terça-feira, 2 de abril de 2019

Origem dos Símbolos da Páscoa






Coelho , um dos símbolos da Páscoa .

É sugerido por alguns historiadores que muitos dos atuais símbolos ligados à Páscoa (especialmente os ovos de chocolate, ovos coloridos e o coelhinho da Páscoa ) são resquícios culturais da festividade de primavera em honra de Eostre que, depois, foram assimilados às celebridades cristãs do Pessach, depois da cristianização dos pagãos germânicos. Contudo , já os persas , romanos , judeus e armênios tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos por esta época .

Ishtar tinha alguns rituais de caráter sexual, uma vez que era a deusa da fertilidade, outros rituais tinham a ver com libações e outras ofertas corporais .

Um ritual importante ocorria no equinócio da primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos ( símbolo da fertilidade ) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Este ritual foi adaptado pela Igreja Católica no princípio do 1° milênio depois de Cristo , fundindo-a com outra festa popular na altura chamada de Páscoa . Mesmo assim, o ritual da decoração dos ovos de Páscoa mantém-se um pouco por todo o mundo nesta festa , quando ocorre o equinócio da primavera.

Ovo de Páscoa

O hábito de dar ovos de verdade vem da tradição pagã . O hábito de trocar ovos de chocolate surgiu na França . Antes disso , eram usados ovos de galinha para celebrar a data .

A tradição de presentear com ovos - de verdade mesmo - é muito antiga. Na Ucrânia , por exemplo , centenas de anos de era cristã já se trocavam ovos pintados com motivos de natureza - lá eles têm até nome , pêssanka - em celebração à chegada da primavera .

Os chineses e os povos do Mediterrâneo também tinham como hábito dar ovos uns aos outros para comemorar a estação do ano . Para deixá-los coloridos , cozinhavam-os com beterrabas.

Mas os ovos não eram para ser comidos . Eram apenas um presente que simbolizava o início da vida. A tradição de homenagear essa estação do ano continuou durante a Idade Média entre os povos pagãos da Europa.

Eles celebravam Ostera , a deusa da primavera , simbolizada por uma mulher que segurava um ovo em sua mão e observava um coelho, representante da fertilidade, pulando alegremente ao redor de seus pés .

Ovos de chocolate

Os cristãos se apropriaram da imagem do ovo para festejar a Páscoa , que celebra a ressurreição de Jesus - o Concílio de Nicéia , realizado em 325 , estabeleceu o culto à data . Na época , pintavam os ovos ( geralmente de galinha , gansa ou codorna ) com imagens de figuras religiosas , como o próprio Jesus e sua mãe Maria .

Na Inglaterra do século X, os ovos ficaram ainda mais sofisticados . O rei Eduardo I ( 900 -924 ) costumava presentear a realeza e seus súditos com ovos banhados em ouro ou decorados com pedras preciosas na Páscoa . Não é difícil imaginar por que esse hábito não teve muito futuro.

Foram necessários mais de 800 anos para que , no século XVIII , confeiteiros franceses franceses tivessem a ideia de fazer ovos com chocolate - iguaria que aparecera apenas dois séculos antes na Europa , vinda da então recém descoberta América . Surgido por volta de 1500 a.C ., na região do Golfo do México , o chocolate era considerado pelas civilizações Maias e Astecas que o coelho apareceu na mesma época , associada à criação por causa de sua grande prole.



Fonte - Jornal Grupo Geração Saúde - pág 2

Informativo - Abril 2009






A Páscoa pelo mundo

A figura do coelho está relacionada a esta data comemorativa porque este animal representa a fertilidade, já que ele se reproduz rapidamente e em grandes quantidades . O que a reprodução tem a ver com o significado religiosos de Páscoa ? Tanto no significado judeu quanto no cristão , esta data está ligada com a esperança de uma vida nova .

A figura do coelho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães , entre o final do século 17 e início do 18 . Já os ovos de Páscoa ( de chocolate , enfeites , joias ) , também estão ligados a uma nova vida e à fertilidade .

Civilizações antigas

Na região do Mediterrâneo , onde faz muito frio , algumas sociedades festejavam a passagem do inverno para a primavera durante o mês de março . Entre os povos da antiguidade , o fim do inverno e o começo da primavera eram muito importantes , pois estavam ligados a maiores chances de sobrevivência em função do rigoroso inverno que castigava a Europa , dificultando a produção de alimentos .

A Páscoa Judaica

Entre os judeus , esta data assume um significado muito importante , pois marca a saída deste povo para fora do Egito , por volta de 1250 a.C , onde foi aprisionado pelos faraós durante vários anos . Esta história encontra-se no Velho Testamento da Bíblia , no livro Êxodo . A Páscoa Judaica também está relacionada com a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho , onde , liderados por Moisés , fugiram do Egito .

Nesta data , os judeus fazem e comem o matzá ( pão sem fermento ) para lembrar a rápida fuga do Egito , quando não sobrou tempo para fermentar o pão .

Entre os cristãos:

A semana anterior à Páscoa é considerada como Semana Santa entre os cristãos . Esta semana tem início no Domingo de Ramos que marca a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém .

Fonte - Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - ESTADINHO - pág 5
MARCOS MENDES / AE




O ovo, a galinha e a evolução



Moléculas  dos  ovos  ajudam  a  entender  processo  de  colonização  do  ambiente  terrestre 

O que surgiu antes : o ovo ou a galinha ? Este problema , muitas vezes taxado de insolúvel  , pode ser resolvido pelo conhecimento da evolução dos organismos : antes que as galinhas surgissem , outros animais já se reproduziam por meio de ovos . O ovo (que , fique claro , surgiu antes da galinha) pode ser considerado o resultado de história de sucesso na evolução dos animais e o estudo de suas moléculas ajuda a compreender esse processo . Uma das moléculas mais úteis nesse sentido é a vitelogenina , presente na gema ( ou vitelo ) dos ovos de praticamente todos os animais .

