Sobre as confusões educativas contemporâneas
Comportamento
Atendendo muitas famílias e tomando de suas angústias educativas , senti-me movida a fazer uma breve análise do que do que leva as pessoas a buscar tantas e tão diferentes técnicas e teorias educativas . Te -
mos disponíveis no mercado , especialmente no mercado on - line , as mais diversas propostas de inter-venções educativas a disciplina positiva , a comunicação não violenta , a cama compartilhada , a educação neuro compatível , enfim , seria difícil nomear todas as linhas educativas que se apresentam e acabam in-tegrando não somente o imaginário , mas especialmente ação do país .
Creio que seja muito importante , mais do que criticar ou aderir , compreender em que lugar entram essas teorias . Por que os pais se abrem tanto a tudo o que de mais “ novo “ se apresenta nesse campo ?
Desde os movimentos iluministas , oriundos da revolução Francesa , todos estamos relativista e equivocado no que diz respeito a quem é a pessoa , ou seja , não nos ancoramos numa concepção antropológica clara sobre a pessoa e , consequentemente , sobre corno a criança chega a ser pessoa em todo o seu potencial .
A partir da visão rousseaunerana de Educação , se aderiu a uma postura educativa espontaneísta , ou seja , se vê a criança como alguém potencialmente capaz de , quase que somente por herança genética ,chegar à sua melhor versão a partir de seu cresci-mento natural .
Tudo o que vai “ contra a tendência natural “ e espontânea da criança é visto como opressão , falta de liberdade , de autenticidade , ou limitador da criatividade infantil .
Ocorre que isso toma conta do imaginário dos pais sem que eles saibam exatamente o porquê.Com medo de oprimir ou de traumatizar as crianças , exatamente por não entenderem bem o modo como realmente o crescimento saudável e adequado acon-tece e como as crianças podem chegar ao máximo do seu po-tencial os pais aderem a essas técnicas . Sendo assim , sem que saibam , estão agindo , muitíssimas vezes , em direção contrária ao que realmente querem . ‘ É preciso , a meu ver , esclarecer aos pais o que se ga-nha e o que se perde quando não se tem clareza sobre quem somos nós , pessoas .
Baseando-se , então , numa antropológica , proponho uma visão mais ampla dessas abordagens educativas .
Crianças nascem “ débeis “ .Por experiência , todos sabemos que elas nasce comple-tamente dependentes e absolutamente inaptas a viverem sós . Dependem do adulto para sobreviver e aprender a viver . Não são capazes de escolher nem agir por si mesmas .
Elas têm um aparato neurológico imaturo , com um sistema límbico em alto funcionamento ,o que as leva a buscar o prazer e reagir intensamente ao desprazer ( frustração ) .
Como os animais ,elas têm uma sensibilidade presente que as leva a perceber o mundo e se adaptar a ele , mas , como pessoas , possuem as potências da inteli gência e da vontade vão promover uma vida superior à de qualquer outro animal . Estas , na infância ,estão presentes em potência , precisando de ajuda para se transformarem em ato .Essa ajuda se dá pelo processo educativo ,que no ser humano é absolutamente trans-formador - capaz de levar a pessoa à sua melhor versão .
A pessoa vai se aperfeiçoando e se tronando melhor quanto mais vai sendo educada em sua potência vo-litiva e intelectual – isso se dá a partir da aquisição de hábitos e virtudes .
Feitas essas considerações , fica praticamente impossível acreditar que , desenvolvimento espontâneo , che-garão a resultados positivos .
Algumas propostas educativas pregam que crianças até determinada idade não compreendem o sentido da palavra “ Não “ . E eu pergunto a você como compreenderão se não apresentarmos essa palavra a elas ? Como se aprende uma língua nova ? Sem ouvir o que não se conhece , não se aprenderá nunca .
Outras dizem que ao invés de dizermos aos pequenos o que não podem fazer , devemos apontar aquilo que podem . Pergunto novamente : é contato coma frustração ter somente horizontes abertos abertos ? Quando perceberem que a vida real se trata de escolhas e que escolhas pressupõem um ganho em detrimento de algumas perdas, como se sairão ?
Como poderemos ensinar a virtude da coragem ,da fortaleza ,da paciência , da generosidade , da ordem , se nos limitarmos a “ respeitar “ as capacidades imaturas da criança e não as estimularmos a mais ?
Claro nada disso precisa ser feito com autoritarismo ou agressividade . Ao contrário com muito carinho e firmeza .Exatamente por um grande gesto de amor não podemos deixar que os pequenos fiquem reféns da condição imatura . Devemos a eles a possibilidade de crescerem e se desenvolverem , de se tornarem grandes homens e mulheres . A educação é a única condição para que isso acontença verdadeiramente .
Fonte - Jornal O SÃO PAULO - pág 5 - Viver bem / Fé e Vida
De 8 a 14 de junho de 2022 - Simone Ribeiro Cabral Fuzaro - fonoaudióloga e educadora - Comportamento
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