HISTÓRIA - Vladimir Herzog , 30 anos depois
O jornalista foi morto em 25 de outubro de 1975 ; filme reconstrói o caso de tortura que mudou o curso da ditadura militar
O cineasta caminha entre passantes na Praça da Sé , Pergunta às pessoas se elas sabemquem foi Vladimir Herzog ( 1937 – 1975 ) . Quase ninguém responde corretamente .E a maioria nem ouviu falar . E você , conhece esse personagem ?
No dia 25 de outubro, completam-se 30 anos da morte de Vlado , como era conhecido o jornalista ,que nasceu na Iugoslávia ,veio para o brasil fugindo do nazismo e morreu após ser torturado num quartel militar , durante a ditadura ( 1964 -1985 ) .
“ Vlado “ é , justamente , o nome do documentário de João Batista de Andrade , atual secretário de cultura do estado de SP e que foi colega de trabalho de Herzog nos anos 70 . O filme estreia na sexta-feira , dia 30 .
Você provavelmente já ouviu falar dos casos de tortura , dos mortos e desaparecidos durante o período em que os militares governaram o Brasil ,não é ? Porque ,então ,o caso Vladimir Herzog permaneceu como algo até hoje tão emblemático ?
A resposta não é muito simples e está relacionada a uma combinação de fatos históricos . Em 1975 , a repressão da ditadura não era tão forte como havia sido logo após a promulgação do AI – 5 ( Ato Institucional número 5 ) , em 1968 . Praticamente já não havia , por exemplo , luta armada , que fazia oposição ao regime de uma forma também muito violenta e tinha como objetivo implantar uma ditadura socialista no país .
Além disso, desde que o presidente Ernesto Geisel ( 1974-!979) assumira,sucedendo a EmílioGarrastazu Médici ( 1969 -1974 ) ,o governo começado a discutir uma redemo- cratização do país .
Não se esperava , portanto , que um caso de tortura e morte tão brutal fosse cometidocontra um jornalista respeitado e que trabalhava em uma emissora estatal.
Herzog , um intelectual de esquerda apaixonado por cinema , , era militante comunista ligado ao PCB ( Partido Comunista Brasileiro ) . O partido queria o fim da ditadura ,mas não agia de forma violenta como a luta armada .
Entretanto , um setor do Exército que não queria a redemocratização resolveu soltar as garras para cima do partido, na falta de inimigos mais ameaçadores como os guerri -lheiros do passado. Assim , esses militares reforçavam sua autoridade e impunham limites à abertura pretendida pelo governo .
Por meio de relatos de amigos , companheiros de tortura e da viúa , Clarice , o filme tenta reconstuir como Herzog foi morto . Na noite do dia 24 de outubro , o jornalista foi procurado por agentes para depor sobre sua sligações com o PCB . Ele prometeu comparecer no dia seguinte ao quartel onde funcionava o DOI - Codi ( Departamentode Operações de Defesa Interna ) , na rua Tomás Carvalhal , em São Paulo .
Lá , ele sabia , ja´estavam alguns colegas , como Paulo Markun e Rodolfo Konder . No documentário , ambos relebram as práticas ( espancamento , choques ) usadas contra os presos e dos gritos de Herzog antes do silêncio que anunciou sua morte .
Segundo a versão oficial à época , Herzog teria se enforcado na cela com um cinto do macacão do presidiário . A versão do suicídio ,logo de cara , não convenceu ninguém ,pois havia muitas evidências de que o jornalista tinha sido morto brutalmente .O caso abalou o país , e pela primeira vez desde AI-5 as pessoas saíram as ruas numa manifestação,ainda que contida ,contra o regime, num culto em homenagem a Herzog, na praça da Sé,no dia 3l do mesmo mês.Imagens desse dia e clarações de d. Paulo Evaristo Arns e do rabino Henry Sobel encerram o relato de "Vlado" .
A ditadura ainda duraria mais dez anos , mas,a partir do caso Herzog , não foi possívelmais conter o processo de abertura política e de redemocratização .
" Vlado " , o filme , é um pouco chato . Até porque não há muitas imagens feitas à época e o cineasta optou por filmar de modo exaustivo o rosto dos entrevistados .
Mas a história ,aqui, fala mais alto , e vale a pena ouvir os depoimentos colhidos por João Batista de Andrade . Além de ajudar a formar um quadro sobre o que ocorreu , eles nos lembram que ainda existem perguntas não respondidas sobre o caso .E , se você estiver interessado em saber mais sobre o assunto , há outras boas fontes ,como olivro " A Ditadura Encurralada " ,de Elio Gaspari ( Companhia das Letras ) , e " Dossiê Herzog " , de Fernando Pacheco Jordão ( Global ) . O importante memso é não deixar a história para trás .
Fonte - Jornal FOLHA DE SÃO PAULO - folhateen - pág 3
Segunda-feira , 26 de stembro de 2005 - SYLVIA COLOMBO - (Editora do FOLHATEEN)
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