sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Momento de reflexão

 




Na  verdade ,negro,que  levou porrada no  passado , para botar o  carnaval em pé , o que é hoje ? Ele não tem direito a nada ,a  não ser tocar  surdo pra branco sambar desengonçado. Hoje  tem até gringo chefe de ala , as  baianas pretas já  são raras ( a maioria é   madame de classe média  da  zona sul ) . Velha  Guarda virou  museu .Aquela comissão de frente de crioulos sestrozes ,que representavam e suas bandeiras,as suas cores , como tinha o Império Serrano , Portela , Mangueira , Lucas ,Capela , Salgueiro , Estácio , quantas saudades .Os passistas Saraco  da  Portela , a Cisne Negra ,uma pretinha  surimpa , eu  César Romero for-mavam o trio  fluminense que  dava o  show na avenida.

A  antiga  batida bateria da  Portela  na  batuta  do  saudoso  Betinho e que tinha  ( a bateria ) o apelido de Tabajara .Se botasse um  metrônomo para  medir a  avaliação da marca , o ponteiro  marcava certinho .O  Salgueiro da Chica  da  Silva ,Chico  Rei , Valongo , Palmares , Zumbi , pé  no chão , quanta saudade ,até  que em  91  com a Rua do Ouvidor , fez o  maior sucesso , mas se  deixou envolver pelo  chuá - chuá da  Mocidade . Saudades .

Não adianta chorar o  leite derramado .O crioulo agora  vai ter que  aturar  os  com-puta –dor da vida do samba. E aí , o que o  Donga ,Ismael e outros vão dizer  no céu ?

Não querendo cobrar dessa rapaziada  que cobre o carnaval  e a  MPB , nossos repórteres  deveriam  se  interessar  por  livros  de  figuras  com  J. F.Gê , Ary  Vasconcelos , Roberto  Moura , Marília  Barbosa , Sergio  Cabral , Haroldo  Costa  , Iran  Araújo ,Ney Lopes e outros pesquisadores .Na minha opinião ca-    da negro deveria ser um  pesquisador ,ao seu modo ,um etnólogo  do  seu povo ,da  sua  maneira ,e não contar contar  estória para branco  escrever , somente . 

Sem querer ofender nossos colegas ,cada palestra sobre carnaval raramente tem  crioulo , são sempre os  mesmos intelectuais brancos de classe média ,que não citaremos  por ética .

Outro  galho é  a  Liga Independente das  Escolas de Samba ( LIESA ) . Os  intele-de classe média caem de pau nos patronos que ajudam as  escolas , e alguns negros de elite fazem  o coro com eles para  se  fazerem  engraçados . Eles  se es-quecem que o empresário de  jogo do bicho não  entrou nessa ontem . Muito antes de  escola de samba  dar dinheiro ( pelo contrário , dava cadeia ) os bicheiros vêm apoiando essa  manifes-tação popular .E agora  há uns vinte anos ,desde que a classe média descobriu que Escola de  Samba existe, os bicheiros vêm sendo tachados de oportunistas ,gananciosos .Mas estes  negros  de elite esquecem  que o  negro , em grande parte , entregou de  mão beijada o samba .

Já  somos torpedeados  pelo  poder aquisitivo ,e além  disso o desentendimento entre os próprios  irmãos ,a falta de  formação de  novas lideranças , etc .Por isso  não se vê muitos negros na  presidência  de  escolas , com honrosas  exceções do Presidente da Leão de Iguaçu , Dr Engenheiro Paulo , o famoso Paulo Tenente , dono do estaleiro em  Niterói , O Oscar Lino ,  pres . da  Império  Serrano , o Ananias , que dirige a  Man - gueira e o  Luís Carlos Batista , da  Acadêmicos da Rocinha .

