Exemplos de Vida







Beatos  mártires  da  Argélia


A  festa  litúrgica  dos  19  anos da  Argélia é celebrada  aos  8  de  maio ,cada ano,
a partir de  2018. Entre  esses  mártires  , vamos conhecer  a  trajetória de  vida dos 
sete  monges  trapistas  do  mosteiro  de  Tibherine 

Entre 1991 e 2002 uma violenta guerra civil assolou o país do norte da África,então um país que contava com uma jovem democracia .Grupos islâmicos extremistas provocaram a morte de muitos religiosos e religiosas.Entre essas pessoas vamos lembrar os  sete monges ,de  origem francesa ,faziam um trabalho  médico e  social junto ao povo . Alguns deles se sentiam  atraídos pela  solidão e pobreza do lugar e da comunidade .Outros, por estar o mosteiro localizado em uma  terra islâmica : desta forma seria uma maneira direta para tornar  Cristo presente .Portanto ,eles vivam uma vida de
grande  simplicidade , acreditando epraticando o  diálogo inter-religioso.

O  prior da  comunidade era o  padre Christian de Chergé. Ele próprio afirmava que a “ alegria de  Deus é  sempre de estabelecer  comunhão e estabelecer semelhança , jogando com as  diferenças “ . Havia riscos .Mas diante do perigo que corriam escolheram permanecer aí sem abandonar o  mosteiro e ir para um lugar mais seguro. 

Na noite do dia 26 para 27 de março , sete deles ( pois a comunidade era de nove membros ) foram sequestrados por um   grupo desconhecido. Pelo que tudo indica , tratava-se de militantes islâmicos que não  toleravam estrangeiros .Dois monges, naquela noite,conseguiram escapar da atenção dos 20 militantes .Foram inclusive alertar as autoridades na manhã seguinte , com bastante dificuldade , uma vez que as linhas telefônicas estavam cortadas . Houve várias  semanas de silêncio , até que no   dia
31 de maio ,o exército argelinoa anunciou que havia encontrado as cabeças dos  sete  monges degolados .

Receberam sepultura e a notícia do sequestro e assassinato foi divulgada para o mundo inteiro ,merecendo inclusive um  filme premiado com o título " Homens e deuses " . Depois de 22 anos , aos 8 de dezembro de 2018 , eles foram  beatificados a pedido do  papa Francisco ,junto com outras 12 pessoas na  Igreja da Santa Cruz em  Omã ,na  Argélia , bem na  terra em que eles tinham  dado a  vida .

A experiência que  os monges trapistas tiveram no meio de população não  cristãs ,nos recorda vigorosamente que a  fraternidade deve se estender a todos,como sendo nossos irmãos , mesmo que sejam de raça ou  credo diferentes . Bem-aventurados mártires da  Argélia , rogai  a  Deus  por  nós ! 

Fonte  - O  MÍLITE  - pág 11 - SANTIDADE 
Maio  de  2022  - FREI DIOGO LUI FUITEM - Franciscano menor Conventual
Autor de várias entre elas São Pio de Pietreicina - Editora  MSA - 2ª  edição









SANTAS  PERPÉTUA E  FELICIDADE 

Santidade

Elas  morreram  como  mártires , isto é , testemunhando  a  fé  cristã , nos  primeiros 
tempos  do  cristianismo 

São duas  santas que figuram no  antigo cânon da Missa , e , portanto ,tiveram grande  veneração pelo  matírio que sofreram . A  memória delas é celebrada em  7 de março. de fato , em 202 d.C .,  o Imperador  Setímio  Severo divulgou um decreto pelo qual não só os  cristãos já batizados ,mas também os  catecúmenos , isto é, aqueles que se preparavam para  abraçar o  cristianismo , deviam ser presos . 

O decreto valia para todo o  império Romano , inclusive para o  Norte da África onde viviam  Perpétua , uma  jovem nobre , casada e mãe de um filho ; e Felicidade que era  escrava e estava grávida . Acusadas de  serem  cristãs , foram presas e levadas para a cidade de  Cartago com outros  catecúmenos . Lançadas na prisão , aguardavam o julgamento .

No meio dos sofrimentos do cárcere ,Perpétua escreveu um diárioa que é de um documento dos mais  comoventes da  história da  Igreja . Para ela a  prova mais difícil foi a visita do  pai que lhe  suplicava  :  " Filha , tem  piedade dos meus  cabelos  brancos ! Olha na  mãe ,  teus irmãos , teu filhinho que não poderá  viver sem ti  " , e pedia que renunciasse à sua  fé cristã para ficar livre de qualquer  suplício . Tanto ela , Perpétua, como  Felicidade mantinham-se  firmes , preferindo a morte  antes de negar o  Senhor de suas vidas , Jesus Cristo .

Na prisão , ambas receberam o  batismo . Felicidade deu à luz ao seu filho . No interrogatório confessaram  a fé e , por isso , foram condenadas à morte sendo levadas ao  circo , em  Cartago , onde se celebravam os jogos . Perpétua e  Felicidade foram  jo-gadas a touros muito bravos . Sendo atacada pelos animais , Perpétua foi lançada pelos ares .Caindo no chão foi logo socorrida por  felicidade e assim ficaram em pé , rezando juntas  , até o momento em que foram mortas pelos gladiadores.

Desse martírio existem testemunhos valiosíssimos que foram redigidos na forma atual por  Tertuliano ,escritor cristão do terceiro século. São chamados ,esses  testemunhos de  " Atas " que se concluem mostrando que a narrativa devia servir para estar em comunhão com os  mártires e ,por meio deles , " com  Jesus Cristo ,nosso  Senhor ,para quem  são  a  honra e a  glória  pelos  séculos " .

Pérpetua e Felicidade morreram  corajosamente  pela  causa  da  fé  em  Jesus  Cristo ,tornando-se  extraordinário  exemplo  de  coragem . Como o próprio Tertuliano escreveu : " O  sangue dos  mártires é  a  semente  dos  cristãos " ! . Com seu exemplo,  nos  inspirem  a sermos bem  mais  generosos no  serviço  a Deus  e  na  fidelidade a  Jesus  Cristo ! 

Santas  mártires ,  Perpétua e  Felicidade , rogai  a  deus  por  nós ! 

Fonte  - Revista  O  MÍLITE   -  pág  10   
FREI  DIOGO  LUIS  FUITEM  -  Franciscano Menor  Conventual 










SANTIDADE  -  SANTO  OSCAR  ROMERO 

Bispo  em  El  Salvador  país  da  América  Central , morreu 
assassinado  aos 62  anos , no  dia  24 de março de  1980 

Oscar  Arnulfo  Romero  Galdámez nasceu em  Ciudad Barrios , em 15 de janeiro de 1917 .Ingressou aos 14 anos ,no seminário de  San Miguel e pela notável capacidade intelectual foi escolhido para estudar  teologia , em Roma  ,  na Itália . Tendo completado os estudos ,foi ordenado sacerdote e de volta ao seu país ,exerceu o  ministério com  muito zelo e dedicação . Por isso , foi nomeado  bispo  auxiliar na  capital  San Salvador e , com quase 60 anos ,  arcebispo da mesma cidade . 

O  país estava atravessando um período de  grande turbulência e  agitação social . Ele sentiu-sede de denunciar as  injustiças que estavam  sendo praticadas . Defendia , com todos os meios, especialmente pelo  rádio e  meios de comunicação social , os fracos e as  vítimas  de violência. 

Essa foi uma atitude que ele adotou ,principalmente depois que seu amigo Padre  Rutílio  Grande foi assassinado junto com dois  camponeses . Diante de  muita  violência acontecendo , fez, então , ressoar sua  voz  profética com um  pedido contundente :  “ Suplico-lhes e  ordeno-lhes :  cessem a  repressão !  “. E isso acabou  irritando os  numerosos grupos paramilitares que planejaram sua morte .

De fato , enquanto estava celebrando a  Missa na  capela das  irmãs que  atendiam o hospital onde ele residia , foi alvejado por vários tipos de fuzil de alta precisão . Atingido no peito, foi levado às pressas para o  Pronto Socorro, mas não sobreviveu .Era dia 24 de março de 1980 .Sua morte provocou muitos protestos não só em sua pátria, mas no  mundo inteiro. 

O sepultamento se deu no domingo seguinte, dia 30 ,Domingo de  Ramos . Na  frente da catedral , uma multidão estava reunida prestando  justa homenagem ; mas uma improvisa  descarga de tiros acabou prejudicando a  celebração , provocando  tumulto ,e o  corpo acabou prejudicando a celebração , provocando tumulto , e o corpo acabou sendo sepultado às  pressas no  interior do  templo . O  reconhecimento do  povo e da  Igreja não demorou acontecer .Ele havia morrido como  mártir da  caridade, isto é , na luta para  defender  o povo  mais  simples e  desprotegido . Assim , o  Papa Francisco o  canonizou , aos 14 de outubro de  2018  , considerando-o  exemplo  destemido  de pastor e  intercessor  para quem inspire  “ força a  coragem  para  construir  o  reino de  Deus ,e para comprometer-se com uma  ordem  social mais  justa e digna  “ . É o  primeiro  salvadorenho a ser  elevado  aos altares  eu  primeiro a  ser  declarado  mártir , depois do  Concílio  Vaticano  II  Dom  Oscar  Romero foi  alguém que  soube guiar e  defender seu  povo , protegendo-o  contra aqueles  que negavam os direitos  humanos  dos fracos. Deu  sua  vida  por  essa  causa .  

Fonte  - Revista  O  MÍLITE  pág 19  - SANTIDADE 
Março de  2022  - FREI  DIOGO  LUIS  FUITEM  - Franciscano  Menor   onventual
Autor do livro  Dom  Oscar  Romero Santo  da  nossa  América 








São  Martinho de Lima 

O  santo  da  vassoura

São  Martinho de Lima viveu em Lima ,capital do Peru ,entre os anos de 1579 e 1639. É um dos poucos  santos  canonizados em nossas  Américas  . Ficou conhecido  também pelo nome de  Matinho de Porres ou ainda  " o santo da  vassoura " , pois passou a  vida  inteira no  trabalho  humilde e  escondido de seu convento  dominicano , onde era encarregado da limpeza . 

Negro , pobre , filho  ilegítimo , Martinho foi  educado  pela mãe junto com sua irmã . Aprendeu o  ofício de  atendente de  farmácia e teve de  trabalhar muito ,  pois  o  pai abandonou a mãe , que soube  educar os filhos de  amor a  Deus e aos irmãos. 

Martinho cresceu e se tornou um jovem de talento . Além de cirurgião , de enfermeiro e de entendido em  medicina ,era também barbeiro e cabeleireiro . Aos  15 anos abandonou tudo e foi bater na  porta do  convento dos  Dominicanos , da  Ordem Terceira de  São Domingos . Foi barrado  porque era de cor , porque era filho ilegítimo. Insistiu muito e , enfim , foi aceito . Ficou incumbido dos trabalhos mais  humildes . 

Mesmo sem  ser  sacerdote , porém , o santo realizou grandes coisas e trabalhou bastante.Ele conseguiu recursos de famílias ricas e fundou e construiu ,em Lima ,um hospital para os  pobres . No  convento ,seu quarto era um  depósito de ervas e de remédios caseiros,com os quais  acudia os  doentes, tanto os de dentro do  convento,como os da  cidade . Conseguiu  fundar um  colégio para  meninos pobres , colégio este que foi o primeiro da  América .

São  Martinho foi  canonizado  pelo  Papa  João  XXIII , em 1926 , e proclamado  " Padroeiro  da  Justiça  Social " .

Fonte  -  REVISTA  DE  APARECIDA  - pág 7 - Santidade













Padre Ezequiel

QUE FIGURA …

missionário destemido


Outubro não é marcado apenas por datas comemorativas como o Dia das Crianças , ou cívicas,como o Dia do Professor .Para os católicos ,por exemplo, celebra-se o Mês Missionário .Tempo forte de celebrações para divulgar a mensagem cristã e lembrar quem doou sua vida por causas nobres , como a defesa da paz , a luta pela terra e os direitos humanos.


É o caso do padre Ezequiel Ramin,que tinha trinta e dois anos quando foi assassinado por um grupo de pistoleiros ,em Cacoal , interior de Rondônia . Seu corpo foi crivado por mais de 50 tiros , um preço alto, muito alto, que esse jovem sacerdote missionário italiano pagou por ter se colocado do lado dos sem-terra e dos povos indígenas da região . Lele, como era chamado e hoje lembrado pelos amigos, pertencia ao grupo dos Missionários Combonianos ,seguidores de um santo que não mediu esforços para lutar junto com o povo africano no século l9 , São Daniel Comboni .


O martírio de Lele completa vinte anos. Ele foi morto em vinte e quatro de julho de

l985 , quando a mão dura dos militares ainda ditava as leis do Brasil .Junto a adoles -

centes , na cidade natal de Pádua , ele se engajou em movimentos que defendiam a

igualdade entre países ricos e pobres. Participou da organização Mãos Estendidas e

atuou contra as mafias italianas .Antes mesmo de vir ao Brasil ,divulgou livros e mais livros de personagens que marcaram a sua trajetória : os bispos Hélder Câmara e Pedro Casaldáliga e o educador Paulo Freire.


Lele nas suas primeiras homilias aos fiéis , ele explicitou aquela que era a sua escolha desde o momento em que soube que seria enviado ao Brasil : os pobres , os povos

indígenas , os irmãos mais explorados da terra. " Quero caminhar e lutar com vocês

mesmo sabendo que está opção possa me levar à prisão , à tortura e até mesmo ao

derramamento de sangue " , disse.


O que chamou muito a atenção de quem trabalhou com Lele foi a sua determinação .

" Ele era um jovem muito entusiasta , tremendamente crítico e coerente até fim " ,

testemunha Antonio Possama , bispo de Ji-Paraná , em Rondônia.


O martírio de Padre Ezequiel não marcou apenas a história de Cacoal . Tornou-se um símbolo para a Igreja que procura caminhar com os mais pobres e também para

as lutas sociais . É comum encontrar seu nome em ruas e praças , escolas e centros

comunitários para jovens e acampamentos dos trabalhadores rurais sem-terra. A

lista é longa . Os lugares são muitos : no Brasil , no Peru , no México, na Itália e nos

Estados Unidos .


Fonte Revista VIRAÇÃO - pág vinte e sete -número vinte e um

Ano três - PAULO PEREIRA LIMA










As  santas  Missões  do  Venerável  Frei  Damião 

No início de abril , Papa  Francisco reconheceu as virtudes heroicas do agora proclamado venerável  Frei  Damião  de  Bozzano , um capuchinho que atuou no Brasil , de  modo particular na região  Nordeste , onde ficou conhecido por suas santas missões. 

Mas , o que eram essas santas missões promovidas por  Frei  Damião ? Em entrevista concedida a Vatican News , o Postulador de sua Causa de  Beatificação, Frei  Jociel Gomes, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos , explicou que se tratava de “  uma continuidade daquilo  que faziam  os  antigos  missionários  capuchinhos  franceses  e  italianos  que  por  aqui  estiveram”.

Frei  Damião  nasceu em  Bozzano , na Itália , em 5 de novembro de 1898 , tendo recebido o nome de Pio  Gianotti . Ingressou na Ordem  dos  Frades  Menores Capuchinhos em 17 de março de 1911, foi ordenado , sacerdote em 25 de agosto de 1923 e , em 1931 , foi enviado ao Brasil ,onde desenvolveu sua missão na região  Nordeste .

De acordo com  Frei Jociel ,ao chegar , Frei  Damião “continua esta forma de evangelização “ , que consistia , geralmente , “ em sete dias em cada cidade . ( …) A programação desses dias tinha sempre caminhadas penitenciais pelas madrugadas – geralmente começavam às 4 h – seguida da celebração da Eucaristia. Ao longo do dia, dedicava-se atender confissões de mulheres, jovens, adolescentes durante o dia e, à noite, dos  ‘ homens, porque a maioria trabalhava‘ ( …) garantiu Frei Jociel . Também havia encontros específicos para diversos grupos, para casais, só para mulheres, só para homens, só para jovens, só para crianças“ .

Além disso , explica que , “ quando na cidade havia uma cadeia , também ele visitava os presos . Realizava visitas a escolas , hospitais . (…) Quando alguém não podia ir à Igreja, geralmente ele ou seus companheiros iam até a casa dessa pessoa para atender a confissão , para dar a unção dos enfermos “ .

