terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Um filme só não basta



Final  do  festival  da TV  Record  de  1967  rende mais do  que  90  minutos
  
Filme de abertura da etapa paulista do É Tudo Verdade, o documentário "Uma  noite  em  67", de Renato Terra e  Ricardo Calil, é uma das atrações na versão carioca do festival.  Embarcando na onda dos documentários sobre música que proliferam na produção brasileira, com dois cineastas estreantes mergulham na noite de 21 de outubro de 1967  , que  , segundo a tese do filme  , marcou a música brasileira para sempre.

Aquela foi a noite da etapa final do III Festival da Música Popular Brasileira promovido pela TV  Record  , em São Paulo. Melhor festival da era dos festivais, o concurso da Record vinha de uma edição histórica. No ano anterior, o país havia se dividido entre " A banda " , de Chico Buarque  , e " Disparada " , de Theo e Geraldo Vandré, o que aumentava a expectativa quanto ao festival de 67. O que seria apresentado daquela vez  ? Haveria outro sucesso popular tão grande quanto " A banda " ? Haveria a revelação de um compositor tão consistente quanto Chico Buarque  ? Haveria uma disputa tão acirrada quanto a de 1966 ? Outras emissoras de televisão organizavam seus festivais também: a Tv Excelsior, que foi pioneira com o festival de " Arrastão", em 65  ; a TV Rio, que lançara o Festival Internacional da Canção em 66; e a TV Tupi que lançaria o Festival Universitário  , em 68  . Mas nenhuma fazia festival melhor que os da Record. 

O motivo era simples. Para competir com as novelas... Bem, aqui é preciso ser feita uma correção  . Em depoimento para o filme  , Nelson Mota diz  que  , naquele tempo  , as novelas de televisão ainda não existiam  , e que a Record tinha o monopólio de audiência com seus musicais  . Não era bem assim. Na verdade  , a primeira novela diária da televisão brasileira  - " 25499 Ocupado " , interpretada por Tarcísio Meira e Glória Menezes na Excelsior  - é de 1963  . Em 1964  , a Tupi levou ao ar " O direito de nascer", um estouro de audiência  . A própria Record vinha tentando produzir o gênero desde 1965 , quando exibiu " Renúncia " , com Francisco Cuoco e Irina Grecco  . Excelsior e Tupi já dominavam a audiência com os capítulos diários de suas produções, e a Record, depois de ter fracassado com a experiência, resolveu competir com as novelas apresentando algo diferente  , os shows musicais. " O fino da bossa " , " Jovem Guarda " e " Bossaudade " estrearam em 1965  . Como deram certo, a estação acabou criando uma linha de shows musicais com uma atração diferente por dia. Voltando ao começo do parágrafo: para competir com as novelas, a Record contratou com exclusividade o maior elenco de cantores e compositores que uma estação já teve em toda a História da TV no país.   Quando criou seu próprio festival para combater a Excelsior , de 1966 , a Record sabia que, com seu elenco exclusivo, não ia ter para mais ninguém. Ela podia perder nas novelas  , mas ganhava de goleada nos musicais. 

O filme se limita a contar o que aconteceu na noite final  . Mas o festival durava o mês inteiro  - a cada sábado era apresentado um programa ; eram 36 canções concorrentes ; em cada uma das três eliminatórias , eram mostradas 12 músicas ( quatro selecionadas para final ) . Mas nem as 12 finalistas aparecem no filme. Ele se limita a discutir as cinco primeiras colocadas ( " Ponteio " , de Edu Lobo e Capinam ; " Domingo no parque " , de Gilberto Gil ; " Roda viva " ; de Chico Buarque ; " Alegria alegria " , de Caetano Veloso ; e " Maria , carnaval e cinzas " , de Luiz Carlos Paraná e a grande vedete da noite ," Beto bom de bola " , eliminada porque seu cantor e compositor , Sérgio Ricardo , acuado pela do público, interrompeu a apresentação quebrando seu violão e jogando-o na pateia .

Ao optar  por este recorte no que já era um recorte - apenas uma noite num festival de quatro noites  - . " Uma noite em 67 " limita o seu campo de ação. Aquele foi o festival em que " Eu e a brisa " , a obra-prima de Johnny Alf , foi eliminada  . Foi ainda o festival que lançou Gal Costa ( até então , uma desconhecida Maria da Graça ) , cantando " Dadá - Maria " , de Renato Teixeira  . Foi também o festival que apresentou uma rara Nana Caymmi compositora ( " Bom dia " )  . Foi o festival que lançou Martinho da Vila  ( " Menina- moça "). Foi , enfim  , o festival que marcou de vez a era dos compositores-cantores. Depois do sucesso de Chico Buarque no ano anterior  , Edu Lobo , Gil , Caetano  , Sidney Miller , Geraldo Vandré e Sérgio Ricardo  nem pensaram em outros intérpretes para " defender " suas músicas  . Nunca antes na História dos festivais tantos compositores cantaram suas próprias composições.

O filme investe em outro evento marcante  - certamente o mais importante mesmo - daquele festival: o nascimento do Tropicalismo. Foram as roupas estranhas de Caetano e Gil  , o acompanhamento de guitarras  , os arranjos ousados que fizeram de " Alegria  alegria " e " Domingo no parque " as grandes atrações daquela final e o assunto dominante de " Uma noite em 67 " .

O  filme ignora " Gabriela " , de Maranhão, uma das favoritas para ganhar e que acabou em sexto lugar  . Volta e meia  , Elis Regina e Nara Leão aparecem nas imagens de arquivo da Record, embora o documentário nunca conte o que elas estavam fazendo ali. Elis defendia: "O Cantador" de Dori Caymmi e Nelson Motta ( em seu depoimento , Mota conta que tinha uma música em competição, mas nem assim o filme se preocupa em dizer qual era) que lhe deu o prêmio de melhor intérprete. Nara era a cointérprete de " A estrada e o violeiro " , de Sidney Miller, que acabou ficando com o prêmio de melhor letra.