Tendemos a pensar que a produção de ovos seja rara entre os animais . Na verdade , dar à luz filhotes vivos , é a exceção enquanto a reprodução , por meio de ovos acontece até por seres muito simples , como as águas-vivas . É importante notar que os óvulos ( células reprodutivas ) , fertilizados dentro do corpo da mãe também são chamados de ovo . Porém , vamos analisar os ovos como entendidos na linguagem popular , ou seja , os ovos de animais cujo desenvolvimento do embrião ocorre fora do corpo da mãe , como os ovos de galinha .

Os ovos de galinha , assim como os de todas as outras as aves e dos répteis , possuem casca e por isso são chamados de ‘ cleidóicos ‘ ( do grego cleio , que significa  ‘ fechar ‘ ) . O surgimento dos ovos cleidóicos permitiu que o ancestral dos vertebrados terrestres , saísse da água , há cerca de 300 milhões de anos , tornando possível a evolução humana . Foi esse tipo de ovo que garantiu aos répteis sucesso na colonização do ambiente terrestre em contraste com a maioria dos anfíbios , que depende de ambientes aquáticos para completar seu ciclo de vida . As aves derivam evolutivamente dos répteis e sua reprodução também independe da água .

A passagem para o ambiente terrestre implica uma série de necessidades para o desenvolvimento do embrião . Por exemplo , toda a energia necessária para isso precisa estar armazenada no próprio ovo – o que de fato acontece . Estudos mostram que , para a formação do embrião , no caso de peixes e anfíbios ( ovos sem casca ) , a energia é obtida , em boa parte , das proteínas armazenadas , enquanto em répteis e aves ( ovos com casca ) a energia é fornecida basicamente pela lipídios . 

Proteínas  marcadoras 

As proteínas podem ser usadas como um documento vivo da história evolutiva‘ . As melhores proteínas para estudo da evolução dos ovos são as vitelinas , pois estão presentes nos ovos de quase todas as espécies . Essas proteínas concentram-se na gema , também chamada de vitelo , e associam-se a gorduras e outras substâncias , como o cálcio , que o embrião em crescimento usa . Elas derivam de proteínas precursoras , as vitelogeninas , e todas as vitelogeninas são parecidas . 

Na gema do ovo de vertebrados uma enzima corta a vitelogenina em pontos específicos , separando as regiões para formar as diversas vitelinas . A análise de uma vitelogenina de um verme de solo mostrou que as diferentes regiões dessa proteína sofrem mutações com mais frequência do que outras . Quando essa vitelogenina é comparada com as outros animais , nota-se que alumas regiões são , em todas elas , mais parecidas que outras . No entanto , embora tenham regiões com as mesmas propriedades , a semelhança entre as vitelogeninas de diferentes animais não passa de 35% . 

Os resultados da comparação das regiões das vitelogeninas mais conservadas ao longo da evolução parecem refletir aquilo que sabemos das relações evolutivas entre esses animais : na árvore ' genealógica ' montada pela análise dessas proteínas , todos os vertebrados ficam no mesmo ramo . Os invertebrados , porém , dividem-se em dois ramos diferentes , com os insetos de um lado e vermes , ostras e corais de outro .

Estudo recente do rupo de Walter Wahli , da Universidade de Lausanne , na Suiça , mostrou que , durante a evolução dos mamíferos , houve uma perda dos genes de vitelogenina , compensada pelo surgimento da placenta e da amamentação , que asseguram o desenvolvimento , respectivamente , do embrião e do recém-nascido .

Análises revelaram que o genoma de mamíferos com placenta ainda contém restos ' fósseis', não funcionais , de genes de vitelogenina , o que apóia  hipótese de que esses vertebrados se originaram a partir de um ancestral cuja reprodução acontecia fora do corpo da mãe . Existe , inclusive , um mamífero com um gene ainda funcional de vitelogenina : o ornitorrinco , que põe ovos , indicando que essa proteína é um excelente marcador da evolução reprodutiva  dos mamíferos .

Fonte  - JORNAL  DO  BRASIL   - Ciência  hoje - BIOLOGIA  MOLECULAR 
Domingo  , 27  de  julho  de  2008   - REVISTA  DO  BRASIL  INTELIGENTE 
Carlos  E.  Winter  -   UNIVERSIDADE  DE  SÃO  PAULO

Ricardo Boechat - Uma Vida Dedicada ao Jornalismo




- Filho de um diplomata brasileiro e mãe argentina, nasce em Buenos Aires em 13 de julho de 1952 , enquanto o pai estava a serviço do Ministério das Relações Exteriores .

- Na década de 1970 , começa sua carreira jornalística no extinto jornal Diário de Notícias no Rio .

- Nesse período , inicia sua carreira como colunista , colaborando com Ibrahim Sued ( 1924 -
   1995 ) .

- Em 1983 , vai para o jornal O Globo  .

- Em 1987 , ocupa por seis meses a secretaria de Comunicação Social no governo de Moreira Franco , no Rio; a seguir teve breve passagem por Jornal do Brasil e o Estado de São Paulo .

- Em 1989  , retorna para O Globo e assume a coluna “ Swann”  . Neste ano , ganha seu prêmio Esso . Ele ainda venceria mais duas vezes , em 1992 e 2001 .

- Em 1997 ganha quadro no jornal Bom Dia Brasil , na TV Globo , onde fica até 2001 .

- Lança em 1998 o livro “ Copacabana Palace – Um hotel e Sua História

- No começo dos anos 2000 , se torna colunista do Jornal do Brasil e , da redação , gravava sua coluna para o SBT .

- Entra para o Grupo Bandeirantes em 2005 , no Rio , e em 2006 transfere-se para São Paulo, onde se torna âncora do Jornal da Band . Neste período , começa a apresentar um programa matinal na Rádio BandNews FM.  

- No fim desta década ,estreia coluna semanal na revista Isto É

- Em 2016 , dubla o personagem Onçardo Boi Chá  , um jornalista da animação “  Zootopia”.