A noite , segundo o postulador , “ era sempre marcada pelo grande sermão “ , as pessoas iam para a praça , para a igreja , escutar os sermões de Frei  Damião com conselhos a partir dos Evangelhos, a orientação da Igreja".  O povo ia e ficava realmente atento, porque sabia que as palavras do Frei resplandeciam a própria palava de Deus. 

Depois que Papa Francisco assinou o decreto que reconheceu as virtudes heroicas de Frei Damião Bozzano , a notícia foi divulgada pela Santa  Sé e recebida com muita alegria pelos capuchinhos e pelos fiéis no Brasil . No Nordeste , ele já tem um altar no coração das pessoas . Mas a Igreja precisa reconhecer isso oficialmente e, por isso, foi aberto um processo formal de canonização .

“ Frei Damião é um grande referencial de fé , de esperança , de caridade para a nossa gente , em particular , para a juventude , que hoje clama por essas referências “ .

Fonte   -  FOLHA  PAROQUIAL   - pág  10  - n ° 248 ( ACI – DIGITAL ) 
Paróquia  Santíssima  Trindade   - Junho  de  2019 






SÃO  PADRE   PIO

Diante  do  Jubileu  Extraordinário  da  Misericórdia,  que  se  inicia  em  8 de dezembro,  é  importante  lembrar  daquele  que  se  fez  apóstolo  da  misericórdia  divina:  Padre  Pio  de  Pietrelcina

SEGUNDO O Papa Bento XVI , “ Padre Pio é um daqueles homens extraordinários que Deus envia de vez em quando à terra para apontar a todo mundo os caminhos da conversão “ .

Padre Pio nasceu em Pietrelcina , no sul da Itália , aos 25 de maio de 1887. Seus pais foram : Grazio Forgione e Maria Giuseppa di Nunzio , simples camponeses que , no dia seguinte ao nascimento , já o batizaram dando-lhe o nome de Francesco . O nome já revelava profético pela opção de vida franciscana reservada àquele menino . O casal teve sete filhos aos quais ensinaram uma fé viva. Notando a inteligência e a boa vontade de Francesco, o encaminharam para o estudo . Aos 15 anos , terminado o curso escolar , o jovem decidiu entrar para os “ frades com barba “ , pois ele admirava o bom frade Camilo, irmão capuchinho de longa barba , que pedia esmolas . Assim , em 6 de janeiro de 1903 , aos 16 anos , Francesco deixava sua casa e entrava no noviciado de Marcone , lugar não muito longe de Pietrelcina . Vestiu o hábito franciscano , recebendo o nome de Frei Pio

Tornou-se sacerdote em agosto de 1910 . Desejava ser missionário , mas as precárias condições de saúde não permitiram . Seis anos depois , para que ele pudesse respirar um ar mais saudável , os superiores o enviaram ao convento de San Giovanni Rotondo .

A  impressão  dos  estigmas 

Aos 24 anos , com um ano de sacerdócio , em 8 de setembro de 1911 , começaram a aparecer os estigmas da Paixão de Cristo em Padre Pio . Ficaram abertos por 50 anos , causando-lhes muitas dores . Esse fenômeno , tão raro na história dos santos , representa sem dúvida o ponto culminante de sua comunhão com Cristo . Como São Francisco de Assis , Padre Pio foi marcado pelas chagas da Paixão do Senhor . A incompreensão e as suspeitas das autoridades eclesiásticas , os exames médicos intermináveis e a curiosidade do povo aumentaram mais ainda o peso das grandes provações que teve de enfrentar

Apóstolo  do  confessionário

Bom e compassivo , ele costumava exortar as pessoas terem confiança :  " Deus ,  no sacramento da penitência , nos espera com ternura e confiança infinita " . Tendo o dom de ler as consciências , Padre Pio ajudava os penitentes a relembrarem os fatos esquecidos ou negligenciados . Costumava passar de 15 a 19 horas , todos os dias , no atendimento às confissões . Um ano antes de sua morte , em 1967 , avalia-se que 25 mil pessoas já tinham se confessado com ele . No verão , muitos dormiam ao relento na espera de encontrar-se com Padre Pio , pois no alojamento de San Giovanni Rotondo não havia mais vaga . Quantos homens e mulheres receberam o conforto por meio de seu ministério ! Algumas pessoas o procuravam em confissão por curiosidade . Quando ele percebia que a intenção não era verdadeira , reagia duramente: isso criava no penitente uma ansiedade pela qual , alguns dias depois , voltava aos pés do Padre Pio para uma confissão sincera. A Eucaristia era também uma referência significativa para a sua vida . Escreveu : " O mundo pode viver sem sol , mas não poderia viver sem a Eucaristia " .

Padre Pio morreu aos 23 de setembro de 1968 . Foi beatificado em maio de 1999  canonizado em 1 de junho de 2002 , pelo Papa São João Paulo II . Sua festa litúrgica é celebrada por toda a Igreja no dia 23 de setembro . São Pio de Pietrelcina  , rogai  por nós! 

Fonte   -   Revista   O  MÍLITE   pág   23   
 Santidade um caminho possível     -   FREI  DIOGO  LUÍS  FUITEM 





Santa  Edith  Stein 

Há santos que têm o carisma da popularidade. Você os olha e sente no coração um desejo muito grande de imitá-los. Santas que têm o dom da simpatia e imediatamente cria-se um laço de afetividade e de amor que nos faz perceber o desejo de sermos melhores. E santos e santas têm uma doutrina profunda, fizeram um bem imenso à Igreja e, com sua mensagem, continuam a influenciar o mundo, mas… não são simpáticos, não caem na graça do povo, embora tenham um forte ascendente na cultura e na filosofia. Por isso Deus suscita seus santos em todas as camadas a sociedade, desde santos analfabetos, agricultores e pastores, até filósofos, teólogos, advogados, velhos e jovens, homens e mulheres que, apaixonados por Cristo, souberam viver com intensidade o evangelho.

Santa Edith Stein, cujo nome no Carmelo foi Teresa Benedita da Cruz, pertence a um grupo restrito de santos que, com sua filosofia influenciaram e continuam a influenciar o mundo. Pode até parecer estranho que quem forma as opiniões políticas e religiosas sejam os filósofos. Eles passam seu tempo refletindo sobre as últimas causas e depois formulam suas receitas e há sempre quem os segue cegamente ou quase. Depois de 4.000 anos o mundo vive da influência de Platão e Aristóteles, de Agostinho e de Tomás de Aquino, como também vive influenciado pela forte ascendência de líderes religiosos que viveram milhares de anos atrás. Todos os santos no nosso modo de agir filósofos e teólogos... pensamos, refletimos e nos comunicamos. 

Edith Stein possui uma trajetória de vida muito simples, simpática e atraente. Nascida quando na religião hebraica se celebra a festa do Perdão Kipur, viveu no seio da família judaica tradicionalista e ortodoxa. A morte do pai deixará nela, ainda menina, marcas profundas de dor e sofrimento. Decide tomar o caminho da filosofia, coisa rara no seu tempo. Será discípula do fundador da fenomenologia Husserl, que sabe descobrir nela uma pensadora de primeira qualidade. 

Edith Stein, por sua própria decisão e pelo seu desejo de busca, decide ser ateia, renuncia a religião e diz: “por muito tempo a busca da verdade foi a munha única oração“. Sincera consigo mesma, com a ciência e fiel ao ser humano, Edith envereda pelo caminho da busca humilde de Deus. Para ela Deus se revela através da leitura da vida de Santa Teresa de Ávila. Concentrando-se com a história humana e mística da fundadora do Carmelo, não lhe resta senão ter que dizer, no fim da leitura: “aqui está a verdade “. Torna-se cristã e mais tarde carmelita. Deportada no campo de concentração de Aushwitz, morre como cordeiro imolado junto com sua irmã Rosa , morre para o povo

A espiritualidade de Edith Stein é muito importante para o ser humano de hoje, pensador, pesquisador e questionador por natureza. Deus  sempre  se  deixa  encontrar  por  todos  os  que  o  procuram.  

Fonte    -  Revista  O  MÍLITE    - pág  19    -    Ser Santo Hoje 
Setembro  de  2005   - FREI  PATRÍCIO  SCIADINI  - OCD 





NASCIMENTO  DE  UMA  VACINA  DA  GUERRA FRIA

Enquanto  as  superpotências  ameaçavam  se  destruir  mutuamente Albert B. Sabin  se  voltava  para  um  surpreendente  aliado  para testar  sua  vacina  oral  contra  a  pólio - um  cientista  soviético. 

PARA MUITOS A  GUERRA FRIA É UMA HISTÓRIA ANTIGA. Mas, há apenas poucas décadas, o planeta estava perigosamente dividido entre Leste e Oeste e o antagonismo entre Estados Unidos e União Soviética definia a política global. Episódios como a guerra da Coreia que deixou milhões de mortos no início dos anos 50, e a crise dos mísseis cubanos, dez anos depois, haviam levado os governos americano e soviético e seus aliados à beira de uma guerra nuclear. 

Ao mesmo tempo, os americanos vivam com um temor mortal de um inimigo muito mais próximo: a poliomielite, ou pólio, também chamada de paralisia infantil, por sua predominância entre crianças e jovens adultos. Os cientistas conheciam sua causa desde os anos 30 – um vírus transmitido por contato com matéria fecal -, mas não sabiam como controlá-la. Durante epidemias esporádicas as autoridades fechavam piscinas, cinemas e outros lugares públicos, esperando, com isso , conter a doença que atacava o sistema nervoso central, muitas vezes aleijando e algumas vezes matando suas vítimas. Cinejornais mostrando crianças com membros deformados e adolescentes incapacitados dentro de “pulmões de aço“ semelhantes a caixões eram algumas das mais apavorantes imagens da época. 

Então, durante o longo inverno da Guerra Fria , dois extraordinários cientistas – um americano e outro russo – formaram uma poderosa aliança. A parceria teria ultrajado fanáticos dos dois lados se eles tivessem conhecimento de sua existência. Mas a colaboração – que ganhou corpo em material de arquivo recentemente liberado na University of Cincinnati e por meio de diversas fontes contemporâneas – levou a uma das maiores conquistas médicas do século 20 e salvou milhões de vidas no mundo todo.

No início dos anos 50 a busca por uma vacina contra a pólio ganhava força nos Estados Unidos. Os virologistas Jonas E.Salk, da University of Pittsburgh, e Albert B. Sabin, da University of Cincinnati, surgiam como os mais destacados entre dezenas de pesquisadores financiados pela Fundação Nacional para a Paralisa Infantil (agora March of Dimes Foundation) . Em 1955, após testes envolvendo quase dois milhões de estudantes em todo o país a vacina de Salk se tornou a primeira a receber a aprovação do governo. Enquanto Salk se transformava, nas palavras do historiador David M. Oshinsky; em “um herói instantâneo , um cientista – celebridade“, Sabin continuava trabalhando no que acreditava ser uma vacina superior. 

As duas abordagens protegeriam contra a infecção, embora de formas diferentes. A vacina de Salk era feita de poliovírus inativado ou, na terminologia popular, “morto“, com formalina. Sabin achava que uma vacina feita com um poliovírus enfraquecido , mas ainda ativo , poderia imunizar por toda a vida. Vacinas com vírus vivos também ofereciam a possibilidade de uma imunização secundária, pela qual as crianças vacinadas infectariam passivamente outras com o vírus da vacina, imunizando pessoas que não haviam sido vacinadas. Por fim, diferentemente da vacina de Salk, que era injetada, a vacina de Sabin poderia ser administrada num cubinho de açúcar ou numa colher. Assim, dezenas de milhares, ou mesmo de milhões, de pessoas poderiam receber a vacina de forma rápida e barata, sem a complicação e o temor das agulhas. Por todas estas razões Sabin acreditava que a esperança de não só controlar mas também eliminar a pólio estava em sua vacina oral com o vírus vivo. 

A grande imprensa deu destaque à competição entre Sabin e Salk, embora outros importantes cientistas também estivessem envolvidos na "corrida" para conquistar o mercado americano. Havia algo de verdade por trás dos exageros da mídia. Salk e Sabin - apesar de terem em comum a herança russo-judaica, a fonte de financiamento e o inimigo virológico - nutriam profunda antipatia um pelo outro. Sabin zombava do " laboratório culinário" de Salk e insistia que ele não havia "descoberto nada". Salk acreditava que Sabin , invejoso de seu sucesso , tentava prejudicá-lo desde o começo. Sabin, sem dúvida, se ressenta da enorme aclamação recebida de Salk depois da aprovação da vacina com vírus morto, enquanto Salk certamente se enraiveceu com a sugestão de que, nas palavras de um contemporâneo, ele era "um grandiloquente publicitário", enquanto Sabin era um verdadeiro cientista.

Em 1955 Sabin já havia identificado as três cepas do poliovírus que acreditava deveriam ser reunidas para tornar sua vacina eficaz  (Salk tinha usado cepas diferentes), mas não exibia os números para provar que estava correto. Desde meados dos anos 50 Sabin havia estado sua vacina em centenas de voluntários , incluindo jovens adultos detidos na prisão federal de Chillicothe, Ohio, assim como em si mesmo, na sua muhlher e duas filhas, vizinhos e amigos. (Ele garantiu aos presos voluntários que enfrentariam riscos consideravelmente menores ao tomar a vacina do que os que ele havia enfrentado ao dirigir desde Cincinnati em meio a uma tempestade de neve.) Mas ele sabia, mesmo ao realizar os testes, que centenas ou milhares de participantes do estudo não seriam suficientes. Ele precisava de milhões para documentar a segurança e a eficácia da vacina. Como a versão de Salk, já era amplamente usada nos Estados Unidos , não havia americanos não vacinados para satisfazer os números necessários.

Enquanto isso, na União Soviética, a incidência de pólio crescia perigosamente. Por anos, durante a ditadura de Josef Stalin, as autoridades haviam negado que a pólio fosse um problema no paraíso do "operariado". Mas, enquanto surtos em Moscou, Minsk e centros populacionais tão distantes quanto a Sibéria revelavam a falsidade da propaganda, cientistas soviéticos buscava as mesmas respostas que seus colegas americanos. Pesquisadores soviéticos e americanos haviam unido forças ocasionalmente no quarto de século entre a Revolução Bolchevique de 1917 e o fim da Segunda Guerra Mundial. Mas essa cooperação praticamente desapareceu quando Leste e Oeste colocaram-se na defensiva depois da vitória dos Aliados em 1945. Então, em 1953, Stalin morreu e seus sucessores, um pouco mais rígidos e alarmados pelos números cada vez mais altos da pólio, orientaram os pesquisadores abuscar ajuda além de suas fronteiras

Os dois virologistas russos mais destacados da época eram Anatoli Smorodintsev e Mikhail P. Chumakov. Em janeiro de 1956, Smorodintsev, Chumakov e a esposa dele, Marina Voroshilova - também pesquisadora -, viajaram para os Estados Unidos para se reunir com diversos cientistas, entre eles Salk e Sabin. Embora aprovada na surdina pelos dois governos a visita foi obscurecida pelas obsessões da Guerra Fria: exigiram, por exemplo, que os russos cruzassem o país por ferrovia, em vez de por via aérea, mais conveniente, e os americanos estavam convencidos de que pelo menos um " doutor " que acompanhava os visitantes era um funcionário da KGB. Mesmo assim, os dois lados discretamente classificaram o tour como um sucesso. Informação científica valiosa foi trocada e, mais importante, como transpirou, Chumakov e Sabin estabeleceram os laços que levariam a uma relação espetacularmente produtiva

DOUTOR   SABIN  VAI  PARA  A  RÚSSIA 

DE JUNHO DE 1956, AUTORIZADO  por um cauteloso. Departamento de Estado e monitorado por um sempre vigilante FBI , Sabin voou para a Rússia , onde , por várias semans , se encontrou com Chumakov , Voroshilova , Smorodintsev e outros importantes pesquisadores .

Embora Salk, também tivesse sido convidado, Sabin partiu numa missão solitária . Décadas depois , o filho de Salk , Peter , disse a Oshinsky que o pai havia recusado o convite russo porque a esposa, cansada das frequentes ausências do marido, havia finalmente feito valer a sua vontade. A crônica de Oshinsky sugere outra possibilidade. Quando mais jovem, Salk havia sido um dos milhares de americanos a abraçar publicamente causas esquerdistas e isso chamou a atenção do FBI. Talvez Salk temesse que uma visita à União Soviética pudesse ser mal interpretada . Mais provavelmente , o " cientista celebridade " cuja vacina mudou o jogo , tornando-o famoso e rico , acreditasse que tinha pouco a ganhar em uma viagem à União Soviética. Ao contrário de Sabin, ele não tinha de provar nada.