Entre os acertos de " Uma noite de 67 " está a opção por mostrar na íntegra cenas de arquivo - com ótima qualidade de som e imagem - das quais a TV costuma exibir apenas trechos. São deliciosas as entrevistas de bastidores por Randal Juliano ( fumando sem parar e chamando Caetano Veloso ) e Cidinha Campos ( querendo saber de Marília Medalha se ela estava usando cílios postiços ) , embora tudo isso esteja disponível no "you Tube  . Talvez o problema de " Uma noite em 67 " seja o de que foi uma noite tão rica que não cabe num filme só .

Jornal   -  O  GLOBO       - Segundo  Caderno   pág  10 
Quarta-feira , 14 de abril  de 2010     -    ARTUR  XEXÉO  

A música no Brasil Colônia



Quando D. João VI chegou ao Rio, em 1808, espantou-se ao ouvir a música de um compositor negro brasileiro, José Maurício Nunes Garcia, afirmando que não imaginava encontrar um músico desses em uma "simples dependência de Portugal". Nascido na Rua da Vala - hoje Uruguaiana - José Maurício em criança ouvia ao longe o jongo o vissungo cantados pelos negros, vendidos ali no mercado de escravos do Valongo. Ele próprio neto de escravos, não se voltou para a sua cultura de origem, mas seguiu um dos caminhos possíveis naquela época para alguém de sua condição social receber uma educação formal: ordenar-se padre. Sua música era sacra, criada para as cerimônias religiosas. D.João admirou o compositor brasileiro desde o início , o que não impediu que José Maurício passasse por todo o tipo de constrangimentos entre os músicos, os empregados do palácio e os membros do Senado. "Como pode um músico com defeito físico visível ser mestre da Real Capela ? " , vociferavam os intolerantes, referindo-se à sua cor.

José Maurício , apesar de tudo , se impôs , e sua música quase mozartiana foi dando vida às cerimônias religiosas. Sua música e a de outros compositores era ouvida tanto nas igrejas quanto nos salões da Corte , e ainda na ópera , no recém-criado Real Teatro de São João , hoje transformado no João Caetano. A música celestial que vinha das igrejas, inspirada em cânones europeus, era na verdade escrita muitas vezes executada por negros, cujos ancestrais trouxeram variados ritmos da África . Do lado de fora , outros negros cantavam e dançavam a umbigada e o jongo , que posteriormente foram dar origem ao samba. Outra dança de origem africana contagiava o povo: negros e mulatos , ao lado de muitos brancos , cultivavam o lundu, que de uma dança de terreiro irou uma canção

Descrita como uma música que tinha o poder de enfeitiçar o ouvinte , a modinha era repleta de suspiros de amor , expressando conquistas realizadas ou desejos jamais concretizados . Já o lundu , mais ritmado e com palavras satíricas e maliciosas, considerado indecente pelos europeus, podia também cantar ao amor, mas muitas vezes servia à crítica - da bagunça que era o entorno da Sé Velha, onde tudo se vendia, à criminalidade que era bastante grave nas ruas cariocas  de então.

De lá pra cá muita coisa mudou. A modinha , que antes era considerada ousada , hoje soa singela , inocente . Ainda assim , a simplicidade de suas melodias sentimentais , de grande força expressiva , continuou cativando , fazendo com que o gênero fosse cultivado no século XX por Villa-Lobos  e outros compositores da música de concerto, e também por medalhões da música popular brasileira , como Chico Buarque , Tom Jobim e Dorival Caymmi . Quanto ao lundu , atualmente ele nos soa apenas ritmado, gostoso de ouvir, mas sem a conotação lasciva, daquela época. E a música de José Maurício , que já foi tão presente no Rio de Janeiro , parece hoje estar condenada a um meio-esquecimento.

Possivelmente , hoje em dia o funk ocupa o lugar da música ousada , com forte apelo erótico, para não dizer pornográfico, carregando com cores mais intensas o espaço outrora pela modinha e pelo lundu . Mas nem todos os aspectos dessas hoje singelas canções ficou ultrapassado . Ao falar da violência nas ruas , da desordem urbana e do dinheiro acima de tudo, será que estavam descrevendo e criticando o nosso cotidiano , 200 anos depois ? 

Revista   O  GLOBO   -  pág  40   - Colunista  convidado 
12  de  abril  de  2006   -  MARCELO  FAGERLANDE  - é  cravista  e  professor 
UFRJ

Cultura de fundo de quintal



Pesquisadores  mapeiam  o  renovado  carnaval  de  rua  carioca  e  sua  afirmação  através  da  mídia  

Embalado pelo hino Água  na  boca , de Agildo Mendes  , o Cacique de Ramos tomou a avenida Rio Branco , com 2 a 3 mil integrantes fantasiados de índio. O então líder da folia carioca , Bafo da Onça , do Catumbi , subiu a calçada e abriu passagem. Ali, no verão de 1963, nascia um fenômeno que revitalizaria o carnaval brasileiro, formaria gerações de músicos e ajudaria a levar o samba a uma inédita lua de mel com a indústria da cultura.  

Essa e outras histórias de um dos mais populares blocos carnavalescos do Rio são contadas em Cacique de Ramos: uma história que deu samba, do antropólogo Carlos Alberto Messeder Pereira e Blocos: uma história  informal  do  carnaval de rua, do jornalista João Pimentel .

O livro de Messeder Pereira é um mergulho nos subúrbios do Rio que revela as estratégias de afirmação de uma cena cultural , o flerte com a mídia e o mundo da política , a institucionalização e a sua constante renovação. Pena que o trabalho, iniciado em 1983, quando o autor foi chamado pela Fundação Nacional Pró- Memória para um levantamento de pontos culturais do Rio, tenha levado tanto tempo para ser lançado. Tudo bem. Hoje , o papel do Cacique de Ramos ganha em  perspectiva  histórica .

