História da Saúde Pública no Brasil
As atividades sanitárias no Brasil com especial ênfase na cidade do Rio de Janeiro , foram minu -ciosamente estudadas no passado ,por dois colaboradores de Oswaldo Cruz – Plácido Barbosa e Cássio Barbosa de Rezende , desde a chegada do Príncipe Regente , Dom João ? Em 1808 , até a vitoriosa campanha contra febre amarela em 1907. Durante um século ( 1808-1907 ) ,esses ilustres colegas reviram tudo o que se fez em matéria de saúde pública em nosso país , publicando trabalho que se tornou clássico e que foi reeditado há pouco graças aos esforços de Edgard de Cerqueira Falcão , colega dos mais ilustres e que , em tarefa gigantesca tanto vem enaltecendo a Medicina Pátria.
Ferido trabalho ,num total de 1023 páginas , além de fotografias e gráficos , se inicia , com as re - formas elaboradas por Dom João , mediante o estabelecimento dos cargos de Cirurgião – Mor dos Exércitos e Físico – mor do reino , em nosso meio.
Depois , sob o título de Esboço Histórico , em mais de 500 páginas , é diz respeito à evolução da saúde pública no Brasil . Assim , no tocante a varíola , as autoridades em saúde pública já preco- nizavam seu combate com a vacina jeneriana trazida de Portugal braço a braço .A peste também teve sua história descrita no trabalho em tela ,com a construção do laboratório produtor da vacina e do soro antipestoso ,de Medicina experimental de Manguinhos . A febre amarela chegou ao Rio de Janeiro, em 1850 , depois de ter assolado a Bahia no ano anterior . Como referiu Edgard de Cer - Cerqueira Falcão , o trabalho desses dois abnegados brasileiros constituiu-se em esforço hercúleo devendo ser lido por todo aqueles que se interessam pela historiografia médica de nosso país .
Plácido Barbosa ( 1871 – 1938) n foi também grande dicionarista e no dizer de Manoel Ferreira constituiu-se no grande elo entre as administrações de Oswaldo Cruz e Carlos Chagas nos domí- nios da saúde pública no Brasil . Cássio de Rezende, durante muitos anos exerceu atividade clínica em minha cidade natal –Guaratinguetá ,onde tive o prazer de conhecê-lo quando fazia o meu curso médico em São Paulo. Tornou-se homeopata , dono depois ,de grande clínica no Rio de Janeiro , cidade onde faleceu , em avançada idade.
Edgard de Cerqueira Falcão é um homem extraordinário e incansável , acabando de trazer ao sol mais este verdadeiro tesouro soterrado , raridade bibliográfica em nosso meio . São dois os vo- lumes a serem publicados , tal a extensão da obra .No primeiro , constam o esboço histórico e a legislação dos dos serviços de saúde pública de saúde pública no Brasil .
Quando Dom João chegou ao Brasil , vinha acompanhado de seus melhores cirurgiões .Chegando à Bahia a 26 de janeiro de 1808 , já em fevereiro expedia alvarás restabelecendo no Brasil o cargo de cirurgião - mor dos Exércitos do Reino ,nomeando o médico pernambucano José Corrêa Picanço para tão elevada função . Ao físico – mor D. Manoel Vieira da Silva foram atribuídas outras ativi - atividades ,organizando os primeiros serviços junto aos portos . Naquela época fazia-se a chamada “ quarentena “ , devendo os navios , carregados de escravos esperar nos ancoradouros , para depois serem os doentes tratados convenientemente ,“ fazendo -os lavar , vestir roupas novas , e sustentar de alimentos frescos , depois do que se lhes dará o bilhete de saúde e poderão entrar na Cidade para se exporem à venda .”
Lendo o trabalho de Plácido Barbosa e Cássio de Rezende tem-se uma ideia da evolução dos ser- viços de saúde pública em nosso país , com a criaçõ das delegacias de saúde , o decreto criando o Instituto Oswaldo Cruz , com o seu Regula-mento ,os conselhos distribuídos ao público pela Dire - toria Geral de Saúde Pública , principalmente em relação à febre tifoide , a peste e a tuberculose , culminando com a vitoriosa campanha promovida por Oswaldo Cruz no combate à febre amarela .
Bem – haja Edgard de Cerqueira Falcão ,reeditando os trabalhos clássicos daqueles dois eminentes vultos da nossa profissão ,revivendo um passado glorioso no campo da saúde pública de nossa terra .
Bibliografia Científica
Ciência do Brasil - Raros têm sido no Brasil os esforços para estudar a história e a sociologia da ciência que aqui se pratica . É evidente que uma afirmação dessas dever ser acompanhada de es- pecial referência a monumental obra de Fernando de Azevedo " As Ciências no Brasil " .
A FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos vem há algum tempo amparando o trabalho de grupo interessado em aprofundar esse estudo e situar adequadamente a ciência no contexto de nossa vida cultural e econômica . Belo fruto desse trabalho é o livro de Simon Schwartzman " formação da Comunidade Brasileira " , com a colaboração científica de vários especialistas que vêm mencionados logo após o nome do autor , e a competência editorial da Companhia Editora Nacional para feitura e distribuição da obra .
Schwartzman está particularmente interessado na comunidade científica , o conjunto dos homens que constroem a ciência em nosso país . E seu livro é de fato a primeira história que se escreve dessa comunidade .Para atingir seus objetivos o autor empreendeu amplo trabalho de pesquisa em profundidade , levantando fontes existentes e entrevistando dezenas de figuras representativas da ciência em nossos meios .
Com o resultado de tão grande e bem conduzido esforço compôs as 400 páginas desta obra densa de informação e observação e muito bem completada com índice alfabético e biografia das pes- soas entrevistadas nas mais diversas áreas da pesquisa .
Não perde de vista o autor , em seu exame , a conjuntura da ciência mundial em cada época e as condições sociais , econômicas e políticas do Brasil . Abordada naturalmente , à luz dos dados de sua pesquisa , temas candentes como o aparente dilema wntre ciência pura e aplicada ,dentro ou fora da Universidade .
E muito sugestiva a citação que apresenta como epígrafe para o livro todo , de um trecho de Amoroso Costa , o nosso grande matemático . Vale a pena reproduzi-lo aqui : " O mundo moderno , com oseu fanatismo do progresso material , não des- conhece o que deve ao trabalho dos homens de ciência . Nos países novos esse fanatismo é levado ao auge, e mesmo pessoas muito instruídas ignoram por completo que exista um ideal científico superior ao do homem que fabrica mil automóveis por dia ou do que opera uma apendicite em dez minutos . Daí a opinião quase unanimente admitida entre nós : a ciência é útil porque dela precisam médicos , os engen-heiros ,os industriais ,os militares ; mas não valea pena fazê-la no Brasil porque é mais cômodo e mais barato importá-la da Europa ,na quantidade que fôr estritatamente suficiente para o nosso consumo .Tal a mentalidade dominante entre aqueles que nos educam e , por mais , forte razão , entre aqueles que nos governam " . Isto foi escrito em 1923 e soa muito atual .
Schwarstzman escreveu um livro fundamental , que permite aguardar com muita simpatia os de- mais trabalhos que nascerem do projeto de História Social das Ciências no Brasil , criado e man-tido pela FINEP . J.R.
Fonte - FOLHA DE SÃO PAULO - pág 5° caderno - 71
1979 - PROF CARLOS DA SILVA LACAZ - Ilustrada
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