Sabin, no entanto, estava retornando às raízes. Ele nasceu em 1906 em Bialystok, uma cidade polonesa que havia sido parte da Rússia imperial e depois da União Soviética . Sua família era pobre. Seu pai , como tecelão garantia o ganha-pão, mas era a mãe, como lembraria mais tarde, " quem tinha iniciativa " . Depois que os Sabin imigraram para os Estados Unidos em 1921, Albert rapidamente dominou a língua inglesa e os costumes americanos. Após forma-se em Medicina pela New York University em 1931, ele construiu sua reputação como pesquisador em Nova York, Londres e, por fim , Cincinnati , concentrando-se em pólio ,encefalite e outras doenças neurológicas. Ele estava entre os pesquisadores que contestaram a noção corrente sobre como o  poliovírus entrava no corpo humano. A porta de entrada do vírus não eram as fossas nasais, como Simon Flexner, o " pai da pesquisa da pólio "  , havia teorizado , mas o canal alimentar : depois de entrar pela boca, o vírus migrava para o trato digestivo, onde se infiltrava na corrente sanguínea a caminho do sistema nervoso central. Essa descoberta foi fundamental para o passo seguinte - o desenvolvimento de uma vacina que pudesse produzir o sistema imunológico a atacar o vírus no sangue.

Na União Soviética Sabin enfrentou alguns novos desafios enquanto se acotovelava com pesquisadores e defendia sua vacina com vírus vivo. Apesar de sua exposição ao idioma durante a infância ele nunca foi proficiente em russo e a maioria de seus colegas soviéticos não tinha fluência em inglês. Intérpretes foram providenciados, mas a trabalhosa colaboração certamente teria sido mais fácil se os cientistas pusessem se comunicar na mesma língua. É tentador imaginar quais medos e preconceitos poderiam ter perdurado da infância de Sabin em Bialystok, onde os judeus viviam em constante temor de ataque e onde, como ele disse uma vez, ele cresceu "pensando nos soldados russos como assassinos " . Se abrigava esses pensamentos durante suas visitas soviéticas. Sabin aparentemente os guardou para si. Mais tarde, insistiu que não se preocupava com os agentes soviéticos e americanos que monitoravam seus movimentos e registravam seus comentários públicos. Apesar das complicações Sabin desenvolveu um valioso trabalho e, em alguns casos, uma próxima relação pessoal com seus anfitriões russos nos muitos anos seguintes. Nenhuma se mostrou mais benéfica do que sua amizade com Chumacov.

Chumacov , como se revelou , era um parceiro perfeito para Sabin . Ele nasceu em 1909 de uma família humilde no Cáucaso. Seu pai era veterinário do exército, sua mãe uma camponesa que só aprendeu ler e a escrever aos 70 anos. Quando Chumacov tinha 16 anos , conta seu filho Konstantin , ele partiu para Moscou para frequentar o colégio , sendo admitido nas faculdades de Direito e de Medicina antes de optar por uma carreira médica. 

Nem Chumacov nem Sabin tinham paciência com os tolos e ambos estavam convencidos de que havia pessoas tolas em todos os lugares. O brilhantismo de Sabin como cientista só se equiparava à sua temível reputação de feitor e competidor. Exigente, ele pedia ao seu pessoal uma atenção fanática aos detalhes; totalmente seguro de suas posições, desafiava publicamente as conclusões de seus rivais. Philip Russell, um eminente virologista e fundador do Instituto Vacina Sabin, com sede em Washington, conhecia Sabin e muitos pesquisadores que trabalharam em seus laboratórios. Ecoando a difundida opinião sobre o homem e o pesquisador, Russell afirma que "Albert era delicado e meticuloso - um cientista visionário, mas também era arrogante e nunca estava errado - mesmo quando estivesse " . Conhecidos de Sabin podem ter se surpreendido ao saber que Chumacov talvez tivesse a personalidade mais vulcânica . Numa carta de 1958 para Sabin , Chumacov reclamou das " intrigas de covardes e pseudo especialistas " , que não hesitou em citar pelos nomes. 

"Felizmente , eles encontraram um ao outro", disse Konstantin, que vive nos Estados Unidos desde 1989 e é atualmente diretor associado do Escritório de Revisão e Pesquisa de Vacina da Food and Drug Administration (FDA), a agência que regula alimentos e medicamentos. "Sabin tinha a vacina que podia evitar a morte ou paralisia de inúmeras pessoas e meu pai descobriu a forma de superar seus obstáculos burocráticos. Sabin chamava meu pai de 'o general', porque ele conseguia que as coisas fossem feitas"

SOLUÇÃO  MAIS  SIMPLES 

VIROLOGISTAS RUSSOS TINHAM EXPERIMENTADO  A vacina com vírus morto de Salk , mas Chumacov buscava uma forma mais simples , barata e eficaz de oferecer a proteção contra a pólio à vasta população da União Soviética. Em 1959 Cumacov decidiu organizar o primeiro teste clínico em larga escala da vacina oral feita com as cepas do vírus vivo atenuado que Sabin havia desenvolvido . Seria uma tarefa monumental, sobrecarregada de problemas - a começar pela aprovação superior.

"Sabin elogiou publicamente meu pai e o sistema soviético, cuja organização tornou possível um testa tão amplo", disse Konstantin. "Mas não tenho certeza se alguma vez meu pai contou a Sabin a história verdadeira por trás do fato. O que realmente aconteceu - segundo meu pai - foi o seguinte:" 

"Meu pai não conseguiu permissão para um teste clínico realmente grande. Muitas pessoas no Ministério da Saúde eram contrárias. Basicamente, disseram para meu pai: 'Nós temos a vacina de Salk e ela funciona bem, portanto não há razão para você testar o vírus vivo'. Bem, meu pai decidiu o contrário". 

"Na União Soviética havia uma autoridade superior -  o Politburo [então conhecido como Presidência do Comitê Central], formado por um grupo de membros do Partido Comunista que podia derrubar a decisão de qualquer um. Naquele tempo, Anastas Mikoyan era o membro do Politburo responsável pela saúde pública. Mikoyan não era médico - ele era uma figura política da época da Revolução. Mas ele e meu pai se conheciam bem. Mikoyan pode ter sido quem o nomeou para chefiar a iniciativa contra a pólio". Recusando-se a aceitar a decisão do Ministério de não dar permissão para os testes da vacina oral Chumakov pegou um dos telefones vermelhos fornecidos para uso exclusivo das pessoas mais poderosas no Kremlin - ele não estava entre elas - e discou o número de Mikoyan. 

Conforme Chumacov relatou a história ao filho, ele foi direto ao ponto e pediu a aprovação de Mikoyan para realizar os testes com a vacina de vírus vivo. 

"Você tem certeza que é uma boa vacina, Mikhail?", perguntou Mikoyan. "E que seja segura?"

"Sim", disse o virologista. "Tenho certeza absoluta."
"Então, vá em frente", disse Mikoyan . 

" E assim foi " , diz o jovem Chumacov, cujo relato soa verdadeiro para outras pessoas conhecedoras dos protagonistas. "A única permissão que ele tinha era verbal, da linha direta Politburo. É claro que o Ministro da Saúde não gostou, mas não podia fazer nada". 

UM  SUCESSO  DURADOURO

EM 1959 ,  CHUMACOV  TESTOU  A  vacina oral em 10 milhões de crianças na União Soviética. Os soviéticos abriram centros de vacinação não só em hospitais e clínicas, mas também em escolas, creches e outros locais não médicos. Em poucos meses praticamente todos com menos de 20 anos - incluindo quase 100 milhões de pessoas na União Soviética e seus satélites - receberam a vacina, em conta-gotas ou dentro de um pedaço de doce, e o resultado pareceu justificar os esforços. Chumacov estava entusiasmado pela aplicação ampla da vacina e, em um ano, um representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a segurança que ela oferecia e a significativa redução dos casos de paralisia

Mas havia ainda, certamente, cientistas do Ocidente que se recusavam a aceitar os relatos animadores. "A reação geral, ainda que não manifestada publicamente, era bem, não se pode acreditar em nada do que aquelas pessoas fazem " , resmungou Sabin mais de uma vez. Mas o documentário feito da colaboração Sabin-Chumacov por fim superou as diferenças ideológicas. A vacina com vírus vivo se tornou a arma que o mundo escolheu para combater o pólio - inclusive , após sua licença plena federal em 1962, por três décadas nos Estado Unidos. Em 1972, Sabin doou suas cepas de poliovírus para a OMS, com o objetivo de tornar a vacina acessível mesmo nos países mais pobres. Atualmente a pólio continua uma ameaça grave apenas em partes do Paquistão, Afeganistão e Nigéria. Se a pólio for complemente erradicada - como parece cada vez mais possível - o mundo terá de agradecer por isto à pouco conhecida e improvável colaboração entre Albert Sabin e Mikhail Chumacov.

Para  conhecer  mais : 

Polio  : an  American  story ,  David  M. Oshinsky . Oxford University  Press, 2006 .

The structure of poliovírus , James M. Hogle , Marie Chow e David J. Filmart , em SCIENTIC AMERICAN , vol 256 , nº 3 , págs . 42-49 , março de 1987 .

Vaccines  for poliomyelitis . Jonas E.Salk , em SCIENTIFIC AMERICAN  , vol 192 , nº 4 , pág 42-44 , abril de 1955 .

Hauck Center for the Albert B. Sabin Archives , University of Cincinnatti : http://sabin .uc.edu

Fonte  -  SCIENTIFIC  AMERICAN  Brasil     pág  64  / Maio 2012 

DOSSIÊ  POLIOMIELITE  








RODRIGUES  ALVES  -  UM  LÍDER  NEGRO

Faleceu  no dia 4 de janeiro em 1985 , no Hospital do Andaraí  , vítima de trombose ,  o Prof . Sebastião Rodrigues Alves, um dos expoentes da negritude brasileira. Nasceu em 28 de julho de 1913, na cidade de Guaçuí , no Estado do Espírito Santo , filho do Capitão Hipólito Rodrigues Alves  e de D. Maria Conceição Fernando Alves .  

Foi pesquisador social de peso. Assistente Social da Escola Serviço Social da PUC /RJ, hoje Faculdade Social do Rio de Janeiro , sua tese de formatura “ A ecologia do grupo Afro-Brasileiro ante o Serviço Social “ aprovada com distinção, sendo publicada pelo Ministério da Educação e Cultura, em primeira edição . 

Outras de igual valor: “Oitenta anos de Abolição" , “ Sincretismo Religioso “ , “ As Sobrevivências Religiosas dos Negros “ , “ Problemas da Previdência Social “ , “Justiça Social “ , Justiça Social e Não Apenas Caridade para os Trabalhadores “ , “A Matança da Umbanda“, “ Alfabetizar é Libertar o Negro “ , “ Irresponsabilidade , Ignorância ou Má Fé “ , todos publicados, tendo deixado no prelo: “ País dos Raulinos“ , “Vinte Negros Ilustres Anônimos"  ,e  os “Santos Negros “. Este último trabalho compõe um ensaio de 39 folhas à guisa de introdução a estas três obras, do grande mestre Prof . Ironildes Rodrigues.

Durante o Encontro Nacional em Uberaba , em que foi discutido o tema : “ O Negro e a Sucessão Presidencial “ , ( 23 a 24 de novembro de 1984 ), a comunidade negra ali reunida, sob a presidência do Prefeito Wagner Nascimento, Coordenador da Frente Nacional Afro-Brasileira , deixou patente , entre outras coisas , a seguinte preocupação … “ revisão dos programas de História e incentivos à pesquisa , no sentido de tronar manifesta a participação do negro na formação brasileira" . 

A luta de Rodrigues Alves em prol da dignidade do negro, remonta a 1936, como membro do Exército . Participou de vários movimentos contra a discriminação racial , ocasião em que foi excluído da Força , este fato é narrado em “ Oitenta Anos de Abolição"

Em 1938 , foi procurar a realidade da vida do negro nas Escolas de Samba e nas Sociedades Religiosas de Umbanda . Em 1940 , estuda com afinco as tensões raciais provindas das mudanças provocadas pela guerra. No ano seguinte, ciente de suas convicções sobre o racismo e anti-racismo, identifica a nível cultural e de oportunidade educacional , uma das fontes do racismo discriminador.

Em 1943 , funda o Comitê Democrático Afro-Brasileiro. Em 1946 toma parte na Convenção Nacional do Negro e participa do movimento artístico-cultural que levou à criação do Teatro Experimental do Negro com Abdias Nascimento e Aguinaldo Camargo. Também no mesmo ano funda a Cruzada de Alfabetização Afro-Brasileira.

Em 1950 é um dos organizadores e participa ativamente do Primeiro Congresso do Negro Brasileiro , onde se institui o verdadeiro movimento em prol dos valores negros do Brasil. Em 1953 é eleito Diretor Social da Confederação das Sociedades Religiosas de Umbanda do Brasil . Em 1977 participa do I Congresso de Cultura Negra das Américas  realizado na cidade Cáli, Colômbia, apresentando a tese "Somos Todos Iguais Só perante a Lei". Ainda em 1977 recebeu o título de Cidadão Carioca pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro  . No mesmo dia foi homenageado pela Escola de Samba Mangueira com uma noite de samba .

Em janeiro  de 1978 , a convite da Universidade de Buffalo  , Estados Unidos , ministra um curso sobre “Ecologia do Grupo Afro-Brasileiro" , além de proferir conferências em diversas Universidades como Iowa , Massachussets , Ham e Pela , tendo como tema : “ As Sobrevivências dos Rituais Africanos no Brasil e nas Américas “ .

Em 28 de setembro de 1983 , foi nomeado pelo governador do Rio de Janeiro , para exercer a função do membro efetivo do Conselho de Justiça , Segurança Pública e Direitos Humanos .

