segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O BRASIL AINDA EXISTE

 


Bastou apenas a hora e meia do show do Caetano , onde ele festejou seus 80 anos ao lado dos filhos e de sua irmã Betânia , para eu voltar a confiar no país. Em meio à vulgaridade vigente ,ele irradiou esperança , acendeu uma luz . Nos Whats Apps  e postagens nas redes , brasileiros  emocionados celebraram  não só o talento dos Veloso , mas o resgate do encantamento . Extra , extra  !  O Brasil  sensível e culto ainda respira .

As palavras que me vêm à cabeça são perigosas , já  que costumam descrever situações sentimen talóides , mas correrei o risco de abusar delas nesta página . Elas não podem continuar envergonhadas diante da estu-pidez que saiu do armário .

O que se viu , 90 minutos , foi o verdadeiro conceito de família , e não uma gangue com o mesmo sobrenome . Pessoas unidas , pela arte , transmitindo com limpidez os   sons de sua terra mãe , a Bahia . Nossa ancestra-lidade representada por instrumentos ,vozes e versos .E afeto explícito : abraços e beijos de quem sente admi-ração recíproca e não se enrijece diante de uma virilidade antiquada , em desuso .

Vimos memória , história , trajetória . O respeito pela passagem do tempo , pelas experiências , aprendizados e parcerias . A construção de uma  carreira sólida , a serviço da poesia e de uma sonoridade quase silenciosa , partilhada com as gerações seguintes , que por sua vez trazem suas próprias referências , estabelecendo a tro-ca fundamental que faz a música  avançar , a vida evoluir .

Vimos a simplicidade refinada . O popular e o clássico costurados . A beleza de falar sobre nossa humanidade de uma forma que comove , sem jamais soar brutal . A elegância do pensamento ilimitado e de um comporta-mento que é brejeiro e universal na mesma medida . A transmissão de um legado . Nada  é pra já , tudo é pra sempre .

Vimos uma afinação que vai muito além dos  acordes e do tom de voz . É alinhamento com o momento  pre- presente . Consciência e responsabilidade como cidadão social . Busca pelo novo. , sem abdicar do sublime .

E chegamos à espiritualidade , que pode ser ainda  mais ampla do que a  religião , e que transpassou palco e plateia .Espiritualidade é comunhão entre seres desiguais .Tentativa de purificar o que em nós é angústia , dor , ressentimento , procurando transformar nossas imperfeições em sabedoria para lidar com as dificuldades . É equilibrar as naturezas interna e externa . Abertura e  generosidade, em vez de julgamento . Sim , bem traba-lhoso , mas torna-se possível quando , em vez de reduzir “ Deus acima de tudo “ a um slogan , nos compro-metemos com o outro , que está ao lado de nós .

Foi um brasileiro de 80 anos que me despertou essas reflexões , ao presentear o país com uma rara noite de paz . Já os que acham que cultura não serve pra nada , tiveram mais uma noite qualquer .

Fonte - Revista  Ela  -  pág 9 -  CRÔNICA                                                                                                  Data  – 2021 -  MARTHA   MEDEIROS





O BRASIL VOLTOU …

O  Brasil voltou com  toda  força , alegria  e  garra .

Temos que agradecer o empenho, de todos responsáveis , pelo resgate  dos brasileiros , para voltarem ao Brasil .

É emociante ao ver na TV ,a doação do tempo, generosidade , para proporcionar a Ceia de Natal para as pessoas carentes . Temos o Natal  sem fome , que há anos e anos ajuda , e outras iniciativas, até de particu-lares .Deus cubram todos de bençãos ! Precisamos seguir esses exemplos e  não criticar como algumas pes-soas fizeram aos que ajudar os  LGBT . Falta ,amor ao próximo , empatia e solidariedade .Enxergar também  o trabalho dos garis , que coletam  nosso lixo  e os que moram nas ruas . Acreditar  na união , ao verificar a distribuição da ceia , por pessoas de várias religiões . Chega  de intolerância ! 

Quero agradecer carinhosamente , à  todos que acessam meu blog e indicam . Seleciono os conteúdos para atualização ,conhecimento , importância de fatos e personalidades de todas as áreas. Também a preocupação no âmbito social , saúde , violência contra as crianças , jovens e idosos, alerta aos crimes digitais . A  impor-tância na cultura  e educação e profissionais .

A  união  faz a  força  . Portanto  nada de discussões , rusgas , lamentações , com  familiares , parentes  amigos . Curtam  as  festas  de  fim de  ano , com  muta alegria . 

Desejo à vocês e Família , amigos , parentes :                                                                                            Feliz  Natal  e   Feliz   Ano  Novo .                                                                                                          2024 está chegando !   

Fonte  - Ana  Regina Gouvêa

domingo, 24 de dezembro de 2023

SAGRADA FAMÍLIA

 

Feliz Natal

Compartilhe o amor , Família dos Devotos

Deus pôs todo o seu amor divino no coração de uma criança . Ele  próprio se fez dom para nós ! E assim ,nos veio a salvação.Em um lugar simples houve compaixão. Em uma humilde manjedoura manjedoura , sinal de o - ferta e vida , houve amor .

Que neste Natal , seguindo o exemplo do Sim  de   Maria e de São  José ,  que amou e protegeu e  do Deus Menino ,que é sinal de esperança , você viva o tempo de partilha ,solidariedade e generosidade .

Ao viver nossos dias partilhando nossos dons ,estaremos vivendo o real significado do Natal ! Seja sinal de esperança , perdão e mudança . Nesse Natal compartilhe o amor que deus nos dá todos dias !

Feliz Natal e um próspero Ano – Novo Família dos devotos !