Seduzido pela descontração das rodas de samba na lendária quadra da Rua Uranos, Messeder Pereira fez uma ampla pesquisa etnográfica, de observação participante, mapeando desde a criação do bloco, nos idos de 1961, até a consolidação do rótulo “pagode“ via mídia. Para o pesquisador, um rico material: pelo Cacique de Ramos , transitaram artistas como Jorge Aragão , Almir Guineto , Beto Sem Braço , Arlindo Cruz , Dicró , Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, sem falar nas madrinhas, Elza Soares e Beth Carvalho , e na extensão fonográfica do bloco , o grupo Fundo de Quintal.

Messeder Pereira faz curiosa genealogia do Cacique, amparado por dezenas de entrevistas com artistas e integrantes do bloco. Desde seu batismo , devido à profusão de nomes indígenas entre os fundadores – Ubiraci , Ubirany , Ubirajara , Aimoré , entre outros -, até o sincretismo de suas batucadas , herdeiras de terreiros de umbanda e candomblé, o Cacique se mostra francamente original e antropofágico, trocando arlequins e colombinas europeizados por índios ( mesmo estilizados ) . 

Quem eram e quem são esses índios urbanos ? No discurso de seus dirigentes , a defesa dos povos indígenas do Brasil explorados , oprimidos , expulsos de sua terra e lutando por sua sobrevivência física e cultural , reivindicando , como eles ( negros em sua maioria ) , seu território. Na fantasia e nas alegorias, o cruzamento entre a imagem do índio norte-americano ( o apache ) e a do maravilhosos selvagem coberto de plumas , desenhos e cores , veiculadas pela indústria cultural. Na tradição de muitos de seus membros e fundadores , o caboclo – personagem altivo, orgulhoso, indomável ,senhor das matas - , incorporação da figura do índio no universo religioso afro-brasileiro. É tudo isso que o Cacique de Ramos representa e a partir daí que se pode pensar sua enorme força de expansão. E mais: é desse entrecruzamento e da presença simultânea de todos esses elementos díspares mas eficazmente integrados que ele ganha uma riqueza marcadamente urbana e sedutora “, assinala Messeder Pereira .

O autor mostra o bloco nasce despretensioso e assim permanece , num momento em que as escolas de samba tinham se institucionalizado e o carnaval de rua se achava esvaziado. No caminho, aproveita para desmitificar o chamado samba de raiz, mostrando o hibridismo do ritmo de suas origens, no casamento entre a modinha portuguesa e o lundu

Com a lacuna deixada por artistas exilados nos anos 70, o samba vai ganhar espaço na mídia. Nesse período , á consagrado e  hors  concours  nos  desfiles  de  blocos  de  embalo , o Cacique se torna uma usina de talentos. Em 1979 , Beth Carvalho estoura com Vou  festejar , de três  caciqueanos , Jorge Aragão , Neoci e Dida . Em 1980 , o artista plástico Vergara leva para a bienal de Veneza imagens captadas em dez anos de desfiles e as famosas fantasias de índio feitas de napa , caraterísticas do Cacique .

Essa invasão na mídia , alvo de reportagens de jornais de elite e revistas de grande circulação , levou a incursões da indústria , muitas vezes desastradas , ao mundo do samba. As rodas de samba , ou pagodes ( festas informais em torno de mesas de bar ou em casas de sambistas ) , em que músicos desfiavam seus partidos altos , viraram moda . Logo , a expressão pagode seria usada erroneamente para definir um novo tipo de samba, caracterizado pela introdução de instrumentos inusitados, como o banjo e o tantã, que vai substituir o barulhento surdo.

No início dos anos 80 , os pagodes proliferavam até em outras capitais. "O Cacique era, na verdade , o coração de uma enorme rede de pagodes e de pagodeiros , de casas de samba , enfim , um verdadeiro espaço cultural no sentido mais pleno da expressão. Por essa época , o pagode estava no auge da moda . Havia um sem-número de pagodes espalhados pelos subúrbios, chegando até a Zona Sul , os ecos na imprensa e no rádio eram grandes , a indústria do disco se interessava pelo assunto " , lembra Messeder Pereira . Índio  queria  apito E  estava  apitando  para  valer  na  mídia .

Fonte  -  Jornal  do  Brasil   -  capa  - Idéias  &  Livros 

Sábado 01 de Março de 2003 .   MARCELO  KISCHINHEVSKY   - Editor  Assistente  de  Economia  do  JB  e Doutourando  em  Comunicação  e Cultura pela UFRJ

Carnaval. O que é? Origens. Da Antiguidade ao Brasil.



Carnaval é a maior festa popular, no Brasil, a mais celebrada e, ao longo do tempo, tornou-se elemento da cultura nacional. Reúne milhares de pessoas nas ruas, nas passarelas do samba e nos clubes, em todo país. Porém, o Carnaval não é invenção do brasileiro, nem tampouco realizado neste país. Antes de tratarmos o tema, no Brasil, vamos dar um passeio pela Antiguidade e conhecer a sua verdadeira origem. Segundo, o historiador Voltaire Schilling, “A origem do carnaval é milenar. É a festa profana com registro há mais de três mil anos a.C. As suas origens mais remotas encontram-se na Grécia, no antigo culto ao deus Dionísio que, mais tarde, foi levado à Roma com o Nome de Baco. Depois foram espalhados em todos os países de cultura neolatina. Consta que as primeiras seguidoras do deus foram as mulheres, que viram nos dias que lhe eram dedicados, um momento para escaparem da vigilância dos maridos para poderem cair na folia. Nos dias permitidos, elas saíam aos bandos, com os rostos cobertos de pó, máscaras, e vestes rasgadas, cantando e gritando“. 

A palavra carnaval , é originária do latim, carnis levali, cujo significado é retirar a carne. Relaciona-se com o jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também com o controle dos prazeres mundanos. Isso demonstra uma tentativa da igreja católica de enquadrar a festa pagã da antiguidade que ninguém conseguiu destruir. 