Fonte   -  JORNAL  DO  CONSELHO  DA   COMUNIDADE  NEGRA    - pág 2
JULHO  DE  1985     -  ANO  I    n°  02 








Histórias  curiosas 
De  escrava  a  Filha  de  Deus 

Em 8 de fevereiro a Igreja celebra Santa Bakhita do Sudão, a primeira Santa africana, canonizada no ano 2000, por São João Paulo II.
Nascida provavelmente em 1879, morava em uma aldeia e levavas uma vida feliz com a família. Ainda criança foi seqüestrada por mercadores de escravos, e com o trauma esqueceu o próprio nome. O nome Bakhita que significa “ afortunada “ foi dado pelos seqüestradores. Teve vários “donos”  cruéis, sofreu muito, foi aprisionada, humilhada e torturada, apresentava cicatrizes no corpo e na lama. Mesmo assim sempre se achou protegida por Alguém que não conseguia identificar  . 
Na capital do Sudão, finalmente foi comprada por um cônsul italiano que a tratava cordialmente; a seu pedido levou-a para seu país, e ao chegar à Europa, a senhora de um comerciante que viajara com eles quis ficar com ela, como babá para a filha que estava para nascer. A família tendo que retornar África deixou provisoriamente Bakhita e a filha Mimina aos cuidados das irmãs Canossianas. No convento veio a conhecer aquele Deus que desde pequena ela  “ sentia no coração , sem saber quem Ele era “. Vendo o sol  , a lua e as estrelas  , dizia  comigo mesma  : Quem é o patrão dessas coisas tão bonitas  ? E sentia uma vontade imensa de vê-Lo  , conhecê-Lo e prestar-lhe homenagem . 
Recebeu os sacramentos da Iniciação Cristã e o nome de Josefina Margarida Bakhita. 
Desse em dia em diante, era fácil vê-la beijar a pia batismal e dizer: Aqui me tornei filha de Deus  “!. 
A cada dia tomava consciência de como aquele Deus, que agora conhecia e amava  , a havia conduzido a Si por caminhos misteriosos  , segurando-a pela mão  .
Bakhita continuou no catecumenato onde sentiu com muita clareza o chamado para se tornar religiosa e doar-se totalmente ao Senhor  , a quem chamava “ o meu patrão “ . Por mais de 50 anos  , esta humilde Filha da Caridade  , apelidada de “ irmã morena “ , verdadeira testemunha do amor de Deus  , dedicou-se às diversas ocupações na casa das irmãs Canossianas  .
A sua humildade  , a sua simplicidade e o seu constante sorriso  , conquistaram o coração de todos os habitantes de Schio. As Irmãs, a estimavam pela sua inalterável afabilidade, pela fineza da sua bondade e pelo seu profundo desejo de tornar Jesus conhecido. Sede bons  , amai a Deus  , rezai por aqueles que não O conhecem  . Se  , soubésseis que grande graça é conhecer a Deus  !
Com a idade  , chegou a doença longa e dolorosa, mas a Irmã Bakhita continuou a oferecer o seu testemunho de fé, de bondade e de esperança cristã . 
A quem a visitava e lhe perguntava como se sentia  , respondia sorridente : Como o Patrão quer .
Na agonia reviveu os anos de escravidão e várias vezes suplicava à enfermeira que a assistia  : << Solta-me as correntes  ... pesam muito  ! >> Foi Maria Santíssima que a livrou de todos os sofrimentos  . As suas últimas palavras foram  : << Nossa Senhora ! Nossa Senhora !  >> enquanto o seu último sorriso testemunhava o encontro com a Mãe de Jesus.
Irmã Bakhita  , faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947  , rodeada pela comunidade  . Uma  multidão acorreu logo à casa Instituto para ver pela última vez a sua Santa Irmã Morena

“Se   tivesse  hoje   a  oportunidade  de  encontrar   os  mercadores  de  escravos  que  me capturaram   e  até  mesmo  aqueles  que  me  torturaram, eu  ajoelharia  e  beijaria  
suas  mãos,  pois se  isto  não  tivesse  acontecido, eu, hoje,  não  seria  cristã e religiosa."
                                                                                                                           Santa   Bakhita


Fonte       -  Informativo   -   pág  7      NOSSA   SENHORA  DA  PAZ 
Fevereiro   de 2017   - Maria  Helena  do  Rego  





NHÁ  CHICA 

EM  JULHO  em 2013, tive a graça , junto com Frei Bruno Manzoni  , de ir a Baependi , sul de Minas Gerais  , perto de Três Corações e Caxambu  , para visitar o túmulo da Bem-aventurada Francisca de Paula de Jesus  , mais conhecida como Nhá Chica  .
Chequei ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição  , bem no alto da cidade  , já a noitinha. As Irmãs Franciscanas do Senhor nos receberam com alegria carinho, afinal de contas, somos da mesma família franciscana. Elas atendem a mais de 100 crianças necessitadas e nos acompanharam por aquele lugar sagrado de onde   Nhá Chica  , já tem vida  , espalhava seu perfume de santidade  , acolhendo com simpatia  , conselhos e oração a todos os que a viam procurar em busca de algo que brilhava em sua pessoa: a santidade  ! 
Era uma mulher de Deus  , se dizia. Analfabeta  , morena  , descendente de escrava  . Nhá Chica amava ouvir a leitura que lhe faziam da Bíblia Sagrada e  , de lá  , de sua humilde casinha  , atrás da capelinha em honra de Nossa Senhora  , que fizera construir com a colaboração de todo o bom e devoto povo de Baependi , juntamente com a Eucaristia trazia sabedoria  , discernimento para partilhar com todos os que ela vinham em busca de luz  , conforto e prece  .
A quem lhe pedia preces e intercessão  , ela sempre respondia  : “ Nossa Senhora sabe ... Minha Sinhá vai atender  ... Eu peço e Ela atende ! “ E amava rezar e fazer rezar a oração da Salve Rainha.
Nhá Chica  , mineiramente  , é a abreviação familiar de Senhora Francisca  . Ela nasceu em São João Del Rei  , Minas Gerais  , no local chamado Santo Antônio do Rio das Mortes  , no ano de 1808  , e faleceu no dia 14 de junho  de 1895  . Viveu 87 anos  . E quando mudou para Baependi era ainda criança  . E foi para lá juntamente Teotônio  . A mãe veio a falecer não muito tempo depois e Nhá Chica  , com 10 anos  , conservou sempre uma terna devoção a Nossa Senhora  , trazendo consigo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que a mãe lhe deixara como “ relíquia “ da família  .
O povo atribui-lhe muitos milagres  , mas foi decisivo para sua beatificação: o de Ana Lúcia Meirelles Leite  , professora em Caxambu  , cidade vizinha de Baependi  , em 1995  . Internada no hospital para uma operação de coração de alto risco por causa de um problema congênito  , viu a cirurgia ser adiada pelos médicos por causa de uma forte febre que a acometera na noite anterior. Alguém lhe sugeriu e ela aceitou com fé pedir a intercessão de Nhá Chica  . Quando os médicos decidiram operá-la e  , tendo feito os exames preliminares  , não encontraram nada mais de anormal  . Ficaram abismados  . Sem explicação  , Ana Lúcia no fundo do coração sorria agradecida  : “ Foi Nhá Chica que pediu a Deus e Ele me atendeu ! “ 
O caso foi levado à equipe médica do Vaticano e desta aos cardeais que não duvidaram em atestar eu o caso não tinha explicação científica  . O Papa Emérito Bento XVI não duvidou também em assinar o decreto de beatificação levado a efeito na grandiosa celebração eucarística presidida pelo cardeal Ângelo Amato  , Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos  , na cidade de Baependi  , no sábado  , 4 de Maio de 2013  . Em louvor de Cristo  , Nosso Senhor  ! 
Beata  Nhá  Chica  ,  rogai por nós  ! 

Fonte  -   Revista    O  MÍLITE         pág 18  / 2015
FREI  GERALDO  MONTEIRO
Frade Menor Conventual 




MADRE  TERESA  De  Calcutá 

Madre Teresa  de Calcutá  , servidora  dos  pobres  , foi canonizada  dia  4  de setembro deste  Ano  Santo  da Misericórdia 

 SEU  NOME  ERA Agnes Gonxha. Nasceu aos 26 de agosto de 1910, filha de albaneses  , em Skoplje  , que atualmente é a capital da República da Macedônia. Foi batizada já no dia 30 do mesmo mês  , data que ela considerava como seu verdadeiro aniversário  . Pouco se sabe de sua infância e adolescência porque ela não gostava de falar de si mesma  . Aos 18 anos  , sentindo-se chamada por Deus  , entrou para as Irmãs de Nossa Senhora de Loreto  , congregação irlandesa. Desejando ser missionária  , as irmãs a enviaram para fazer noviciado na Índia. Lá fez sua profissão religiosa no dia 21 de maio de 1931  , tomando o nome de Teresa. Foi enviada para a cidade de Calcutá  , que em idioma bengali se escreve Kolkata  , para lecionar no colégio da congregação  . Mas sentia-se atingida por aquilo que via sair nas ruas  : muitas crianças e adultos  , homens e mulheres  , em situação de extrema pobreza  . 
Durante uma viagem de trem  , encontrou uma pessoa pobre na rua e lhe disse: “ Tenho sede“. Esse pedido repercutiu em seu coração e deu inspiração de dedicar sua vida aos pobres. Saiu do colégio particular e deu início a um trabalho de apoio às crianças da periferia  , reunindo-as em uma escola improvisada. Algumas jovens, suas ex-alunas, se prontificaram em ajudá-la  , tomando conta das crianças abandonadas e de pessoas que morriam à míngua nas estradas. Tornou-se, assim, um grupo religioso denominado de Missionárias da Caridade  . Em 1965  , o Vaticano aprovou-o como congregação religiosa. 
Pelo notável trabalho desenvolvido em benefício daqueles que estavam necessitados, ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1979. O Papa São João Paulo II a nomeou como sua assessora e representante nas assembléias e fóruns  , para que levasse uma mensagem de paz ao mundo inteiro. Outros líderes reconheceram sua dedicação à causa dos excluídos da sociedade. 
Tendo a saúde debilitada, acabou falecendo no dia 5 de setembro de 1997 de ataque cardíaco. Passados cinco anos de sua morte , eis que São João Paulo II a declarou bem-aventurada e caberá agora ao Papa Francisco proporcionar que seja canonizada  , isto é  , reconhecida como santa  , neste ano Santo da Misericórdia  .

Fonte     -    Revista     O  MÍLITE      pág   18 
FREI  DIOGO  LUÍS   FUITEM     -   Franciscano  Menor  Conventual  
Autor  do  Livro  recém –lançado  Dra. Zilda  , uma vida de doação   por Edições Loyola







AUGUSTO  COLOMBO  
O vulcão  de  Warangal  

Uma cidade para os párias, cooperativas, faculdades de Engenharia e de Medicina.
O empenho do padre Augusto pela promoção humana, enraizada no Evangelho, não 
conhece  limites.

Padre Augusto Colombo está na Índia desde 1952. Ele inventa uma coisa depois da outra. Na diocese de Warangal, fundou paróquias e dezenas de instituições para pobres, cooperativas de produção e de consumo, um leprosário, hospitais e dispensários médicos, uma fazenda – escola, um centro de tratamento para Aids, casinhas para os mais pobres, etc. A sua história se confunde com as etapas do desenvolvimento da Índia, ou, pelo menos  , da região onde atua, e confirma o nexo profundo que existe evangelização e promoção humana.
A 40 quilômetros de Warangal há o Colombo nagar, a “cidade de Colombo “. Tempos atrás  , em terreno árido e pedregoso , padre Augusto construiu uma faculdade de Engenharia ( Institute of Technology and Science ), hoje com 1300 estudantes. Ela forma, anualmente , entre 120 e 130 novos engenheiros, em cinco diferentes especialidades. A metade das vagas é reservada aos párias e aos católicos que dificilmente entrariam em outros institutos superiores. Em volta da escola surgiu a Colombo nagar. Tudo pertence à diocese.
Em vista do bom resultado da sua primeira faculdade ( depois de tantas outras escolas que fundou ), com a generosa ajuda dos amigos de sua terra natal  ( Cantù , Itália ) e de outros benfeitores, padre Colombo adquiriu em Warangal, há cinco anos, um moderníssimo hospital com 600 leitos , que brevemente deverão chegar a mil. Lá trabalham freiras , de três congregações que atuam no setor da saúde. Perto dele foi iniciada a construção da faculdade de Medicina , a segunda católica da Índia.

Padre Augusto também se dedica aos cegos. Na Índia, cerca de 4 milhões de pessoas que ficam cegas anualmente, devido à catarata. Com a colaboração de oculistas italianos, Colombo criou e aparelhou um centro especializado para os cegos em Fatimanagar. Jovens médicos indianos trabalham no centro e operam de 4 a 5 cataratas por dia.
As mulheres indianas são admiráveis na arte de bordado: aprendem rápido e trabalham com entusiasmo e precisão. Elas ganham bem, em relação aos padrões indianos. Colombo paga  , às bordadeiras de Warangal, a metade do que suas casas lhes custam e lhes dá outras facilidades. Os bordados e as rendas feitas por elas não são vendidos na Índia , mas , licenciados pelo governo, são comercializados na Itália e nos Estados Unidos  , através de uma rede de amigos e amigas do padre Colombo.
Além de tudo o que faz, Augusto é também pároco de Karunapuram. Um jovem sacerdote indiano administra a paróquia, mas a pastoral e o anúncio do Evangelho são responsabilidade do pároco. Ele escreveu os catecismos para as várias classes de crianças e as notas explicativas para os catequistas. Desenhos naif muito simples ilustram um episódio bíblico ou evangélico, com explicação em telegu ( língua indiana ) , escrita à mão, em grandes caracteres. As crianças colorem as ilustrações  , depois escrevem, na página ao lado, seus pensamentos e fazem seus próprios desenhos  . Estes cadernos ilustrados, muito práticos e agradáveis, foram adotados na catequese diocesana e são utilizados em outras dioceses de língua telegu.
A igreja de Karunapuram , com grandiosa cúpula, é interessantíssima. Em suas paredes, um pintor local desenhou cenas do Antigo e do Novo Testamentos e fez descrições explicativas em telegu. Muita gente vem  , cristãos e não cristãos , para admirar as pinturas e ler os textos. É uma espécie de catecismo ilustrado, em estilo popular, que, em 30 ou 40 quadros, resume toda a história da salvação.

Fonte   -  Revista    MUNDO  E  MISSÃO    Abril  de 2006
pág 11       Personagem    -  da  Redação



THOMAS  MERTON     -   A   HERANÇA   de   um   MÍSTICO 

O  QUE  A  HISTÓRIA  de um estudante rebelde da Universidade de Columbia, em Nova York  que acordou para a fé aos 23 anos e que decidiu ingressar em uma das ordens religiosas mais austeras do Catolicismo tem de especial além da alegria no céu por um pecador que se arrepende? Nada, se ela não fosse contada pelo próprio protagonista, com as intensidades com que ele a coloriu. 
Thomas Merton (1915-1968) se tornou  em um dos mais famosos  escritores monásticos e espirituais do século XX, e nos dias atuais é referência em questões de paz, não violência, justiça social e diálogo permanente entre as tradições religiosas. Antes mesmo de se tornar monge na Abadia Trapista de N.Sª de Gethsemani  ( Kentucky, EUA ) , Merton escreveu diários pessoais , romances e poesias  , dando clara ideia de sua extraordinária lucidez e da potência do seu intelecto, sua única arma para defender o mundo e preencher seu crescente vazio interior.
Quando o portão do Mosteiro se fechou atrás do jovem Merton, em 10 de dezembro de 1941, encerrando-o entre as quatro paredes da sua nova liberdade  , seus olhos brilharam pelo acolhimento daquela nova vida como um presente de Natal antecipado. Ali iniciaria a gestação de sua autobiografia, “ A Montanha dos Sete Patamares“ , que o tornaria mundialmente  (re)conhecido. – The Seven Storey Mountain se tornou um clássico e continua um best-seller mundial desde sua publicação em 1948. – Ele publicou mais de 30 livros durante sua vida, e os editores têm apresentado ao público mais de trinta títulos, desde 1968 , entre livros espirituais  , diários e cartas. Além da autobiografia, merecem destaque as obras  : “ O Sinal de Jonas  “ , “Homem Algum é uma Ilha  “ , Na Liberdade da Solidão  “ , Místicos e Mestres Zen “ , A Via de Chuang Tzu “ e  “O Diário da Ásia  “.
Thomas Merton foi um intelectual em muitas vertentes. Seu legado é mantido pela Intenational Thomas Merton Society, entidade com mais de 40 células em todo o mundo, incluindo o Brasil através da Sociedade Amigos Fraternos de Thomas Merton, que há quase 20 anos vem promovendo o estudo e a preservação da herança espiritual de Thomas Merton para as gerações seguintes.  
Todos os escritos de Merton, mas particularmente seus diários pessoais e correspondências privadas  , expõem a forma e o labor para se levar uma vida religiosa autêntica e pessoal em uma sociedade secularizada. A honestidade de seus livros, fruto de sua experiência pessoal, habilitam os leitores a enfrentar as próprias fraquezas na jornada espiritual, com o entusiasmo de estarem sendo guiados por um verdadeiro mestre. Mesmo depois de sua morte em 1968, Merton ainda vive e continua mais atual do que nunca. É um buscador da unidade entre os seres; um homem que viveu pela fé e que, mesmo isolado num claustro, não deixou escapar nenhum dos grandes problemas do mundo de sua época. 
Por tudo isso, temos muitos motivos para nos alegrar, com a certeza de que a mensagem de Thomas Merton continuará ecoando na capital paulista e fazendo-se ouvir noutros cantos do país!

Fonte    -   Revista   INFORMATIVO  DA PARÓQUIA NOSSA  SENHORA  DO  BRASIL
Janeiro /fevereiro  de  2015 – Por  Cristóvão  de  Sousa  Meneses Júnior 
Coord.Executivo  - Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton 
merton.org.br / merton.br@gmail.com






LITURGIA  É  VIDA

Ceia  eucarística                     
Ritual, tradição e mística

A celebração da missa ou da eucaristia é um ato solene com que os católicos celebram o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, recordando a última ceia. Quando estamos em família ou com os amigos, nos reunimos em torno de uma mesa para celebrar um momento de partilha, de confraternização, de amizade e de agradecimento a Deus por todas as boas coisas que acontecem conosco. A Páscoa antiga, que os filhos de Israel faziam em memória de sua saída do Egito, chamada em hebraico de Pessah, indicava o valor simbólico–espiritual  da libertação do povo de Deus.