Fonte – REVISTA DE APARECIDA   - contra – capa                                                                      Dezembro de 2022 -  Compartilhe o amor





Meu presente de Natal

Nas manhãs de Natal era bonito ver as crianças na sala, ou mais ainda na calçada .À ponta com um barbante , vinha o caminhãozinho vermelho e amarelo .Nocarrinho de vime ,a boneca de olhi-nhos arregalados .Era uma alegria que nos ensinava aos  poucos  a alegria do Natal de  Jesus entre nós . Não deixamos de gostar de pre-sentes , e na certa esperamos de Deus algum neste Natal . E certamente  virá . Quem sabe um tanto surpreen-dentemente  bastante  diferente do que esperamos . Nosso Senhor é  muito inventivo . E poderá , quem sabe , dar-nos tanto amor que comecemos a  amar um tanto mais , e nos leve a nos entregar ao serviço dos outros , sem nada esperar em troca .Ou , quem sabe até possa nos dar o maior dos presentes , tomando- nos para si , e ocupando o primeiro lugar em nossa vida . Bom Natal para você !

REVISTA  DE  APARECIDA  -   pág  34                                                                                                    Pe Flávio  Cavaica  de  Castro , C.Ss.R 






                                                                               

Os  magos  , agradecidos  , levaram  seus  presentes 

“ Vendo eles a estrela , alegraram – se  imensamente . E , entrando na casa , acharam  o menino com Maria , sua mãe , e prostrando -se , o adoraram ; e abrindo os seus tesouros , ofertaram – lhe presentes : ouro , in-censo e mirra “ ( Mt 2 , 10 – 11 )

Os magos do Oriente   procuram  Jesus e, quando o encontram , oferecem  seus presentes : ouro , incenso e mirra , que simbolizavam a divindade e humanidade do Menino Jesus . Fizeram  um itinerário de fé . Deus se manifesta a todos de acordo com a  própria  cultura e  linguagem .Os pastores tinham   uma cultura judaica e foram orientados pelos anjos .Os magos ,homens eruditos e cultos, foram orientados por meio de uma estrela . Todos precisam encontrar Jesus . A nossa fé procura Jesus e enfrenta todos os tipos de desafios , desertos e distâncias . Quem procura sempre encontra .

A Mílicia da  Imaculada é esta   manifestação de Jesus . Com ela , podemos ir bem longe levando essa linda mensagem do amor de Deus que nos deu o Seu  Filho . Não podemos parar . Muitos receberão o anúncio e serão gratos ,pois manifestamos e comunicamos continuamente a misericórdia de Deus . Epifania é uma mani-festação de Deus a toda a humanidade . Fazemos uma manifestação evangelizadora incrível ! Hoje com rádio , as revistas , o telefone , o celular , as cartas e a internet ( por site , aplicativo e redes sociais ) . Vamos atingir o mundo inteiro. Agora o mundo se tornou pequeno .Jesus nos chama e nós vamos “ conquistar o mundo inteiro a Cristo sob a proteção e a mediação da Imaculada “ ! , como dizia São Maximiliano Kolbe .

Fonte - REVISTA O  MÍLITE - pág 4 - Você no Coração da  MÃE                                                              FREI SEBASTIÃO QUAGLIO   -  Franciscano   Menor Conventual


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

TODO HOMEM PROCURA UM DEUS MELHOR QUE ELE




No romance de Vintila Horia “ Deus nasceu no exílio “ , que é o diário do poeta latino , Oví-dio , exilado em Tomes , podemos colher na evolução interior de um dos poetas mais fúteis de todo o paganismo  romano , o que terá sido na alma dos melhores pagãos a expectativa de uma   verdade  melhor do que a de seus deuses falsos e corruptos . Ovídio , quando pressente a che-gada desse Outro que está para vir , que já veio no ano de sua morte , ( 17 d .c. ) mas ainda não manifestou aos gentios senão no presépio escreve : “ Esse tempo de loucura e de esperança tal como é o nosso, é o tempo da expectativa de Deus “ .

As divindades  romanas , depois de  contaminadas pela  influência grega , se revelam à   consciência humana , cada vez  mais indignas de amor e devoção . O  fim do culto , para aqueles e  conjurar seus maléficos efeitos . Daí o caráter utilitário da religião romana e seu cunho antes jurídico que moral ou místico : “ dou - vos isto , ó deuses , para que vós deis algo em troca “ .A multiplicação dos deuses  repugna aos melhores espíritos , mas poucos sofrem o suficiente  para  inclinar-se sobre o vazio  da   própria alguma . Os romanos são guerreiros e juristas .Quando são poetas , como Ovídio , são gozadores da  vida e a  verdade raramente se  entrega a  tal categoria dos homens . Foi só nos sofrimentos do exílio , que Horia pode atribuir  a  Ovídio essas  profundas reflexões ; “ Sofro neste desterro e  luto em minhas cartas para obter o perdão e voltar um dia  para a minha terra ,ou , ao menos , ser exilado para outra parte ,onde haja um clima  mais suportável e  homens  mais civi-lizados ,mas nunca lamentarei o instante em que pude inclinar-me livremente sobre a minha alma ,sem degosto, sem medo e sem humilhação .Foi  nas praias do Ponto - Euxino ,cujas águas parecem  por vezes  tão negras que dir – se – ia a morada das trevas , que comecei a ser um homem “ .

O ceticismo , que é uma etapa da decadência da religião romana ,marca também o fim de uma ilusão ,sobre a qual se erguera o Império de Augusto e de todos os Césares .O ceticismo  de Marco Aurélio , o espiritualismo erudito de Cícero , o pessimismo desesperado de Lucrécio são afirma ções de que a chaga da alma pagã é in-curável , porque rejeitando os de deuses maus do paganismo , nada acharam para encher o imenso vazio .Na poesia de Virgílio perpassa porém , um sopro de esperança .

