terça-feira, 15 de outubro de 2019

Irmã Dulce - A 1ª brasileira a ser canonizada



O  caminho é complexo e demorado até um religioso ser considerado “ santo “ pela Igreja  Católica .Primeiro ele é " servo  de  Deus " , depois é proclamado " venerável " e , caso se prove um milagre por sua graça , é beatificado . O milagre responsável pela beatificação de Irmã Dulce foi a recuperação de uma paciente que teve grave hemorragia pós-parto e cujo sangramento parou , de repente , sem intervenção médica .

A canonização acontece com a comprovação de um segundo milagre . No caso , exames de um paciente cego mostravam uma visão extremamente comprometida . Ele , que andava com cão-guia , passou a enxergar normalmente . A data da canonização de Irmã Dulce será marcada para julho , quando o Papa anunciará oficialmente de quem foram reconhecidos os milagres. Somente a partir da Missa e Canonização , o Papa proclama e entra no catálogo dos santos é que se pode chamar Santa Dulce dos Pobres , e que se poderá celebrar missa em qualquer lugar do mundo .

Irmã Dulce tornou-se exemplo de bondade e amor , tendo sido apelidada de Anjo  da Bahia  . Aos 13 anos , já cuidava de mendigos e enfermos em sua casa . Depois , ingressou para o convento . Após os votos de profissão de fé , quando recebeu o nome de Irmã Dulce , em homenagem à sua mãe , foi designada enfermeira . Mais tarde , tornou-se professora de geografia , mas como não demonstrava muito interesse pela atividade , conseguiu autorização para fazer o que realmente gostava : visitar as favelas aos domingos , para socorrer os necessitados . Foram muitos anos perambulando pelas ruas de Salvador , pedindo esmolas para os seus pobres e enfrentando preconceitos , inimigos e machismo .

Em 1937 fundou o Círculo Operário da Bahia e , já nessa época , acalentava o desejo de ter um hospital , inaugurado em 1970 . Ampliado em 1983 , o Hospital de Santo Antônio é uma das principais e mais famosas obras da religiosa . Segundo a instituição , nos últimos 25 anos a entidade contabilizou 60 milhões de atendimentos ambulatoriais e mais de 280 mil cirurgias realizadas , o que dá uma média de 30 cirurgias por dia .

Com a saúde debilitada , Irmã Dulce tinha um terço da capacidade respiratória de uma pessoa normal , a religiosa morreu em 13 de março de 1992 , aos 77 anos , depois de 16 meses de agonia internada em um hospital .

Fonte  -  Jornal   OPÇÃO  NATURAL    -  pág 22 
Rio  de  Janeiro  - 2019   -  Centelha  Divina 



A  caridade  da  Beata  Irmã  Dulce 

Maria Rita era o nome de batismo de Irmão Dulce , que tomou esse nome religioso em homenagem à sua mãe , a senhora Dulce Maria , e foi com ele que ficou conhecida em todo o Brasil e também no mundo como a " Irmã Dulce dos Pobres " ou ainda como " Anjo  bom  da  Bahia " .

Nascida em 26 de maio de 1914 , em uma família de certas posses materiais , hesitou um pouco se realizaria sua vocação cristã no matrimônio ou na vida religiosa , pois não sabia ainda se o seu amor seria dedicado a um marido e aos filhos , frutos do matrimônio , ou um esposo especial , Jesus Cristo , e aos muitíssimos filhos espirituais que viriam dessa união esponsal mística .

Essa dúvida , porém , não perdurou por muito tempo , uma vez que , desde os 13 anos , ao visitar , com uma tia , locais carentes de seu Estado natal , passou a conceber a ideia de dedicar-se aos menos favorecidos ou aos sofredores de seu tempo . Isso teria de ser por meio de vida religiosa , uma vez que leigos consagrados em institutos seculares não eram suficientemente conhecidos antes da década de 1940 , quando o Papa Pio XII aprovou esse modelo de vida .

Maria Rita , recorre , então , ao convento de Santa Clara do Desterro , em Salvador , e as freiras a aconselham a não ingressar naquele ano , mas, sim , a estudar primeiro e , concomitantemente , rezar e meditar a respeito de sua vocação . Isso motivou a jovenzinha a dedicar-se ao curso de Magistério , que , na época , formava as professoras primárias , concluído em 1932 .

Os estudos , todavia , não a impediam de se dedicar aos pobres e abandonados de modo que , com o aval de seus familiares , fez de sua casa um local de caridade . Ali os desvalidos encontravam refúgio , alimento e até remédios para seus males , junto com a palavra doce , cristã e carinhosa da jovem estudante .

Finalmente , em 8 de fevereiro de 1933 , a jovem Maria Rita , já professora experimentada na caridade para o Cristo sofredor presente nos irmãos e irmãs necessitados , é aceita na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus , instituto com casa de formação em Sergipe , no qual essa santa mulher fez os votos , viveu e morreu trabalhando pelos que realmente necessitam de carinho material e espiritual . Hoje , diríamos que Irmã  Dulce - este é como vimos , seu nome religioso - antecipava , com suas obras , o atendimento às realidades que o Papa  Francisco chama de " periferias  existenciais " . 