Mas , voltando ao  assunto  ( repórteres de carnaval )  quero  deixar bem claro que o  papel do negro pro- fissional  de  imprensa é  muito importante  na  divulgação  dessa manifestação cultural .  Sabemos  perfei-tamente que os  negros  estão atrás  das câmeras  de  TV , nas  redações  de jornais , laboratórios  fotográ-ficos  e  nas  rádios , desempenhando um  papel que não é só deles , mas de  toda a imprensa . Isso  tudo  em  grande medida o  público  não  sabe .

Fonte  - Jornal  MOVIMENTAÇÃO  ESPECIAL  - pág 15                                                                    Data  - ANO  I  - Nº 5 -  MAIO / JUNHO  -  1992  -  A REDAÇÃO




Dulce  Saraiva  Alves 

A  popular  Dulce Alves .Uma  amiga  lutadora do carnaval .Foi no teatro Opinião que  ela entrou na  luta da  cultura  popular , junto com  Jorge Coutinho . Deste modesto  início Dulce se projetou na  festa maior do car-naval . Ela é do tempo em que a Vila Isabel desfilava na  Presidente Vargas . Jornalista , comunicadora , tem  uma opinião algo cética do destino das  escolas de samba : como os  cordões , os  ranchos,   e outras mani-festações  puras  do popular, as escolas também sofreram a  invasão de fora , mesmo em  seu auge , o  que  marcará o  seu  inevitável declínio . Antes deste triste destino Dulce já provou com toda as letras que é pro-fissional : redatora da TV Continental , TV Rio , Rádio Continental ,da  antiga Rádio Tupi ,onde está até hoje, fora trabalhos periódicos , como a cobertura de carnaval da  Globo . Na  cobertura de carnaval  de 1986 . Antes em  1984 , sempre com  Jorge  Coutinho , cobriu  o carnaval  da  Rádio  Roquete .  

O  ano inteiro vive em  função do carnaval , essa  pequena notável do  jornalismo carioca  :  sambas  enredos , pagodes , lançamentos de sambas , nada ela perde . 

Bem  que  tentam  prejudicar a  imprensa  ( e  a  jornalista  em  particular )  no carnaval  propriamente dito : proibido  isso , não  pode  etc . Um  mar  de  regras  que  provoca o  protesto da  repórter , que  se  vê  “ cerceada “ , ela e seus amigos que  são quem mais  promovem  o carnaval  o ano todo. Uma  injustiça  na  mente da  carnavalesca do ano todo . Entre  seus  mitos , consagra  o  imortal  Waldinar  Ranulf , sem  falar em  Salvador Batista , Gerard . Se  sente  (  como  todos  jornalistas , a  serviço de  Momo ) uma  discípula de  Waldinar , um  pioneiro da  imprensa  de  carnaval . Fanática do  bloco da  Imprensa , se sente saudade  de seus criadores e  fundadores , que , como os  pioneiros citados acima foram alegrar o carnaval  no céu . Mesmo refutando exclusividades  raciais  no carnaval , em  benefício de quem quer que seja , admite que  " nós  negros temos uma  vivência que nos  aproxima mais desta coisa " . Coisa  de  pele , ela  admite sem  entrar na polêmica  infernal e eterna de  mulato ou  negro ? Nesta dita ,teve uma discussão com um funcio-nário do IBGE que esqueceu , na  porta de  sua casa , de perguntar o  quesito cor .Indagado ,o samango respondeu que ia anotar  " parda " . Levou  um safanão da negra ,e não deve ter esquecido que " pardo é papel de  pão " . Aplaude a  movimentação do  MOVIMENTAÇÃO  , não  como algo exclusivo , racista , fechado , como alguns  dizem  aí , mas  uma  atuação legíitima  em defesa  de um  espaço e  organização que  a sociedade  capitalista  sempre  nega  para o  negro . 

Fonte  - Jornal  MOVIMENTAÇÃO  ESPECIAL -  pág 8                                                                      Data  -   NO I - nº  5 -  MAIO / JUNHO  - 1992 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário sobre a postagem.