que percebem e discutem questões co-mo o feminismo e a apropriação cultural . '
Há ainda diversas rodas de samba que acontecem no campus . Todas as primeiras segundas - feiras do mês um grupo se reúne na Psicologia e todas quartas-feiras outro grupo se encontra na Faculdade de Ar-quitetura e Urbanismo .Além das que acontecem esporadicamente na Pedagogia , na Física .Para Marcelo Moreno , aluno da Fau e frequentador da roda de samba ,o encontro tem importância similar a de qual-quer outro tipo de organização estudantil como atlética ou atividades extracurriculares , como as festas . " Você tem contato com gente que as vezes não teria , aprende outros tipos de coisas que as aulas não oferecem " , afirma Moreno .
Por ter sido o gênero mais gravado , o samba transformou - se em um dos principais componentes da cul-tura brasileira . " É como se a tradição do samba fosse inventada e cultivada . A partir de um momento , ela simplesmente passou a fazer parte do imaginário e do universo de vida das pessoas " reflete Ivan Vilela , professor do departamento de Música da escola de Comunicações e Artes .Na história destacam-se grandes sambistas que em algum momento vão influenciar ou já influenciaram as pessoas que entram em contato com o gênero .Noel Rosa , uma vez que suas músicas retratavam o cotidiano da cidade .Já Cartola seguia um caminho mais subjetivo , ligado às questões amorosas , em suas composições .O sambista e sua mulher , Zica , eram donos do ZiCartola , restaurante da Rua da carioca que se tornou reduto dos boêmios , intelectuais e sambistas entre 1963 e 1965 . Dona Ivone Lara aparece na história secular ,as-sim como Clementina de Jesus . Por fim , a madrinha do samba , Beth Carvalho que com seu cavaco e voz imponente continua encantando com suas interpretações .
A batucada brasileira continua viva nos morros , nos palcos , nos cinemas , nas ruas e bares , nos fones de ouvidos , nos serviços de streaming e na Universidade . " Os jovens encontraram uma maneira de re- sistência cultural que é resgatar o samba , diante de um mercado , que é avassalador , no sentido de de-senraizar , de alienar musical e culturamente as pessoas " , defende Ivan Vilela . Conhecer um pouco a história do samba é descobrir um retrato do cotidiano do Rio de Janeiro nas décadas de 1930 e 1940 , constatar a deselegância nem tão discreta assim da garotas paulistanas e usar a música como instrumento de resistência e batalha por causas que sejam tão parecidas com as de 100 anos atrás .
Fonte - JORNAL DO CAMPUS PRIMEIRA QUINZENA Maio - 2016 - CULTURA - GUILHERME CAETANO
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