Os primeiros registros dessas festas populares, constam na era pré céltica, no Hemisfério Norte , Egito , depois Grécia e Roma onde ocorriam para celebrar o fim de inverno e a chegada do plantio de lavouras.  Elas deram origem ao carnaval sem fundo religioso , usavam máscaras e brincadeiras. A historiadora Rita de Cássia Araupe afirma que “Essa celebração agrária teve um cunho religioso quando o Cristianismo passou a vinculá-la à Páscoa : era terça-feira “Gorda “ de 47 dias antes do domingo da Páscoa . Havia diversão e exagero de comida e bebida que antecede ao período de reflexão e jejum dos cristãos , antes da Páscoa , quando os fiéis têm que se recolherem e reverem sua vida “ . 

No entanto, o Carnaval, mais próximo do que conhecemos , está estreitamente ligado à mitologia grega e romana . A personagem chave é Dionísio , grego , também chamado Baco , em Roma . Na época clássica , era o deus  do  vinho e do delírio místico. Ele é o filho dos amores adúlteros entre  Zeus (Júpiter) e Sêmele . Esta por influência de Juno , esposa de Zeus . ( Hera ou Jano era protetora dos casais unidos oficialmente e protetora dos partos ) pediu ao amante  que se mostrasse no seu esplendor. O deus atendeu ao seu pedido. Ela foi fulminada pelos seus raios. No tempo certo, tirou-o vivo. Pediu para Orcómeno e Ino criarem a criança e para disfarçarem vestindo-o com roupas de mulher para sua esposa não descobrir. Hera descobriu e enlouqueceu Ino, a ama. Então Zeus o levou para a Ásia. Nisa , África , Etiópia para as ninfas criarem . Hera descobriu e o transformou em cabrito. Adulto, Dionísio descobriu a videira e seu uso. Mas Hera o enlouqueceu . Na sua loucura, o deus vagueou pelo Egito e pela Síria. Curado da loucura, Dionísio foi a Trácia. O rei Licurgo tentou prendê-lo , mas não conseguiu . Da Trácia foi para a Índia . Regressa a Grécia . Foi para Atenas , onde introduziu as bacanais , festas em sua honra , durante as quais , toda população , sobretudo as mulheres eram tomadas por um delírio místico. Percorriam campos emitindo gritos rituais. Depois foi para Naxos. Dionísio, deus do vinho e da inspiração , era festejado com procissões tumultuosas. Esses cortejos deram origem às representações teatrais: Tragédia e Comédia . Na Itália , os mistérios Dionisíacos com sua licenciosidade e seu caráter orgiástico e proliferaram se entre as populações menos civilizadas . Em Roma, os mistério dionisíacos tiveram início séc. II a.C. Na Mesopotâmia , tinha um caráter de subversão de papéis sociais : prisioneiro transformava em rei , e o rei em prisioneiro . Este era humilhado diate do deus; os homens vestiam-se de mulheres e vice-versa.

A origem do Carnaval Greco - romano relaciona-se às orgias , as festas bacais romanas ou dionísiacas gregas, que eram dedicadas ao deus do vinho e marcadas pela embriaguez e pela entrega de prazeres da carne . 

Em Roma , as Lupercálias ocorriam em fevereiro , mês das dividades infernais . tais festas duravam dias com comidas , bebidas e danças . Os papéis também eram invertidos : os escravos colocavam no local dos seus senhores e estes no papel de  escravos . O cortejo de Baco era muito numeroso : faunos , silenos , ninfas , pastores e Pã . Todos levavam o tirso, coroas de hera , taças de vinho e cachos de uva . Baco , jovem risonho e festivo lidera o cortejo que segue dando gritos e ressoando ruidosos instrumentos musicais. Baco segura com uma das mãos um cacho de uvas ou chifres ( símbolo das forças do inconsciente) e com outra , o tirso cercado de folhagens e fitas. Está sentado em um tonel ou puxado por tigres com faunos tocado as flautas.

O Cristianismo criticava a inversão de oposições sociais, pois , ao inverter os papéis de cada um , na sociedade , invertia-se também a relação entre Deus e o Diabo . A Igreja Católica enquadrou tais festejos a partir do século VIII , com a criação da Quaresma . No final da Idade Média , século XI , período fértil para a agricultura , os jovens se fantasiavam de mulheres e saíam às ruas e campos , durante algumas noites . No Renascimento, as cidades italianas , surgiu a " Comédia Dell Arte " , teatros improvisados , cuja popularidade ocorreu até século XVII . Em Florença , canções foram criadas para acompanharem os desfiles com carros decorados  " Os Trionfi". Em Veneza , usavam a bata com capuz negro e chapéus de três pontas , além das famosas máscaras , até hoje , as mais belas do mundo

Na Bolívia , acontece o Carnabalito , onde as mulheres vão aos salões , com máscaras e escolhem o companheiro com quem querem dançar.

O Carnaval no Brasil, chegou na época da Colonização , no século VII , com o nome de Intrudo . Eram brincadeiras em que as pessoas sujavam umas as outras . As famílias brancas brincavam nas casas e os escravos nas ruas , segundo a historiadora Rita de Cássia Araupe . De origem portuguesa que , na colônia , era praticada , na maioria , pelos escravos . Posteriormente surgiram os cordões, ranchos , os corsos , os bailes em clubes e as escolas de samba . Com a Revolução de 1930 , começou-se a sufocar a espontaneidade popular com regulamentos rígidos. No entanto, as coibições, desde a.C., de nada adiantaram porque os costumes mostraram-se mais fortes que as leis. Aí ganharam destaque as escolas de samba , que , hoje , têm fama internacional pela beleza das alegorias , fantasias , principalmente no Rio de Janeiro. Os afoxés , frevos , maracatus , marchinhas , sambas passaram a fazer parte da tradição cultural carnavalesca .

