quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

O ' point ' muçulmano

 





Com  café  , restaurante , teatro  e  até  rinque de  patinação , o  Pavilhão  era  o local  da  moda                  no  Rio  na  virada do  século 

SITUADO  NA  PRAIA  DO  BOTAFOGO , às  margens  da  Baía da  Guanabara e de costas para a  entrada do  Túnel  do  pasmado , no Rio de  Janeiro , o  moderno Centro Empresarial  Mourisco domina        a área com sua  fachada totalmente espelhada . O  prédio , assim como várias  lojas  do  bairro e  algum  condomínio vizinho , é chamado de  “  Mourisco “ em  referência ao  pavilhão  que existia ali . Do antigo edifício só restou  o nome . Sua  imponência  e sua originalidade  arquitetônica  foram  apreciadas  por me -nos de  um século  entre 1907  e 1952 .

Mas o que fazia  um pavilhão árabe na  beira do mar , numa das  áreas  mais  chiques  da cidade naquela época ? No início do  século XX , o prefeito Francisco Pereira Passos  deu a um plano modernizador  da capital do país . Entre outros problemas ,era  preciso melhorar a comunicação entre o  Centro e os bairros situados na  Zona  Sul , para onde a  cidade se expandia .Para isso foi construída a  A Avenida  Beira Mar , no  grande areal que ia do  fim da  Avenida Chile ( atual Cinelândia ) até a  Praia de  Botafogo . Ianugurada em  1906 , tinha mais de cinco quilômetros de  extensão e 25 metros de largura – espaço de sobra para os  primeiros automóveis que começavam a circular na cidade .Marcando o fim da  bela  avenida , foi erguido      o Pavilhão Mourisco . 

De  formas orientais ,exuberantes e  caprichosas , a arquitetura  muçulmana  ( ou “ mourisca “ )  vinha influ-enciando havia  séculos as construções europeias , via Península  Ibérica . No tempo de  Pereira  Passos , triunfava no  brasil a  arquitetura  historicista , uma revisão dos  estilos  do passado atualizados  para a  so-ciedade moderna . Elementos do  período colonial  e da  tradição  luso - brasileira eram  deliberadamente rejeitados e  destruídos .Em seu lugar , ganhou peso o desejo de  europeizar-se , imitando os  mais diversos estilos . Daí o  surgimento dos  estilos “ neo “ : neorromântico , neoárabe , neonormando , neogótico , neo-egípcio . Era o tempo do ecletismo , das releituras , enfim , da  quebra definitiva com a  velha  tradição . 

O  Pavilhão Mourisco seguiu essa tendência . O  prédio neomourisco foi  concebido pelo arquiteto Alfredo  Burnier ,então chefe da  seção de  Arquitetura  da Diretoria Geral de Obras e Viação ,para servir de café e  restaurante .O trabalho de construção ficou  a  cargo do  Major  Thomé  de  Moura e a  instalação elétrica      ( uma grande sensação na época foi feita pela  Companhia Brasileira de Eletricidade .A parte decorativa foi realizada pelo  artista italiano  Orestes Sercelli , radicado no  Brasil desde  1896 . Sercelli  e seu filho Bruno seriam autores também , entre outras obras , da  decoração da  Igreja Matriz de  São Paulo  nas primeiras décadas do século  XX.

O  prédio era de planta retangular e tinha em cada extremo uma terra hexagonal que se erguia sobre esbeltas  colunas de  inspiração  árabe , lembrando o Pátio  dos Leões da  Alhambra de  Granda , na Espanha .Cada  torre tinha uma cúpula dourada em  forma de bulbo .No corpo central despontava uma  torre maior ,que ,as- sim como as outras , acabava com elementos de metal coroados com a  meia-lua . As cúpulas eram cobertas de  cerâmicas com  reflexo metálico , o que produzia um  efeito brilhante sob a  luz do sol .Lembravam outras  cúpulas produzidas pela  arquitetura  islâmica como a da  mesquita  Al Askari ,em  samarra ( Iraque ) ,erguida em  1905 –  talvez  inspiração para o projeto darioca . Sobre o  corpo central  de  alvenaria surgia uma  ar - mação  metálica , com terraços sustentados  por colunas de  ferro fundido.

As  cerâmicas e os azulejos artísticos que revestiam  e decoravam toda a parte eterna eram  importados  de  Valência , na  Espanha . A  cidade  espanhola  foi , tradicionalmente , um dos  principais centros  produtores de  cerâmica . Dali  surgiu  a  chamada  " cerâmica de Manises " ( século XIV ) , caracterizada pelo  esmalte com  reflexos metálicos e muito usada por  muçul-manos andaluzes . As  cerâmicas  do  Pavilhão Mourisco  provavelmente  foram  feitas  pela fábrica  La Cerâmica Ceramo , fundada em  1855 , que produzia e vendia para a  América do Sul peças muito parecidas com aquelas  cúpulas e fachadas . 

Em cada lado das  torres havia  portas verticais que terminavam em arco de ferradura , e nos corpos laterais , os  três acessos tinham forma de ferradura apontada . No alto da  entrada  principal apareciam , escritas em  árabe , as  palavras  " Café  Cantante " .

O  teatrinho  infantil tinha a boca de  cena voltada para o  Pavilhão . Assim os pais podiam  assistir ao  espetáculo ( e  observar  seus  filhos ) da  varanda 

Três grandes terraços destinados ao café ficavam na frente frontal  e  nas laterais , com duas escadarias de acesso , acompanhadas por  postes para a iluminação  noturna do exterior . Em to-das as aberturas havia  vitrais  de cores que provocavam  belos  efeitos de  luz  no salão interno . Nele  funcionava o  restaurante ,  que contava com quatro torres como salões reservados .Elementos arabescos -com  formas de folhas , flo-  res , frutos e  cintas - de várias  cores cobriam  paredes , colunas e teto .O  interior da cúpula  central  era sustentado por quatro colunas centrais com apliques de  luz elétrica . Do teto pendiam várias luzes de sete lâmpadas .O piso era feito em parque , com peças de  madeira paralelas .A cozinha , a copa e o  bufê  fi -cavam no  térreo , sendo os fregueses servidos por  meio de  um elevador  duplo instaladao no meio do sa- lão .

No  exterior do Pavilhão encontrava-se  o Teatrinho  de  Guignol , um local aberto para a exibição de  títeres  e marionetes , cuja boca de cena ficava  voltada para o  Pavilhão , de modo que  os pais  podiam assistir ao  espetáculo  ( e  ao observar  seus filhos ) da varanda . Também foi construído  um  rinque  de patinação , ao redor do qual foram  plantadas árvores , que  anos depois ganharam altura . 