- No ano passado , venceu mais um Prêmio Comunique-se , o 18º de sua carreira , sendo o único jornalista país a figurar como “ mestre “ em quatro categorias da premiação : Âncora de Rádio “ , Âncora de TV “ , “ Colunista de Notícia “ e “ nacional – Mídia Falada “ . 

“O jornalismo e o Brasil perderam hoje uma referência insubstituível . E nós , do Grupo Band , perdemos um amigo e profissional que jamais esqueceremos .

O  jornalismo  brasileiro  perdeu ontem  uma  de  suas  vozes  mais críticas  e  combativas . O  âncora  do  Jornal  da  Band , Ricardo  Eugênio  Boechat  , morreu  aos  66  anos  , vítima  de  um  acidente  aéreo  na  rodovia  Anhanguera  , em  São  Paulo.

JOÃO CARLOS SAAD ,PRESIDENTE DO GRUPO BANDEIRANTES  DE  COMUNICAÇÃO,
  

“ O que mais está doendo é saber que não vou mais falar com ele de manhã . Isso que está me deixando mais devastado . “   

JOSÉ  SIMÃO  , JORNALISTA 

“ Um amigo praticamente de infância , de começo de carreira , juventude . Poucas mortes me
abalaram tanto “ .  

JÔ  SOARES     HUMORISTA  E  ESCRITOR 

“ Tinha um jornalismo sofisticado , mas de um modo simples . Dificilmente alguém não entendia o que ele falava . Enfim , é insubstituível “ .  

Mônica  Bérgamo , JORNALISTA

“ Boechat fará uma falta imensa nesse tempo de polarização política e social do país “ .

MIRIAM  LEITÃO,  JORNALISTA  

“ O maior jornalista deste país partiu hoje e deixa um vazio grande demais na alma do jornalismo “ .

MILTON  NEVES  , APRESENTADOR 

“ Dono de estilo inconfundível . Honrou a profissão de jornalista com ética e compromisso “ . 

ASSOCIAÇÃO  BRASILEIRA  DE  EMISSORAS  DE  RÁDIO  E  TELEVISÃO  

“ E um país tão dividido , a gente perde um bastião da ética . Jornalista totalmente imparcial” . 

LUCIANO  HUCK  , APRESENTADOR 

“ Uma perda absurda . Fazia um trabalho permanente em busca do melhor . Essa era a  marca de Boechat . “ .

FERNANDO  MITRE , DIRETOR . JORNAL  DA  BAND 

“ Tem notícias que a gente não quer que seja verdade . Descanse em paz , Ricardo  “ .

SÍLVIO  LUIZ , NARRADOR 

“ Um professor , além de ser um grande jornalista . Um cara inteligentíssimo , amigo dos amigos “ .

ANA  PAULA  PADRÃO  , APRESENTADORA 

“ Competência , coragem , simplicidade . Lucidez , bom humor .Quantas virtudes numa só figura “ . 

MARCELO  TAS , APRESENTADOR 

“ Profissional que dá inveja aos outros profissionais pela capacidade , tanto na rádio quanto na TV .

CID  MOREIRA  , LOCUTOR 


FRASE  DE  BOECHAT : Para o jornalista , era preciso coragem para conseguir mudar a realidade . “ A imprensa noticia o vandalismo , pois gera o medo . O medo faz com que as pessoas fiquem em casa . Pessoas não mudam o país “ . 

Boechat era filho de um diplomata brasileiro e nasceu em Buenos Aires . Sempre muito ligado à família  , se referia à mãe , a argentina Mercedes Boechat , de 86 anos , como “ dona Mercedes “ . Era casado desde 2005 com sua segunda mulher Veruska Seibel , à quem chamava carinhosamente de “ Doce Veruska “ . 

Fonte  -  Jornal   METRO   -  MUNDO     pág  08 
Rio de Janeiro , terça-feira , 12 de fevereiro de 2019      BRASIL 
BRUNA  PRADO / ARQUIVO 


Nós, admiradores e assíduos ouvintes e telespectadores estamos órfãos, de um profissional nesse momento crítico que vivemos no Brasil, pois sempre com seu seu jornalismo brilhante, elegância, alegria com o nosso querido José Simão, nos conduzia para maior entendimento das notícias, reflexão para tirarmos nossas próprias conclusões e não ser um simples papagaio, dizendo o que alguns canais que  o jornalismo é uma simples leitura dos fatos. Também não podemos deixar de sentir a ausência do Joelmir  Beting . Que os futuros jornalistas se espelhem neles. Essa é minha simples homenagem, pois no dia dessa tragédia, soube pelos funcionários do banco e quando saí, nas ruas só comentavam essa notícia. Isso é prova de o quanto era querido e valorizado .  

Profª Ana Regina.


Jornalista é…




O jornalismo ( e o  jornalista ) está na ordem do dia e é notícia, para além das notícias que dá . Numa era em que a auto crítica dentro do meio ganha uma dimensão mais aberta e pública , a revogação , pelo STF , da Lei da Imprensa , entulho do autoritarismo , aponta para um tempo de maior liberdade . Num outro âmbito , a manutenção da obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão , cuja cotação no STF vem sendo postergada, traz à baila a questão da natureza da atividade. Além disso , a adoção do sistema de ponto nas redações vem movimentando a seara sindical e sua relação com as empresas. Foi nesse ambiente que, há pouco mais de uma semana , a Petrobras , sob investigação parlamentar , iniciou , através de seu novo blog, uma campanha para mudar as regras da sua relação com a imprensa e, num plano ambicioso, aparentemente desinstitucionalizar o jornalismo como legítima para a informação ao público ( depois , voltou atrás ) . Nesta edição , a página Logo , ao calor dos trabalhos , publica uma enquete em que artistas , cientistas sociais , professores , estudantes , comerciantes , baleiros , jornaleiros , procuram definir , em poucas palavras , o que é ( ou deveria ser ) um jornalista . Convidado a participar , o cineasta , dramaturgo e diretor Domingos de Oliveira, animou-se e enviou , em vez de uma , 23 definições bombásticas , publicadas em destaque numa “ Tribuna do Domingos“  . Sem cortes , em homenagem ao petrolífero blog…