Finalmente , não podemos ignorar o Tusca , que ocorre em São Carlos , uma vez ao ano , entre alunos das Universidades. Eles fazem cortejos pelas ruas com estudantes de todo o Brasil. Chegaram até vinte mil estudantes . São seguidos por um caminhão de cerveja . Cantam , dançam , gritam , ficam  nus, fazem xixi e cocô nas calças, embriagam-se, alguns ficam em coma alcoólico, e acabam parando nos hospitais , sem contar com casos de morte de estudantes, no decorrer dos festejos. Divertem-se, liberando-se de todas as pressões sociais. Com a proibição dos cortejos, nas ruas, pela Prefeitura, os estudantes fazem sua festa em chácaras ao redor da cidade. Entendemos que o Tusca também seja uma reminiscência do culto a Dionísio ou Baco

"As religiões da Grécia e da Roma Antiga desapareceram . Mas o legado de seus mitos e heróis continua presente até nossos dias . " ( BULFINCH ) .

Fonte   -  Folha  do  SERVIDOR  PÚBLICO    pág 22 - Edição 301- Fev /2018
Bibliografia utilizada para as pesquisas : 
PUGLIESI . Márcio . Mitologia Greco - Romana . São Paulo  . Madras  , 2000 
BULFINCH . Thomas  . O livro de Ouro da MITOLOGIA . 
Rio de Janeiro : Ediouro , 2000 

CASO DE SUCESSO - MÉRIDIEN



No  lugar  "bonjour",  "buenos dias"

O hotel , que ficava no prédio mais alto da orla da Zona Sul , deixou para trás a grife e o nome francês e , em 1º de fevereiro, foi rebatizado de Iberostar Copacabana. Mais do que uma marca que se vai do Rio é a marca que o hotel deixa na lembrança dos cariocas.

- Ponto de referência na praia , na festa de Réveillon , da sua cascata , pelo festival de chocolate ou pela boate Regines dos tempos do Dancin’ Days, o hotel terá uma cara completamente nova, garantem seus novos controladores. 

- Em vez de cozido, quem sabe serviremos uma paella .Vamos mudar o sotaque – garantiu, o diretor da Iberostar no Brasil, Orlando Giglio .

O atual empresário Silveira Pinto, que por 15 anos trabalhou No Méridien, confessa que sentirá saudades .

- Parte da mina vida está ali. No hotel trabalhei, dei o sangue e suor – conta o antigo chefe de recepção do hotel. No Méridien , ele conheceu a atual mulher, e lembra, divertindo-se, de pelo menos uma das inúmeras celebridades que aportavam no hotel em seus áureos tempos.

- O caso mais inusitado que me lembro é o Tim Maia. Ele ia muito ao hotel, na feijoada do Le Saint Honoré, e uma vez pagou a conta com uma letra de música. Depois , foram lá pagar a fatura e pegá-la de volta.

Quando o Le Méridien aportou no Rio, em 1975 , era o único hotel de bandeira francesa no País.

Da companhia aérea Air France , recebia em grande parte executivos , artistas e autoridades francesas. Entre os quais o ator e cantor Charles Aznavour ( de “ Atirem no pianista “, de François Truffaut), o presidente François Miterrand e até pop Backstreet Boys, que reuniu mais de 20 mil fãs na porta do hotel, que só voltaram para casa depois de assistir a um show improvisado da piscina do hotel.

Mas, para Getúlio Batista Saraiva, o maitre executivo do Le Saint Honoré , com perto de 31 anos de Méridien , são o peixe e a sobremesa de Caterine Zeta Jones que não saem da memória .

- Não me lembro da entrada , mas ela comeu robalo , e , de sobremesa , crepe gratinado de marujá – recorda. - Fiz dois cursos de somelier e ganhei muito muito conhecimento em gastronomia aqui. Aprendi a falar francês, inglês, espanhol e italiano.

O hotel também foi escola para minha esposa, gerente-geral do Ipanema -Plaza . Ela lembra do primeiro emprego , aos 20 anos, na recepção do Méridien , em que o idioma francês era pré-requisito fundamental para o pessoal da lina de frente .

- O Méridien tinha um diferencial , por ser o único hotel francês no Rio. Por isso , tinha um acolhimento especial – conta. - Trabalhei ali nos anos 1980 , os anos de ouro da França no Brasil, quando os vips vinham ao País de Concorde (avião supersônico da Air France). 

Ela fez treinamentos na França, Portugal e Caribe à medida que galgava posições até a gerência de recepção. - O Méridien era uma escola. Busquei ali muitos profissionais para trabalharem comigo no novo hotel – lembra ela, que trabalhou ali 14 anos e passou muitos réveillons no prédio, cujo show era o mais esperado do antigo Ano Novo do Rio .




Talvez seja a cascata de fogos a lembrança mais marcante que o Méridien deixará para maioria dos cariocas . Encerrada em 2004 por motivos de segurança , era um dos momentos mais esperados da noite da virada desde 1976 , quando começou . A cascata era detonada logo depois dos fogos da areia e cobria o edifício mais alto da orla da Zona Sul do Rio de luzes incandescentes. 

Do aprendizado dentro do hotel lembra-se o famoso chef Laurent Suadeau, que deu ali os primeiros passos até chefiar uma cozinha .

- A equipe de alimentos e bebidas do Méridien do Rio em 1982 foi eleita a melhor da rede do mundo – lembra Laurent, que veio da França especialmente para o trabalho no Le Saint Honoré . De subchefe foi a chefe usando os temperos brasileiros .

- O Le Saint Honoré é uma marca brasileira , não francesa . Introduziu ingredientes da terra hoje usados por grandes chefs franceses da nova geração no Brasil , como manjubinha, o quiabo e abóbora .

O chef  Phellipe Brie , que por oito anos trabalhou no hotel , foi chefe de confeitaria e chef do Saint Honoré , trazido da rede na França e comemora o fato de ter preparado um molho especialmente para o grupo inglês de rock Queen , que ficou hospedado no hotel quando passou pelo Rio , para show em 1985.

- O restaurante sempre foi o melhor, se não um dos melhores , da culinária francesa no País – atesta .