Há portanto , uma ferida  na  alma pagã , que é a morte . Nenhum homem  contenta com o  que é puramente humano .Todo homem é , como foi Léon Bloy , um peregrino do Absoluto . A nostalgia da   imortalidade e da posse da vida eterna deixou sulcos profundos na alma de todos os ho-mens . Não há glória mais triste ,do que aquela que se confina no tempo .E assim é toda glória humana no dizer da escritura : como a palha que o vento leva para fora da eira no tempo do estio . A carne é uma muralha que separa em vez de unir e a matéria  é um obstáculo , enquanto não é perpassada pelo sopro do espírito .Os pagãos sentiram essa verdade , viveram-se mesmo nos seus pecados e nas suas misérias e foi  por isso que Roma ,a mais corrupta   cidade do mundo an-tigo , acolheu a Chegada de Deus .

Fonte - Revista Primavera – 1962




terça-feira, 19 de dezembro de 2023

OS HÁBITOS DE UM GÊNIO

 




Amigos , hoje eu exijo um minuto de sua preciosa atenção .Vou falar de um gênio . Vou  falar de Zé Rodrix. Concordo que há dois anos que eu venho chamando o Zé de gênio .Mas é que agora os colunistas ,demons-trando alto grau de conhecimento artístico musical , também estão chamando   Zé Rodrix de gênio . E agora pergunto : mas porque o Zé é gênio ? Foi querendo saber como é que ele vive que eu grudei no cara durante uma semana . Pois eu estou capacitado a declarar publi-camente que o Zé é gênio porque trabalha sem parar 48 horas por dia . Zé Rodrix e sua mulher Edir de Castro passaram uma semana  como hóspedes . Eu tive o prazer de curtir esse cara durante uma semana . Pois bem , amigos , vou contar suas neuroses . Para início de conversa o gênio não tem nada de boêmio . Dorme diariamente à meia-noite e acorda as sete da matina . Ele acorda e vai direto pra praia . Faz uma  ginástica cafonissima e  medita vários minutos de pernas cruzadas na areia .Toma todos os refrescos que lhe são oferecidos e chupa todos os picolés que passam na sua frente.Isso tudo sem deixar de meditar e descruzar as pernas . Às vezes começa a rabiscar na areia e acaba compondo uma nova canção .Quando termina a jogada da praia ele vai direto pra casa . Almoça rapidamente e começa os estudos . O que o Zé está estudando não está no gibi. Tem um tal de Princípios de Orquestrado de Rimski – Korsakoff que não é mole. Zé liga a vitrola , o gravador ,toca piano , escreve música e estuda novas teorias ao mesmo tempo .De quando em vez um dos aparelhos é desligado e suas  preferências voltam-se para o vi - olão , flauta , celo e , pasmem amigos , um saxofone tenor . Como se não bastasse o cara tocar isso tudo além de órgão , Moog e acordeão ( foi ele quem  fez o solo do Vira  sucesso dos Secos & Molhados ) , o Zé está inventando um novo instrumento . Aí vai em primeira mão o nome do futuro instrumento que constará dos pró-ximos LPs do Zé : pimugano . Olha gente ,o pimugano é  uma mistura de piano com sintetizador , onde existe uma escala  totalmente nova  de valores e … bem , não dá pra explicar .O Zé curte seus instrumentos diaria-mente . Isso vai até o jantar . Sem parar acontece  uma salada musical . Depois do jantar entra  em cena a au-dição de sua imensa  coleção de discos . O  Zé possui  todos  os discos dos grandes musicais da Broadway . Abre uma pequena brecha nessa audição para ler  um  pouco  das partituras que manda buscar em todos os países do mundo .Quando ele termina os seus estudos , ele se liga no homem -aranha ( segundo o próprio Zé é o mais neurótico dos super -heróis , portanto o mais humano ) , Zé do Boné e tudo quanto o livro de ficção científica . Bem , semana que vem eu  conto as manias e  as  neuroses do gênio .

Fonte - Revista  AMIGA    -  CARLOS  IMPERIAL


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

JOÃOZINHO TRINTA

 



O  GÊNIO  DO  CARNAVAL  BRASILEIRO

“ Não quero me promover . Só divulgar meu trabalho “

De artista plástico a   filósofo popular , ele  é hoje  uma das figuras mais queridas de toda uma comunidade . Motivo suficiente para que virasse um personagem de TV . Joãozinho Trinta  e O Mutirão da  Alegria , epi -sódio do Caso Verdade , está sendo  por isso mesmo , considerado pela equipe que o produziu “ uma justa homenagem “ ao carnavalesco da escola de Samba Beija -Flor .

Agora ele é um Caso Verdade na TV

Para viver Joãozinho Trinta , no texto da autora Wloy Callage , o ator Paschoal   Villaboim fez , dos sete dias em que gravou na quadra da escola em Nilópolis , “ um trabalho de muita sensi-bilidade , um laboratório muito epidérmico , em que a  equipe  se  impregnou  de  todo  o clima desta iniciativa social  “ . Ele conta ainda que , antes de começarem as gravações ,  “ não via  a hora de conhecer   pessoalmente o carnavalesco que sempre admirei  “ e com quem acabou travando uma grande amizade . A única diferença entre os dois , segundo o car-navalesco , “ é que o João Paschoal , na hora H , até se esqueceu do trabalho e caiu no samba “ .