“Jornalista  é  o  profissional  encarregado  de  contar  de  contar  o  que  está  acontecendo, quase  sempre  discordando do  que  acontece “ . 
Sérgio  Cabral  ( o pai

“O  jornalista, imaginando  reproduzir  a  realidade  inventa  a  versão “. 
Washington Olivetto, publicitário 

“Ser  jornalista  é  correr  perigo. Enfrentar  isso aí  que  a  gente  vê, essa  violência. Viu  o que houve  com o  Tim Lopes  ? Ser  jornalista  é  ser  super-herói  “ . 
Rosemberg  Fritz , ascensorista 

“Jornalista  é  o  escritor  que sabe  a  versão  dos  fatos  é  mais importante  do  que  os  fatos  em  si “ .  
Augusto Sales , escritor 

“ Jornalistas  ,  como  os  artistas  , são  antenas  motoras  da  raça ! “ . 
Jorge Salomão , poeta

“ Ser  jornalista  é  focar  [epa! ] na  “evidência “ e não na “ tendência “. 
Nei  Lopes, compositor

“ Ao  descrever  com  rigor  e  comentar  com  discernimento  um  fato  do  cotidiano  ,  o  jornalista convida  o leitor a sair   de  seu  mundo  privado  para  refletir  sobre  a  realidade  planetária  “ .
Silvano Santiago , escritor e crítico 

“ Jornalista  é  quem  transmite  informações  claras  e  corretas  ao  leitor  “ . 
Sérgio  Santana, escritor

“ Nos  melhores  casos ,  um  cronista  do  cotidiano ; nos piores  , um fofoqueiro profissional “.
Marcelo  Moutinho  , jornalista e escritor 

“ Jornalista : Sísifo  levantando  uma  tese  por  dia ,  em  universidade  aberta “ .
Tom  Zé,  compositor 

"Jornalista é o atalho entre o mundo real e o cidadão."
Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura

"O jornalista em o dever de transmitir informação com ética e responsabilidade. Fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. É o grande fiscal da sociedade civil.
José Sérgio Machado Júnior, estudante de cinema

“ Jornalista  é  aquele profissional  que  precisa  transmitir à população  fatos que julgue pertinentes. É  um  pesquisador, ainda  que  com  caráter  generalista,  motivado  com o  motor   da  interrogação:  um  curioso  profissional “ .  
Henrique  Rodrigues, poeta 

“ ( Bom )  jornalista  é  aquele que  tem  ampla  formação,  senso  de  relevância  e  faro  de  investigador. Não é  o diploma  que  vai  garantir  isso“ . 
José  Maria  Carvalho  , cientista  político e historiador 

“O  jornalista  narra  a  aventura  humana no  calor  da  hora,  com  independência, emoção  e  sempre  desconfiando  do  poder “ .  
Geraldo  Carneiro  , poeta  e  letrista 

“Jornalista ?  Ah,  jornalista  é  um  artista, né. Não é pra todo  mundo. É  pra pessoa que tem  muita leitura, pode ser  até um advogado,  professor, governador, prefeito ..." 
Antonio José de Lima ,  baleiro 

"O  jornalista  é  um  funcionário público  -  mesmo,  e  sobretudo,  quando  não é " .
Francisco  Bosco , escritor 

"O  jornalista  é  igual  peixe  : só serve  se  for  fresco  " .
Marcelo  Madureira , humorista 

" Deveria  ser  alguém  que  escreve  contra  a  maré  " .
Rodrigo  Costa  , professor  , doutorando  em  Letras 

" Um  profissional  que  forma, enquanto  informa".
Eliana  Yunes, professora 

" Não  é  só  publicar  o  que  chame  atenção. É informar  com  responsabilidade, com  formação  ampla  e  conhecimento de  muitas  áreas, porque  o  jornalista  acaba falando  de  tudo  . Se  não  tem  conhecimento  , tem  que  ter  a  humildade  de  pedir  ajuda  e  buscá-lo  com  quem  o  tem "  . 
Padre  Jesus  Horta  , reitor  da  PUC 

"Jornalismo  é  a  informação  correta  e  verídica  dos  fatos  , garantindo  credibilidade  perante  o  público  . Eu acho  uma  função  importantíssima  ,  não  saio  de  casa  sem  ter  o  jornal  " .  
Francisco  Sergio  Fonseca  ,  supervisor  de estacionamento

"Jornalista profissional  que  transforma  fato  em  notícia  para  diferentes  meios".
Duda  Mendonça, publicitário  

"Primeiro,  tem  que  vestir  a  camisa  de  jornalista, senão  não  adianta  nada  " .
Antônio  Pinnola  ,  jornaleiro 

" Ser  jornalista  é  extrair  o  máximo  das  informações  " . 
Sabrina  Andrade,  vendedora 

"Um(a)  jornalista  é  Tudo  ,  já  aqui  ,  de  novo  ,  sempre  .  Sísifo  profissional  . Mas  também  escritora  e  etnógrafa  do  novo  milênio  ,  fazendo  a  literatura  quebrar  os  dentes  na  pedra  sublime  ( e  sublimada ) do real " . 
Luiz  Eduardo  Soares  , cientista  social  e  antropólogo 

" Jornalista  é  uma  ponte  entre  uma  experiência  e  o  grande  público  " . 
Francisco  Carlos  Teixeira  , historiador 

Fonte  -  Jornal  O  GLOBO  pág    10 - Logo - A Página Móvel   
Domingo  ,  14  de  junho  de  2009    -   O  PAÍS 
Arnaldo  Bloch  e  Miguel  Conde 
      

PROFISSÃO  REPÓRTER
Jornal  Da  Hora 

Parte  da  entrevista  do jornalista  Ricardo  Kotscho 

JDH -Qual a diferença entre jornalista e repórter ?

