terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crônica - A Crucificação do Professor




Diz  Brecheret: “Do rio que tudo arranca, se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem!“. Realidade das realidades, o magistério se nos depara como esse rio caudaloso, correndo sobre leitos indomáveis, enfrentando pedras em sua caminhada, turvando suas águas com o sangue e o suor de um trabalho incessante e muito pouco reconhecido, sem divisar, no horizonte, quaisquer vislumbres de esperança. Comprimidos, pelas margens do poder, assistimos, estarrecidos, momentos críticos pelo desenrolar de nefastos acontecimentos que envolvem a cúpula e o congresso em corrupções realmente inomináveis. E perguntamos: até quando esse rio vai correr sem devorar as margens opressoras, violentas, dominadoras dos que “executam“ almas no campo minado da insensibilidade e dos muitos descalabros  ?  Até quando esse rio vai correr sem dar o seu grito de independência, entre as margens poluídas dos que “legislam em causa própria, arrancando dos bolsos vazios do povo impostos que pagam as mordomias de suas insolências e seus constantes vôos por um céu em abandono ? Até quando esse rio vai correr sem dar um basta aos que dizem “fazer justiça“ e navegam em águas mansas e serenas sem descobrir, no fundo do poço, pobres páreas afundando em dívidas, dúvidas e exíguas dádiva ? Sim, esse rio há de correr até o dia em que a paciência naufragar pelos mares da miséria e, resgatada a dignidade de cada cidadão, formos capazes de transformar  a máfia do poder em escudos humanos na luta por nossos direitos.
Violentados em nossos mais lídimos sonhos, triturados na máquina que reduz o homem ao pó de seu calvário, moídos como o trigo que nem sempre chega ao altar da consagração, nada mais somos que o expectador arguto de uma política caolha, que só enxerga do lado que lhe convém  e esquece o que Peter Drucker disse certa feita: “O reator da economia moderna não é a fazenda , não é a fábrica , não é o banco  .  É a escola“. Num artigo, ainda, de Joelmir Betting, ele assim se pronuncia. “O sistema educacional brasileiro está pregado na cruz “. E não precisa ser sexta-feira santa para assistirmos, a cada dia, a crucificação em massa do magistério. Alguns aposentam diplomas que a vocação expediu e preferem vender salgadinhos lá fora a ter de aguentar classes numerosas, chicotadas do “ patrão “, jornadas impiedosas para receber  , no fim do mês  , nem a décima parte do que ganha o porteiro do congresso.
Enquanto isso vão ficando nossos filhos entregues a professores não habilitados, apresentando algumas delegacias um índice assustador de educadores sem haver concluído o 2º grau. E assim vai chegando este país às manchetes, incluso no quadro-negro de números que nos envergonham e que o colocam numa situação que está muito mais para submundo do que para qualquer lugar deste miserável mundo. Muito mais para africano que para europeu, com 39 % dos alunos que concluem o ensino fundamental. É hora de colocar colírio nas pupilas, não no Senhor Reitor, mas do aprendiz governador  que, gritand, em campanha  , ser saúde e educação prioridade de sua administração , até hoje não deu sinal de aquecimento no sentido de tirar do patamar vergonhoso em que jazem, há quase 30 anos, os míseros salários de nossos profissionais da Educação.

Fonte    -    AFEPESP       pág  15  -   Crônica
“A autora é Conselheira da AFEPESP, professora aposentada, membro das Academias Campinense de Letras e Artes, e Academia Campineira Maçônica de Letras; Presidente do Clube dos Poetas de Campinas e conferencista na área educacional e cultural.

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