As gravações sob a direção de   Walter Campos , feitas na   segunda semana de maio , movimentaram o pe-queno bairro do Rio , quando os próprios  integrantes da  escola  formaram a figuração , ao lado do elenco , também formado por Jacira Silva , Jorge Coutinho , a   frenética Edyr de Castro , Maria Teresa  Barroso e Robson ( que interpretou , antes , o Adílio ) . Para   Joãozinho Trinta , a importância do Caso Verdade é prin-cipalmente a divulgação desse trabalho comunitário , desenvol vido pela escola de samba também do mutirão , já que  a TV Globo mandou pintar a escola . Espero que o programa atue também como um mutirão culural , propagando essa necessidade que nos levou a isso .

UM HOMEM POLÊMICO

Joãozinho Trinta  já se assume como uma  espécie de   relações – públicas de Nilópolis . Recentemente  con-seguiu ,do ministro dos Transportes , uma verba de 30 milhões de cruzeiros para ser empregada nas obras de saneamento da cidade . Solicitado , inclusive , para participar , frequen-temente , de palestras que abordaram os  problemas sociais , ele  já causou  muita polêmica . Diriam alguns : um sonhador ?  Um oportunista ?  Um político ? Ou apenas um sambista ? Ele afirma que “ nunca temi nenhuma crítica , e o fato de virar personagem tampouco me envaidece . Continue me vendo como um operário , um instrumento de  trabalho social . E , se com a minha imagem consigo atingir esses objetivos , melhor ainda .Muitos  também já  me perguntaram se o que pretendo na verdade , é vira a me candidatar .Não .Sou muyito mais influente na posição que ocupo . O Congresso não me atrai  apesar de ter a certeza de que hoje sou muito mais famoso do que o próprio cacique Juruna “ !

Mas Joãozinho prefere mesmo é explicar um pouco do trabalho que realiza , pois sente que o homem está se afastando da terra , das origens : “  Não há nada fantástico nisso . As pessoas estão disponíveis , eu apenas procuro ser lógico . O homem está deixando de ser lógico . Nin-guém percebe , mas as pessoas vêm agindo assim : desde o afortunado que tem a cobertura na Vieira Souto àquele que , com muito suor , conseguiu seu apartamento do BNH , passam o resto de suas  vidas tentando conseguir comprar um sítio . E o que se pre-tende com este trabalho na Baixada , é , justamente , mostrar que as pessoas já  têm isso , precisam apenas que se melhore o seu espaço Os críticos dizem que é elitismo planejarmos construir jardins de Burle Max ou, transformarmos lixeiras em hortas ( com a ajuda da FEEMA e do IBDF ) . Por quê ? Não é nenhum privilégio de classe , é uma necessidade econômica , de espaço . Tentar incutir essa , necessidade de se   viver decente-mente , numa população que sofre , nem que seja por osmose , pois é a geografia humana que está muito mais carente .Como é que se exige , por exemplo , que as pessoas não sejam violentas ? Se elas utilizam uma estra-da de ferro que é um curral : ou se têm que desistir de assistir ao Projeto Aquarius em sua cidade ,pois não há lugar conveniente.Beethoven poderia  resistir às lixeiras ? Seria insólito , surrealista , van ghoghiano !  Por isto estou assumindo esta função mesmo . Mas acho que tudo é uma questão de implantação .Um impulso na roda para que ela comece a girar .De nada adianta só reclamar ,as pessoas precisam chamar a atenção para os seus problemas . Porque no Brasil , o berço continua esplêndido , mas o gigante é que ainda está adormecido “ .

Fonte - Revista Amiga - pág 18  -  Reportagem de   Mônica Soares




sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Todas as mídias lembram o rei da Quilombo



Ao  completar  30  anos de morto  . Candeia  homenageado  em  filme , peça ,  livro  CD  e  pelo                Trem do  Samba 

Um  dos  melhores compositores do samba , líder  natural que cantou e brigou  pelos  direitos do negro  e contra a descaracterização das  escolas  e  do carnaval  . Antônio  Candeia  Filho é cultuado em  todas as rodas da cidade .Mesmo assim talvez  que seja, do seleto grupo de gênios do samba , no qual se Cartola, NelsonCavaquinho, Zé Keti , Martinho da  Vila , Paulinho da  Viola , Elton Medeiros e poucos outros , o  mais sub-estimado e  o que  tem  a  história e  a  obra  menos conhecidas . Agora que se completam -  30 anos da sua morte , no dia  16 de novembro , o fundador do  Recreativo de  Arte  Negra  e  Escola  - de  Samba Quilombo ,o ex - policial  que - reza  a  lenda  - perseguia  até  os  sambistas  amigos e  viveu  seus  últimos  anos  numa  cadeira de rodas , aleijado por um tiro  numa  discussão de  trânsito , terá  sua  traje-tória  revista em  livro , filme , shows , um musical no Centro Cultural  Banco do Brasil .

“ Ele  era  o  Zumbi  dos  anos  60 e 70 “ , diz Noca 

A  comunidade  do  samba  aplaude a  lembrança .

-  Candeia  era  um  gênio  –  diz  Noca da Portela , que compôs  “ Mil réis “ em  parceria com ele  e guarda outra  inédita  da  dupla . Se o  rei  mandou  “   (  “  Se  o  rei  mandou , está  mandado  /  Se  o  rei   falou , está  falado /  O  rei  me  deixou  de  canto  chorado “ ) .  -  Além  do poder  da  músicalidade , da  poesia , era  um líder , o Zumbi  daqueles  anos  60  e 70 . Tinha  um  poder  de  domínio sobre  as  pessoas . Quando  elel cantava , era  emocionante , sua  voz  ecoava em  qualquer  lugar . Era muito politizado . Tem  uma  frase  na  música  que  é  a  cara  dele .  “  Liberdade  demais  dá cadeia “ .