Ricardo  Kotscho - O jornalismo tem várias funções : o editor , o redator , fotógrafo , diagramador , é tudo jornalista . Pra mim a função mais importante dentro do jornalismo é de repórter . Por que ? Porque é o repórter que traz a matéria , se não fosse o repórter o resto não iria fazer nada , todo mundo depende do repórter , da notícia , é  aquele cara que vai para a rua e vai descobrir o que está acontecendo . Escreve o que está acontecendo e os outros formam uma equipe que monta o jornal. Agora pra mim , a maior parte da vida fui repórter , eu gosto de ser repórter mesmo . Eu já fui também editor , redator , chefe , diretor de redação , trabalhei em tudo quanto é lugar , em jornal, revista , televisão

Ser repórter é estar  em  contato  com  vida ? 

JDH - Quando criança  gostava de ler ? Qual era sua leitura preferida ? 

Olha eu comecei lendo jornal . Sempre gostei de jornal , mas lia muito . Lia de tudo , gostava muito de Monteiro Lobato e depois mais tarde Jorge Amado. Gostava de autores brasileiros. Apesar de filho de estrangeiro gosto muito do Brasil e tudo que diz respeito à cultura brasileira . Eu li tudo , até bula de remédio. Sou muito curioso , o jornalista precisa ser muito curioso , qualquer papel que eu vejo em cima da mesa eu leio , qualquer jornal, revista... Depois que eu entrei na faculdade com dezoito anos , entrei também no grande jornal " O Estado de São Paulo" . Cada vez eu fui lendo menos livros pois sobra pouco tempo , é uma deficiência minha mesmo , na época da faculdade tinha que ler um monte de livros e como eu viajava muito a trabalho do jornal eu nunca terminei uma faculdade. Eu comecei três faculdades mas não terminei nenhuma e aos poucos fui lendo menos livros , mas leio três , quatro jornais por dia , leio todas as revistas , eu gosto de informação . Agora acho que você não pode escrever se você não  lê , as duas coisas estão bem juntas , você tem que gostar de ler e gostar de escrever , uma coisa depende muito da outra . Eu já tenho dezenove livros publicados . Além de jornalista eu sou escritor . Eu sou metido pra caramba . Um colega meu , que se chama Alberto Werneck , falou que eu sou o único cara que ele conhece que já escreveu mais livros do que leu. A minha cultura vem da informação , mais do que da literatura . 

JDH - O  que  a  gente  precisa  estudar  para  ser  um  bom  jornalista ?

Ricardo  Kotscho - Olha , eu não sou o melhor exemplo, como eu já falei antes eu não terminei a faculdade de jornalismo, mas eu acho que vocês devem fazer faculdade sim. Não acho que seja necessário fazer a Faculdade de Jornalismo, pode ser Ciências Sociais, pode ser Economia , pode ser outra faculdade .  O jornalista precisa estudar sempre e não só o jornalista , qualquer profissão , não é ? Você estuda , tira o diploma e diz que não precisa estudar mais nada ? Não, você tem que estudar a vida inteira e estudar não é necessariamente ir para escola e tal , mas é ler muito a vida inteira , se atualizar , que as coisas mudam muito rapidamente . Acho que você tem que ser apaixonado pelo você faz e se preparar pra isso . Hoje o jornalista tem que fazer de tudo , tem que saber tirar fotografia, mexer com toda essa coisa de internet, laptop, tem que saber fazer televisão , rádio.  O jornalista hoje ter que ser multimídia , tem que estar preparado pra tudo . Você tem que aprender a fazer de tudo e pra isso você tem que ser curioso , interessado , ter vontade de fazer as coisas , fazer com paixão .

Fonte  - JORNAL  DA  HORA 
Março  de  2009 



Irreverência - SEM LIMITES



UMA  DAS ESTRELAS  DO  DZI  CROQUETES,  O  COREOGRAFO LENNIE  DALE  DEU  FORÇA  AO   GRUPO,  TRAZENDO  SUA  EXPERIÊNCIA  INTERNACIONAL  PARA  A  CENA  CULTURAL BRASILEIRA

Paradoxo ou exatamente o que o momento histórico do Brasil pedia. Assim pode ser definido o ímpeto de um grupo performático que começou a se apresentar , na década de 1970, nos teatros de São Paulo e do Rio de Janeiro. Não tinham vínculo familiar, mas se chamavam, sim, de família. O núcleo era composto por Wagner Ribeiro , artesão , ator e cantor que deu início ao Dzi Croquetes com os amigos Reginaldo de Poli e Bayard Tonelli. A formação completa tinha ainda  Claúdio Gaya, Claúdio Tovar, Ciro Barcelos, Rogério de Poli, Paulo Bacellar, Benedictus Lacerda, Carlinhos Machado e Eloy Simões, e eles já faziam performances, cheios de estilo, glamour e purpurina, em um clube de Niterói e no programa de televisão de Flávio Cavalcanti ( em outubro de 1972 ).

Segundo a autora do livro A Palavra Mágica: A Vida Cotidiana do Dzi Croquetes ( Editora UNICAMP , 2010 ) , Rosemary Lobert, mesmo com a exposição inicial, faltava a eles a independência econômica. Até que o cenário mudou, quando o coreógrafo identificado como “ pai “ do grupo , o nova-iorquino Lennie Dale, foi seduzido pela proposta artística dos rapazes, entrando para o grupo em 1972. “A história do Dzi torna-se pública e garantirá seu futuro com  adesão de Lennie “, afirma a pesquisadora. 

PROMISSOR  E  REBELDE 

Lennie Dale nasceu no Brooklyn em 1934 e começou a dançar ainda criança, aos 5 anos de idade , tendo aulas de ballet clássico , jazz e dança moderna

Talentoso e transgressor, era considerado uma das maiores promessas da Broadway, alcunha que ele fez questão de não aceitar. De temperamento difícil, aparecia nas audições para espetáculos vestido de forma ousada que as pessoas não tinham coragem de contratá-lo. Não se prendia a nenhum espetáculo, o que lhe rendeu a fama de badboy da Broadway, conhecida avenida de Nova York onde se encontram os teatros e as superproduções que são rota do mainstream cultural da cidade

Mudou-se para Londres nos anos 1950, onde continuou sua trajetória. O local serviu de ponto de partida para temporadas europeias e até uma apresentação em parceria com Gene Kelly (1912-1996)  - dançarino e coreografo responsável por uma das cenas mais clássicas do cinema mundial , em Cantando na Chuva ( 1952 ) - , que foi ao ar na televisão italiana. 