O Pavilhão ficou rapidamente conhecido como  ponto da moda do  bairro de  Botafogo . Em novembro de  1906 , dois dias antes de  terminar  seu mandato , o  presidente  Rodrigues Alves ( 1848 - 1919 )  visitou a  obra , quase  pronta .O  Jornal  do  Brasil noticiou em  detalhes a  visita , aproveitando para  elogiar a  mais nova  joia arquitetônica da  cidade : " Esse  restaurante ainda  não está concluído , mas o conjunto de  suas lineas é belíssimo efeito ,e a combinação das cores , de  ouro e prata , até a  matização dos azulejos ,produz no espectador um efeito de  um  cromo artíistico e  bem cuidado " . Inaugurado  no  início  do  ano  seguinte , o  Pavilhão passou  a ser muito frequentado , servindo de abrigo  para  o carioca  se  refrescar do  calor do  verão e  passar as  tardes  com a família , depois de  passeios pela  Avenida  Beira- Mar e  pelo  Jardim da Praia , com  suas 735 árvores , 380  plantas  e 6.230  arbustos ornamentais . Às  quintas - feiras , as damas do bairro encerrravam  ali  seu passeios em vistosas  carruagens puxadas por cavalos . 

O  Pavilhão  não era o único prédio de  estilo neomourisco  na cidade .Quase simultaneamente  ao  de Bo- tafogo , foi  erguido o  palácio do  Instituto  Oswaldo  cruz , em  Manguinhos  [ ver  RHBN  nº 25 , outubro de  2007 ] , projetado pelo  arquiteto português Luís Moraes Júnior ( 1868 - 1955 ) .Outubro  belo exemplo é a  Basílica do Imaculado Coração de Maria , no Méier , de  autoria do arquiteto espanhol  Adolfo Moraes de  los Rios  ( 1858 - 1928 ) . 

Outros prédios ficaram conhecidos como  " mouriscos " por  erros de  idenbtificação , uma vez que a  popu-lação  não  estava  habilitada  a perceber  as  diferenças entre  estilos  arquitetônicos . Foi o caso do  " Café Mourisco " , construído em  1905 na esquina da  Avenida Rio Brancos com a  Rua do Rosário . O nome po-pular dado ao café  não conduzia  com a obra , assinada pelo mesmo Adolfo Morales  de Los Rios . Foi ele quem veio a  público esclarecer que se tra-tava , na verdade , de  um  prédio neopersa .

Nos  anos  1920 , o restaurante  mourisco de  Botafogo  já tinha  saído de moda . Em 1934 , foi  convertido em Biblioteca  Infantil do  Distrito Federal ,onde mais tarde trabalharia a  poeta  Cecília  Meireles , em ativi-dades que incluíam  cinema , música , desenho e jogos . Jovem por dentro mas  velho por fora , o  Pavilhão não resistiu  às mudanças  bruscas da  modernidade . Depois de  servir por um  posto abaixo de  1952 , na  administração do  prefeito João  Carlos Vital . Demolido por  " exigência do  progresso " , daria  espaço  ao  Túnel do  Pasmado , que abre caminho  entre Botafogo e  Copacabana .

O terreno ficou vazio por  três décadas , até que nos anos 1990  foi  edificado no lugar o Centro Empresarial  Mouriso . A obra , concluída em  1998 ,correspondia aos  princípios estéticos do  pós-modernismo : grandes volumes geométricos , cores contratadas e acabamentos sofisticados e  brilhantes , produzidos pelos  vidros belgas da  fachada , com seu alto poder de  reflexão . Com cerca de 54 mil metros quadrados , doze  pavi-mentos , dos  quais sete andares comerciais , dosi subsolos de  estacionamento e até um  helioporto , o edi- fício não  conseguiu  ( nem tentou ) mudar o  nome do  seu  antecessor . 

Pelo menos na  memória fica o  registro de  um tempo em que a  arquitetura  muçulmana ocupou um  dos  endereços  mais  nobres  do  Rio  de  Janeiro  .

Fonte  - Revista História  - Arquivo D. H. D                                                                                            Data  - 2009  - Dossiê  Árabe  no  Brasil                                                                                                        

ROSSEND  CASANOVA  -  É  PROFESSOR DE  HISTÓRIA DA  ARTE  NA  ESCOLA  UNIVERSITÁRIA  DE  TURISMO  SANT IGNASI  , EM  BARCELONA  , E  CO - AUTOR  DE  GAUDÍ  202 , MISCELLANY  ( EDITORIAL PLANETA , 2002 ) 




sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Momento de reflexão

 




Na  verdade ,negro,que  levou porrada no  passado , para botar o  carnaval em pé , o que é hoje ? Ele não tem direito a nada ,a  não ser tocar  surdo pra branco sambar desengonçado. Hoje  tem até gringo chefe de ala , as  baianas pretas já  são raras ( a maioria é   madame de classe média  da  zona sul ) . Velha  Guarda virou  museu .Aquela comissão de frente de crioulos sestrozes ,que representavam e suas bandeiras,as suas cores , como tinha o Império Serrano , Portela , Mangueira , Lucas ,Capela , Salgueiro , Estácio , quantas saudades .Os passistas Saraco  da  Portela , a Cisne Negra ,uma pretinha  surimpa , eu  César Romero for-mavam o trio  fluminense que  dava o  show na avenida.

A  antiga  batida bateria da  Portela  na  batuta  do  saudoso  Betinho e que tinha  ( a bateria ) o apelido de Tabajara .Se botasse um  metrônomo para  medir a  avaliação da marca , o ponteiro  marcava certinho .O  Salgueiro da Chica  da  Silva ,Chico  Rei , Valongo , Palmares , Zumbi , pé  no chão , quanta saudade ,até  que em  91  com a Rua do Ouvidor , fez o  maior sucesso , mas se  deixou envolver pelo  chuá - chuá da  Mocidade . Saudades .

Não adianta chorar o  leite derramado .O crioulo agora  vai ter que  aturar  os  com-puta –dor da vida do samba. E aí , o que o  Donga ,Ismael e outros vão dizer  no céu ?

Não querendo cobrar dessa rapaziada  que cobre o carnaval  e a  MPB , nossos repórteres  deveriam  se  interessar  por  livros  de  figuras  com  J. F.Gê , Ary  Vasconcelos , Roberto  Moura , Marília  Barbosa , Sergio  Cabral , Haroldo  Costa  , Iran  Araújo ,Ney Lopes e outros pesquisadores .Na minha opinião ca-    da negro deveria ser um  pesquisador ,ao seu modo ,um etnólogo  do  seu povo ,da  sua  maneira ,e não contar contar  estória para branco  escrever , somente . 

Sem querer ofender nossos colegas ,cada palestra sobre carnaval raramente tem  crioulo , são sempre os  mesmos intelectuais brancos de classe média ,que não citaremos  por ética .

Outro  galho é  a  Liga Independente das  Escolas de Samba ( LIESA ) . Os  intele-de classe média caem de pau nos patronos que ajudam as  escolas , e alguns negros de elite fazem  o coro com eles para  se  fazerem  engraçados . Eles  se es-quecem que o empresário de  jogo do bicho não  entrou nessa ontem . Muito antes de  escola de samba  dar dinheiro ( pelo contrário , dava cadeia ) os bicheiros vêm apoiando essa  manifes-tação popular .E agora  há uns vinte anos ,desde que a classe média descobriu que Escola de  Samba existe, os bicheiros vêm sendo tachados de oportunistas ,gananciosos .Mas estes  negros  de elite esquecem  que o  negro , em grande parte , entregou de  mão beijada o samba .