Noca  lembra  que , quando  chegou  à Portela , em  1966 , Candeia  era  o  presidente  da  ala  dos compo- positores :

-  Cheguei recomendado pelo  paulino da Viola e pelo  Picolino , meu  parceiro do trio ABC . Ele disse que eu estava  bem  apresentado ,  mas  que  na  Portela ninguém  caía de pára- quedas . Disse que eu  tinha a  tarde inteira para fazer um  samba , em meia  hora voltei com dois . Um deles era  "  Portela querida  " . 

Candeia  nasceu  em  17 de agosto de 1935 , em  berço de sambista , e sempre  lembrava que  suas  festas a  feijão , cerveja , cachaça e música , enquanto a de outras crianças tinham  bolo e  guaraná .Mas ,se  faltaram  os  doces de  infância , o samba impregnou-lhe a alma .A tal ponto que , com 17 anos , vencia a  primeira das muitas disputas que ganharia na Portela . E logo do mestre  Manacéia ,campeoníssimo na época.

Aos  24 anos , sustentar  a família , fez concurso  para a polícia  e  se tornou  detetive . Mas não um detetive qualquer .Negro ,alto , forte , destemido e bom de briga , o policial Candeia era temido até pelos amigos do samba . 

- A  figura  dele era controversa .Muitos  sambistas  antigos reclamavam  que  ele chegava cobrando em cana quem estava em situação irregular .Consta que chegou a prender seu próprio irmão  Mas outros dizem que ele estava certo . Já que era função dele - conta  João Baptista Vargens , biógrafo do  sambista . 

Ainda  menino , vargens se tornou amigo de Candeia . Após a morte do  sambista , ele resolveu participar  do concurso de  monografias  da Funarte .O  resultado é o  ótimo livro  " Candeia - Luz  da  inspiração " ,  cuja  terceira edição será lançada no dia  2  de dezembro , Dia  Nacional do  Samba , na Central e em  Oswaldo Cruz . 

Nesse dia também , ele será  homenageado no  principal  palco sobre trilhos  do  trem do Samba , a festa organizada  por  Marquinhos de Oswaldo Cruz  Sambas como " Dia  de  graça " , "  Minhas  madrugadas " , "Luz  da  inspiração " , Pintura  sem  arte " , "Filosofia  do  samba " e outros serão  entoados em  todos os vagões .

- Haverá também um show no  Rival e outro na  Uerj , este simbolizando o fato de ele ter sido o  primeiro  a  cantar e a  falar sobre  a presença  do  negro na  universidade .Candeia  tinha  uma visão acima  de  mundo , além do próprio movimento negro , que  existe hoje  -  conta  Marquinhos . - Há  cinco anos , conheci  um  senador americano  que  visitava o Brasil  e  tinha  vivido  movimento  negro americano , conhecido  Martin Luther King .E ele sabia de  toda a  vida  do Candeia . E  se emocionava  ao ouvir o samba dele  e de Dona  Ivone de  Lara  :  "  Eu  não  sou  africano   /   Nem  norte-americano / Ao  som  da  viola e  pandeiro  / sou mais  o samba  brasileiro " .  

Ao voltar de uma  noitada , já  de  manhã de  13 de dezembro  de 1965 ,  Candeia se envolveu em uma briga de  trânsito  no centro do Rio . Depois de  bater em dois passageiros e esvaziar seu revólver nos  pneus do ca-minhão que se  chocara com seu carro,  ele levou cinco tiros do motorista . 

-  Das várias histórias que rondam  esse acidente , uma diz  prostituta na Lapa , que lhe rogou  uma praga  - conta Vargens . - Mas  acho que ali ele viu que a vida  não era aquilo que ele pensava . Então , usou todo o  seu talento para  fazer a melhor  parte de sua  obra . Ele  era  completo . Excelente  nas  três  vertentes  do  samba : samba -enredo , o de  terreiro e o  partido - alto . 

Documentário  e  peça  CCBB  retratam  o  mestre 

Candeia ainda é tema central do documentário " Eu sou  o  povo " , de Bruno Bacellar, Regina Rocha e  Luís   Fernando Couto , e  da  peça  "  Samba  na  veia  , é  Candeia "  , de  Eduardo Ceschin Rieche , que  será  encenada no Centro Cultural Banco do Brasil , em outubro e novembro . Estão ainda programados  uma ex-posição  de fotos na Central e um CD comemorativo da data com  arranjos de  Paulão  7 Cordas . 

Candeia morreu pouco antes do lançamento  de seu  melhor  disco , " Axé " , produzido por  João de Aquino . Ali estavam  imortalizados os  versos da  música- símbolo de sua  obra . "  Dia  de graça " , em que , antes  de  qualquer  discussão de  cotas  , evocava  a ida do  negro do  samba para  a sala :  "  Deixa  de  ser  rei  só  na  folia / Faça de sua  Maria  uma  rainha  todos os  dias / E canta o  samba na universidade  /  E  verás  que seu  filho será  princípe de  verdade " . 

Fonte  -  Jornal  O  GLOBO  -  pág 2  -  Segundo  caderno                                                                Domingo , 7  de  setembro de  2008  -  João  Pimentel 



terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Pelo telefone , nas avenidas e no campus

 


O  samba abre caminho na passarela da formação da identidade cultural brasileira a partir de 1916. Composto por  negros nos  morros , pelas  camadas mais pobres , pelos  brancos letrados , ele foi criando raízes por onde  passou . Além de  ser  estudado nas salas de aula , o gênero também é  tocado  por  váriosgrupos na  universidade , seja  nas rodas de samba das  faculdades . 