ANTES  DE  DZI,  DEPOIS  DE  DZI 

A vinda para o Brasil se deu nos anos de 1960, motivado por um convite feito pelo empresário da noite carioca Carlos Machado. O pedido era que Lennie coreografasse a peça Elas Atacam pelo Telefone, encenada na boate Fred’s. Na época, começou a frequentar o Beco das Garrafas , em Copacabana, reduto de boêmios e insones

Falando português com forte sotaque inglês – que nunca perdeu – Lennie era apaixonado por música brasileira , como bossa-nova e samba-jazz , e logo se tornou figura popular no cenário artístico carioca, não só pela personalidade, mas pelo talento. Foi amigo de Gilberto Gil, que se dizia estimulado por sua ousadia . De Elis Regina foi uma das influências confessas . Rígido e disciplinado , como bailarino e coreografo , possuía domínio técnico de qualquer espetáculo de que participasse . Cenário , som , luz , nada era um detalhe . 

Profissional dedicado , exigia o mesmo afinco e seriedade de quem o cercava. Em cena nada podia dar errado. O corpo devia estar sob domínio. Se na dança tudo era sério, na vida pessoal, nem tanto, mas o fato é que seu profissionalismo e determinação mudaram a trajetória dos Dzi. Chegou a afirmar que a experiência lhe pareceu estranha no começo, pois não tinha a espontaneidade dos outros membros  do grupo. 

Integrante dos Dzi Croquetes , Bayard Tonelli relembra que antes do Dzi , o teatro trazia grandes espetáculos de cunho político que apresentavam o problema, “mas não sugeriam uma saída “ . Lennie Dale, estrela maior que tanto influenciou as artes brasileiras por meio da dança , teatro , música , trouxe sua formação profissional para que pudéssemos nos denominar internacionais, trabalhando em cima das características de cada um“, observa Bayard . Lennie trouxe sua experiência em palcos internacionais para a cena brasileira , inovando  e estruturando o grupo, que no começo propunha-se um conjunto musical

NOITE   PAULISTANA 

Em 1973 , começaram uma temporada em São Paulo na boate Ton-Ton e no Teatro Treze de Maio. O espetáculo ficou marcado por ser a primeira vez em que homens vestindo roupas tradicionalmente femininas se apresentavam na região. Mesmo que nos anos de 1970 tenham sido marcados por trabalhos inovadores , como o de David Bowie , e pelo Glam Rock  - manifestações musicais que propunham a intersecção do feminino e do masculino -, no Brasil a liberdade criativa e a subversão do Dzi Croquetes coincidia com o período mais duro da ditadura militar, e apostura vanguardista era , para muitos, um abuso. 

Ousadia certeira , o período de apresentações no Teatro Treza de Maio ( de maio a novembro de 1973 ) garantiu a todos os participantes - e não somente a Lennie Dale, que costumava ter pagamento garantido nos shows  - a independência financeira

VOLTA  AO  MUNDO

Depois do sucesso em São Paulo , Lennie Dale , que desde muito cedo tinha o desejo de viajar pelo mundo, fez as malas com os amigos do grupo e seguiu para a Europa . Foram de navio para Portugal , país recém-saído da ditadura Salazarista , numa temporada não muito bem-sucedida. Em seguida, rumaram para a França , em 1974 , onde fizeram sucessoMas não foi fácil .  Inicialmente boicotados pela imprensa  local, os brasileiros conquistaram o respeito de Liza Minelli, que reverteu o jogo em favor dos Dzi Croquetes . A atriz havia conhecido e trabalhado com Lennie nos anos 1960, quando ele coreografou a cena de abertura do filme Cleópatra  ( Rouben  Mamoulian  e Joseph I. Mankiewicz , 1963 ) . O dedo da atriz ajudou e mudou a recepção que os brasileiros tiveram no exterior, popularizando-os . Em 1974 , Liza estava em Paris e levou vários amigos - entre eles Catherine Deneuve e Omar Sharif - para assistir ao espetáculo, que logo caiu nas graças do público francês .

Após a temporada europeia, o grupo optou por não continuar a excursão e não aceitou a proposta para se apresentar nos Estados Unidos , retornando ao Brasil. A volta foi turbulenta e teve como o reflexo o desentendimento entre Lennie Dale e Claúdio Toar. Uma discussão sobre o cenário do espetáculo, similar a tantas já ocorridas entre os amigos , resultou no fim da formação original do grupo (1976) , que voltaria a se reunir em 1991.

A reunião nos anos 1990 pode ser vista como despedida. Lennie Dale estava doente e pediu que o coreógrafo e diretor Ciro Barcelos organizasse a montagem , pois ele não tinha mais condições físicas . 

O bailarino que serviu de inspiração para artistas de diferentes gerações , introduziu a noção de ensaio na MPB e coreografou a bossa -nova , a qual antes dele não era entendida como " música para dançar " , sofreu as consequências da Aids por dois anos e passou seu momentos finais no Coler Hospital , em Nova Iork , onde morreu em 1994.

FASES  DE  BRILHO 

ESTRELA  DE  PROGRAMA  INFANTIL, BAILARINO DA BROADWAY, COREÓGRAFO  DE  SUCESSO, LENNIE DALE FEZ DE TUDO E MAIS UM POUCO 

Precoce, o coreógrafo já era experiente quando veio morar no Brasil e, como diz o performer Thiago Granato, contaminar o contexto artístico daquela época. "Não poderia ser diferente, porque quando Lennie chegou ao Brasil já tinha a experiência  de apresentador infantil de um programa de TV, além de cantor, bailarino da Broadway e coreógrafo. Toda essa trajetória fazia dele esse profissional preparado, especial e inovador ", enfatiza . Veja a seguir algumas das faces de Lennie Dale. 