A bandeira foi vendida à uma rede inglesa e, em 2004, os americanos da Starwood, que detém a marca Sheraton no Rio . Em fevereiro, os americanos deixam o imóvel, que é da Previ, e ficará a cargo dos espanhóis, recomeçar uma nova história .

Fonte    -  JORNAL  DO  BRASIL    - pág   E 2   - Negócios
Domingo , 14 de janeiro de 2007      -  Mariana Carneiro 

Os guetos musicais de São Paulo



AMIGOS, eu vi . Com os olhos que enxergam e ouvidos que ouvem fui a uma casa em Santo Amaro, de onde se via ao longe Interlagos. Uma atmosfera mágica, uma névoa musical envolvia os presentes, como que os transportando para outra dimensão.

Vi quando o pianista Dudah se dirigiu ao piano, como uma daquelas pianeiras históricas, das dos tempos de Chiquinha Gonzaga, e despejou uma mistura de choro e ragtime capaz de levantar paciente da UTI. E vi quando o conjunto Flor Amorosa entoou um vocal tão bonito como eu não ouvia desde o início do Quarteto em Cy. Em seguida, ouvi uma jovem cantora de nome Adriana Godoy tirando da garganta sons de que apenas Elis Regina seria capaz. 

Noite avançando, as visitas dirigiram-se ao salão principal como uma procissão de iluminados aguardando a celebração final. Abriu-se o piano e vi quando Marinho Boffa passou a dedilhar escalas, arpejos e acordes de uma riqueza que teria humilhado os músicos do Blue Note. E vi quando Laércio de Freitas, a quem Radamés chamava de gênio, levantou-se lentamente, qual um príncipe etíope, empurrou Boffa para o lado agudo do teclado e passou a martelar os graves como jamais ouvi em nenhum CD pretérito, presente ou futuro. A batida vinha num sincopado complexo, uma harmonia com nuances a quatro mãos, com tais desdobramentos que se diria que a música estava sendo reinventada.

Saí daquela casa e fui a um restaurante de Santo Amaro onde Miltinho Tachinha  tirava de sua guitarrinha sons e improvisos que não envergonhariam. Garoto, João Torto bordava no cavaquinho harmonias à altura de Canhoto, e o violão sete cordas de João Macacão soltava bordões da melhor escola brasileira.

Dormi em êxtase , acordei no domingo , almocei e voltei ao caminho de Santiago dos guetos musicais de São Paulo. Fui parar num sobrado modesto da Pompeia. Lá vi os consagrados trompete de Silvério e trombone de Zé da Velha acompanhados pelo sete cordas imbatível de Zé Barbeiro e de Israel . Vi quando rapazes entraram na roda, abriram partituras e saíram lendo e improvisando de um modo que as velhas gerações não tinham por hábito fazer. Ouvi a gaita de Vitor , a flauta de Rodrigo, o cavaquinho de Pingo, como tinha ouvido antes o bandolim de Danilo e, antes dele, os múltiplos instrumentos de Arnaldinho, todos quase rapazes , quase meninos. 

À noite , em casa , recebi Cabelo , um músico curitibano de 50 anos , filho de boiadeiro . E Cabelo tirou sons de viola caipira e de violão , dedilhou Barrios e Beatles , pontos de viola e de choro , com um virtuosismo de gênio rústico . 

Aí trabalhei intensamente durante cinco dias para me preparar para o final de semana seguinte . No sábado retomei a trilha de São Pinxinguinha e fui dar em uma casa na remota Vila São José, que tinha um fundo um salão enorme, com 40 pessoas reunidas silenciosamente, como membros de confraria celebrando a música de Isaías, de um Madrigal montado com pessoas do bairro . E ouvi uma menina linda , noiva do maestro , com uma voz que lembrava Bidu Sayão.

Depois , segui para Brasília e fui parar no Clube do Choro e na Escola de Música Raphael Rabello , onde o bandolinista Reco constrói sua obra monumental. E vi violinistas exímios, bandolinistas virtuosos ensinando a sua arte para uma molecada inebriada pelos sons e pela magia do choro.

Nos próximos fins de semana estarei garimpando novos guetos, para encontrar o bandolim de João Macambira , os pianos de Benjamin Taubkin e Silvinha Góes, os violões de Swami Jr . e Chico Pinheiro, os sopros de Proveta , Pitoco e Mané Silveira, os baixos de Pixinga , Arismar do Espírito Santo e de seu filho . E tantos outros, mas tantos outros que eu , que peguei o final da bossa-nova e a fase dos festivais, aderi ao tropicalismo e fui devoto do Clube da Esquina, que acompanhei os sons do sertão e dos salões, segui o rastro dos violeiros e dos violonistas , vi ano após ano as transformações musicais do país , ousaria dizer: jamais houve geração musicalmente mais rica , em quantidade e qualidade , do que a atual , formada ou se formando nos guetos musicais , longe das gravadoras , das emissoras de rádio e televisão.

E  ai  de  quem   me  disser  que  a  música  popular  brasileira  está  decadente.

Fonte  -  Jornal  FOLHA  DE  SÃO  PAULO    -  DINHEIRO 

LUÍS  NASSIF 



As  linhas  onduladas  do  Copan  em vídeo

A  história  do  Copan 

O edifício foi idealizado no auge do crescimento da cidade , que queria se mostrar ao mundo como a mais nova metrópole industrial. O Copan não só é o símbolo dessa nova fase de São Paulo, como acompanhou as profundas modificações da cidade e hoje faz parte da história arquitetônica da capital paulistana . "O Copan foi construído quando São paulo mudou sua fisionomia de uma cidade que vivia do café para o símbolo do crescimento industrial do País , seguindo a verticalização norte-americana", explica Galvão.

Seu projeto arquitetônico é assinado por Oscar Niemeyer, responsável pelo desenho de alguns pontos turísticos mais famosos de São Paulo , com o Parque do Ibirapuera.

