CCBB A PRESENTA “ ENTROPIA “
O espetáculo teatral ENTROPIA , com texto de Rodrigo Nogueira e direção de Marcrlo Mello , estreia dia 09 de janeiro próximo no Teatro III do CCBB . No elenco estão Alexandre Braga ,Diogo Salles ,José de Brito ,Liliane Rovaris,Luisa Friese , Marcello Mello ,Miwa Yanagizawa ,Regina Mello . O patrocínio e a realização são do Centro Cultural Banco do Brasil .
ENTROPIA questiona a possibilidade de se criar uma sociedade ideal , ou ainda , conciliar desejos individuais com o coletivo. A peça que não é ecológica nem levanta bandeiras , busca refletir sobre o que faremos do espaço em que habitamos .
“ Como encontrar a felicidade vivendo no mundo da desordem ? No mundo possível . E a pa - lavra é desordem . Ou entropia a quantidade de desordem presente num sistema . Segundo a Física ,estamos fadados à desordem . E esse é um caminho sem volta . A quantidade de desordem de um sistema só tende a aumentar. A quantidade de desordem de um sistema só tende a aumentar . E a de nosso , parece estar bastante avançada “ , afirma o diretor , Marcelo Mello.
A peça fala de preocupações que hoje cercam o planeta e que já começam a ter repercussão que hoje cercam o planeta , e que já começam a ter repercussão mundial - exemplo disto é o prêmio Nobel da Paz de 2007 concedido ao ex -vice presidente americano Al Gore, por sua luta em causa do meio ambiente . O assunto esteja nos cinemas , livros e TVs , mas ainda pouco comum no teatro .
Numa época em que controlar catástrofes parece ser mais importante do que qualquer outra coisa parece ser mais importante do que qualquer coisa , perder tempo imaginando um mundo perfeito parece um contra -senso . Mas é um bom ponto de partida para uma importante discussão .O ideal é inatingível , mas sem ele não vivemos . Como conciliar uma busca sem resultados com as expec - tativas do dia a dia ? Melhor . Como encontrar a felicidade vivendo no mundo de desordem ? No mundo possível " , continua Mello.
SINOPSE
Três planos distintos definem a ação de ENTROPIA :
- no primeiro deles , um grupo de sete pessoas se reúne num " não lugar " para criar uma ci- dade ideal - nomes , relações pessoais e memória são suprimidos para garantir a criação .
- no segundo , um grupo de sete pessoas vive num " lugar criado " e trabalha para manter essa cidade ideal - nomes , relações pessoais e memória estão presentes o tempo todo , pois fazem parte de um cotidiano .
À medida que a ação avança , esses dois planos se confundem , dando início a um " quebra cabeça " , em que são levantadas as questões : deve-se abrir mão da busca por uma sociedade ideal ? Como agir para salvar o que ainda é possível para salvar ?
Como conciliar desejos individuais e o bem coletivo ? Num terceiro plano , os atores apresentam cidades imaginárias ,que poderiam ser reais .Representam sonhos concretizados . Que são criações , e também são memórias .
A PESQUISA
Platão , até 1984 de George Orwell e o Admirável Mundo Novo de Huxley , passando pelas Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino e Cidade do Sol , de Campanella .
Fonte - Jornal Centro do Rio - pág 5
Apresentado no Centro Cultural do Banco do Brasil
Os idiotas digitais e os clássicos
O enxame dos bons é constituído pelos idiotas do bem
Na semana passada , nesta coluna , fiz referência a uma categoria típica da fauna dos mais imbecis aos quais Umberto Eco ( 1932 - 2016 ) fez referência quando falou da catástrofe da inteligência nas redes sociais . " As redes sociais deram voz aos imbecis . " A afirmação pode ser vista como um canto do cisne melancólico ou um enunciado de profunda percepção do contemporâneo . Ou as duas coisas ao mesmo tempo .