Estrela  INFANTIL  (Década de 1940 ): aos 7 anos era a estrela do programa infantil de TV infantil " Star Lime Kids " , do qual Connie Francis, cantora de sucesso nos anos 1950, também participava.

BROADWAY ( Década de 1950 ): Fez fama na Broadway, para o bem e para o mal,  pois divida opiniões. Participou do musical West Side Story ( Amor, Sublime Amor - 1959), mas por ordem do diretor ficou de fora do versão cinematográfica.

BOM  DE  GOGÓ  ( Década de 1960 ): Era coreógrafo dos espetáculos de Elis Regina , assumidamente uma de suas maiores influências no meio artístico . Dividiu o microfone com ela em 1969 no Rio de Janeiro , cantando Me  Deixa  em  Paz  ( Ivan Lins ) . Gravou , em 1965 , o LP Lennie  Dale . Dois anos depois , em 1967 , lançou , com o Trio 3 D , o LP a 3ª Dimensão de  Lennie  Dale

AMIGO  DOS  AMIGOS  ( Década de 1970 ) : Influente , ao chegar ao Brasil contribuiu para que a bossa-nova fizesse us ao nome e coreografou o estilo musical , sugerindo a Sérgio Mendes a presença de dançarinas durante os shows. Além de trabalhar no cinema , o que lhe rendeu a amizade de Elizabeth Taylor , também atuou como coreógrafo na Rede Globo

FÚRIA  ANTROPOFÁGICA 

Lennie também se preocupava com o que envolvia o pré-show . Para o performer e coreógrafo Thiago Granato , o que o motivava em busca dessa renovação da performance era a sua natureza antropofágica . "Foi um artista antropofágico por natureza , tinha um poder enorme de se apropriar do que estava ao seu redor , processando e devolvendo para o mundo uma forma particular de fazer arte . Tecnicamente rigoroso, para ele era muito importante ensaiar , preparar e pensar em todos os detalhes antes das apresentações. Ele era minucioso e exigente, isso fazia parte das suas motivações " , contextualiza Granato , autor do espetáculo Treasured in The Dark ( Apreciado no Escuro ).

" O que fascinava em Lennie era a fúria com a qual se dedicava ao trabalho e a perfeição da realização de suas criações , era o profissionalismo levado à exaustão ", diz Bayard Tonelli. "Quando estava em cena era como se fosse a única e última apresentação buscava dar o máximo e nos cobrava isso! Às vezes entrava em conflito com a acomodação aos nossos limites. Queria  sempre  que  fôssemos  além".

Limite  não  existiu  para  o  coreógrafo, que  fez  parte  do  grupo artístico  mais  abusado  que  o  Brasil  já  viu. 


Fonte  - Revista   -Época   

A “Disparada“ de Vandré



Quando “Disparada“ apareceu na música popular brasileira, você não imagina o barulho que causou. A bossa-nova já havia esgotado o filão mulher-barquinho-areia, tendo como carro-chefe a TV Record, ganhara espaço uma MPB paulista pesadamente jazzificada, que era para a bossa nova o que o rococó foi para o barroco.

A reação ao uso abusivo de acordes dissonantes do samba-jaz  paulista surgiu de várias frentes. Da própria bossa nova apareceu uma dissidência dita nacionalista, similar à reação da música erudita brasileira contra o serialismo em voga, tendo na linha frente Baden Powell  , Carlos Lyra e Sérgio Ricardo. Mas foi apenas o rito de passagem para a jovem e brilhante geração que estava a caminho.

Chico Buarque ressuscitou as linhas de sambas clássicos de Ismael Silva. Sidnei Miller foi buscar nas cantigas de roda a linha com que bordava seus encantos; e Edu Lobo em Villa Lobos e Camargo Guarnieri a linha com que bordava suas cirandas e ponteios. Os baianos foram beber em Caymmi  , Luiz Gonzaga, mas , especialmente  , em Jackson do Pandeiro. E havia Geraldo Vandré, do proporcionalmente mais musical Estado brasileiro  ,a Paraíba .

Talvez a rapaziada de hoje não se dê conta de sua importância e julgue Vandré  apenas um compositor estranho, cantado nas missas da Comunidade Eclesial de Base ou nos encontros nostálgicos do velho “Partidão“.

Na época , foi um murro no queixo.

Vandré não era músico tão completo quanto  Edu Lobo, outro que, como ele, trilhava as fronteiras do folclore. Utilizava o belo salário de fiscal da SUNAB para financiar o Quarteto Novo, que foi seu conjunto exclusivo por algum tempo. Veja só: uma pessoa física bancando um conjunto que tinha alguns dos futuros maiores músicos do planeta  – o percussionista Airto Moreira  , o multi-instrumentista Hermeto Pascoal e os violonistas Heraldo do Monte e Théo de Barros . E deixava todos loucos, com seu temperamento terrível.

Tinha a capacidade rara de, mesmo sendo letrista na maioria de suas parcerias, injetar no parceiro SEU  estilo de música . Com Vandré, cada parceiro tinha seu momento único de Vandré, que nunca mais se repetiria.

Quando estourou sua primeira composição conhecida, uma marcha-rancho - “Olha que a vida é tão linda / e se perde em tristezas assim / segue seu rancho cantando / a sua esperança sem fim “ – parceria com Fernando Lona (músico da noite paulista, que morreu logo depois, de acidente de automóvel), imediatamente nosso grupo serenata incorporou a seu repertório.

Naqueles anos, aliás, houve um conjunto mágico de marchas rancho  que nos acompanharam vida afora  . Era a de Vandré  , “ a Marcha da Quarta-feira de Cinzas  “  , de Lira  e  Vinícius,  e o “ Rancho das Flores  “ , de Ari Barroso e Vinícius  . Só alguns anos depois , o “ Rancho da Goiabada “ , de João Bosco e Aldir Blanc, mereceria figurar em tão augusta companhia .