No  início do século XX ,o ponto de encontro dos  jovens músicos cariocas  era a casa  da  Tia Ciata , cozi-nheira  baiana , mãe  de  santo e  símbolo da  resistência da cultura  negra  no  Rio de  Janeiro . Lá  João da  Baiana , Pixinguinha , Sinhô , Donga ,entre outros ,costumavam  jogar  versos nos saraus enquanto tocavam. Assim surgiu   “  Pelo Telefone “  do  violonista  Donga e do  jornalista Mauro de  Almeida , primeiro samba gravado na  história da  música brasileira . Ao  longo do  tempo , o  Gênero  sofreu  transformações  como a  mudança  de acentuação  rítmica , permitindo  que  fosse  mais  “dançado” para desfilar . Ismael  Silva , Bide e  Marçal são os responsáveis pelo feito ,além de terem criado primeira  escola  de samba , a  “ Deixa Falar ", em … ,  que  depois  virou  a  Estácio e houve  a entrada de  instrumentos  como a  cuíca , com a  imperme-abilidade ,incorporou as novidades musicais  vindas do  caribe e  dos  Estados Unidos . 

Quem passa  pela   avenida da  Raia ou pela  praça do  Relógio  consegue ouvir a  batucada que  as  baterias universitárias diariamente fazem . Só na  USP , existem mais de  20 grupos formados pro alunos que  ensaiam para tocar nos jogos e nas  competições técnicas de  samba . O  envolvimento das  pessoas fez  surgir grupos maiores com  pessoas de  faculdades diferentes e  até  de  fora da universidade como o  Bloco  da  USP  e o  Batucada  Samba Clube . Embora ambos não existam  mais , eles  deixaram  heranças  interessantes  : o  pri-meiro transformou-se  no Cordão da  USP que , se-guindo a  tradição , tem  samba enredo e  estandarte pró-prios , já o  segundo que  desfilou pela  primeira vez nas  prévias carnavalescas deste  ano com  cerca de  250  ritmistas  de 50  diferentes baterias . Marcelo Garcia , cofundador do Cordão ,defende que  “  o samba  deve  estar  presente na  Universidade , assim  como o funk , o  maracatu , o  teatro  e  todas  outras  manifestações  culturais cabíveis .O  encontro ,o evento em si  proporciona  ambiente ímpar , democrático e construtivo para troca de  pontos  de  vista  e  opiniões  “  .  Com  essa visão , ele  acredita que  as  Baterias Universitárias da USP deixaram de  ser um  mero espaço de  batuque ,assim como o samba nunca  deixou de  ser um  símbolo  de  resistência  política , por  proporcionar  o encontro de  pessoas  que  percebem e  discutem questões co-mo  o feminismo e a  apropriação cultural .                      '

 Há  ainda diversas rodas  de  samba que  acontecem no  campus . Todas  as  primeiras  segundas -  feiras  do mês  um  grupo se reúne  na  Psicologia e todas  quartas-feiras outro grupo se encontra na  Faculdade de  Ar-quitetura e  Urbanismo .Além das que acontecem  esporadicamente na  Pedagogia , na  Física .Para  Marcelo Moreno , aluno da  Fau  e  frequentador da  roda de  samba ,o  encontro  tem  importância similar a  de qual-quer outro tipo de  organização estudantil  como atlética  ou  atividades  extracurriculares ,  como  as  festas . " Você tem  contato com  gente  que  as  vezes não teria , aprende  outros  tipos de  coisas  que  as  aulas  não oferecem  " , afirma  Moreno .

Por  ter sido o gênero mais  gravado , o  samba  transformou - se  em um dos principais componentes da cul-tura brasileira .  "  É  como se a  tradição do  samba  fosse  inventada e  cultivada . A  partir de um momento , ela  simplesmente  passou a  fazer  parte  do imaginário  e do  universo de  vida  das  pessoas  " reflete  Ivan Vilela , professor do  departamento de  Música da  escola de Comunicações e  Artes .Na  história destacam-se  grandes  sambistas que em algum momento vão influenciar ou já  influenciaram as pessoas que entram em contato com o gênero .Noel  Rosa , uma vez que suas músicas  retratavam o cotidiano da  cidade .Já Cartola  seguia  um  caminho  mais  subjetivo , ligado  às questões  amorosas , em suas  composições .O  sambista e  sua  mulher , Zica , eram  donos  do  ZiCartola  , restaurante  da  Rua da  carioca que se tornou  reduto dos  boêmios , intelectuais  e  sambistas  entre 1963  e  1965 . Dona  Ivone Lara aparece  na  história secular ,as-sim  como  Clementina  de Jesus . Por fim , a  madrinha do samba , Beth  Carvalho  que com  seu  cavaco e  voz imponente  continua  encantando com  suas  interpretações . 

A  batucada  brasileira continua  viva  nos  morros , nos  palcos , nos  cinemas , nas  ruas e bares , nos  fones de  ouvidos , nos  serviços de  streaming e na  Universidade . " Os  jovens  encontraram  uma  maneira de re- sistência  cultural que é  resgatar  o  samba , diante de  um  mercado , que é  avassalador , no  sentido de de-senraizar , de alienar musical e  culturamente as  pessoas  "  , defende  Ivan  Vilela . Conhecer  um  pouco  a  história do samba é  descobrir  um  retrato do  cotidiano do  Rio de Janeiro nas  décadas  de  1930 e  1940 , constatar a  deselegância  nem  tão discreta assim da garotas  paulistanas  e usar a  música como instrumento de  resistência e  batalha  por causas que  sejam  tão  parecidas com as  de 100 anos  atrás .

Fonte  -  JORNAL  DO  CAMPUS   PRIMEIRA  QUINZENA                                                                  Maio  - 2016  -  CULTURA   -  GUILHERME   CAETANO 




O que é ser brasileiro

 

Os  princípios  unificadores  do  povo  brasileiro

Como  docente  de  Cultura  Brasileira na  Universidade de  São  Paulo , costumo iniciar  minha  disciplina formulando essa pergunta : O que nos  une enquanto cidadãos nascidos num  determinado território ? Qual seria o  “ cimento “ capaz de nos  agregar enquanto  coletividade ?

