O FUNK NO RIO DE JANEIRO
O funk carioca surgiu quando jovens moradores dos subúrbios começaram a compor canções a partir de músicas americanas de hip-hop , tocadas em clubes e festas por Disc Jockeys (Djs ) locais .Trata-se de uma reelaboração dos grupos das favelas . No entanto , há familiaridades quanto ao conteúdo das letras : violência urbana ,sexo ,desigualdade social e racial ,elementos do contexto suburbano .No Rio, as cantoras começaram a promover versões sem usar o rap ( canto improvisado ).Inicialmente, participavam como dançarinas , em seguida tornaram -se Mestres de Cerimônia (Mcs ) ganhando notoriedade ao exibirem versões que narram histórias sobre sexo causal e o cotidiano das favelas.Nos últimos anos , este fenômeno musical se espalhou por outras classes sociais . Os espaços de sociabi- lidade são os bailes funk onde as Mcs passam horas fazendo perfomances para uma audiência de mi - lhares de pessoas .
Existe uma diversidade de pesquisas sobre a desigualdade social no Brasil ; no entanto , busca-se re - ferir neste artigo estudos sobre representações das favelas e do funk carioca na mídia .Contudo ,vale reconhecer que ,já na década de 1980 ,o antropólogo Hermano Vianna desenvolveu pesquisa etno - gráfica sobre os bailes funks explorando o universo suburbano até então desconhecido do Rio.Sua contribuição descreve a contribuição descreve a introdução do funk nessas comunidades , nos anos 1970 ,envolvimento expansivo de público negligenciado pelas classes sociais mais favorecidas e pela mídia . No final dos anos 1980 , cerca de 700 bailes funks aconteciam semanalmente no Rio de Ja - Janeiro .Cada uma reunia , pelos menos mil pessoas sendo que alguns concentravam de seis a dez mil pessoas . O fenômeno ainda persiste . De acordo com Denise Garcia , são cerca de 500 bailes por semana , que reúnem mais de cinco mil pessoas cada . Se no início , a mídia parecia ignorar a exis -tência do lado carente carioca , hoe é representado pelos meios como a violenta e exótica face do país . Viana aponta ainda que o funk carioca não sofreu imposição da indústria cultural norte -americana . As gravadoras refutaram - por muito tempo - o mercado brasileiro .Os jovens dos subúr- bios apreciavam o funk , mas encontravam dificuldades em adquirir álbuns .No início , eram apenas os Djs a promoverem o funk através dos bailes . Os grupos mais conhecidos eram : Furacão 2000 e Soul Grand Prix .Há também um protagonista nessa trajetória , o Dj Malboro , responsável pela nacionalização do funk nas rádios locais e pela promoção de bailes .
Estudos recentes demonstram que o fenômeno suburbano do Rio não foi notícia até década de 1990, assim como não participou da sociabilidade das classes médias cariocas até recentemente . Micael Herschmann comprova este paradoxo em sua análise de reportagens publicadas na imprensa sobre o funk . De um lado ,observou que havia o funk identificado com a criminalidade e a violência no con- contexto carioca . De outro ,que a música funk começava a ser reconhecida como expressão cul - tural e representação de um segmento particular . Isso explica o interesse de outras audiências , inclu - indo a Londrina . É importante salientar , no entanto , que os elementos relacionados ao funk carioca e à cultura vem da favela estão presentes na promoção e consumo dos bailes funk .Thornton ( 1995 ) contribui na compreensão da relação entre espaço e cultura : A cultura de clubes é a cultura do gosto. As massas que frequentam clubes geralmente congregam na sua base o gosto pela música [...] . A participação na cultura de clubes construi a finidades sociabiliza os participantes no conhecimento daquilo que gostam ou desgostam ( frequentemente em benfício de ) , significados e valores culturais .
Contudo , o estilo musical é o elemento principal desta comunicação .Quando o funk norte-americano começou a ser difundido nos subúrbios cariocas , as comunidades jovens não compreendiam o signi- significado das letras das músicas . Atualmente , o público de Londres - ou de outros países onde é exibido - dificilmente chegam a compreender o conteúdo linguístico . No entanto ,o estilo musical está presente , convidando audiências a aprenderem mais sobre este específico contexto .
Se no início o funk concentrava-se nos bailes , logo surgiu um novo elemento : a mulher , que con - conquistou espaço e passou a invocar discursos de gênero .No passado , a parte das mulheres era a apenas o dedançarinas eróticas . Hoje as jovens adquiriram visibilidade : são cantoras exibindo ideias , sentimentos , discursos do cotidiano , liber-dade sexual e poder na estrutura socioeconômica familiar. Mais ainda , o funk vem estimulando as jovens a deixarem o trabalho diário - de domésticas ou co- zinheiras - para perseguirem a fama como Mcs , como demonstra o filme em questão . O ( filme - Documentário diretora , Denise Garcia : Sou feia ,mas tô na moda ) - demonsta a relação con - traditória existente entre a favela e a cidade no contexto brasileiro .
Fonte - Revista - Comunicação & Educação págs 70 e 71 - Ano XVI nº 1
Jan/Jun 2011 - Cultura jovem e identidade - Jamile Dalpaz
Revista do Curso de Gestão da Comunicação - ECA -USP
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