Mas eu comecei falando de “ Disparada “ e foi ali que o circo pegou fogo. Foi no mais concorrido festival de música popular brasileira da história. Era o primeiro da era plena da televisão, que saíra dos grandes centros e começara a se espalhar por todo o país.

Chico Buarque já era namoradinho do Brasil e comparecia com “a Banda “ , música simples, mas que nasceu clássica. Excursionando pelo Nordeste com o conjunto da Rhodia, Vandré inscreveu “ Disparada “ , em parceria com Théo Barros .

Dizia-se música caipira paulista, fruto de pesquisas folclóricas. Que mané música caipira paulista, que nada! Era um autêntico Vandré e pronto. Tinha elementos de viola, na introdução no ritmo incorporava elementos nordestinos, mas, também, andinos. E havia a interpretação magistral de Jair Rodrigues e do Trio Maraiá. Jair era considerado injustamente intérprete menor, por sua espontaneidade que contrastava com os malabaristas vocais daquele fim de período. Mas quem ouviu “Disparada “ com ele não há de esquecer jamais.

Depois houve a politização da música de Vandré, que acabou por vitimá-lo. De longe, Chico e Vandré foram as duas maiores influências para a juventude que começava a se iniciar nas artes da composição.

O Brasil inteiro compunha  , no embalo dos festivais. Eu mesmo, no festival de São João da Boa Vista de 1967 , inscrevi “ Serpentina “ , música que denunciava o uso do dispositivo intra-uterino para esterilizar mulheres do Nordeste  , veja só. Cada interpretação resultava em duas cordas arrebentadas, de tanto que a gente martelava o violão para arrancar “ arrepios “ da plateia. E fiquei indignadíssimo quando “ Serpentina “  perdeu para “ Penúltima “  , música no estilo Chico  . Registrei meu protesto em público  , para espanto dos jurados, já que a vencedora era composição de minha autoria  também.
  
Nesse clima louco, Vandré incorporou seu papel de condutor, de povos, como um Antônio Conselheiro da era eletrônica  . Teve seu momento épico com “ Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores “, em que colocou milhares de pessoas no Maracanãzinho, cantando contra o regime militar, para, pouco depois, ser sepultado, primeiro pela ditadura, depois pelos novos tempos. Assim como outros grandes, o tronco Vandré resultou em vários galhos relevantes, especialmente na música regionalista acima da Bahia, naqueles Estados que circundam Pernambuco. Veio o Quinteto Violado  , Geraldo Azevedo  , Xangai , Vital Farias – melodista extraordinário  (por onde andará?). Naqueles teatros velhos do Recife, toda semana há apresentações com cantores da região, a maioria filhos diretos de Vandré.

Mas, vendo-o agora, solitário e desconexo, a música que me vem à memória é “ Pequeno Concerto que virou Canção “, de um Vandré lírico, triste como a própria solidão na qual se meteu, e de onde provavelmente jamais sairá .

Fonte    -           Jornal    -  FOLHA  DE  SÃO  APULO 
LUÍS  NASSIF




 POEMA   MAIOR 

Mais  além  que de  passagem 
Nós  pés  de  uma  cordilheira 
]Deixei  meu riso  guardado 
Como  se  guarda  a parreira 

E  alguém  que  eu  vi  sem  roupagem
De  qualquer  jeito  e  maneira 
Guardou  meu  sonhar  contigo 
Sem  modos  de  brincadeira 

Seu  canto ,  alegre  , sorriso 
Pranto  meu  ,  mais  que  precisos 
Abertos  aos indecisos 
Sobre  o  pão  numa  lareira 

E  a  rosa  que  cultivava 
Nas  pedras  da  correnteza 
A  mim  quando  se  me  dava 
Nas  pedras  da  correnteza  , 
Nunca  se  fez  de  rogada ;
Rolava  mais que  uma  esteira 
Seguro  do  seu  feitio  
No  alto  da  bagaceira .

Um  dia  morte  matreira 
Promovida  na  carreira 
De  quem  não  tinha  no  verbo 
O  amor da  terra  estrangeira 
Tentou  passar-se  por  cima 
Dos  olhos  de  uma  trincheira 
Pensando  que de  onde  vinha 
Se  sustentava  madeira  
Pra  quem  não  tinha  querido
Nem  segunda  e  nem  primeira.

Mal  convencida  do  amor 
Da  rosa  numa  roseira 
Ferida  por  sem  valor 
De  sem  tocá-la  querê-la 
A  morte , tal, prometida 
Chegou-se  de  mala  esgueira .

Passou  por  cima  da  relva 
Debaixo  de  uma  amoreira  
E  anunciou-se  o  mais  forte 
Sobre  todos  numa  feira  .

Y yo  que  me  puse  pronto
Entre  tantos  de  la  feria
Me  encontrei  que  muerto  estaba
En  eso  de  essa  carreira  
                                                            
Me  dejé  com  un  sentido 
Desesperado  em  la  feria  , 
Se  me  perdió  la  sonrisa 
Se  me  perdió  la  tristeza .

Se  puso  piedra  mi  pecho ,
Se  puso  agua  em  mais  venas  , 
Se  puso  guardias  de  espaldas  
Donde  no  habitan  tetas  .

Se  puso  mi  corazón 
En  un  cerro  de  sinson ,
De  sillas  puras  cadenas, 
En  ellas  no  se  seniaban
Ni  gallos  de  la  pradera , 
Ni  retones  de  los  rios  , 
Ni  la  sangre  enredadera .

Meus  olhos  não  viram  nada 
De  nada  que  então  perdera .
Minhas  palavras  caladas 
Não  naquela  fronteira  .

Minha  morte  foi  marcada  , 
Minha  vida  foi  parada ,
Morri  naquela   fronteira  .

Até  que  foram  buscar-me 
Do  que  um  dia  havia  escrito 
Nos  olhos  de  uma  bandeira.

POR  GERALDO  VANDRÉ