domingo, 30 de julho de 2023

" ENTROPIA "



CCBB  A PRESENTA   “ ENTROPIA “

O espetáculo  teatral  ENTROPIA , com  texto de  Rodrigo Nogueira e direção de  Marcrlo Mello , estreia dia 09 de janeiro próximo no Teatro  III do CCBB . No elenco estão Alexandre Braga ,Diogo Salles ,José de Brito ,Liliane Rovaris,Luisa Friese , Marcello Mello ,Miwa Yanagizawa ,Regina Mello . O patrocínio e a realização são do  Centro  Cultural Banco do Brasil . 

ENTROPIA  questiona a possibilidade de se criar  uma sociedade ideal , ou ainda , conciliar desejos individuais com o coletivo. A peça que não é  ecológica nem  levanta  bandeiras , busca refletir sobre o que faremos do espaço em que habitamos .

“ Como encontrar a  felicidade vivendo no  mundo da  desordem ?  No  mundo possível  . E a  pa - lavra é  desordem . Ou  entropia a  quantidade de  desordem  presente  num sistema . Segundo  a  Física ,estamos  fadados à desordem . E esse é um  caminho sem volta . A quantidade de desordem de um  sistema só tende a  aumentar. A quantidade de desordem de um sistema só tende a aumentar . E a de nosso , parece estar bastante  avançada  “ , afirma o  diretor , Marcelo Mello.

A  peça fala de  preocupações que hoje cercam o  planeta e que já  começam a ter  repercussão que hoje cercam o  planeta , e que já começam a ter  repercussão mundial  -  exemplo disto é o prêmio Nobel da Paz  de 2007  concedido ao ex -vice presidente americano Al Gore, por  sua  luta em causa  do  meio ambiente . O  assunto  esteja nos  cinemas , livros e  TVs , mas ainda  pouco  comum no  teatro . 

Numa época em que controlar catástrofes  parece ser  mais  importante do que qualquer outra coisa parece ser mais  importante do que qualquer coisa , perder  tempo imaginando um  mundo perfeito parece um contra -senso . Mas é um  bom ponto de partida para uma  importante  discussão .O ideal é inatingível , mas sem ele não vivemos . Como conciliar uma busca  sem resultados com as  expec - tativas do dia a dia ?  Melhor . Como encontrar a  felicidade vivendo no  mundo de desordem ? No mundo  possível  "  , continua  Mello.

SINOPSE  

Três planos distintos definem a  ação de  ENTROPIA  : 

- no primeiro deles , um  grupo de   sete pessoas se reúne num  " não lugar " para criar  uma ci-  dade  ideal  -  nomes , relações  pessoais e  memória são suprimidos para garantir a  criação . 

- no segundo  , um grupo de  sete pessoas vive  num  " lugar criado " e trabalha para manter essa  cidade ideal  - nomes , relações  pessoais e  memória  estão presentes o  tempo todo , pois fazem parte de um  cotidiano . 

À  medida que a  ação avança , esses  dois planos se  confundem , dando início a  um  " quebra cabeça " , em que são levantadas as  questões : deve-se abrir  mão da busca  por uma  sociedade  ideal ? Como agir para salvar o que ainda é possível para  salvar ?

Como  conciliar desejos individuais e o  bem coletivo ? Num terceiro plano , os atores apresentam  cidades imaginárias ,que poderiam ser  reais .Representam  sonhos concretizados . Que são  criações , e também  são memórias .

A PESQUISA 

 Platão , até 1984 de  George Orwell e o  Admirável  Mundo  Novo  de  Huxley , passando  pelas  Cidades Invisíveis de  Ítalo Calvino e  Cidade do Sol , de  Campanella . 

Fonte  -  Jornal  Centro do  Rio  -  pág 5 

Apresentado no Centro Cultural do  Banco do Brasil 



Os  idiotas  digitais  e  os  clássicos  

O  enxame  dos  bons  é  constituído  pelos  idiotas  do  bem 

Na  semana passada , nesta coluna , fiz referência a uma  categoria  típica da  fauna  dos  mais  imbecis aos quais  Umberto Eco ( 1932 - 2016 )  fez referência quando falou da  catástrofe  da inteligência nas  redes sociais .  " As  redes sociais  deram  voz  aos  imbecis  . "  A  afirmação        pode ser vista como um canto do cisne melancólico ou um enunciado de profunda percepção do contemporâneo . Ou as duas coisas ao  mesmo tempo . 