Há dois mil anos também sua comemoração era feita da mesma maneira. E foi uma ceia que Jesus escolheu para reunir seus apóstolos durante a Páscoa na véspera de sua paixão, Jesus queria um ambiente de cordialidade para esse encontro, pois Ele sabia que seria o último a reunir os discípulos.

Aquela ceia seguiria o ritual das ceias culturais judaicas. No início, o anfitrião tomava um pedaço de pão, levantava acima da mesa, e dizia uma oração antes de dividir o pão com todos. E para assegurar as graças divinas, a ceia incluía o sacrifício de um cordeiro. Mas, dessa vez, no entanto, Jesus tomou o pão, partiu-o e, no lugar da oração convencional, disse: “Tomai , todos e comei . Isto é meu corpo que será entregue por vós" . Ao pronunciar aquelas palavras, Jesus se colocava no lugar do cordeiro sacrificado habitualmente, e os pedaços de pão que distribuía eram o seu corpo – que, pelo sacrifício na cruz, seria entregue para a salvação de toda a humanidade. Mesmo os discípulos tiveram dificuldade de entender o que Ele estava dizendo, pois somente Ele sabia o que iria lhe acontecer em seguida. 

No fim da ceia, novamente abençoou, pegando o cálice de vinho, e disse: “Bebei dele todos; porque isto é meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, derramado em favor de muitos para remissão dos pecados".

Ao dizer nova aliança – o que podemos entender pelo novo testamento -, Jesus quis demonstrar que, entre Deus e os homens, não apenas Israel, mas todos os povos seriam chamados  a ser filhos de Deus. E, para deixar esta mudança totalmente inserida no coração dos homens de uma forma única, Jesus terminou dizendo: “Fazei isto em memória de mm".

Desta maneira, foi instituído o sacramento da eucaristia, que é o ritual central da missa  e a memória da paixão de Cristo, que chamamos de anamnesis. Nesse ritual, através da nossa comunhão com Cristo, mostramos nossa gratidão por poder partilhar a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A missa, portanto, é o culto mais sublime de que participamos. Vamos à missa para ouvir a palavra do senhor, e saber o que Ele propõe para a sua família reunida; é nosso momento de participar da grande ceia que aprendemos com Cristo.

Fonte  - Revista - O Mílite     pág 16 Agosto de 2009
PADRES  ANTÔNIO  S. BOGAZ ,RODINEI C. THOMAZELLA E
 PROFESSOR JOÃO H. HANSEN – ORIONITAS 




Santidade um caminho possível 

SÃO  JOSÉ  MOSCATI 

EM 12 DE ABRIL comemoramos uma figura de destaque: José Moscati, médico e professor universitário que atuou em Nápoles, na Itália, no final do século XIX e início do XX. É lembrado pela vida de generosa caridade e de intensa piedade que cultivou no seu dia a dia.

Foi proclamado santo pelo Papa São João Paulo II, em 1987, em Roma, ao término do Sínodo dos Bispo sobre a “vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo"  sendo apresentado a todos cristãos como modelo de vida no serviço a Deus e ao próximo.

Um caminho 

José – Giuseppe, na língua italiana, e Peppino, em dialeto napolitano – nasceu no dia 25 de julho de 1880 em Benevento, cidade ao sul da Itália. O pai, Francisco Moscati, era presidente do Tribunal de Justiça da cidade e a mãe, Rosa de Luca, pertencia a uma família nobre da região. José foi logo batizado, e, à medida que crescia, já demonstrava um interesse pela vida de fé.

Em 1804, o pai, ao ser promovido em seu cargo, mudou-se para Nápoles com toda a família. Nessa nova cidade, José fez a Primeira Comunhão aos oito anos e, mas tarde, foi crismado. Aos 17 anos, assumiu o voto de castidade perpétua, pois queria dedicar-se aos pobres e doentes. Um fato acabou influenciando seus estudos e mesmo seu futuro: ele teve que cuidar de um irmão da família, afetado por epilepsia. Isso fez nascer em sua mente a ideia de se tornar médico. Entrou, pois, no curso de medicina e, mostrando grande empenho, conseguiu se formar em 1903 aos 23 anos ! Já como médico se entregou ao ideal de servir aos doentes com uma única preocupação: poder aliviar a dor dos sofredores.

Uma missão 

Movido por esse intuito, José trabalhou no Hospital dos Incuráveis, que existia em Nápoles, ganhando a admiração dos pacientes e do povo em geral, e, mais ainda, prestígio na área científica porque se dedicava à medicina com verdadeira paixão. Na pesquisa das enfermidades, foi um dos primeiros médicos a experimentar a insulina no tratamento do diabetes. Em função disso, foi nomeado diretor da instituição onde atuava. Desdobrava e dividia suas horas entre o hospital e a participação da Igreja: fazia questão de acompanhar a Missa e comungar diariamente.

Pela notável capacidade demonstrada, foi chamado a lecionar no Curso Universitário de Medicina matérias como química fisiológica e outras afins. Mas ele costumava dizer: “Meu lugar é estar junto dos doentes". Provou isso por ocasião da erupção do vulcão Vesúvio, em abril de 1906. Supervisionou pessoalmente a evacuação do edifício que ficava próximo ao vulcão, levando para fora vários enfermos antes que desabasse a construção. Durante a epidemia de cólera na cidade, em 1911, José prestou serviços relevantes para erradicar o problema. E, durante a Primeira Guerra Mundial ( de 1914 a 1918 ), foi responsável pelo atendimento a muitos soldados feridos durante o combate.

No exercício da profissão não cobrava dos pobres. Às vezes mandava o paciente para casa, dando-lhe receita e, num envelope, o dinheiro necessário para comprar o remédio ! 

Com 47 anos, sentindo-se cansado durante o expediente de trabalho, sentou-se na poltrona e veio a falecer de maneira inesperada.

A ele foi dado, com toda a justiça, o título de médico e pai dos pobres. Diante de sua trajetória de vida tão santa, coroada por tantas virtudes, não demorou em ser beatificado pela Igreja Católica em 1975 e canonizado em 25 de outubro de 1987. Foi alguém soube unir fé, caridade e ciência.
São José Moscati, rogai por nós  ! 

Fonte – Revista      O  MILÍTE      pág 23 
FREI DIOGO LUÍS FUITEM
FRADE MENOR CONVENTUAL 








Sotaque   alemão 

"Nom mexerr, nom risarr". Era dessa maneira, falando arrastado e inventando verbos, que um dos pioneiros da fotografia em São Paulo, o alemão Theodor Preising, costumava se dirigir aos operários  das fábricas para clicá-los usando a luz natural do ambiente de trabalho. Preising não gostava de usar flash, o que obrigava a fotografar em baixa velocidade. Para que a imagem ficasse nítida, não podia haver movimento, como conta seu único filho ainda vivo, Carlos Frederico, de 87 anos. O arquivo de fotos do herdeiro é tão volumoso quanto a coleção de cartões-postais de João Emílio Gerodetti, com uma importante diferença: enquanto o colecionador corre o mundo à caça de reproduções. Carlos, ainda reúne num antigo laboratório de sua casa , no Jabaquara, Zona Sul da Capital, os negativos originais de fotos tiradas por ele e pelo pai. Dos cartões impressos em Lembranças de São Paulo, 17 têm a assinatura da família Preising. Folheando  livro, Carlos ainda se lembra de como algumas imagens foram produzidas. Em meio a um oceano de postais  , ele não tem dúvida em apontar: “Esta fui que fiz “.
Os Preising chegaram ao Brasil na década de 20. Primeiro o pai, depois mãe e filhos, entre eles Carlos, então com 12 anos. Theodor trouxe a profissão da Europa, onde fazia fotos de turistas na Alemanha  e na França. Até a década de 40, a família sobreviveu, e bem, às custas de cartões. A produção mensal ultrapassava 10 mil postais. Mas a entrada no Brasil na guerra, do lado dos aliados, em 1942, dificultou a vida dos Preising. Como todos os alemães que vivam por aqui, eles eram considerados espiões em potencial e foram proibidos de fotografar cidades.
Isso não impediu, porém, que continuassem exercendo seu ofício em outros cenários. Passaram a fotografar fábricas e a voltar as lentes para as plantações. “Fazíamos catálogos para a indústria e tínhamos a Bolsa de Mercadorias como grande cliente “, lembra o filho, que ainda conserva o inconfundível sotaque alemão.  Carlos parou de fotografar em 1978.  “Eu me enchi disso. Agora, deixo para os netos.” 

Fonte – DIÁRIO  POPULAR  - REVISTA  JÁ    pág  15     
      ano  3   -  n° 145      15/08/1999     






A beleza da militância & a militância da beleza de Angelina Jolie


Angelina Jolie está emprestando seu belo rosto para chamar atenção sobre uma campanha que busca conter a violência sexual em guerras. Na República Democrática do Congo, trinta e seis mulheres e meninas são estupradas por dia, em média. Enquanto você lê estas linhas mal traçadas, há uma delas pedindo socorro, muito longe, em vão. Desde 1998 totalizando 200 mil casos. Dois maracanãs lotados de mulheres violentadas. Serra Leoa, Bósnia  e Ruanda na lista. Síria, Sudão, no centro da África. Trezentas meninas , numa escola nigeriana, foram sequestradas e vendidas como escravas pelo Boko Haram, grupo islâmico, conforme foi noticiado recentemente pelas mídias internacionais. A opressão ao sexo feminino parece um plus a reforçar o domínio no meio da guerra que, em sua cruel essência, já vem recheada de mil violências  inimagináveis. Angelina vai a fundo, na sua análise, lembrando que esse tipo de violência provém de camadas mais profundas de uma cultura machista entranhada na sociedade, nas culturas, no mundo, desde muito tempo. Em todo estupro, em guerras ou não, cabe sempre aquela surda e desconcertante indagação: como pode um homem se excitar numa situação dessas e ir até os finalmente? Angelina Jolie, que já tem “anjo“ no próprio nome, poderia ser uma daquelas artistas amarguradas, deprimidas, pois teve um câncer de mama e teve que fazer cirurgia para retirar os seios. Um baque da vaidade. Muitas beldades se atirariam da sacada de seus apartamentos, por muito menos. Em vez disso, Angelina se empenha nas campanhas. Se for preciso, ela viaja até o fim do mundo (em todos os sentidos) para se encontrar com esse povo oprimido, no trabalho humanitário, correndo perigo de morte, em regiões africanas, com os refugiados, que já somam uns 52 milhões no mundo. Recentemente ela aparece no filme Malévola, onde se conta outra versão da estória da Cinderela. Se o diretor tentou fazê-la ficar feia  e má, não conseguiu: sua beleza transcende e ela rouba a cena da Cinderela - a personagem principal, pela tradição. Além disso, na versão, a bruxa, na verdade, ao contrário do que se pensa, é uma boa pessoa, fada que foi traída por um homem interesseiro e falso que corta suas asas  (haveria embutido nesse corte um símbolo de violência sexual?). Mas, na vida real, ninguém corta suas asas. Seus vôos pela ajuda humanitária não têm limites.  Eu já era fã, fiquei ainda mais. Brad Pitt, com quem se casou, é realmente um Lucky Guy. A que ponto esta insanidade das guerras! Não havendo Mais como pedir pelo fim dos conflitos – eles seriam inevitáveis - implora-se, ao menos, por uma forma mais civilizada de guerra, onde não se estupre as mulheres  do adversário. Deve haver regras para os conflitos, e o estupro está a infringir os princípios acertados internacionalmente. Se os homens precisam se matar uns aos outros, se a indústria bilionária das armas necessita despachar seus produtos, auferir lucros e empregos, pelos menos isentem as  mulheres da violência sexual. Ms Jolie pede na campanha: No sexual violence in conflicts. Guerras não são mais evitáveis? A campanha trabalha descartando essa hipótese, sendo realista e procurando salvaguardar aquelas que precisam existir para dar vazão às futuras gerações.

Fonte  - JORNAL  PÔR  DO  SOL    julho de 2014  
CINEMA   Maurício Pássaro , jornalista e escritor 


MEMÓRIA 
Martin  Luther   King




                 A busca pela liberdade
                 Ele lutou a vida inteira pelo fim do racismo.
                 Pastor da Igreja Batista, pedia mais amor
                 E compreensão nas manifestações ocorridas 
                 Nos anos 50 e 60. O mundo reconheceu seu 
                 Valor  e, em 1964, lhe deu o prêmio Nobel da Paz.

                                                Luther King : "Devemos responder ao ódio com amor"

No início, era apenas a palavra Deus. O pastor Martin Luther King Jr., da Igreja Batista da Avenida Dexter, em Montgomery, Alabama, acreditava que bastava levar a seu rebanho os ensinamentos de Jesus Cristo. Corria o ano de 1954, fazia um ano que Luther King tinha se casado com Coretta Scott, e estava prestes a receber o diploma de doutor em Filosofia pela Faculdade de Teologia de Crozer, o que conseguiu em março de 1955. 
Era a época também em que, dentre todos os aspectos do segregacionismo em Montgomery, o mais degradante era o regulamento da Companhia de Ônibus da Cidade de Montgomery. No dia 1° dia  de dezembro de 1955, Rosa Parks, costureira de 42 anos, cansada de um dia de trabalho, tomou um ônibus lotado ao voltar para casa. Por sorte, havia um único lugar vago na seção reservada aos negros. Quando mais passageiros brancos entraram, o motorista mandou que ela levantasse para dar lugar a eles. Mais por cansaço que por espírito revolucionário, recusou-se a ceder a poltrona.  Foi imediatamente presa. 
Esse episódio deu início à luta pelos direitos dos negros de Martin Luther King. Ele participou do boicote aos ônibus que, idealizado para durar um dia, se estendeu para 382 ! Sua presença as reuniões e seus discursos começara a criar vulto. A 30 de janeiro de 1956, enquanto fazia um desses discursos, avisaram-lhe que sua casa havia sofrido um ataque a bomba. Felizmente, ninguém se feriu. Uma multidão de negros, enfurecida, queria fazer justiça com as próprias mãos. Com diplomacia e sempre apelando para a paz, Martin conseguiu com que se acalmassem e depusessem as armas. Usou uma frase que repetiria muito durante sua vida: “Devemos responder ao ódio com amor". 
E o grande dia despontou. A 20 de dezembro de 1956, chegou a Montgomery a ordem da Suprema Corte, que declarava ilegal a segregação no ônibus. Era o fim do boicote que durou mais de um ano e a consagração mundial de Martin Luther King.

“Nunca estarei satisfeito até que a segregação
Racial desapareça da América“

Ele sempre foi uma personalidade polêmica nos EUA. Participou de inúmeras campanhas pela integração racial, como manifestações de protesto pelas segregações nas lanchonetes, Jornada pela Liberdade, manifestações pelos direitos civis, Marcha sobre Washington, Campanha de Registro de Eleitores e outras. Mesmo sendo evangélico, aproximou-se de Gandhi e apoiou suas ideias de não-violência. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1964. Quando foi recebê-lo, em Oslo, disse para uma numerosa platéia que só o aceitava para pôr fim à longa noite de injustiças raciais. Foi quando disse outra frase célebre: “Nunca estarei satisfeito até que a segregação racial desapareça da América". 


“Enfim livre  ! Graças a Deus Todo –Poderoso,
sou finalmente livre  !"

Em 1965, quando lutava pelo direito dos eleitores, foi preso pela décima vez. No dia 4 de abril de 1967, o pastor Martin Luther King levantou-se na igreja de Riverside, em Nova York, e fez seu discurso mais forte. Era contra a ação dos Estados Unidos no Vietnã. Incitou os negros a se recusarem ao serviço militar  “por motivos de consciência“. Atraiu, com isso, inúmeras críticas, sendo, até mesmo, acusado de falta de patriotismo. Essas campanhas faziam com que, constantemente, fosse ameaçado de morte, até que, de fato, ela aconteceu.
Exatamente um ano depois, Luther King estava reunido com seus auxiliares, no quarto 306, do primeiro andar do motel Lorraine, em Memphis. Organizava-se a grandiosa Marcha dos Pobres sobre Washington, o projeto mais ambicioso de King. Seu plano naquela reunião foi exposto: Levar 3000 negros pobres e brancos também para acampar num dos parques de Washington, e paralisar a vida da cidade até que o governo concordasse em dar início a um programa de reformas sociais.
O ponto final nessa história de luta pela liberdade foi dado pelo misterioso John Willard, branco, que o alvejou de um prédio em frente ao motel. King, depois de bater um papo descontraído com os amigos, perguntou ao chofer; “Jones, o carro está pronto ? Logo que Ralph acabar de se lavar, podemos ir“. Jones respondeu: “Está bem , mas é melhor o senhor vestir um casaco, porque está frio“.
Eram 18h01. No instante em que Martin Luther King levantou a cabeça para seguir o conselho do chofer, Wilard apertou o gatilho. O tiro pegou no pescoço e na cabeça.  King caiu sem um grito. Em seu túmulo, no South  View Cemetery, estão gravadas as palavras que ele pronunciou na Marcha dos Pobres. “Enfim livre, enfim livre ! Graças a Deus Todo-Poderoso, sou finalmente livre !"