Já  somos torpedeados  pelo  poder aquisitivo ,e além  disso o desentendimento entre os próprios  irmãos ,a falta de  formação de  novas lideranças , etc .Por isso  não se vê muitos negros na  presidência  de  escolas , com honrosas  exceções do Presidente da Leão de Iguaçu , Dr Engenheiro Paulo , o famoso Paulo Tenente , dono do estaleiro em  Niterói , O Oscar Lino ,  pres . da  Império  Serrano , o Ananias , que dirige a  Man - gueira e o  Luís Carlos Batista , da  Acadêmicos da Rocinha .

Mas , voltando ao  assunto  ( repórteres de carnaval )  quero  deixar bem claro que o  papel do negro pro- fissional  de  imprensa é  muito importante  na  divulgação  dessa manifestação cultural .  Sabemos  perfei-tamente que os  negros  estão atrás  das câmeras  de  TV , nas  redações  de jornais , laboratórios  fotográ-ficos  e  nas  rádios , desempenhando um  papel que não é só deles , mas de  toda a imprensa . Isso  tudo  em  grande medida o  público  não  sabe .

Fonte  - Jornal  MOVIMENTAÇÃO  ESPECIAL  - pág 15                                                                    Data  - ANO  I  - Nº 5 -  MAIO / JUNHO  -  1992  -  A REDAÇÃO




Dulce  Saraiva  Alves 

A  popular  Dulce Alves .Uma  amiga  lutadora do carnaval .Foi no teatro Opinião que  ela entrou na  luta da  cultura  popular , junto com  Jorge Coutinho . Deste modesto  início Dulce se projetou na  festa maior do car-naval . Ela é do tempo em que a Vila Isabel desfilava na  Presidente Vargas . Jornalista , comunicadora , tem  uma opinião algo cética do destino das  escolas de samba : como os  cordões , os  ranchos,   e outras mani-festações  puras  do popular, as escolas também sofreram a  invasão de fora , mesmo em  seu auge , o  que  marcará o  seu  inevitável declínio . Antes deste triste destino Dulce já provou com toda as letras que é pro-fissional : redatora da TV Continental , TV Rio , Rádio Continental ,da  antiga Rádio Tupi ,onde está até hoje, fora trabalhos periódicos , como a cobertura de carnaval da  Globo . Na  cobertura de carnaval  de 1986 . Antes em  1984 , sempre com  Jorge  Coutinho , cobriu  o carnaval  da  Rádio  Roquete .  

O  ano inteiro vive em  função do carnaval , essa  pequena notável do  jornalismo carioca  :  sambas  enredos , pagodes , lançamentos de sambas , nada ela perde . 

Bem  que  tentam  prejudicar a  imprensa  ( e  a  jornalista  em  particular )  no carnaval  propriamente dito : proibido  isso , não  pode  etc . Um  mar  de  regras  que  provoca o  protesto da  repórter , que  se  vê  “ cerceada “ , ela e seus amigos que  são quem mais  promovem  o carnaval  o ano todo. Uma  injustiça  na  mente da  carnavalesca do ano todo . Entre  seus  mitos , consagra  o  imortal  Waldinar  Ranulf , sem  falar em  Salvador Batista , Gerard . Se  sente  (  como  todos  jornalistas , a  serviço de  Momo ) uma  discípula de  Waldinar , um  pioneiro da  imprensa  de  carnaval . Fanática do  bloco da  Imprensa , se sente saudade  de seus criadores e  fundadores , que , como os  pioneiros citados acima foram alegrar o carnaval  no céu . Mesmo refutando exclusividades  raciais  no carnaval , em  benefício de quem quer que seja , admite que  " nós  negros temos uma  vivência que nos  aproxima mais desta coisa " . Coisa  de  pele , ela  admite sem  entrar na polêmica  infernal e eterna de  mulato ou  negro ? Nesta dita ,teve uma discussão com um funcio-nário do IBGE que esqueceu , na  porta de  sua casa , de perguntar o  quesito cor .Indagado ,o samango respondeu que ia anotar  " parda " . Levou  um safanão da negra ,e não deve ter esquecido que " pardo é papel de  pão " . Aplaude a  movimentação do  MOVIMENTAÇÃO  , não  como algo exclusivo , racista , fechado , como alguns  dizem  aí , mas  uma  atuação legíitima  em defesa  de um  espaço e  organização que  a sociedade  capitalista  sempre  nega  para o  negro . 

Fonte  - Jornal  MOVIMENTAÇÃO  ESPECIAL -  pág 8                                                                      Data  -   NO I - nº  5 -  MAIO / JUNHO  - 1992 


terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

BOROGODÓ BRASILEIRO

 


Neste ano  em que comemoro  duas décadas de  carreira no  Brasil ,várias reflexões estão vindo à tona .A primeira é sobre de encontrar durante essa jornada .É frequente andar pelos restaurantes e reencontrar pro-fissionais que  já colaboraram comigo, participaram algum treinamento ou projeto  Fico extremamente  feliz quando esses encontros acontecem ,me fazem sentir ainda mais grato por tudo que esse país  me trouxe de positivo .

Venho ,nostálgico , lembrando do Jessé ,do Mohandas ,do  Marcelo,da  Mazê ,da Calyne , da Luciana ,do Carlos Gustavo e de  centenas de outros  e outras que encontrei  no caminho .A princípio , minha  diferença cultural , meu  jeito de  ser , pensar  e comunicar eram um empecilho , uma  trava , um obstáculo . No  per-curso, a imensidão do acolhimento dessas pessoas  transformou uma caminhada da qual tenho  muito orgulho . No Brasil  cresci como profissional , pessoa  e ser humano ,

Eu  acolhi  o  país  do mesmo  jeito brasileiro de  ser .Recentemente ,durante um  jantar em Paris com a edi-tora desta revista .Alessandra Leite , fui questionado sobre os  motivos que  me  levavam  a  permanecer no  país e se não voltaria a  morar definitivamente na  França . É uma dúvida recorrente ,embora nos últimos três anos  minha andança  tenha  sido  mais nômade .

Mas , porque eu gosto  tanto do  Brasil ?  Rapidamente  veio  à  minha  mente  a palavra  “  Borogodó”  e  ritmos alto,juntos , genuinamente .Que risada  gostosa , aliás .Afirmo com prazer , não  existe no mundo um povo  mais  simpático e  hospitaleiro do que o  brasileiro . É impressionante sua capacidade em  vibrar , ser  positivo , abraçar , acolher , encolher e  propulsar  energias contagiantes .

Uma  semana depois .Alessandra me  enviou uma  foto de um  seminário que estava  assistindo em São Paulo . Era do Carlos  Ferreirinha , meu  respeitoso amigo  cujo trabalho dispensa  apresentações .Na  tela  de  sua palestra estava  projetada  essa palavra. Borogodó . A mesma era o  principal da  sua fala , um  fio rouge da  diferenciação das  marcas de  luxo que atuam no Brasil .