Lembro quando ,nos anos 1990 , o historiador francês Jacques Le Golf ( 1924 - 2014 me falou , numa entrevista para o jornal . O Estado de São Paulo ,do seu temor de que a cultura ocidental estivesse profunda por causa do lixo americano crescente que começava a soprar .
Tanto um quanto o outro , no meu entendimento , estavam corretos em seus sentimentos melan- cólicos e em suas análises do contemporâneo .
Perguntaram - me : o que é o idiota digital do qual falei na coluna passada nesta Folha e qual é a sua relação com os clássicos ? Vejamos algumas frases típicas que podem ajudar a identificar um idiota digital falando de um grande clássico .Em seguida proporei algumas poucas ideias de por que um grande clássico é um grande clássico .
Como reconhecer um idiota digital falando de clássicos ? " Estava lendo 'X' - 'X' aqui sempre igual a um título de algum clássico - e vi uma frase racista ! Oh! Imediatamente pus o livro de volta na es - tante e nunca mais vou abrir esse livro horroroso . " Estava lendo 'X ' e tinha um trecho em que pessoas foram mortas numa batalha ! Oh ! Botei de volta na estante e nunca mais vou olhar para esse livro horroroso ! " Mas deixemos de lado essas bobagens . Passemos ao que interessa .
Friedrich Nietzsche ( 1844 - 1900 ) disse que a intimidade com os clássicos nos deixa céticos .E que essa intimidade ,seria a única salvação para a miserável educação moderna .O que isso quer dizer?
A leitura de um clássico pressupõe a suspensão de qualquer juízo moral da moda para o consumo , que é o único tipo de ética disponível para os idiotas digitais em busca do sucesso . Eis o ceticismo .
Um clássico , quando lido sem o filtro de qualquer autoestima ou narcisismo , faz sentir ódio ,des- prezo , encanto , vontade de matar , vergonha de ver em si mesmo sentimentos baixos . Inveja de quem é melhor do que você , paixão por quem lhe revela uma beleza que você desconhece em si mesmo .
A insegurança mortal do amor ,a dúvida constante em relação à fidelidade da amada ou do amado .A dura descoberta da indiferença dos elementos do mundo que nos acossam de todos os lados . O choque diante do fato que um texto datado de 2.000 anos pode ser mais "avançado " do que você .
Como diz Electra na segunda peça da trilogia " Orestia " ,de Ésquilo : " Onde está a alegria ? Que há isento de dor ? Não é invencível a desgraça ? " No espírito cunhado na filosofia nietzschiana , vemos o ressentimento , típico dos idiotas digitais , não alcançam a beleza de tal desespero essencial porque crê nos seus tuítes a favor da causa da moda , a fim de engajar patrocinadores oportunistas e seguidores anônimos .
Nada disso está ao alvo dos idiotas está ao alcance do idiotas digitais porque eles se consideram membros dos bons é constituído pelos idiotas do bem .Como uma praga de gafanhotos , devoram as letras ao sabor do seu puritanismo capenga .
A leitura dos clássicos nos faz céticos , segundo Nietzsche , porque nos oferece gotas da condição extramoral a qual ele buscava . A única que nos faz ver a alma sem véus .
O escritor italiano Italo Calvino ( 1923 -1985 ) dizia que um clássico nunca acaba de dizer o que tem para nos dizer . Por ser lido e relido em momentos diferentes da vida porque o leitor , é outra pessoa depois que o mundo o tocou impiedosamente . E a piedade , como toda virtude , só brota num terreno que lhe é hostil .
Fonte - Jornal FOLHA DE SÃO PAULO - pág C 5 - ILUSTRADA
Segunda-feira , 15 de Agosto de 2022 - Luiz Felipe Pondé Escritor ,
autor de ' Notas sobre a Esperança e o Desespero' e ' Política no
Cotidiano ' - É doutor em Filosofia na USP
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