Fonte – Revista Raça Brasil   págs 52 e 53     outubro de 1996 
POR  PEDRO AFFONSO 



Abalando corações e mentes    
Sem causar dor



Como ele conseguiu esse impacto que até hoje ecoa com tanta intensidade? Uma explicação não muito original seria que a  música e as letras de Bob Marley tocam o sentimento mais profundo de cada um ao expressar o que atormenta a sua alma e a alma de seu povo. A arte que dele emanava nunca era calculada para obter algum efeito sobre a platéia, ela só poderia acontecer daquela maneira e as pessoas sentiam isso.      
Sua popularidade foi crescendo pouco a pouco, com cada vez mais gente conhecendo e apreciando o dom volumoso, quase concreto, de uma inventividade absurda para uma música aparentemente simples. O palco  parecia ser a sua casa e era lá que ele ganhava em definitivo os corações e mentes de quem o assistia, com o seu estilo expressivo de quem sentia na alma cada palavra cantada, ao mesmo tempo que controlava o público da maneira como havia aprendido em anos de batalha na Jamaica. 
Depois que ele nos deixou essa popularidade foi ampliada de uma forma nunca vista. Tentou-se criar uma imagem que o colocava acima das  fraquezas humanas, numa espécie de culto que procurava amortecer o impacto das suas mensagens. A reação a tudo isso extrapolou os limites da credibilidade com os livros e reportagens feitos recentemente. Depoimentos confiáveis foram somados sem critério a declarações infundadas e o máximo que se conseguiu provar foi a constatação óbvia de que ele era um ser normal, com as suas virtudes e defeitos, ainda que dono de um talento único.
O certo é que toda a promoção em torno de Bob Marley foi criada a partir de uma base: a sua arte. E esta ninguém pode mudar. O que Bob Marley queria era abalar os alicerces da sociedade, fazer com que os oprimidos não apenas tomassem consciência de sua condição, mas também agissem para mudar a situação. E essa mensagem é passada não de um modo panfletário, mas de uma maneira positiva que envolve as pessoas com muito mais força do que qualquer manifesto. 
Para quem sente a música de Bob Marley bater com toda a sua força sem causar dor, qualquer homenagem parece pequena. Nestes 70 anos de seu nascimento, só podemos agradecer pelas suas obras, que continuam a nos inspirar e a nos fortalecer, figurando como um dos grandes legados do século passado.  

Fonte – Jornal AFROREGGAE n 17 agosto 95    
Léo Vidigal editor  Fanzine Reggae Massive

Que Figura                                                                                        
LA NEGRA                                                                              
Cantora Mercedes Sosa foi a voz que politizou uma geração argentina                                
     

                                                                                                 
Trecho da canção  "La Maza"

 “Se eu não acreditasse na balança
Na razão do equilíbrio
Se eu não acreditasse no delírio
Se eu não acreditasse na esperança"

Mercedes Sosa era mais do que uma cantora argentina, Mercedes era toda ela alma latina. Pontuou a música de uma geração que ajudou a politizar o meio da música. É um símbolo de uma época em que a Argentina clamava por liberdade. La Negra, como era conhecida, cantou a liberdade em tempos da ditadura militar em seu país.    
Descoberta aos 15 anos em um concurso de rádio,  consagrou-se internacionalmente nos EUA e Europa em 1967 e em 1970, com Ariel Ramirez e Felix Luna, gravando “Cantata Sudamericana” e “Mujeres Argentinas“. Gravou um tributo à chilena Violeta Parra.  
Censurada e perseguida na década de 1970, seus discos, carregados de crítica social, se converteram em um referencial durante o último governo militar argentino (1976-83) Sosa ainda demonstrou oposição durante os governos militares de diversos países da América do Sul nas décadas de 1970 e 80. A prisão aconteceu em um show para universitários. Libertada em 18 h depois, Sosa foi embora para a Espanha e depois para a França. O diretor musical da cantora, Popi Spatocco, disse que o exílio foi excessivamente difícil para uma  mulher que amava a Argentina. Sosa voltou para casa apenas em 1982, nos meses finais do regime ditatorial.
Dona de uma voz  imponente de  contralto, sua presença no palco bastava-se pelo talento e pelo visível prazer de interpretar grandes compositores latinos. Com poesia, La Negra foi a voz de tantos oprimidos.  

Nova Canção    
A preocupação sócio-política marca o repertório de Mercedes, tornando-a uma das grandes expoentes da Nueva Canción, um movimento musical latino-americano da década de 1960, com raízes africanas, cubanas, andinas e espanholas. 
No Brasil, Caetano Veloso , Gilberto Gil, Chico Buarque entre outros artistas, são expressões da Nueva Canción marcada por uma ideologia de rechaço ao que entendiam como imperialismo norte-americano, consumismo e desigualdade social. 
Fez parcerias com cantores brasileiros, com Fagner, Beth Carvalho e quase no fim da vida gravou a canção “La Maza“ ( A Marreta ) com Shakira. Além de muitos outros nomes que compartilharam do talento de Mercedes.
Sosa teve três de seus discos considerados os melhores álbuns de folk, na premiação do Grammy Latino – “Misa Criolla“, em 2000, “Acustico” , em 2003 e “Corazón Libre“ , em 2006. Ela também atuou em filmes como El Santo de La Espada sobre  o herói da independência argentina, José de San Martin. A cantora gravou mais de 70 discos , sendo o mais recente um álbum duplo, “Cantora“. Morreu em outubro de  2009, aos 74 anos, de problemas renais e respiratórios. 

Fonte – Revista Viração Ano 8 Edição 64
Fernanda Garcia do Vira jovem ( Campo Grande –MS )





Dra Zilda Arns, médica, pediatra e sanitarista, fundadora da Pastoral da Criança

“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas longe dos predadores  , das ameaças e dos perigos  , e mais perto de Deus  , devemos cuidar de nossas crianças como um bem sagrado  , promover o respeito a seus direitos  , e  protegê-los"  
                                             
Último parágrafo da palestra da Dra. Zilda Arns  Neuman
Em Porto Príncipe.

Reconhecimento.
Zilda Arns foi indicada quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz 
Recebeu 8 prêmios nacionais e 16 Internacionais, 
entre eles o de “Heroína  Mundial da Saúde Pública", 
Outorgado pela Organização Pan–Americana da Saúde  (Opas ), 
entidade da Organização Mundial da Saúde ( OMS ) 

Evaristo Arns, na época cardeal–arcebispo de São Paulo, recém chegado de uma reunião da ONU em Genebra, onde ouvira falar dos “ milagres “ operados pelo soro oral, - uma simples mistura de água, açúcar e sal - , considerado o maior avanço da medicina no século 20, capaz de evitar a desidratação provocada pela diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo
Ele ligava para pedir a ela, com a experiência adquirida ao longo dos anos de um combate pessoal para diminuir a morte prematura das crianças, pensasse na melhor forma de ensinar as mães brasileiras a preparar e administrar a seus filhos a mistura salvadora
Diante do desafio proposto, a Dra Zilda lembrou-se da metodologia que Jesus usou para saciar a fome de 5 mil homens , sem contar mulheres e crianças  , narrada na Bíblia. Ele pediu que a multidão fosse dividida em pequenos grupos de 50 a 100 pessoas  - portanto  , em pequenas comunidades  - antes de operar o milagre da multiplicação de dois peixes e cinco pães em alimento para todos.
Nascia assim a estratégia da Pastoral da Criança, um organismo social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fundada em setembro de 1983 sob a liderança de Zilda Arns com o objetivo de reduzir a desnutrição e a mortalidade infantil, e de promover o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos. 
Tive a segurança “ , contou a Dra Zilda na última palestra.-“ de seguir a metodologia de Jesus: organizar o povo em pequenas comunidades; identificar líderes, famílias com mulheres grávidas e crianças menores de 6 anos. Os líderes que se dispuserem a trabalhar voluntariamente nessa missão de salvar vidas  seriam capacitados, nesse espírito de fé e vida, e preparados técnica e cientificamente em ações básicas de  saúde, nutrição, educação e cidadania “ . 
O estímulo do aleitamento materno e a chamada multimistura – complemento alimentar rico em vitaminas e minerais, à base de farelos de arroz e trigo, folha de mandioca e sementes de abóbora, criado há três décadas pela pediatra e nutróloga Clara Brandão – também foram decisivos para a redução das mortes prematuras. É possível afirmar que em 26 anos de aplicação no Brasil, o método da Dra. Zilda também operou milagres  : não só diminuiu  a mortalidade e a desnutrição como educou mães, formou líderes, multiplicou conhecimento, semeou cidadania e vem sendo replicado em cerca de 20 países. Hoje , sem dúvida  , tal método é o melhor produto brasileiro de exportação.

NÚMEROS  DA  PASTORAL NO  BRASIL 
Em 1982 havia: 
50% de desnutridos 
82,8 mortes por 1.000 nascimentos 
Em 2009: 
3,1% de desnutridos 
13 mortes por 1.000 nascimentos 
Atendimentos  desde a fundação até hoje:
Crianças                                         1.895.247
Grávidas                                             108.342
Famílias                                           1.553.717
Comunidades atendidas                    42.000
Voluntárias: 260.000 ( 92% são mulheres )

Fonte – Revista Na Poltrona  Itapemirim   fevereiro  2010



Internacional 
A LIÇÃO DE  MALALA

A trajetória de Malala é extraordinária  sob vários aspectos. O Vale do Swat, onde ela morava com a família até sofrer o atentado, é uma das regiões tribais do Paquistão nas quais as meninas são obrigadas a se casar cedo, têm filhos aos 14 anos e onde vigoram os costumes como o swara  - a doação de crianças do sexo feminino  a partir  dos 5 anos  como forma de resolver conflitos entre clãs.  Malala  , a  única filha entre três irmãos, escapou desse gênero de destino graças à sua família que sempre apoiou sua vontade de continuar estudando. O  pai  Ziauddin Yousafzai, era dono de uma escola no Vale do Swat até o Talibã ordenar o fechamento, em 2009.
“ O Talibã acredita que a única educação que as mulheres devem  receber é religiosa  , todo o resto  deve ser rejeitado  “ , afirma Liest Gerntholtz, diretora da divisão de direitos  das mulheres  da ONG  Human Rights Watch. No Paquistão para cada 100 meninos que vão à escola, há apenas  82 meninas.
A família de Malala vive atualmente em Birmingham, na Inglaterra. A adolescente foi levada para lá depois do atentado para ser tratada num hospital especializado  no atendimento a feridos de guerra. A jovem cursa o equivalente  no Brasil à  9ª série do ensino fundamental num colégio local e pretende estudar medicina. Em setembro, sua história será publicada na autobiografia  Eu sou Malala, pela qual a adolescente recebeu o equivalente a 7 milhões de reais.  Em abril, ela anunciou a criação de um fundo que leva seu nome para promover a educação para meninas no Paquistão.

Palavras do seu final do discurso

“Nossos livros e canetas são as armas mais poderosas. Uma  criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a solução". 

Fonte  - Revista  Veja  24/07/2013   pág 69    NATHALIA  WATKINS 
Com reportagem de  Tamara  Fisch 


EM  CENA  
VERSATILIDADE
E  BOM  HUMOR

José Wilker dá mostras de sua sólida formação e experiência  , atuando no teatro , cinema e televisão.

José Wilker  , ator de teatro  , cinema  e televisão. Atuou em filmes de sucesso  como  : Bye bye Brasil  , Dona Flor e seus dois maridos  , Xica da Silva  e  , mais recentemente  , em Guerra dos Canudos, Pequeno dicionário  amoroso , entre outros  . Na televisão suas personagens  , em novelas como Gabriela , Roque Santeiro  , Corpo Santo  , Fera Ferida e A  próxima vítima  , são antológicas . Ainda na TV dirigi o humorístico Sai de baixo  . Iniciou no teatro  , na década de 60  , em Recife  , no Movimento de Cultura Popular  . Já no Rio de Janeiro  atuou em peças clássicas  como Ópera dos Três vinténs  . O arquiteto e o Imperador da Assíria  , O rei da vela  e dedicou–se  , também à direção de peças como Odeio Hamlet  , A morte e a donzela,  Mephisto  , Querida mamãe  . Com uma coluna fixa no Jornal do Brasil, escreve  , semanalmente , crônicas. Publicou recentemente uma compilação delas nos livros  : Como deixar um relógio emocionado.   

Por Roseli Fígaro: Você  , além de ator de televisão  , cinema  e teatro  , também desenvolve outras atividades  , tais como  direção e produção  . Como você começou  ?  Fale de seus primeiros trabalhos.

José Wilker: Eu comecei fazendo teatro -  coloco nessa ordem : teatro  , cinema e televisão  - num grupo que desconhecia o que fosse teatro e que tinha se organizado para fazer um tipo de atividade que era desconhecida para o teatro  , pelo menos entre nós. Trabalhávamos  em Recife  numa organização do Estado  , que se chamava Movimento de Cultura Popular, que ,  originalmente  , iria usar o teatro como suporte para a alfabetização de adultos. Auxiliávamos no processo de alfabetização e também no de politização  , porque não se dissociava o ensinar a ler da formação de uma visão de mundo. Para isso não havia dramaturgia, não havia nenhuma escola. Nós tivemos que inventar e produzir textos, direção  , interpretação , cenografia  , figurino. Isso resultou, também, numa formação bem diferenciada da formação padrão para atores e para o pessoal do teatro em geral

Desde que  , comecei a trabalhar como ator  , comecei também a trabalhar como autor, como produtor  , como diretor  , como cenógrafo  , como iluminador e como figurinista.

Quer dizer  , o teatro  nunca foi uma atividade na qual eu exercesse especificamente uma única função, mas foi um aprendizado no qual eu exercia inúmeras atividades  e ,  para mim  , teatro era o exercício de várias funções.

RCE : Esse Movimento de Cultura  estava ligado de alguma forma ao movimento de alfabetização vinculado ao Paulo Freire  ?

Wilker  : O MCP era uma organização  que reunia as mais variadas tendências políticas, filosóficas dos anos 60, em Recife.  Havia no MCP  departamentos que iam desde alfabetização até teatro, passando por cinema  , festas populares  , praças de cultura e assim por diante. O Paulo Freire participava desse movimento. Talvez o MCP tenha surgido a partir da  ideia do Paulo Freire  , associada  a uma ideia do Arraes, trazida da China  ou de Cuba. Na verdade é uma experiência antiga. Uma experiência  da Revolução Russa, começa com os Trens de Cultura de Maiakósviski e assim por diante. Nós pegamos isso e trouxemos para o Brasil dos anos 60.

RCE  :  Esse movimento teve que reflexo  ou ligação  com o movimento teatral que se desenvolvia  , no mesmo período  , em São Paulo e no Rio de Janeiro  , com  o Arena e com o Opinião  ?

Wilker  : O  Opinião é posterior aos MCP's e CPC's  - Centros Populares de Cultura  . O Opinião é resultado direto do amadurecimento do CPC da UNE. Nós  , inclusive  , chegamos a ter sérias divergências com o Arena e com o CPC da UNE, porque para nós, nós éramos radicais e o CPC era sectário. Não tínhamos  , por exemplo  , nenhuma preocupação em encenar  Dom Marcos Barbosa, no Natal  , ou encenar Guerel Hold, ou encenar a Paixão de Cristo  e o Paga não paga  , de Augusto  Boal , ou a Revolução na América do Sul, também do Boal, ou  O Alto dos 99%  , do CPC da UNE   e assim por diante . Não é que havíamos discutido e nos aprofundado sobre o assunto  , mas é que  , com o tempo   , começamos a gostar mais de fazer teatro do que fazer política  e o CPC gostava mais de política que de teatro  . Tínhamos nossas divergências porque era inconcebível para o CPC da UNE encenar Dom Marcos Barbosa, o Auto de Natal  . Para nós  , politicamente  , fazia sentido  , pois achávamos  que  podíamos apresentar para as pessoas qualquer tipo de teatro, desde que com o mínimo de qualidade estética .