Voltando a Salvador , agora com seu inconfundível hábito branco e véu preto, Irmã  Dulce recebe como missão dar aulas em um colégio mantido pela congregação na chamada Cidade  Baixa . A ela , como professora que era , poderiam bem se aplicar as palavras do padre Afonso Rodrigues , filósofo e teólogo brasileiro , ao escrever que todas as mestras realmente católicas , amigas do bem das alunas , ponderadas , justas , santas , donas das próprias espontaneidades , firmemente apegadas à sã doutrina  , conforme o ensinamento recebido da Santa Sé . E por isso capacitadas a vivenciar nas alunas a doutrina autêntica de Cristo e de refutar os falsos teólogos ( ...) " ( Exercícios de perfeição e virtudes cristãs . São Paulo : Mestre  Copy , 1988 , p 15 ) .

Dedica-se porém, ao mesmo tempo, a prestar assistência às comunidades pobres de Salvador , onde futuramente se concentrarão as chamadas Obras Sociais  Irmã  Dulce, que lhe deram notoriedade até mesmo aos olhos do mundo , pois ali ela não apenas falava aos pobres , mas realmente os ajudava como eles mais precisavam . 

Afinal , só discursar a respeito dos excluídos sem dar-lhes esperanças é tão anticristão quanto promover , sem razões para tanto , revoluções armadas  ( que matam a tantos ) em favor de uma suposta mudança social que apenas ilude os que a esperam de verdade . 

Com Irmã  Dulce  não foi assim , pois com cerca de apenas 20 anos de idade ela ganha de Deus um grande amigo capaz de ajudá-la em uma época na qual a mulher não tinha voz ativa na sociedade . Trata-se do frei  Hildebrando  Kruthanp.

É com ele que a freira baiana fundará em 1936 , a União Operária São Francisco , primeira do Estado , e, em 1937 , o Círculo Operário da Bahia , instituição mantida com a arrecadação de três cinemas que o frade e a freira haviam , com doações recebidas , edificado para ser fonte de auxílio nas obras sociais e culturais que mantinham , bem como na instrução dos operários por meio da alfabetização e da defesa de suas garantias jurídicas básicas . 

Irmã  Dulce e  Frei  Hildebrando têm em mente aplicar nas terras brasileiras o que , no final do século 19, o Papa Leão XIII propusera na encíclica Rerum  Novarum. Este documento foi marcante para a vida dos operários  , uma vez que estes viviam em deploráveis e desumanas condições , em muitos e muitos países aonde chegara a Revolução Industrial com a meta de produzir, produzir , produzir  ... para gerar lucro a alguns poucos em detrimento da grande maioria dos homens  , mulheres e crianças que se viam privados do mínimo de dignidade , mas , em contrapartida  , eram condenados a trabalhar desumanamente .

No ano de 1939 , a religiosa , que já era conhecida por muitos do seu Estado e em outras unidades da Federação , fundou o Colégio Santo Antônio , voltado ao ensino dos pobres , especialmente dos filhos dos operários . Neste mesmo ano , na Ilha dos Ratos , entrou , sem mais , em cinco casas vazias e ali se pôs a abrigar os doentes e moribundos que recolhia nas ruas a fim de que eles recebessem um tratamento melhor e não perecessem no chão duro daquela grande cidade .

Não demorou para que as casas fossem requisitadas e a religiosa e seus assistidos tivessem de ser expulsos do local passando a vagar para lá e para cá até conseguirem
se instalar , definitivamente , em seu albergue localizado no local em que antes funcionara o galinheiro do Convento de Santo Antônio , santo de quem nossa Beata Irmã Dulce era grande devota , desde pequena . Aquele empreendimento prosperou e deu origem ao famoso hospital que leva o mesmo nome do santo de Pádua ou de Lisboa , e é  um importante local de atendimento médico-hospitalar e também social e educacional voltado  aos pobres , abandonados e dependentes químicos. 

De saúde frágil , Irmã Dulce não se entregava e com sua  profunda  tenacidade conseguiu levar avante , em tempos difíceis , uma grande obra assistencial católica inspirada no Evangelho . Seu trabalho repercutiu tanto que , em 1980 , na primeira viagem que o Papa , santo , João Paulo II fez ao Brasil quis acolhê-la e dar-lhe um terço com as palavras alentadoras : " Continue  " Irmã  Dulce  , continue ! " . Com o mesmo apoio a santa baiana contou de seus cardeais arcebispos , Dom Augusto Silva , Dom Eugênio de Araujo Sales , Dom Avelar Brandão Vilela e Dom Lucas Moreira Neves , todos admiradores e apoiadores de suas multiformes iniciativas caritativas .

Terminada sua grandiosa peregrinação neste mundo , Irmã Dulce entregou sua alma a Deus em 13 de março de 1992 , em seu próprio convento , sendo beatificada em 22 de maio de 2011 , em Salvador , na cerimônia presidida pelo legado papal , Cardeal Geraldo Magela Agnelo tornando-se conhecida oficialmente , então , como Beata  Irmã  Dulce  dos Pobres, pois a eles ela dedicou sua vida , de modo que sua política foi a caridade para o Cristo presente nos mais necessitados (cf.Mt.25,40 ) .



Fonte  -  Jornal  TESTEMUNHO  DE  FÉ  -  VOZ  DO  PASTOR -  PÁG 3
de 6  a  12  de  julho  de 2014- Cardeal  Orani  João  Tempesta ,O. Cist .
Arcebispo  do  Rio  de  Janeiro 

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