Lembro quando ,nos anos  1990 , o historiador francês  Jacques Le Golf ( 1924 - 2014 me falou , numa entrevista para o  jornal . O  Estado de São Paulo ,do seu temor de que a  cultura ocidental estivesse profunda por causa do lixo americano crescente que começava a  soprar . 

Tanto um quanto o outro , no meu  entendimento , estavam corretos em seus sentimentos melan- cólicos e em suas  análises do  contemporâneo .

Perguntaram - me : o que é o  idiota digital do qual falei na  coluna passada nesta  Folha e qual é a  sua relação com os  clássicos ?  Vejamos algumas  frases típicas que podem  ajudar a identificar um  idiota digital falando de um  grande clássico .Em seguida  proporei algumas poucas ideias de por que um  grande clássico é um  grande clássico .

Como  reconhecer um  idiota digital falando de  clássicos ? " Estava lendo  'X' - 'X' aqui sempre  igual a um título de algum clássico - e vi uma  frase racista ! Oh! Imediatamente pus o livro de volta na es - tante e nunca mais vou abrir esse livro horroroso . "  Estava  lendo  'X '  e  tinha um  trecho em que pessoas foram mortas  numa batalha ! Oh ! Botei de  volta na  estante e nunca mais vou  olhar para esse  livro  horroroso ! " Mas deixemos de lado  essas  bobagens . Passemos ao que interessa . 

Friedrich Nietzsche ( 1844 - 1900 ) disse que a  intimidade com os clássicos nos deixa  céticos .E que essa  intimidade ,seria a única salvação para a miserável educação moderna .O que  isso  quer dizer?  

A leitura de um clássico pressupõe a  suspensão de qualquer   juízo moral da moda para o consumo , que é o único tipo de  ética disponível para  os idiotas digitais em busca do  sucesso . Eis o ceticismo .

Um  clássico , quando lido sem o filtro de qualquer autoestima  ou  narcisismo , faz sentir ódio ,des- prezo , encanto , vontade  de matar , vergonha de ver em si mesmo sentimentos baixos . Inveja de quem é  melhor do que você , paixão por quem lhe revela uma  beleza que  você desconhece em si  mesmo .

A  insegurança mortal do  amor ,a dúvida constante em  relação à  fidelidade da amada ou do amado .A  dura descoberta da  indiferença dos elementos do mundo que  nos acossam de  todos os  lados . O  choque diante do  fato que um  texto datado de 2.000 anos pode ser mais   "avançado "  do que  você . 

Como diz  Electra na  segunda  peça da  trilogia " Orestia " ,de  Ésquilo :  " Onde  está  a  alegria  ?  Que  há  isento de  dor  ?  Não é  invencível  a  desgraça  ?  "  No  espírito cunhado na  filosofia  nietzschiana , vemos o  ressentimento , típico dos idiotas  digitais  , não  alcançam  a  beleza de tal  desespero  essencial  porque crê nos  seus  tuítes a  favor da  causa da  moda , a  fim de  engajar  patrocinadores  oportunistas  e  seguidores  anônimos .

Nada disso está  ao alvo  dos  idiotas  está ao  alcance do  idiotas digitais porque eles se  consideram  membros dos  bons é constituído pelos  idiotas do  bem .Como  uma  praga de  gafanhotos , devoram as letras  ao  sabor do  seu puritanismo capenga .

A  leitura dos clássicos nos  faz  céticos , segundo  Nietzsche , porque nos oferece gotas da condição  extramoral a qual ele  buscava . A  única que  nos faz  ver a alma sem  véus . 

O  escritor italiano Italo Calvino  ( 1923 -1985 )  dizia que um clássico nunca  acaba de dizer o que  tem  para  nos  dizer . Por  ser   lido e  relido  em  momentos  diferentes da  vida porque o  leitor , é  outra pessoa depois que o  mundo o  tocou  impiedosamente . E a  piedade , como  toda virtude , só  brota  num  terreno  que  lhe  é  hostil . 

Fonte  -   Jornal  FOLHA DE  SÃO  PAULO   -  pág  C 5  - ILUSTRADA 

Segunda-feira , 15 de Agosto de  2022     -  Luiz  Felipe  Pondé  Escritor ,  

autor de  ' Notas  sobre  a  Esperança   e o  Desespero'  e  ' Política  no

Cotidiano '   -  É  doutor em  Filosofia na  USP


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