O  Borogodó  poderia definir  uma festa animada , um  ambiente alegre ou um  simples momento de diversão . Suas lindas raízes  afro- brasileiras são nítidas .O Borogodó  projeta um  verdadeiro estado de ser , uma fi- losofia , um estilo , uma  alma.Essa mes-ma  alma  feliz , a vontade de  querer  ajudar , oferecer  assistência , de bater um  papo com  estranhos, a mania de  ser  informal , de  sorrir  naturalmente , de abraçar apertado , de  receber bem , de cuidar mesmo .Se um  país pudesse ser uma  francês de  raiz ,mas  meu coração  é bra-sileiro .Virei  pura mistura e  pretendo  honrar e difundir hospitalidade brasileira  pelo mundo .Obrigado Brasil  por  tanto e por  tantos. 

Fonte   -  Revista  Hotel  News  - Estilo - nº 424                                                                                        Data  - Maio / Junho - Julho  - 2023 -  Anatec  - POR  CHARLES  PIRIOU

DOCUMENTO & HISTÓRIA A IMPRENSA , O NEGRO E O CARNAVAL

 



Os comunicadores negros

Nós lemos suas matérias . Vemos suas reportagens . Ouvimos suas vozes no rádio . Mas raras  vezes nos tocamos que aqueles  que escrevem , fotografam  e falam sobre o carnaval carioca  são negros ,  como os passistas  mestre- salas , e foliões quase sempre dos nossos carnavais .E também pocas vezes temos ideias das pressões , brigas , enciumadas , discriminações e  arrogâncias que repórteres negros têm que enfrentar  nas redações .Geralmente , verdade  seja dita , o repórter negro para se afirmar em sua profissão , tem de mostrar  mais competência e garra  que um branco oriundo da classe média . Assim se entende porque na sociedade negra não se conhece seus ídolos jornalísticos , aqueles que tocam nas pretinhas ( hoje branqui- nhas ) no jargão jornalístico , como são chamadas as teclas da máquina de escrever. E passa ao largo que muitos empresários e profissionais negros preferem ser entrevistados por repórteres que enfrentam barras racistas como  eles .

Entre estes profissionais destacamos Wanda Ferreira , secretária de Estado , diretora do SEDEPRON ,que realiza , sem aplausos ou propagandas , um   importante trabalho com presidiários do DESIPE , de recupe-ração e ressociliação  E , nesta linha , mesmo em nível mais alto ,o trabalho do Instituto Palmares de Direitos Humanos ( IPDH ) com um  programa de Orientação para empresários negros , e  outros  que não querem aparecer , mas colaboram, para a luta do negro no estilo “ bloco do eu sozinho “ , como o geógrafo Milton Santos .

Por falar  em  bloco , sem  perder  o assunto que  é Carnaval , a  maior  festa   popular do  Brasil , o jornal MOVIMENTAÇÃO busca agora desvelar o fascinante mundo dos repórteres que uma vez estão em suas redações honrando sua categoria profissional , e em seguida , quando chega o Carnaval , estão nas quadras , na  Liga  Independente das escolas de Samba , nas rádios, no Bar A Paulistinha , assistindo a apresentação dos enredos , todo ano patrocinado pelo famoso Zé Petrus , no Petisco da Vila ,ouvindo os bambas de Vila Isabel, nos subúrbios entrevistando os heróis da velha guarda,enfim ,em todos os lugares onde houver samba .




1 – Jornalista , pesquisador , apresentador  de televisão , escritor ,radialista , ator , empresário , fundador do balé brasiliana , diretor de cinema , teatro  e  TV .

Esse é Haroldo Costa .Quando se   fala em carnaval não  se deve deixar de falar nesse excelente profissional, em vários níveis , de atuação comprovada , que nas suas viagens pelo exterior não perde  a oportunidade de aprender e mostrar o que sabe .Com passagem pelos bancos universitários da Sorbone ( Paris ) trouxe muito dessa trajetória internacional para nossa gente .

Haroldo dá sua contribuição ao negro e à imprensa e no carnaval de TV , teatro , e principalmente seus livros . Entre eles destacamos : “ É hoje “ , “ Fala Crioulo “ , “ Salgueiro “ , “ Academia do Samba “ ,etc .Atualizou o livro na forma , que vai se chamar Samba .

Falar de Haroldo Costa é uma empresa hérculea .Cinco laudas  é pouco para uma apresentação de Haroldo . Mas Falar do todo ,da experiência que ele carrega , é quase temerário ,neste pouco espaço . Poeta de Orfeu da Conceição , na antológica peça de Vinícius , de 1958 , até o Juca da Kananga do Japão , último papel de ator  (  está  fazendo   falta  o  salgueirense  Haroldo  Costa  é  o  apresentador   perpétuo  do  carnaval  da MANCHETE na televisão . No Carnaval foi também jurado da premiação do Estandarte de Ouro . Haroldo Costa : um   mestre do carnaval  brasileiro .

2 – Um jornalista . Autor de  vários  livros sobre  música popular brasileira . Trabalhou em todos os grandes jornais do Rio .Crítico de música , participou de vários juris . Foi respeitado por todos por sua serenidade e coerência ,no seu trabalho .Tipo sestroso , bem carioca e bonito por dentro com sua gravata borboleta. Fez parte da história do Rio .Atravessou todos os cafés e bares do Rio nos anos gloriosos , e era conhecido de vista por todos aqueles que  frequentam  e amam  o centro do  Rio , coração da alma carioca , menino pobre que se tornou um dos maiores conhecedores da cultura popular do Rio .

Personagem  infatigável das  bibliotecas e arquivos , sempre  buscando esmiuçar eventos  que muitas vezes presenciou com os próprios olhos . O maior cronista carnavalesco de todos os tempos .

Infelizmente nos deixou  para voltar da companhia das almas tão boas como Pixinguinha, Cartola, Heitor dos Prazeres , João da Baiana , Caninha , Donga , Nélson Cavaquinho … Hoje podemos dizer que  João Efegê realizou o sonho de sua vida . Ele é o maior cronista carnavalesco de todos os tempos . Evo é !!!



3 – Ney  Braz  Lopes .Um dos que dispensam apresentação , se falando em cultura e carnaval .Filho de Irajá , herdeiro da baixa classe média urbana . Ney Lopes  escapou do destino medíocre do funcionalismo burocrá-tico para mergulhar na alma milenar de seu povo . Tão falado e tão mal conhecido . De advogado  passou a redator de publicidade , não esquecendo a música ,uma das paixões .Do jingle ao samba- canção foi um pulo . Caminhando nessa vereda por 30 anos .Ney pegou o atalho da música , chegando após sambas consagrados , ao mundos livros . A vernissagem foi em 81 , com SAMBA , MAIORIDADE , seguindo -se  ISLAMISMO E NEGRITUDE ( em parceria com João batista Vales ) um artigo da coletânea PAGODE E SAMBA:GUERRI-LHEIRO DO RIO , NOTAS MUSICAIS CARIOCAS ,um livro de contos chamado CASOS CRIOULOS , e finalmente  em 1988  BANTOS ,  MALÊS  E   IDENTIDADE  NEGRA .