Para o ser humano , tomado em sua  “ singularidade individual “ , a cultura representa o  meio através do qual ele tem  acesso ao mundo externo e  à  sociedade onde  vive , uma vez que  dela provém .

. Instrumentos de  compreensão pelos quais pode  explicar a  si mesmo , sua  própria  situação no  universo natural e  no universo  social .

. Princípios de  orientação que  propiciam  parâmetros  para  conduta : “ olho  ao  meu  redor  e  me  vejo “ . 

No cerne da   cultura , temos  um nicho  privilegiado no qual se  aloja  um sistema de  valores que  fornece o  instrumental para o  indivíduo se  relacionar com as  diferentes  atividades sociais : aí se  alojam os  elementos norteadores da cultura que atuam e nos  inserem como  ser - no - mundo .

Os  aparelhos culturais encarregando-se de administrar , transmitir , renovarm , legitimar  valorizar o capital cultural . Família , escola , Estado , Meios  de  Comunicação constituem formas de organização do espaço e do tempo ,que geram  hábitos , sistemas de disposições ,esquema de percepção,compreensão e  ação ,sendo estruturados  ( pelas  condições  sociais , pela  posição de  classe , pela  inserção social )  e  também  estru-turantes ( geradores de  práticas ,compreensão e ação , sendo , de esquemas de percepção e de apreciação. 

É  provável  que a cultura tenda à utilização da religiosidade como  princípio  fundador e unificador , uma vez que o  sagrado propõe  uma  representação da  “ realidade humana  última “ - e  organize assim , as relações do  indivíduo com  essas  “ realidades  últimas   “ .

Desse  modo , deve  ser  vista  ( a  cultura ) como sendo  o elemento que  confere  ao  indivíduo um  "  lugar  " onde  possa , verdadeiramente , "  sentir-se  em  casa " , condição  para  a vida humana , não podendo , pois , ser  encarada como  " ornamento "  ou como " privilégio " desde ou daquele  segmento social , pois  é através dela  que o  ser  humano se  " enraiza  " e  se  torna  "  humano " . Somos  todos  portadores  e  criadores  de  cultura , conforme  nos  ensina  Paulo Freire . 

Nos  sentimos  "  brasileiros  "  toda vez  que  nos  encontramos em  contato com  uma  "  outra  cultura  " e  descobrimos a  emoção ao  ouvir  o  Hino  Nacional  ao  contemplar  a  bandeira  verde amarela , ao sabo-rear  um  arroz  com  feijão , ao  degustar  uma  manga , ao  fala  português ... 

Quem  viveu  fora  do  país  sabe  do  que  se  trata . 

Fonte  -   Revista  Neo  Mundo  -  Abril  de  2009  - pág 31  - Dilma  de  Melo  Silva  -  Professora  doutora da  Escola  de  Comunicações e  Artes  da  Universidade de  São Paulo , socióloga  pela  FFLH/USP , mestre pela Universidade de  Upsala , Suécia , e Professora convidada para ministrar  aulas  sobre  Cultura  Brasileira na  Universidade de   Estudos  Estrangeiros . Correspondente  especial  de  Quioto  -  Japão

domingo, 3 de dezembro de 2023

Orgulho de ser ' brasileiro '




Portugueses  voltavam  ricos  da  antiga  colônia  e  atuavam  como  filantropos  na  terra  natal 

BRAGA  -  José Francisco Correia  não  tinha mais do que  dez  anos  quando , em 1863 , embarcou  na  terceira classe de um navio que deixou  o  Norte de  Portugal . Passou  um mês e meio à  base de  sopa e bolacha e dormindo entre malas ,até chegar a uma fábrica de cigarros em Niterói .O irmão de um padre de  São Lourenço de Saúde , sua cidade natal , contratou-o como segurança e  faxineiro .Aos 18 ,já tinha seu próprio  negócio – o  Imperial  Estabelecimento  de  Fumos  Veado .Esta  ficou  tão  famoso que , tempos 
mais tarde , mereceu uma  visita do então  presidente Campos Sales .Os louros  de Correia renderam um pacote  de  benesses para os antigos vizinhos . Ele  fundou escolas , reformou a  igreja ,doou dinheiro para tuber-culosos .Foi recompensado com o título de  Conde de  Agrolongo .Era  um verdadeiro “  brasileiro “ , como  seus compatriotas definiam  quem , a partir de  meados do século  XIX , migrava para antiga colônia nas  Américas e voltava  bem - sucedido . 

Conforme o  tráfico negreiro perdia  força , o Brasil  ganhava  cada vez  mais crédito entre seus antigos con-quistadores .Arrasado por uma guerra civil, com governo cambaleante e  economia decadente , Portugal  foi reduzido a uma  porta de saída para o  Atlântico .Na  semana passada , em um festival de  História no Norte do país , pesquisadores que  procuraram  futuro nos trópicos . Aqueles que  voltavam  endinheirados ,  os  “  brasileiros “ , colecionaram  títulos de  nobreza ,  bancaram  obras de governo e atuaram  como  mecenas e educadores .Já quem desembarcava  em  terras lusitanas de bolsos  vazios era  o  “ abrasileirado “ - em sua jornada pela  antiga colônia ,estes conseguiam apenas o  necessário para o  próprio sustento . 

- A Inglaterra , principal potência mundial ,exercia desde  810 uma  forte pressão para que o Brasil abolisse o tráfico negreiro  –  destaca  André Roberto de  Arruda Machado ,  professor de  História  da Unifesp .  -  O  imperador  Dom Pedro  comprometeu -se  a tomar esta  medida  em  1831 .  Não  o fez , mas a  entrada de escravos  caiu  significa-tivamente,até  ser proibida  em 1850 . Isso , abriu espaço para a importação da  mão de  obra europeia . 