Seu nome trouxe ainda mais prestígio ao prédio de arquitetura moderna, uma onda que destoa em meio aos prédios de traços retos de São Paulo. "Ele é arrojado. Ainda na década de 50, já previa o uso tanto comercial quanto residencial, que é a essência de qualidade de vida para grandes centos urbanos", teoriza Sheila . Mas quem coordenou todo o projeto foi Carlos Lemos, arquiteto contratado por Niemeyer para coordenar seu escritório em São Paulo. Niemeyer partiu para Brasília, para construir o Distrito Federal

A construção do Copan não foi fácil . Iniciada em 1957 , o edifício foi inaugurado somente em 1966 . Foi encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo para se tornar um grande complexo hoteleiro, com apartamentos de luxo, teatro, cinemas e lojas. "Houve um problema entre os sócios da companhia e o projeto acabou caindo nas mãos da construtora CNI e do Bradesco. Eles mudaram a direção do projeto", detalha Galvão .

O edifício Copan acabou sendo lançado num momento de decadência do centro de São Paulo, quando os grandes prédios comerciais se deslocavam para bairros mais distantes, empobrecendo a região. Muito próximo de virar um grande cortiço, título que carrega erroneamente até hoje, o Copan se recuperou com a volta do glamour ao centro da cidade e o trabalho de um grupo de moradores que resolveu investir na melhoria do prédio e no resgate de sua história. Hoje, o Copan volta a atrair olhares de todo o mundo como um ícone da arquitetura moderna. "Ele  é  um  microcosmo  do  que  é  a  cidade  de  São  Paulo  hoje  e  de  renovação  do  centro  da  cidade "avalia Galvão  .

Um  projeto  de  Oscar  Niemeyer  em  seis  blocos  de  115  metros  de  altura, 1.160 apartamentos  e  cerca  de  5  mil  moradores.  O  Copan é  cercado  de  dados  impressionante  e  de  histórias  de  vida  mais incríveis.  Essas  histórias  estão  retratadas  no  documentário  Edifício  Copan, lançado  no  final  de  agosto  de  2006, pelo  Vídeo  FAU , Laboratório  de  Vídeo  da  Faculdade  de  Arquitetura  e  Urbanismo  (FAU) da USP

O projeto começou em 2004 , quando Walter José Ferreira Galvão , arquiteto e mestrando da FAU , e sua orientadora , a professora Sheila Walbe Ornstein, trouxeram sua pesquisa sobre o Copan para o Vídeo FAU. A ideia era transformar a história do Copan e de seus moradores em um filme didático, para todos os públicos. "A proposta era não ter uma abordagem muito especializada, muito técnica. Procuramos fazer um recorte que possibilitasse várias leituras do material , que tanto poderia interessar o aluno de arquitetura quanto o público em geral que tem interesse em saber quem mora no Copan e como é morar lá", explica Luiz Bargmann, diretor do filme. 

Fonte   -      JORNAL  DA  USP    -    pág   7   -  Pesquisa 
De  1  a  17/09/2006    -   ARQUITETURA  - MÁRCIA  SOMAN  MORAES 

O VICIADO É ALGUÉM QUE PEDE SOCORRO



Na tentativa de se avaliar os porquês do uso de drogas pelos jovens, foram realizados, na escola onde leciono, trabalhos referentes ao assunto. Em um primeiro momento, reuni-me com os alunos para um debate sobre toxicomania, no qual  "o contra" , o " a favor " e os argumentos sobre os motivos do viciado dividiram as opiniões . Os alunos também realizaram outros trabalhos como painéis, pesquisas e uma peça teatral na qual cada um representou uma personagem-chave  (um médico, um religioso, um político, um ex-viciado, uma mãe, um viciado, professor, etc.), na esperança de mostrar às pessoas como é a realidade do mundo dos drogados e fazer um apelo à consciência dos pais
Nota-se que o jovem, seja ele adolescente ou não, passa a usar drogas como um meio para solucionar seus problemas, fugir destes ou procurar auto-afirmação. Por vezes, percebe-se que o desejo por liberdade plena e total é reivindicado pelo indivíduo como um meio de se projetar na sociedade. Segundo muitos, é difícil escapar da droga, visto que ela está em todos os lugares que eles frequentam - ignorá-la seria ignorar também a moda, o "ser legal" e os amigos. 

Influenciado por jogos e filmes violentos, noticiários sobre constrangimentos físicos e/ou morais (tão comuns em nossos dias) e desacordos familiares, o jovem tem necessidade de mostrar também o seu poder, sua força, e muitas vezes o faz agredindo a sociedade - quebra, briga, ofende... Ou apela para as drogas. Com elas se sente livre e capaz , podendo fazer o que quiser, quando quiser , inclusive largar o vício ( ilusão ! ). 

Famílias que dão liberdade em excesso, outras que reprimem demais;  falta de diálogos maduros e racionais com os filhos e vive-versa; governo e pais que despejam a responsabilidade da educação dos adolescentes na escola, fatores sociais (como miséria e a falta de um projeto voltado a esclarecer a população carente); o tráfico intenso de drogas e a prostituição infanto-juvenil, são alguns fatores que levam a uma desarmonia social no jovem. 

Educar o jovem não é responsabilidade apenas da escola e dos governantes , mas principalmente dos pais ou tutores.  Cabe a todos nós mostrar o lado negativo do uso de drogas e do abuso sexual, promover e participar de campanhas educativas. A família e a escola devem promover uma educação aberta , voltada ao diálogo , ao amor e à atenção.

O governo deve criar centros clínicos e psicológicos gratuitos para recuperação de viciados e agir de forma severa quanto ao tráfico.

O toxicômano não é criminoso ou portador de algo contagioso, é apenas alguém que grita em silêncio: "Estou aqui , olha pra mim , sou importante", é um apessoa que necessita de amor , atenção , compreensão e de tratamento médico. Você já se perguntou por que "fulano " é um viciado ? Por que uma adolescente se prostitui ?  Por que muitos jovens, conscientes das sequelas do uso de drogas ,se viciam mesmo assim ?