Está na forma um DICIONÁRIO ETMOLÓGICO AFRO – BRASILEIRO , com  um apanhado de todas as palavras brasileiras de origem africana . Um   trabalho  de  fôlego que já está fazendo 15 anos . De pesquisa .

Nos bancos das escolas de samba o   aluno  Ney aprendeu e ensinou. Vislumbrava fascinado o Irajá ,a Portela dos tempos idos . Frequentou a academia do Salgueiro nos anos 60 , ( saiu pela primeira vez ) . Na década de 70 já  pertencia a ala dos compositores . Numa trajetória incomum , já era da Velha Guarda nos anos 80 . O Velha Guarda mais novo no samba . Na avalanche da Vila Isabel em 88 , foi tragado pela emoção e contribuiu com enredos gloriosos desse seu novo bairro, com LUIZ PEIXOTO E TOME POLCA de 1991, e em 92 A VILA PÕE  O  OVO  E  VÊ   AS   CLARAS .

Ele também é um repórter de carnaval . Escreve todo ano no O Dia , comentando a perfomance das escolas na avenida . Na mesma  folha foi  colunista  de carnaval , revezando com  Roberto  Moura , numa dupla que marcou época. Escreve , e escreve  muito sobre  o carnaval . Comentador da TVE. Perdeu a  memória dos atigos que escreveu sobre cultura popular para os mais diversos jornais .

Dono da  invejável   marca de  180 sambas gravados  pelas cantoras e cantores do mais alto time da MPB. Avisa que este ano será campeão do 1º grupo com a sua Vila Isabel , botando o bloco ( ou a escola ) na rua com todo o povão e toda a garra . Esperem e confiem .

Sabedor das mazelas dos donos do poder ( para quem , conforme acidamente comenta “ o negro é ecologia : só vive bem no crime e no samba “ ) . Ney Lopes sabe das dificuldades de ser negro, pobre , morar longe , e querer vencer na grande Imprensa .

Se coloca numa posição sui generis , como um  negro consciente da  história e cultura de  seu povo , e que comanda uma escola de samba na rua .

Para o MOVIMENTAÇÃO , Ney Lopes parabeniza pela iniciativa de uma imprensa alternativa num país sem alternativa , e recomenda o slogan : “ Muito movimento e muita ação “ .

Ney  Lopes , além disso tudo , é atualmente  Superintendente  de Promoção Humana  e Sócio cultural  da SEDEPRON  ( Secretaria Extraordinária  de Defesa das  Populações  Negras ) . Mais uma faceta de um brasileiro em  busca de  suas  raízes .

Fonte - Jornal MOVIMENTAÇÃO - ESPECIAL – Veículo de Comunicação do Movimento                Jovem   -  A IMPRENSA  E A HISTÓRIA  -  Milton  Cobrinha                                                                      Data - ANO I - N º 5 - MAIO / JUNHO - 1992



segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

O samba de Raiz

 




         

80  anos  de  História

De todos os ligados à cultura negra , desde a vinda dos escravos para o Brasil ,do Quilombo de Palmares ao que História denomina “ Abolição “ , das lutas , do suor e do sangue derramado , o negro manteve viva a sua raiz africana , tanto na religiosidade quanto na veia artística ,manifestada em 369 anos do Brasil .

Embora centro gerador musical ,o Rio não tinha ,na época do Império  a capacidade de difundir essa cultura .Somente ao seu término,as manifestações dos negros se fizeram maiores através das festas populares , uma delas , profana : o Carnaval , com afoxés ,troças e cordões introduzidos pelos baianos . Após a “ Abolição “, os negros foram em massa para a Capital Federal , que crescia com um novo porto e  uma indústria em de-senvolvimento . Ocupando os morros vizinhos ao Porto e mais ao Largo próximo à   Estação Ferroviária D. Pedro II , criaram fortemente a sua cultura , reflexo das tradições por eles trazidas da Bahia , das Minas , de São Paulo ,de Pernambuco e do interior do Rio , através dos batuques manifestados em sua criatividade mu-  sical .

Batuque – No século passado ,o local conhecido hoje como Morro da Providência foi o primeiro lugar habi-tado pelos negros oriundos de Monte Santo , no interior da Bahia e de uma localidade chamada Serra da fa-vela .Mais adiante , na zona portuária , estabeleceu-se outro núcleo de ne-gros nos morros de Santo Cristo , Gamboa e Saúde , que ali viviam e nas cercanias trabalhavam . Encontravam-se baianas , quituteiras , agua-deiros , verdureiros  amas de leite , domésticas , lavadeiras e outros Com toda essa atividade , ainda promo-viam batuques , mas como estes não obtinham simpatia das autoridades que os proibiam por  força da Lei , estes negros participantes fugiam para outros locais e lá se divertiam , cantando .

O batuque era uma dança com sapateado e palmas , ao som de cantigas como a chula portuguesa , acom-panhada de tambor ou o samba baiano . Durante a dança , ouvia-se o desafio dos cantadores.

Algumas cantigas causavam brigas , às vezes , por causa da bebida , vez  por outra por causa dos versos provocadores . Problemas como esses , no entanto , estimulavam a proibição dessas reuniões pela polícia .

Bambas –  Havia  locais menos agitados , onde os negros reuniam-se , como nas casas das  tias baianas , dentre as quais se destacava a de   Hilária Baptista de Almeida , a mãe de terreiro  mais famosa da época . Festeira e quituteira de  mão cheia , promoveu por  onde morou  sessões de Candomblé , que contavam      com a presença de políticos , artistas e boêmios .




Tia Bebiana Germano , Tia Perciliana  ( mãe do compositor João da Baiana ) , Tia Amélia  ( Nãe de Donga )  e outras também ficaram famosas na época .Nessas reuniões foram criados muitos gru -pos musicais , par-cerias e composições clássicas . Pelo Telefone , de Donga e Mauro de Almeida , originou-se na casa de Tia Ciata .

Outros bambas criaram nesse ambiente muito dos sucessos : Lau de Ouro ,Caninha , Sinhô ,João da Baiana , Amor , Mano  Elói , Pixinguinha , Paivinha , Heitor  dos Prazeres . Ali , o  maxixe , calango , as toadas , mo-dinhas e lundus , junto às influências urbanas , deram alicerce para o futuro do samba .

Outro destacado personagem ligado ao samba e ao carnaval , o baiano Hilário Jovino Ferreiro , O Lalu de Ouro ,dividiu com Tia Ciata a criação das festas promovidas pela colônia baiana no Rio.Lalu fundou um dos ranchos mais famoso , o Dois de Ouro , que fugiu à tradição .

A saída dos ranchos sempre foi  no Dia de Reis , mas  Lalu inovou deixando de desfilar em um dia sagrado para fazê-lo em  outro profano , sendo seguido por todos os outros nos festejos de  Momo .Também intro-duziu em seu rancho o gaboso personagem Mestre Sala . Ele próprio vestiu -se de nobre , desfilou fazendo coreografias em passos de valsa e , sapateado , fazia reverências ao pú-blico que o saudava .Lalu tornou-se uma das figuras mais populares do carnaval , seja como diri-gente , compositor ou destaque . Era mestre de muitos na capoeira .

