Na verdade ,negro,que levou porrada no passado , para botar o carnaval em pé , o que é hoje ? Ele não tem direito a nada ,a não ser tocar surdo pra branco sambar desengonçado. Hoje tem até gringo chefe de ala , as baianas pretas já são raras ( a maioria é madame de classe média da zona sul ) . Velha Guarda virou museu .Aquela comissão de frente de crioulos sestrozes ,que representavam e suas bandeiras,as suas cores , como tinha o Império Serrano , Portela , Mangueira , Lucas ,Capela , Salgueiro , Estácio , quantas saudades .Os passistas Saraco da Portela , a Cisne Negra ,uma pretinha surimpa , eu César Romero for-mavam o trio fluminense que dava o show na avenida.
A antiga batida bateria da Portela na batuta do saudoso Betinho e que tinha ( a bateria ) o apelido de Tabajara .Se botasse um metrônomo para medir a avaliação da marca , o ponteiro marcava certinho .O Salgueiro da Chica da Silva ,Chico Rei , Valongo , Palmares , Zumbi , pé no chão , quanta saudade ,até que em 91 com a Rua do Ouvidor , fez o maior sucesso , mas se deixou envolver pelo chuá - chuá da Mocidade . Saudades .
Não adianta chorar o leite derramado .O crioulo agora vai ter que aturar os com-puta –dor da vida do samba. E aí , o que o Donga ,Ismael e outros vão dizer no céu ?
Não querendo cobrar dessa rapaziada que cobre o carnaval e a MPB , nossos repórteres deveriam se interessar por livros de figuras com J. F.Gê , Ary Vasconcelos , Roberto Moura , Marília Barbosa , Sergio Cabral , Haroldo Costa , Iran Araújo ,Ney Lopes e outros pesquisadores .Na minha opinião ca- da negro deveria ser um pesquisador ,ao seu modo ,um etnólogo do seu povo ,da sua maneira ,e não contar contar estória para branco escrever , somente .
Sem querer ofender nossos colegas ,cada palestra sobre carnaval raramente tem crioulo , são sempre os mesmos intelectuais brancos de classe média ,que não citaremos por ética .
Outro galho é a Liga Independente das Escolas de Samba ( LIESA ) . Os intele-de classe média caem de pau nos patronos que ajudam as escolas , e alguns negros de elite fazem o coro com eles para se fazerem engraçados . Eles se es-quecem que o empresário de jogo do bicho não entrou nessa ontem . Muito antes de escola de samba dar dinheiro ( pelo contrário , dava cadeia ) os bicheiros vêm apoiando essa manifes-tação popular .E agora há uns vinte anos ,desde que a classe média descobriu que Escola de Samba existe, os bicheiros vêm sendo tachados de oportunistas ,gananciosos .Mas estes negros de elite esquecem que o negro , em grande parte , entregou de mão beijada o samba .
Já somos torpedeados pelo poder aquisitivo ,e além disso o desentendimento entre os próprios irmãos ,a falta de formação de novas lideranças , etc .Por isso não se vê muitos negros na presidência de escolas , com honrosas exceções do Presidente da Leão de Iguaçu , Dr Engenheiro Paulo , o famoso Paulo Tenente , dono do estaleiro em Niterói , O Oscar Lino , pres . da Império Serrano , o Ananias , que dirige a Man - gueira e o Luís Carlos Batista , da Acadêmicos da Rocinha .
Mas , voltando ao assunto ( repórteres de carnaval ) quero deixar bem claro que o papel do negro pro- fissional de imprensa é muito importante na divulgação dessa manifestação cultural . Sabemos perfei-tamente que os negros estão atrás das câmeras de TV , nas redações de jornais , laboratórios fotográ-ficos e nas rádios , desempenhando um papel que não é só deles , mas de toda a imprensa . Isso tudo em grande medida o público não sabe .
Fonte - Jornal MOVIMENTAÇÃO ESPECIAL - pág 15 Data - ANO I - Nº 5 - MAIO / JUNHO - 1992 - A REDAÇÃO
Dulce Saraiva Alves
A popular Dulce Alves .Uma amiga lutadora do carnaval .Foi no teatro Opinião que ela entrou na luta da cultura popular , junto com Jorge Coutinho . Deste modesto início Dulce se projetou na festa maior do car-naval . Ela é do tempo em que a Vila Isabel desfilava na Presidente Vargas . Jornalista , comunicadora , tem uma opinião algo cética do destino das escolas de samba : como os cordões , os ranchos, e outras mani-festações puras do popular, as escolas também sofreram a invasão de fora , mesmo em seu auge , o que marcará o seu inevitável declínio . Antes deste triste destino Dulce já provou com toda as letras que é pro-fissional : redatora da TV Continental , TV Rio , Rádio Continental ,da antiga Rádio Tupi ,onde está até hoje, fora trabalhos periódicos , como a cobertura de carnaval da Globo . Na cobertura de carnaval de 1986 . Antes em 1984 , sempre com Jorge Coutinho , cobriu o carnaval da Rádio Roquete .
O ano inteiro vive em função do carnaval , essa pequena notável do jornalismo carioca : sambas enredos , pagodes , lançamentos de sambas , nada ela perde .
Bem que tentam prejudicar a imprensa ( e a jornalista em particular ) no carnaval propriamente dito : proibido isso , não pode etc . Um mar de regras que provoca o protesto da repórter , que se vê “ cerceada “ , ela e seus amigos que são quem mais promovem o carnaval o ano todo. Uma injustiça na mente da carnavalesca do ano todo . Entre seus mitos , consagra o imortal Waldinar Ranulf , sem falar em Salvador Batista , Gerard . Se sente ( como todos jornalistas , a serviço de Momo ) uma discípula de Waldinar , um pioneiro da imprensa de carnaval . Fanática do bloco da Imprensa , se sente saudade de seus criadores e fundadores , que , como os pioneiros citados acima foram alegrar o carnaval no céu . Mesmo refutando exclusividades raciais no carnaval , em benefício de quem quer que seja , admite que " nós negros temos uma vivência que nos aproxima mais desta coisa " . Coisa de pele , ela admite sem entrar na polêmica infernal e eterna de mulato ou negro ? Nesta dita ,teve uma discussão com um funcio-nário do IBGE que esqueceu , na porta de sua casa , de perguntar o quesito cor .Indagado ,o samango respondeu que ia anotar " parda " . Levou um safanão da negra ,e não deve ter esquecido que " pardo é papel de pão " . Aplaude a movimentação do MOVIMENTAÇÃO , não como algo exclusivo , racista , fechado , como alguns dizem aí , mas uma atuação legíitima em defesa de um espaço e organização que a sociedade capitalista sempre nega para o negro .
Fonte - Jornal MOVIMENTAÇÃO ESPECIAL - pág 8 Data - NO I - nº 5 - MAIO / JUNHO - 1992
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