POLÊMICA  NA  CORTE 

Os portugueses tornaram -se a  população mais  engajada em  tentar a  vida do outro lado do oceano . 

- As  crianças aprendiam a  ler , escrever  e  fazer contas e , logo  depois ,  migravam para o  Brasil – lembra  José Abílio Coelho , pesquisador  da  Universidade do Minho , em  Portugal . -  Essa mão de obra era funda-mental para bancar a  exploração agrícola daquela  terra imensa .

A  imigração em massa  provocava  reações  ambíguas  na  Corte  portuguesa . Sem  trabalhadores , a eco-nomia nacional estava  estagnada . No entanto , quem chegava ao Brasil , ou voltava  do país , patrocinava pro-jetos que , sozinho , o  estado não  tinha  condições de  manter . 

- Um  escritor da época afirmava que os  famintos portugueses , instaldos no  Brasil , pagavam as contas  do  desgoverno  português  -  conta  Jorge  Alves , professor do  Departamento de  História e de  Estudos  Po- líticos e  Internacionais da  Universidade do Porto e  autor  de  “  Brasil  , terra  de esperanças  “  ( editora  Quasi ) .

De  acordo com  Alves , o  sonho dos  portugueses  era  voltar  “  irreconhecíveis  “ , cultos e de  vestuário elegante , ganhando  respeito e  reputação que nunca teriam se não  tivessem deixado a  terra natal .

- Milhares de portugueses , após alguns anos de ausência , voltavam  transformados a tal ponto que mesmo os  pais duvidavam de sua identidade – assinala  Alves . - Assim se ampliava a imigração , os  candidatos a  “ brasileiros  “ . O  Brasil era  o país  ideal : quem  trabalha ganha uma recompensa justa .

Os  “  brasileiros  “  que  voltavam  para  as  aldeias  portuguesas  não precisavam de  muitos esforços para exibir  seus ganhos . Bastava dar  um  novo gás  à  atividade agrícola  da  família e erguer  um edifício  para o funcionalismo público .Outros procuraram as grandes cidades – Lisboa e Porto , principalmente – e  tornaram-se  sócios e acio-nistas de  bancos ,seguradoras e empresas de transporte . Em ambos os ambientes ,a posse de capital era coroada no  altar, onde os  novos ricos  selavam casamentos arranjados  com pretendentes de  famílias  tradionais da  elite .

Normalmente a troca de alianças era  feita com  trintões –  empreendedores que , apesar da pouca idade , já haviam acumulado  mais de  20  anos de riquezas na  antiga  colônia . Não era uma  regra , mas  os  ricos  de  meia-idade costumavam  ser  mais reclusos e , por  isso , resistentes a promover benevolências . Nestes casos, o trato mudava .Por  maiores que fossem suas  riquezas , se não  resultassem em  um leque de boas ações aos necessitados , o milionário era  rebaixado  ao  status  de  mero  “  abrasileirado “  . Mas estes eram exceções . A maioria estava disposta a  dividir uma  generosa parte de  suas  fortunas . 

-  ( Os  novos ricos ) compravam ou mandavam construir  magnifícos palacetes e , em  suas  terras de origem , ofereceram  estradas ,  igrejas e  capelas , assinala  Coelho .  - Com  estes  atos  filatrópicoos eles ganhavam  reconhecimento da  igreja , comendas civis , e  às vezes de  viscondes .

CONDE  CONSTRUIU  120  ESCOLAS 
 
A educação era uma  das  áreas  que mais  sensibilizaram  os  novos ricos  Semianalfabetos  em  sua chegada  ao  Brasil , eles voltaram  para Portugal dispostos a  evitar que as  novas  gerações  passassem  pelos mesmos  perrengues . Um deles , o Conde  de  Ferreira , construiu  120  escolas .

Para Coelho , um  dos  principais  quadros  na galeria dos  afortunados foi  Manuel de  Pontes Câmara . Nas-cido na  Ilha  da Madeira  território português no  Atlântico ,ele  migrou para o Brasil em  1829 , aos  14 anos. Antes dos 18 , já  havia arriscado negócios em  ramos como  louças , peixes e cereais . Não  gostou  dos re-sultados modestos . Mas foi o início de um  império comercial que , em  meio século ,desenvolveu ao lado de  40 sócios .

- Ele dedicou-se a  negóocios de  peixe fresco , cereais , fabrico de  chapéus , trapiches , tapiocas e  refinação de açúcar e botequins ,entre outros  - revela Coelho . - Mas seu  maior empreendimento foi o café .Na época, O  Brasil era o  maior exportador do  produto , que tornou - se a  bebida da  moda  em  todo o mundo .

Pontes Câmara morreu  em um  naufrágio , a caminho de  Lisboa , em 1882 ,  aos  67 anos , acompanhado de mais de 15 mil sacos de  seu  produto mais  lucrativo . Deixou  um  terço  de  sua  fortuna para  ações de cari-dade , incluindo a  construção  de  uma  capela em  Madeira .Na  época , com o  reerguimento  da  economia  portuguesa , a  figura dos  " brasileiros " era , aos  poucos - e  desmerecidamente  -  apagada da  História . 

Em determinados  meios , como os de jornalistas e  poetas , a designação  de  "  brasileiro "  era sinônimo de
agiota , imbecil , analfabeto  - condena  Coelho .  -  Mas  o tempo desconstruiu  essa imagem e hoje , quando falamos de  " brasileiros " , nos  referimos a um  grupo de  portugueses  admiráveis , dados a  enormes  gestos  de  filantropia , e  cultos muito acima da  média de  seu tempo . 

" O  repórter  viajou  a  convite  do  Festival  de  História "