A  cidade fervilhava com o   movimento dos negros baianos , que eram muitos . “ Seu Miguel Pequeno , um velho baiano foi  responsável pela chegada de   muitos outros na cidade . Sua casa , no Rio , era uma espécie de embaixada da Bahia , onde recebia a todos . Era ligado por laços de amizade aos ranchos e foi pivô de um fuxico histórico ,envolvendo dois membros ligados ao samba:

Tia Ciata e Lalu de Ouro .

Tia Amélia se envolveu com Lalu e com ele fugiu . Parceiro de   Seu Miguel na fundação de um rancho que se chamaria Rosa Branca , fizera  seu parceiro desgostoso . Este passou toda documentação Oficial de Registro na Polícia para Tia Ciata , acabando daí a amizade entre Lalu e Tia Ciata .

Ranchos - Foliões históricos – Luís de França , Cleto Ribeiro da Silva , Calixto Ferreira , Matinho Quitoca , João Alabá , Dudu, João Gordo , Felícia , João Ratão , Noela , Amélia ,Marcolino ,João Gâncio – fundaram um afoxé ,depois o rancho Reis de Ouro , seguindo-se Caçadores da Montanha e Rosa Branca .Todos eram moradores do Morro da Gamboa , Conceição e proximidades .

Entre negros , mulatos , caboclos e brancos , a cultura musical carioca cresceu . Do samba tínhamos Donga, Caninha ,Ismael Silva , João da Baiana Heitor dos Prazeres ,Sinhô . Do choro : Pixinguinha, Ernesto Nazaré , Patápio Silva e Benedito Lacerda . Da modinha : Chiquinha Gonzaga e uma infinidade de outros artistas .

Todo o processo de maturação por qual passou o samba é como o da bebida destilada .Da África aos Salões do lundú – canção aos sambas rurais da Bahia , dançando meio chegado   à chula nas casas das velhas .Tias , que como filtros peneiravam e serviram depois generosos goles de maxixe e choro , desenvolvendo o samba batido na palma da mão , ao toque do prato com a faca e com o pandeiro nos terreiros .

A Praça Onze , com os blocos e as escolas de samba se tornaria o centro de toda a musicalidade negra .Pró-ximo dali , através dos trilhos da Central do brasil ,o samba correu em direção ao subúrbio e parou onde exis-tisse um morro .Enquanto isso , as gravações elétricas e o rádio ajudavam a difundir a cultura dos negros para todo o Brasil .Compositores e  intérpretes urbanos  gravaram samba , alcançando  grande sucesso . Caso de Almirante , Carmem Miranda , Araci de Almeida e Noel . Mas o  samba de raiz continuava sendo criado nos morros e dentro das  Escolas de Samba . Deixa  Falar  foi  a primeira escola  do Rio . Formada no Estácio , reduto dos  maiores bambas .

Ainda hoje , alguns compositores de  tradição perpetuam suas raízes através dos desfiles de escolas de samba, ora compondo , ora como compositores da Velha Guarda .

Revista  BLACK -  págs 66 , 67  e 68  -  Música                                                                                        Junho de 97 - Por Everson Cardoso




sábado, 10 de fevereiro de 2024

Não descuide DA DENGUE



Chegada do inverno , com dias mais frios , deve ser usada para acabar com criadouros do Aedes aegypti , mosquito transmissor da doença

O período do verão é o mais propício à proliferação do mosquito Aedes aegypti , por causa das chuvas , e consequentemente é a época de maior risco da infecção por essas doenças .No entanto, no início do inverno , os cuidados contra dengue diminuem . Isso ocorre porque o mosquito Aedes aegypti ,transmissor da doença , circula menos durante períodos mais frios , mas se os criadouros não forem eliminados , os ovos depositados podem   permanecer   intactos por meses e , quando a estação quente  recomeçar , eles vão eclodir , dando origem a um  novo ciclo do mosquito .

É o que explica a coordenadora da Vigilância Ambiental do Secretaria da saúde do Paraná , Ivana Belmonte . Para ela ,a prevenção é a forma mais eficaz de se combater o mosquito e essa é umatarefa que depende muito uma tarefa que depende  muito da  contribuição da  população . “ Mais de  60%  dos criadouros , estão nos quintais e dentro das residências , em recipientes que acumulam água parada “ , diz .

Segundo o primeiro  Levantamento Rápido de índices de Infestação pelo  Aedes aegypti   ( Liraa ) de 2019 , divulgado em abril pelo Ministério da Saúde , 994  municípios apresentaram alto índice de infestação para as doenças provocadas pelo mosquito ,com risco de surto as doenças provocadas pelo mosquito , com risco de surto para dengue , zika e chikungunya .

O aumento da incidência de casos de dengue em todo país foi  de 339,9 % em relação ao mesmo período do ano passado .

Sintomas

A infecção pode ser sem sintomas , leve ou grave . Se  fôr grave , a  doença pode provocar perda de peso , náuseas e vômitos e levar até mesmo a morte .

Normalmente , a  primeira manifestação da dengue é  a febre alta  até  39º  a 40 º) , de início abrupto , que geralmente dura de dois a sete dias , acompanhada de dor de cabeça , dores  no corpo e articulações , além de prostração ,fraqueza , dor atrás dos olhos , erupção e coceira na pele .Perda de peso , náuseas e vômitos são comuns . Em alguns casos também apresenta manchas vermelhas na pele .

Na fase febril inicial da dengue , pode ser difícil diferenciá-la . A forma grave da  doença inclui dor abdominal intensa e contínua , vômitos persistentes e sangramento de mucosas .

Como prevenir

A melhor forma de prevenção da dengue é evitar a proliferação do mosquito eliminando água armazenada em pontos que podem se tornar possíveis criadouros .

Vasos de plantas , pneus , garrafas plásticas e até recipientes pequenos , como tampas de garrafas , podem conter larvas do mosquito.

Para quem vai viajar nas férias de julho , a orientação é substituir a água dos pratos dos vasos de planta por areia , deixar a caixa d’água  tampada e cobrir todos os   grandes reservatórios de água , como as  piscinas .

Ainda assim , repelentes de uso tópico aplicado na pele , podem fazer parte dos cuidados contra a dengue , chikungunya e zika .

Fonte – DESTAK - BEM ESTAR QUARTA – FEIRA  , 17. 07. 2019 – PREVENÇÃO   –  Observação - Gostaríamos que voltasse o Jornal DESTAK , assim a população com boa informação , lendo na  ida  ao trabalho -  Ana Regina Gouvêa blogueira









A culpa nasce antes dos filhos ?