RCE  : Como se deu sua vinda para o Rio de Janeiro e o desenrolar de sua carreira  ? 

Wilker  : Eu vim para o Rio em 1963 fazer um curso de cinema. Um curso que todo mundo fez  : Cacá Diegues  , Arnaldo Jabor  , João Bittencourt  , Joaquim Pedro  , Nélson Xavier. Durou quase um ano. A intenção era adquirir uma base de formação  , para voltar e instalar em Recife, um setor do MCP dirigido para o cinema  . Voltei, chegamos até a fazer dois documentários  que  , infelizmente  , sumiram num incêndio aqui no Rio, quando eles estavam sendo processados. O incêndio destruiu o laboratório e filmes. O primeiro projeto  longa–metragem estava sendo rodado em associação  com o pessoal da UNE , era Cabra marcado para morrer  , do Coutinho  , quando foi interrompido  pelo Golpe de 64. Também foi interrompido o MCP  , ou melhor  , foi fisicamente liquidado. Daí vim para o Rio  , não tinha mais o que fazer em Recife. Vim porque achava que aqui iria encontrar as pessoas com quem eu convivi  durante um ano. Quando cheguei descobri que aquele pessoal estava fugido ou preso  , quer dizer  , tão fugido quanto eu e mais preso do que eu. Tive  , então  , que encontrar uma forma de sobreviver  aqui no Rio  . Tentei algumas coisas  , tipo  trabalhar  num banco  , onde eu fiquei meio expediente  ; fazer pesquisa de mercado  , fiquei dois ou três dias  e fui  demitido, porque eu mesmo preenchia as pesquisas. Finalmente  , fiz uma peça de teatro chamada Chão dos penitentes  , era sobre Juazeiro do Norte  , onde nasci  . Esse meu primeiro contato com o teatro  , aqui no Rio  , me decepcionou profundamente  , porque  , até então  , acreditava num teatro cuja eficiência política podia comprovar  , ou pelo menos achava que era comprovável. De repente  , fazia teatro para uma platéia que pagava o ingresso e estava pouco ligando para aquilo que estava no palco. A peça não era essencial para ela; talvez o essencial fosse  o ritual de ir ao teatro , mas não o conteúdo do espetáculo. Vivi uns três  , quatro anos em crise até que finalmente resolvi deixar de ser ator. Para mim aquilo não fazia sentido  . Fui estudar Sociologia  na PUC – RJ, até que um dia  encontrei  , na  rua  , o Rubens Corrêa  , que me  deu um texto para ler  , apesar da minha relutância em fazer teatro. Mas , acabei lendo a peça  , era O arquiteto e o imperador da Assíria  , de Fernando Arrabal. Fiquei encantado.

Foi nesse período que descobri o encantamento pelo teatro  . Descobri que ele é essencial  , não pela sua eficiência política  , mas  pela sua eficiência para a alma  ; quer dizer  , uma espécie de serviço social da emoção  , uma  ação em favor da emoção  . Acho que ele é muito mais subversivo, muito mais encantador  , muito mais eficiente por esse aspecto. A partir daí fiquei fazendo teatro.

RCE  : O trabalho na televisão apareceu quando para você  ?

Wilker  : Televisão comecei a fazer por volta de 1971, justamente no intervalo entre O arquiteto  , de  Arrabal  , A mãe  , de Vit Levit, e a expectativa  de fazer um outro espetáculo no Teatro Ipanema que era a peça Hoje é dia de Rock. Foi no intervalo de um ano  . Eu estava desempregado  , recebi o enésimo convite da televisão  e  , finalmente  , resolvi aceitar, para fazer uma novela Bandeira  dois  , de Dias Gomes. Na época pensava em fazer uma novela e parar. Felizmente ou infelizmente  , continuei na televisão até hoje.

RCE  : Que papel a telenovela teve em sua carreira  ?

Wilker  : Quando comecei a fazer televisão  , fazia teatro havia dez anos e não tinha sequer conta bancária, não tinha nenhuma identidade civil. Precisava alugar  apartamento em nome de terceiros  , porque quando falava que eu era ator  , ninguém me alugava nada.  Dois dias depois  , de estrear na televisão   , tinha uma conta bancária e era uma pessoa reconhecida nacionalmente. Minha primeira reação foi me sentir o dono do mundo, achar que podia tudo. E isso  , durou aí uns dez meses  , um ano  . Fiquei com uma sensação de super–poder  , de impunidade  , de grandeza  , uma bobagem monumental. Depois  fui me aquietando  , até porque  , tive a sorte de , logo em seguida  , ter feito muito cinema , de qualidade e de sucesso  , não por minha presença evidentemente. Digo de qualidade porque tinha num extremo Os Inconfidentes  , de Joaquim Pedro  ; e quatro anos depois  , no outro extremo  , Dona Flor e seus dois maridos  , de  Bruno Barreto. Neste período  , também fiz teatro  e ganhei muitos prêmios. 

RCE  : Voltando ao tema da telenovela  . É evidente a diferença da telenovela brasileira para a soap–opera americana, e  para as novelas mexicanas e venezuelanas. Você atribui isso à influência da linguagem do cinema sobre nossos diretores e autores  ?

Wilker  : Não , aqui é ao contrário . A televisão americana surgiu num país com um cinema muito sólido  , com um cinema reconhecidamente importante  ;  e a televisão americana imitou o cinema  , imitou o ponto de , até hoje  ,  não se usar o vídeo  ; eles usam o Betacam  ( formato broadcast de gravação para vídeo  ) , para fazer a soap–opera e para os seriados americanos. Uma boa parte da produção de primeira linha americana é feita em 35 mm e o formato da televisão americana é claramente inspirado no cinema  . Aqui a televisão surgiu num país com cinema frágil  , com um cinema que inclusive imitava o teatro e o rádio  . A televisão surgiu imitando o teatro e o rádio  . A dramaturgia da telenovela veio do rádio. Muitas novelas que a televisão exibiu foram exibidas anteriormente no rádio. Houve um acidente de percurso com a telenovela que foi o seguinte  : no começo dos anos 70  , a Globo importou umas cameretas para transmitir o Carnaval,  eram as globetes, as câmeras japonesas portáteis I–Kegami  . Quando acabou o Carnaval elas foram para a produção de novelas. Com isso adquiriu–se uma agilidade de narrativa  que com a câmera RCA  , grandona  , de torre  , não era possível. As RCA's trabalhavam com três lentes  , um trambolhão  , para transportar era um sacrifício  . De  repente  ,  tinha–se uma camereta  , livre, uma camereta e um vídeo  . Então  , a  telenovela adquiriu uma agilidade de narrativa visual muito grande.

O cinema perdeu imensos espaços nesse tempo todo para a televisão  , porque ele ocupou inteiramente o espaço do melodrama. Ao cinema  restou  , durante um período  , a pornô chanchada  , durante outro  , o filme histórico , aqui e ali  , a imitação do filme policial norte–americano. 

Só muito recentemente nos demos conta de uma necessária associação da TV  com o cinema  , do cinema com a TV  , para se tentar encontrar uma linguagem para o cinema brasileiro. A televisão em nosso país  , ao contrário da televisão mundial que só inventou o videoclipe como linguagem  , acabou por encontrar sua linguagem na  teledramaturgia. 

Fonte  - Revista Comunicação & Educação
São  Paulo n° 9     maio /agosto  1997
ECA - USP   -Editora Moderna págs 49  a 56  por Roseli Fígaro





Um Ícaro brasileiro em Paris 

Volta na Torre Eiffel em 
19 de outubro  de 1901 foi
apenas uma das façanhas
ae Santos  Dumont

Henri Deutsch de la Muerthe era um magnata do petróleo francês que tinha muitas veleidades  estéticas. Era, por exemplo, autor de uma ópera chamada Icarus. Era também presidente do Aero Club, a entidade que em 1901 lançou um prêmio  com seu nome, o Deutsch Prize, para quem fizesse um voo controlado de meia–hora  ao redor da Novíssima Torre  Eiffel, construída em Paris para a exposição mundial de um ano antes. E no dia 19 de outubro, há mais de um século, um dirigível conhecido simplesmente como n° 6 venceu o desafio. Era pilotado por um Ícaro brasileiro, Alberto Santos Dumont  (1837-1932 ).
O voo não era nada fácil. Diversos outros fracassaram, não poucos morreram. Santos Dumont tentou uma, duas vezes. Na terceira, teve de deixar o cesto e subir pelo cordame para ajustar o motor que começava a engripar. A multidão  lotava Paris lá embaixo e prendeu a respiração. Quando o n° 6 completou a volta, ela irrompeu em festa, Santos Dumont, naquela meia-hora, se sentiu como herói de algum dos livros de Jules Verne que lia quando criança, acreditando na realidade daquelas  aventuras. 
Essa história que completa agora cem anos mistura todos os ingredientes da época, ou melhor, da Belle Époque. Homens de toda a parte do mundo fascinados  com a novíssima engenharia de aço e combustão, aplicada à realização  de aventuras que só constavam de livros  e óperas. Aquela mistura de petulância, riqueza, estética e ciência se traduzia em Santos Dumont como em poucos. Ele foi um dos exemplares mais curiosos da Era Mecânica, com a sanha do pioneirismo e um talento único para o design
No entanto, é muito menos lembrado do que merecia. Fora do Brasil, na verdade, é mais fácil encontrar quem o conheça como criador de um objeto que é trivialíssimo  no cotidiano de todo o mundo: o relógio de pulso. Foi ele quem teve a ideia  - tida antes, na verdade, na Inglaterra  do período Tudor, mas mais como um bracelete com relógio - e a deu como presente para a Cartier, que logo a transformou em produto comercial. Santos Dumont era um francês em quase todos os aspectos  - nas roupas, nos pensamentos, nos hábitos sofisticados  - , mas antecipou o descaso brasileiro para o patenteamento, que perdura até hoje. 
A escritora inglesa Nancy Winters, por exemplo, ouviu o nome Santos Dumont a primeira vez como o de uma linha de relógios da Cartier. Quis saber mais sobre ele e se encantou com sua história, que levou para a pequena charmosa biografia Man Flies  - The Story of Alberto Santos - Dumont  ( ela usa o nome com hífen ), publicada em 1997 pela Eco Press. “Não apenas Santos – Dumont  inspirou o relógio da Cartier“, escreve no livro, um dos poucos bons livros sobre o aviador, mas também – como tudo mais que usava - o pôs na moda  “Dândi, playboy, o brasileiro é visto por Winters como um filho da aristocracia cafeeira que foi exibir seu gênio criativo em Paris.
No Brasil, onde poucos sabem que Santos – Dumont inventou o relógio de pulso  - e onde pouco se lembrará a data voo pioneiro de seu dirigível  - ele, costuma ser lembrado como “O Pai da Aviação“. Há uma imprecisão aí. Ele foi “um dos pais da aviação“.  Quando fez seu voo com o 14-Bis, ele foi considerado o primeiro voo de um objeto mais pesado que o ar. Mas é que Santos Dumont estava na cidade que era o centro do mundo moderno, Paris. Mais tarde, ele e todo o mundo saberia que os irmãos Wright, americanos, o tinham precedido, tal como considerados nos mais diversos países. 
Mas isso, não tira sua importância, mesmo porque suas façanhas não se resumiram a essa. E não desculpa que seja tão ignorado no mundo e em sua casa, onde apesar do título de inventor do avião, é um Santos que só faz milagre. 
Nancy Winters o chama entre outras coisas, de “mestre do balão". Desde criança era fascinado por máquinas, como as moedoras de café da fazenda de sua família. Quando chegou a Paris aos 18 anos, já era um craque em mecânica. Sete anos mais tarde, 1898, consegue fazer um motor a petróleo voar até uma árvore. Logo depois, cria seu primeiro balão, que batiza  de Brazil,  e o  dirigível nº 1, um charuto de estrutura  não-rígida  de 25 metros de comprimento  e um motor feito com partes de motores de motocicleta. 
O dirigível  com que daria volta à torre, três anos mais tarde, tem estrutura semi-rígida, motor com radiador de água baseado em design da Daimler – Benz,  comprimento de 33 metros. (Mais tarde o n° 6 bateria durante voo em Mônaco e seria reconstruído). Aos poucos ele ia aperfeiçoando a aeronave. O pequeno nº 9 , de 11 metros, era mais para lazer, mas voou ao longo do Sena. O seguinte  nº 10, teve 44 metros de comprimento, mas só foi usado em testes. 
Talvez a esta altura a cabeça de Santos-Dumont já estivesse mais interessada em outro tipo de  voo. Entre 1905 e 1906 fez planador, helicóptero e um híbrido de planador e dirigível, o nº 14, mais pesado que o ar, mas que apenas planou sem motor. Foi então que desenvolveu o 14 –bis, um bi-plano que ganhou o Archdeacon Prize pelo (suposto) primeiro voo com aeronave mais pesada que o ar. Outros biplanos, híbridos e até um hidroplano ( que flutuou mas não decolou  ) seriam construídos com destaque para o Dragonfly  ( libélula, uma espécie  de precursor do ultraleve ) – nenhum com o sucesso do 14-bis, com o qual chegou a voar a 200 metros de altitude. 
Atormentado por ter perdido o “duelo“ com Wright, Santos Dumont perambula pela Europa e volta ao Brasil, onde começa a montar a famosa casa. A Encantada, em Petrópolis, repleta de suas invenções, como a escada de meio-degrau para ajudar a sua perda de mobilidade. Mas vivia boa parte do tempo ainda na França, onde as homenagens acentuavam a sensação de ser considerado ultrapassado, ainda que continuasse inventando coisas  (como um motorzinho para auxiliar esquiadores a subir as colinas ) e alimentando projetos.     

“Para Santos Dumont, o engenho técnico sempre foi motivo de esperança no homem”. 

Fonte – O Estado de São Paulo  - 14/10/2001  Geral    A 15     Daniel Piza 


CARTÃO – POSTAL REVELADO 

Monumento  mais  visitado do mundo  , são seis 
Milhões de turistas por ano  , a Torre Eiffel é 
Uma obra-prima da engenharia mundial  .
Confira abaixo alguns números relacionados  
A esse símbolo da capital francesa  .
10.100 toneladas 
É o peso da construção 
60 toneladas de tinta 
São utilizadas cada vez que o monumento é repintado  , o que acontece em cada sete a dez anos 
7,7 milhões de kWh  
É a energia consumida anualmente pela Torre Eiffel  , o equivalente a uma vila de cem casas 
6 milhões 
É o número de turistas que visita  anualmente 
Esse símbolo de Paris 
30 mil lâmpadas 
São utilizadas para iluminar o monumento 
324 metros de altura 
É a altura da torre contabilizando  a 
Antena instalada no 3° andar 
25 mil sacos de lixo 
São utilizados por ano pelas equipes de limpeza  ,
Que gastam quatro toneladas de panos e toalhas 
De papel para manter a Torre brilhando 
2 anos  , 2 dias e 5 meses 
Foi o tempo de construção da Torre Eiffel 
100 viagens 
São feitas pelos elevadores diariamente  , a uma velocidade de 2 m/s  , e com uma capacidade de 7 toneladas cada um

Fonte Revista França Brasil
MARÇO /ABRIL 2009  pág 72




JOÃO UBALDO RIBEIRO 
UM CONTADOR DE  HISTÓRIAS BRASILEIRAS 

Autor de romances célebres, escritor baiano retratou cores e contradições do país irreverência

Nos últimos anos, João Ubaldo Ribeiro jurava que já não conseguia andar cinco quarteirões sem ser abordado pelos seus vizinhos leblonenses, incluindo algumas queridas, “coroas da Ataulfo de Paiva“. Amado pelos leitores, disputado por jornalistas e embaixadores, recebendo  “um a dois convites por dia“ para entrevistas e feiras literárias, o escritor construiu uma imagem ambígua de si mesmo: assim como aceitava sua própria celebração  ( “ Eu adoro elogio “, brincou numa entrevista em 2000 ), também fazia questão de desfazer as teorias pomposas sobre seu talento e sua obra. Aos críticos que apontavam sua contribuição ao debate sobre a identidade nacional, rebatia: “Não temos esse problema no Brasil“. Aos que viam em seu monumental  “Viva o povo brasileiro“ uma nova etapa da nossa literatura, ironizava: “Só queria escrever um livro grande“.  E ai de quem reverenciasse com palavras complicadas os seus dotes romanescos: “ Sou apenas contador de histórias  “. 
No fundo, Ubaldo gostava mesmo era de desmontar as teses prontas sobre o Brasil e a “brasilidade “, recusando-se a incluir suas obras  em qualquer representação redutora e definitiva sobre o país. E , diga-se de passagem, também tinha muito pouca paciência para responder às mesmíssimas perguntas sobre o seu – caótico – processo criativo. “ As glórias que os nossos contemporâneos lançam sobre nós  , às vezes  , são bem mais efêmeras do que nós gostaríamos “ , disse  uma entrevista.