Criticar  e  condenar  sem  saber  os  motivos  que  levaram  o  toxicômano  a  ser  o  que  não  tem  fundamento  humano  nem  racionalEle é apenas alguém que quer ajuda...

Fonte  -  Jornal  -   O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO  -  pág  11   -   DROGAS 
OUTUBRO  de  1997   -   Elaine  Cristina  Feitosa  , Escola Paulista    -  ESTADÃO  na escola


"O  Porquê  da  Dependência  das  drogas"
Para  aprimoramento  das  mães 

1- O porquê  da  dependência  das  drogas

Temos causas fundamentais que levam à dependência: a fuga dos problemas do dia-a-dia, modismo , auto-afirmação , solidão , influência de amigos , falta de diálogo entre os pais e entre pais e filhos

Quando a droga é usada , seja por via oral ou injeção , ocorre o entorpecimento de uma parte do cérebro. Assim também ocorre com o álcool. Ambos tornam o cérebro insensível à voz da consciência . A natureza divina , a voz da consciência , o espírito Santo, deixam de ser ouvidos e o indivíduo passa a agir sem escrúpulos .

O fumo é um entorpecente que , fazendo desaparecer a agitação da mente e o medo , leva o indivíduo a sentir-se tranquilo.

O álcool inibe a consciência e o sentimento de culpa faz com que os sentimentos reprimidos no dia-a-dia venham à tona . O alcoolista sentimental é aquele que acumula dentro de si sentimentos claros ; sem bebida sente vergonha de chorar . O alcoolista briguento é aquele que vive com muita raiva , mas reprime esse sentimento , fingindo serenidade . Quando bebe , ocorre a inibição à auto censura . Os comportamentos extravasados não são "ações da bebida " , mas sim dos sentimentos nutridos e acumulados na mente da própria pessoa , que se liberam em virtude do entorpecimento do cérebro pela ação da bebida . A própria pessoa não consegue conscientizar o que a leva a sentir tal tristeza , porque veio entorpecendo a consciência.

A causa está na mente , por isso , enquanto não forem corrigidos a atitude mental e o modo de vida da própria pessoa , o esforço para largar a dependência será em vão. Quando na mente há censura e insatisfação por uma vida desregrada, o indivíduo tenderá a entorpecer os sentidos através da bebida para não escutar a voz da consciência e não sentir solidão .

Muitas vezes a pessoa não gosta do sabor da bebida para encobrir a intolerável solidão. Insistir para o indivíduo parar de beber, aumentará seu sentimento de culpa . Criticar, tentar obrigar a pessoa parar de beber , fará com que ela se sinta mais solitária ainda e aumentará a vontade de beber. Vivendo de acordo com os ensinamentos da Seicho-No-Ie,a pessoa passa a ter uma atitude mental natural, sem sentimento de culpa .

De acordo com a Organização Mundial de Saúde , atualmente a medicina define DROGA como sendo " qualquer substância que é capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento" . Os termos adição, vício , hábito , assim como dependência psicológica , foram abandonadas pela OMS  por serem imprecisos e levarem a uma falsa interpretação , usando-se apenas a palavra DEPENDÊNCIA . E, trata-se dependente de álcool , agora se diz alcoolista, não mais alcoólatra. Não há mais separação entre drogas ou tóxico: tudo é DROGA - maconha , solventes , cogumelos e plantas alucinógenas , ópio e morfina , perturbadores sintéticos : LSD -25 ( ácido ) , MDMA (êxtase ) , anfetaminas , anticolinérgicos . 

Fonte  -   Revista     POMBA    BRANCA      Pág   32 
Agosto de  1997     -   SEICHO-NO-IE 






Efeitos  danosos  do álcool

Os resultados da maior pesquisa mundial sore os efeitos danosos do álcool , são claros : não há nível seguro para a utilização da substância . Nos últimos anos , evidências científicas vêm mostrando que o álcool não deve ser tratado como uma droga branda , sem maiores riscos para os indivíduos e a sociedade . Quero aqui defender três argumentos que mostram porque é urgente a tomada de medidas firmes para o controle do álcool.

Em primeiro lugar o álcool é uma droga perigosa porque lesa a sociedade por várias meneiras diferentes . Na população jovem , é a principal causa de morte precoce , em geral ligada à vulnerabilidade à doenças infecciosas, acidentes de carro e violência interpessoal. Se hipoteticamente , toda a população mundial resolvesse parar de usar álcool, haveria 20% de redução das mortes e das condições de saúde incapacitantes . Acima de 50 anos , a hipotética supressão do álcool reduziria as mortes por câncer em mulheres em 25%.

A segunda razão para se combater o uso desregulado do álcool é sua invisibilidade. Como beber é uma prática cultural disseminada, há um nítido descompasso entre os danos que provoca na população e a percepção das pessoas destes danos, para si mesmas e para terceiros . É muito difícil para as pessoas reconhecerem que aquilo que estão acostumadas a fazer é muito mais nocivo do que lhes parece . Por isso , é fundamental que o assunto seja tratado não apenas do ponto de vista informativo , mas também propositivo . São necessárias medidas efetivas que , depois de discutidas com a população e pactuadas com todos , permitam de fato um controle do álcool.

Por fim , é importante ressaltar que o uso do álcool aumenta à medida que as sociedades enriquecem. O uso problemático do álcool é , de certo modo , um efeito colateral do avanço das sociedades contemporâneas . Pouco a pouco, o álcool vai se tornando um fator de risco fundamental para a carga de doenças nessas sociedades . No caso brasileiro , por exemplo , já é a terceira causa de anos de vida perdidos . É urgente que o Brasil coloque em sua agenda uma ampla discussão sobre o uso controlado do álcool .

Fonte  - Jornal   -     FOLHA  DO  CENTRO ( RJ )    -    pág 14   -   Edição 264
Setembro  2018      -    Dr Guihlerme Messas , psiquiatra especialista em Álcool e  Drogas