 


Mantendo contato próximo com um grande número de mães , observo , cada vez mais ,                           a culpa que carregam pelos mais diferentes motivos :

- Trabalhar fora ;

- Não brincar com os filhos ;

- Perder a paciência ;

- Não ter amamentado exclusivamente no peito até 6 meses ;

- Ter pouco leite ;

- Não conseguir respeitar as janelas de sono e sonecas do bebê ;

- Sentir-se esgotada por dormir pouco …

Enfim , há sempre  a percepção de que existe um erro no percurso , como  se a criança fosse prejudicada  pela mãe o tempo todo . Mais do que isso como se  a proteção fosse possível entre nós , pobres mortais .

Quero trazer hoje uma reflexão muito objetiva e realista sobre a maternidade e  peço que me acompanhem com genuíno interesse em compreender a mensagem e tirar bons frutos para sua experiência pessoal .

Em primeiro lugar , entendam : não existe perfeição aqui  na terra . Perfeito somente é  Deus . Nós, simples mortais , podemos oferecer uns aos outros  nosso melhor , ou seja , o esforço constante por  fazer o bem , amar e servir .

Em segundo lugar ,é preciso haver uma hierarquia clara de valores .Já pararam para pensar sobre isso? Para orquestrar  tantos compromissos e   responsabilidades , a ordem  hierárquica é  fundamental .O que vem em primeiro lugar ?  Em que qual de suas atividades vocês são insubstituíveis?

Já pararam para fazer reflexão ?

Num mundo tão materialista e  hedonista , facilmente somos levados  pela  maré do ter , do sucesso profis-sional como meta principal .Mas ,quando paramos para uma reflexão mais profunda e realista , percebemos que é  na família que cada um é , de fato , insubstituível  –  o que  você não fizer como mãe , ninguém fará .

No entanto ,ter clareza dessa importância não deve aprisionar vocês na culpa ,caso não faça parte de suas possibilidades ficar em casa e cuidar da família .

Não idealizem a vida , ela não é passível de idealização .A vida acontece , surpreende, as circunstâncias  se apresentam e o melhor que vocês podem fazer é ,dentro de suas circunstâncias ,viver sua hierarquia da me-lhor maneira possível .

Trabalharam fora ?  Façam-se presentes de modo criativo  – voltem para casa sempre que possível  ( se for possível pegar e levar o filho na escola , almoçar em casa , jantar , dar banho , fazer dormir , não terceirizem por comodidade .Estabeleçam  os combinados com as crianças , criem alternativas para saber se foram cum-pridos , enfim , sejam as protagonistas da educação deles nessas suas circunstâncias .

Ficam em casa ? Estejam , de fato , na relação . Não é somente por estar em casa que a mulher está ocupada com a educação dos filhos e a   gerência do lar . Vejo muitas mães que , mesmo estando em casa , acabando delegando tarefas importantes .

O mesmo vale para a amamentação , para as faltas de paciência , enfim – a vida não cabe em nenhuma idea-lização , esqueçam essa loucura .

Fazer o melhor possível ,lutar por ser uma boa mãe , mulher e esposa a partir de sua realidade pessoal , isso é o melhor que se pode fazer .

Com isso , não estou fomentando uma postura comodista   –   sou assim  e pronto . Ao contrário , estou esti-mulando que se conheçam , aceitem as circunstâncias e tirem delas e de vocês o melhor todos os dias , uma mãe comprometida em formar bem seu caráter e preparará -lo para a   vida .

E tem mais : os filhos não são   tão frágeis que qualquer erro de percurso os  traumatize ou prejudique seria-mente .Eles conseguem reconhecer o amor ,o cuidado , o vínculo bem formado e ,quando isso é vivido com retidão , os erros são parte passageira , são percalços que serão superados dentro da relação .

Podem ter certeza : essa conduta tão culpada e insegura prejudica mais os filhos de vocês firmes , confiantes e dedicadas sim , mas exatamente como são : reais . Com defeitos e qualidades , com acertos e erros .Não dei-xem a culpa tomar conta da vida e fiquem atentas pois , se ela aparecer com força , provavelmente o que fal-tou foi retidão ou compromisso com a missão .Corrijam e sigam .Educar os filhos é a maior oportunidade que vocês terão de crescer em virtudes , de se tornarem pessoas ainda melhores .

Fonte  -  Jornal - O SÃO PAULO  -   pág 5  -  Viver Bem  /  Fé  e  Vida                                                        Data  –  de 5 a 11  de  abril  de  2023  -  Comportamento                                                                          Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora .Mantém o site www.simonefuzaro.com.br





domingo, 4 de fevereiro de 2024

COMO DEIXAR DE SER MAL - EDUCADO


 

Sobre  as  confusões  educativas  contemporâneas 

Comportamento 

Atendendo muitas  famílias  e tomando  de  suas  angústias educativas , senti-me movida a fazer  uma breve análise do que do que leva as  pessoas a buscar tantas e tão diferentes  técnicas e teorias educativas . Te -
mos disponíveis no mercado , especialmente no mercado  on - line , as mais diversas propostas de  inter-venções educativas a  disciplina positiva , a comunicação não violenta , a cama compartilhada , a  educação neuro compatível , enfim , seria  difícil nomear  todas as  linhas educativas que se apresentam e acabam  in-tegrando não somente o  imaginário , mas especialmente  ação do país .

Creio que seja  muito importante , mais do que  criticar ou  aderir , compreender em que lugar entram essas teorias . Por que os pais  se  abrem tanto a tudo o que de mais  “ novo “  se  apresenta nesse campo  ? 

Desde os  movimentos iluministas ,  oriundos da  revolução Francesa , todos estamos  relativista e equivocado no que diz  respeito a quem é a  pessoa , ou  seja , não nos ancoramos numa concepção antropológica clara  sobre a pessoa e , consequentemente , sobre  corno a  criança chega a  ser pessoa em todo o  seu potencial . 

A partir da  visão rousseaunerana de  Educação , se aderiu a  uma postura educativa espontaneísta , ou seja , se vê  a criança como alguém potencialmente capaz de , quase que somente por  herança genética ,chegar  à sua  melhor versão a partir de seu cresci-mento natural .

Tudo  o que  vai  “ contra  a  tendência natural “  e  espontânea da  criança é visto como  opressão , falta de  liberdade , de autenticidade , ou  limitador da  criatividade infantil .

Ocorre que isso toma  conta do  imaginário  dos pais sem que eles saibam exatamente o  porquê.Com medo de  oprimir ou de  traumatizar as  crianças , exatamente por não entenderem bem  o modo como realmente o  crescimento saudável e adequado acon-tece e como as  crianças podem  chegar ao  máximo do  seu  po-tencial  os pais aderem a  essas técnicas . Sendo assim , sem que saibam , estão  agindo ,  muitíssimas vezes , em  direção contrária ao  que realmente querem . ‘ É preciso , a  meu ver , esclarecer  aos pais o que se  ga-nha e o que  se  perde quando  não se tem clareza sobre  quem somos nós , pessoas .

Baseando-se , então , numa antropológica , proponho uma  visão  mais ampla dessas  abordagens educativas .
Crianças  nascem “ débeis “ .Por experiência , todos sabemos que elas nasce comple-tamente  dependentes e absolutamente  inaptas  a  viverem sós . Dependem do  adulto para sobreviver e  aprender a  viver . Não são  capazes de  escolher nem  agir  por  si mesmas .

Elas têm um  aparato neurológico imaturo , com  um sistema límbico em  alto  funcionamento ,o que as leva a buscar  o prazer e  reagir intensamente ao desprazer ( frustração ) . 

Como os  animais ,elas têm uma  sensibilidade  presente que  as leva a perceber o mundo e se  adaptar a  ele , mas , como pessoas , possuem  as potências da  inteli gência e da vontade vão promover  uma  vida superior  à de  qualquer outro  animal . Estas , na infância ,estão presentes em  potência , precisando de ajuda para  se transformarem em ato .Essa ajuda se dá  pelo processo educativo ,que no ser humano é absolutamente trans-formador - capaz de  levar a  pessoa à sua  melhor versão .

A  pessoa vai se aperfeiçoando e se tronando  melhor quanto  mais  vai  sendo educada em  sua  potência vo-litiva e  intelectual – isso se dá a partir da  aquisição de hábitos e  virtudes .

Feitas essas considerações , fica  praticamente impossível acreditar que , desenvolvimento espontâneo , che-garão a  resultados positivos . 

Algumas  propostas  educativas pregam que crianças até  determinada idade não compreendem o  sentido da  palavra “  Não “ . E  eu pergunto  a você como  compreenderão se não apresentarmos  essa palavra a elas ? Como se aprende  uma  língua  nova ?  Sem ouvir o que não se conhece , não se aprenderá nunca . 

Outras dizem que ao invés de dizermos aos  pequenos o que não podem fazer , devemos  apontar aquilo que podem . Pergunto  novamente : é contato coma frustração ter somente horizontes abertos abertos  ? Quando  perceberem que  a vida real  se trata de escolhas e que escolhas pressupõem  um ganho em  detrimento de algumas perdas, como se sairão ? 

Como poderemos ensinar  a virtude da coragem ,da  fortaleza ,da  paciência , da generosidade , da ordem , se  nos  limitarmos a  “ respeitar  “ as  capacidades  imaturas da criança  e não  as  estimularmos a  mais ?

Claro  nada disso precisa ser feito  com autoritarismo ou  agressividade . Ao contrário com  muito carinho e firmeza .Exatamente por um grande gesto de amor não podemos deixar que  os  pequenos fiquem  reféns da  condição imatura . Devemos a eles a  possibilidade de crescerem e   se desenvolverem , de se tornarem  grandes homens e mulheres . A  educação é a  única condição para que  isso acontença  verdadeiramente .

Fonte  -  Jornal  O  SÃO  PAULO  -  pág  5  -   Viver  bem   /   Fé  e Vida  
De 8  a  14 de junho de  2022  - Simone  Ribeiro  Cabral  Fuzaro  - fonoaudióloga e educadora  -  Comportamento 






quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Arte de vanguarda

 


AO  MUDAR-SE  PARA  SÃO PAULO NOS  ANOS 1920 , LASAR  SEGALL TROUXE  O  OLHAR  EXPRESSIONISMO  ALEMÃO  PARA  DIALOGAR COM  A  CENA  MODERNISTA  BRASILEIRA 

De origem  lituana , Lasar Segall  muda-se para São Paulo na  década de 1920 , aos 3  anos de idade . A aproximação afetiva com  o país se  formaliza em 1925 , por  meio do casamento com a  brasileira  Jenny  Klabin .Futuramente ,a casa do artista na capital paulista seria  transformada no Museu  Lasar  Segall , ide-alizado por sua esposa e inaugurado pelos  filhos do casal , Oscar e  Maurício  Segall , numa  homenagem póstuma a um dos  maiores representantes das  artes visuais brasileiras do período modernista . A amizade com Mário de Andrade – um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna  de 1922  –  encurtou as dis- tâncias entre  Segall  e a movimentação cultural e  intelectual de  São Paulo , marcada pelo  modernismo e  pelo circuito dos  salões  aristocráticos das artes . 

PINTOR  CONSAGRADO 

Segundo Jorge Schawartz , diretor  do Museu  Lasar  Segall , a mudança do  artista para o  Brasil  não é reduzida em significado e trouxe com ela a aura do famoso pintor identificado pelo expressionismo alemão .Exemplo disso foi a compra de algumas de  suas obras  por  museus  alemães , como  Von  der  Heydt  - Museu Wuppertal , juntamente com  esposições em  cartaz na época.  " Tamanha a  importância , que al-gumas obras foram confiscadas  e expostas na  histórica  exposição nazista  de  ' Arte  Degenerada ' em  Munique , junto com  750  outros artistas  -  o que havia de  melhor na vanguarda  alemã  e  austríaca " , explica  Schwartz . 

Daqui já se notava o  interesse de  Mário de Andrade pela obra do artista , que se  na-turaliza  brasileiro em  1927 . Mário era  leitor de  publicações  alemãs , por  meio das quais conheceu  Segall . "  Foi  quem  mais  escreveu sobre ele , fazendo com  fosse reconhecido nos  anos de 1920  como o pintor mais  importante do Brasil  " , completa . Mário de  Andrade manifestou seu  contentamento de  forma  pública em  artigo publi-cado em 1924 , no periódico  a Ideia  .O crítico entenda  o trabalho de  Segall como um  paradigma da van-guarda , uma espécie de  vitrine do que  melhor estava sendo feito na  Europa .Em outros  textos , chegou a  apresentá -lo ao  público leitor como exemplo de arte contemporânea . Em  crítica no jornal Correio  Pau- listano , em 29  de março de  1924 , a  propósito de uma  exposição  individual do artista , afirmou que  amostra trazia uma  inquietação , " que é talvez  o aspecto  mais significante do  espírito  contemporâneo " . 

ENTRE  OUTRAS  FRENTES 

Com histórico nas vanguar das europeias e inserido cena  modernista paulistana Segall também atuou como  cenógrafo , muralista e  decorador  de  artes visuais .Essas atividades  ocorreram , principalmente , nos anos de 1930 . 

Essa fase  não tão conhecida do  artista  foi objeto de estudo do professor do departa-mento de  Sociologia da  Universidade de São Paulo  ( USP ) e  autor do livro  Lasar Segall : Arte  em  Sociedade  ( 2008 , edição esgotada  ) , Fernando  Antonio Pinheiro  Filho , que  também  cita  a  amizade  entre  Segall  e  Mário  de  Andrade como  peça - chave na  divulgação do  expressionismo no Brasil . Segundo o professor , Mário vê em  Segall " uma  possibilidade de  renovação para predominância da cultura francesa no  modernismo bra-sileiro ,defende o expressionismo como a  nova  vanguarda e o apresenta à elite paulistana ."  Como exemplo, Pinheiro Filho menciona a  decoração do  pavilhão modernista na  casa de  Olivia Guedes  Penteado " .Pin- tado  num abstracionismo geométrico inusual até na  obra  de Segall , por isso mesmo , logrou  êxito como inovação a que só  uma  elite  que se  pretendia  distinta por sua  cultura  poderia  incorporar " , analisa .

Fonte -  Revista  E  -  SELO  SESC   - pág 8