TRADUTOR  DA  PRÓPRIA  OBRA 

A notoriedade literária, porém , chegou muito cedo para o baiano de Itaparica, pequeno município localizado numa ilha na Baía de Todos os Santos. Acabara de completar 30 anos quando seu segundo romance, “ Sargento Getúlio “ , publicado em 1971  ( mas elaborado ao longo de toda a década de 1960 ), colocou–o para sempre entre os grandes do país. Espécie de “ autobiografia fantasmagórica “ ( segundo o próprio autor ), a narrativa renovou o romance testemunhal brasileiro ao mergulhar  no mundo interior de um jagunço,  escancarando de vez a transição entre o Brasil mítico regional e o Brasil racional urbano. Vencedor do Jabuti no ano seguinte, “ Sargento Getúlio “ confirmava as principais qualidades de um autor ímpar: a arte de desconstrução, o sentido da irreverência, o gosto inexorável pelo risco e a  experimentação. 

Tais qualidades se confirmaram 13 anos mais tarde, quando Ubaldo  marcou novamente seu lugar na história da literatura nacional com “ Viva o povo brasileiro “. Recheado de humor, o livro recria quase quatro séculos da História do país, incluindo episódios marcantes, como a Guerra do Paraguai  e a Revolta dos Canudos, a partir da vida de personagens anônimos do povo brasileiro. É um dos seus maiores sucessos: vendeu mais de 200 mil exemplares, foi traduzido  para o inglês  pelo próprio autor, e depois ganhou versões em vários idiomas. 
Ubaldo, aliás foi um dos escritores brasileiros mais traduzidos no exterior, com livros lançados em alemão, dinamarquês, espanhol, finlandês, francês, holandês, hebraico, italiano, esloveno, norueguês e sueco.
- A obra dele talvez não tenha alcançado o reconhecimento que deveria  - opina Roberto Feith, diretor da Objetiva, que desde 2008 relança pelo selo Alfaguara a obra de Ubaldo. – O “ Viva o povo brasileiro “ é um livro único, que reflete  as nossas  , paixões, nossas tragédias. João era de uma inteligência feroz, de uma cultura muito ampla, tanto que dominava diversas línguas  , e tinha um domínio tão grande do inglês como do português, tanto é que traduziu para o inglês algumas de suas obras. 
Formado em Direito pela Universidade da Bahia em 1962  , Ubaldo jamais advogou. Ele fez pós–graduação em Administração Púbica pela mesma instituição e mestrado em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA. A formação literária do escritor começou já nos seus primeiros anos de estudante.  Ele foi um dos jovens autores que participaram do International  Writing Program da Universidade de Iowa. A  publicação de seu primeiro romance, “ Setembro não faz sentido “ , em 1968, contou com um empurrãozinho de Flávio Moreira da Costa, que havia recebido os originais pelas mãos do cineasta Glauber Rocha, baiano como Ubaldo e um amigo reverenciado ao longo dos anos. 
- O Glauber me falou de um amigo que tinha escrito um romance  - lembra Moreira da Costa. – Ele me entregou os originais do livro, que primeiro se chamaria  “Semana da Pátria “ , título perigoso na época da ditadura. Levei para casa, li , gostei , escrevi um parecer e apresentei ao editor José Álvaro. Assim João Ubaldo começou sua belíssima carreira literária. Quando ligava para ele, eu dizia: “ Como vai a melhor gargalhada  do Brasil ? “ Agora já sinto falta de suas gargalhadas nesta realidade cada dia mais sem graça. 
Esses  risos da vida volta e meia  eram transferidos em forma de ironia para a sua obra. A vasta produção de Ubaldo inclui dez romances adultos, contos compilados em dois livros , três obras  infanto juvenis  , um ensaio político, adaptações para TV  e cinema e uma série de crônicas que o autor publicava  em jornais há décadas  - escrevia no GLOBO  como colunista fixo desde 1993. São dele sucessos como “ O sorriso do lagarto “ ( 1989 ) e “ A casa dos budas ditosos  “ ( 1999 ). Em  1994  , foi eleito para a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras  ( ABL ) ,.  Em 2008  , recebeu o Prêmio Camões  , a maior distinção lusófona. 

ENTRE  RIO  E  ITAPARICA 

Por mais que costumasse renegar a ideia de que sua literatura ajudasse a compreender a identidade brasileira. Ubaldo se tornou célebre  pelas crônicas em que tratava de temas variados , sobre o país  , do futebol a política  . O Ubaldo cronista se aproximava do ficcionista  na irreverência e no olhar sobre personagens brasileiros  . Era  , no fundo, um estudioso  da identidade nacional  , mas conduzia seus “ estudos  “ dos botecos do Leblon, o bairro carioca que adotou quando se mudou para a cidade, em 1991 , e pelo qual não se cansava de declarar sua paixão, ou sob a lente de sua idílica Itaparica. Falava de amigos ilustres  Jorge Amado  e Rubem Fonseca entre eles – e de outros que se tornavam célebres em suas palavras  , numa síntese perfeita para um escritor que, num mesmo dia, poderia trocar o fardão da ABL  por camisas largas e sandálias pelas ruas do Rio. O mais surpreendente na personalidade do João Ubaldo era a maneira simples de ele vagar  pelo Leblon, conversando com o dono da banca de jornal e o garçom do botequim   com a mesma tranqüilidade que se sentava com o Rubem Fonseca ou  um ou outro colega da ABL  - lembra o editor Marcus Gasparian, sócio da livraria Argumento, onde fica o Café Ubaldo, em homenagem ao escritor.

Fonte Jornal  - O Globo – 10/07/2014     NA WEB  ACERVO – O GLOBO glo.bo/lo RXPHX  
Aos  20 anos  , Ubaldo era notícia na seção  “ Porta da Livraria “






   
   Pierre Verger, Jorge Amado e Caribé Bahia



Pierre Verger, o mais    
Baiano dos franceses 
 
Cerca de sete mil turistas franceses são esperados hoje em Salvador para o jogo de sua  seleção contra a Suiça, pela segunda rodada do Mundial. Nenhum deles, contudo, se sentirá tão à vontade na cidade quanto um etnólogo e fotógrafo nascido em 1902, em Paris, que passou boa parte de 93 anos na capital baiana. Pierre Verger, “o mais baiano dos franceses” nas palavras de Jorge Amado, teve sua trajetória alterada e entrou para História de Salvador.
Verger chegou ao Brasil em l946. Na época, ele já desenvolvia e era respeitado pelas fotografias de viagens ao redor do mundo, mas ainda assim resolveu tomar Salvador como moradia, ao se encantar com a hospitalidade do povo. 
- Ele morava numa casa humilde, em que só havia uma cama de ferro, um banheiro de fossa turca e uma estante. Era uma pobreza franciscana – afirma o antropólogo baiano Renato da Silveira. 
Já baseado na capital baiana, Verger descobriu o candomblé e teve um papel fundamental para o estudo das religiões afro-brasileiras. Em l948, viajou para a África para estudar as relações culturais entre a Costa do Benin e a Bahia, resultando na publicação de “Dieux d`Afrique" seu primeiro livro.  
- Ele estimulou a aceitação do candomblé. Foi a pessoa mais entendida da cultura africana na Bahia - afirma Laurent Canovas, cônsul honorário da França em Salvador.  
Verger morreu em 1996, na Salvador que tanto amava. Deixou como herança uma fundação que leva seu nome e que dá continuidade a seus estudos. Há também uma galeria no Centro Histórico, onde os milhares de franceses que estão na cidade podem conhecer um pouco da obra desse francês baiano.

Fonte: André Miranda
enviado especial
O Globo - Especial - jun / 2014




Homenagem

Reverência em bronze aos 
Irmãos Rebouças   

Engenheiros que revolucionaram a construção civil e 
lutaram contra a escravatura ganham bustos na Lagoa    
  
A contribuição dos Irmãos André e Antônio Rebouças para o Rio agora será lembrada para sempre. A prefeitura inaugurou bustos em homenagem aos dois na Praça José Mariano Filho, na entrada do Túnel Rebouças, do lado da Lagoa Rodrigo de Freitas. As peças foram confeccionadas pelo escultor Edgar Duvivier. A data de inauguração não foi por um acaso: 13 de maio, quando se comemorou os 126 anos da abolição da escravatura no país. Netos de um alfaiate português de uma escrava alforriada, engenheiros formados pela Escola Militar, os irmãos Rebouças eram negros e participavam das campanhas abolicionistas
Cada busto de bronze pesa cerca de 30 quilos. A homenagem foi um pedido do Clube de Engenharia do Rio. Mas a notoriedade dos irmãos Rebouças é reconhecida não somente no Rio. Em São Paulo, a Avenida Rebouças foi nominada em alusão ao grande feito de ambos no passado. Porto Alegre, Curitiba, além de Rebouças (Paraná) são outras cidades que decidiram reconhecer a trajetória de André e Antônio no século XIX.  
Os irmãos Rebouças foram os responsáveis pela construção de estradas de ferro e cais de portos e introduziram a técnica do uso do concreto armado no Brasil. Atribui-se a eles a execução da primeira ponte com essa tecnologia, em 1875, em Piracicaba (São Paulo).  
O artista Duvivier é o autor de outros monumentos da cidade, como a escultura em bronze da Princesa Isabel, inaugurada há 11 anos, em Copacabana.

OBRA MAIS IMPORTANTE 
DESTE ENGENHEIRO 
NÃO FOI FEITA COM  CIMENTO, 
NEM FERRO.
    
André Rebouças, foi uma das mais expressivas personalidades brasileiras. Mas pouca gente sabe disso.   
Foi um dos melhores engenheiros do Brasil. Um profissional sempre atento às inovações, que introduziu e aplicou no país avançadas tecnologias de construção, como o emprego pioneiro do cimento.   
Nas obras do porto do Rio de Janeiro, utilizou técnicas que somente mais tarde seriam adotadas no porto de Nova York.     
Participou ainda dos projetos portuários da Bahia, Pernambuco, Paraíba e Maranhão. Construiu ferrovias e rodovias essenciais, nestes e em outros estados. É também de sua autoria o primeiro sistema de abastecimento de água do Rio de Janeiro, obra de nível técnico tão elevado que suas represas continuam em funcionamento, mais de um século depois da construção. Mas a sua obra mais importante não foi feita com cimento, nem ferro.  
Homem de espírito progressista, André Rebouças esteve sempre empenhado no desenvolvimento brasileiro. Como jornalista, através de sua combatividade na imprensa; como professor, lutando pela modernização dos Cursos de Engenharia; ou como empresário de larga visão.  
Um dos Fundadores do Clube de Engenharia, defendeu o  exercício da profissão no Brasil, por engenheiros brasileiro. Mas foi principalmente como abolicionista que André Rebouças deu a sua maior contribuição.  
Primeiro engenheiro brasileiro descendente de negros, nascido na Bahia, foi um obstinado militante da causa abolicionista.  
Promoveu Conferências, publicou artigos na imprensa, organizou e participou de vários movimentos que conduziram à assinatura da Lei Áurea, muitas vezes confrontando-se diretamente com os escravocratas. Dedicou-se de tal forma que chegou a empregar até seus próprios recursos financeiros nesta causa.     
Para ele, Abolição era mais do que liberdade. Era vida digna, direitos civis, acesso à educação.  
André Rebouças fez tudo isso. E continua esquecido.   
Agora, o Clube de Engenharia está procurando resgatar essa dívida com um ciclo de eventos.     
Centenário da Abolição, Sesquicentenário do nascimento de André Rebouças, Homenagem da Odebrecht.

Fonte: O Globo
13/05/2014


Em fevereiro de 1846 a família Rebouças emigrou para o Rio de Janeiro, indo morar num sobrado da rua  Matacavalos  (hoje rua Riachuelo).  
Os primeiros, tanto André como Antônio fizeram com o pai. No Rio frequentou o colégio de Camilo Tertuliano Valdetaro, no Campo de Santana. Passaram ambos em 1849 para o Colégio Curiácio, onde iniciaram o latim, traduzindo a Elegia de Ovídio.   
A década dos cinquenta foi muito importante para o jovem André. Enquanto estudava grego no colégio, preparava-se com o irmão Antônio para o exame de admissão da Escola Militar, onde ingressaram ambos em 15 de março de 1854. Em 20/01/1855 sentaram praça no 1º Batalhão de Artilharia a Pé. Essa unidade foi “ceifada pelo cólera morbus", numa primeira invasão no Brasil, ocorrendo em várias cidades; muito grave em Salvador.
Recruta em 1856, monta guarda no Paço da Cidade, participa de desfiles e marchas. Começa aí sua atividade didática, como se lê no Diário, no dia 02/12/1857. Nessa data  é promovido a 2° tenente do corpo de engenheiros. Diz–se grato ao Ministro da Guerra Jerônimo Francisco Coelho porque a promoção foi muito disputada, “apesar de ocupar com o meu irmão os primeiros lugares da lista enviada pela Escola“ (o grifo é nosso).   
Em 1858 duas anotações em contraposição: um grau 9 em Botânica com o professor Francisco Freire Alemão, e uma recusa da Academia da Marinha em aceitá-lo como aluno. Certamente foi-lhe a matrícula denegada por preconceito racial, que substituiu muitos anos na Armada. Ele não se irrita e registra apenas, brandamente, que “Congregação da Escola da Marinha decidiu que só fossem aceitos os formados nessa Escola“.   
Essa mansidão repete-se inúmeras vezes no Diário. Em compensação nos trabalhos escritos veremos violência e ataques desabridos em flagrante contraste com posições de suas fases mais jovens. A impressão que se tem é de que uma série de recalques se acumularam  e adensaram na mente, explodindo mais tarde em diatribes e agressões incontidas. 
Vedada a Marinha ele se matricula em 04/02/1859  na Escola Militar de Aplicação, onde tem como professor o tenente-coronel José Carlos de Carvalho que será seu comandante na Guerra do Paraguai, e Justiniano José da Rocha, jornalista destacado. Bacharelou–se em Ciências Físicas e Matemáticas  em 07/04/1859  e recebeu o grau de engenharia militar em 01/12/1860.  
Sua classificação, bem como de Antônio, havia sido excepcional, de sorte que requereu estudos na Europa, como facultava o Regulamento, para se dedicar à Engenharia Civil, à custa do Estado. Foi-lhe negado. Mas ele viajou, com o irmão, às expensas do pai, recebendo apenas o soldo, como se tivesse permanecido na Escola Central.   
Partiu para a França em 08/02/1861, parando na Bahia, e chegando a Paris em 24 de março. Informa no Diário que se hospedou na mesma pensão em que se alojava um primo de Honório Bicalho, que nessa capital fizera um curso de engenheiro de Pontes e Calçadas. Rebouças participaria  com Honório, em 1880, de uma mesma comissão técnica: a que vistoriou os acidentes do reservatório D.Pedro II (Pedregulho), em construção a cargo do então tenente–coronel Jeronymo Rodrigues de Morais Jardim, acontecimento de repercussão na corte,  que atraiu, inclusive, o interesse do imperador. André teve sempre de Honório Bicalho muito bom conceito, tanto que, em outubro de 1866, quando foi nomeado em Zacarias para assumir as obras da Alfândega, em substituição ao engenheiro Charles Neate, de quem voltaremos a tratar, um dos nomes por ele sugeridos ao ministro para o cargo de ajudante é precisamente o de Honório Bicalho.   
A permanência dos dois Rebouças, Antônio e André, na Europa em missão de estudos, cumpre eficazmente sua finalidade: visitam obras numerosas, instituições de ensino, fábricas, arsenais e portos. Na França passaram por Bordeaux, Tours, Vannes, Lorient, Decazeville, Cette, Bayonne, Marselha, Boulogne, e Calais, sempre estudando, observando e anotando. Três memórias resultaram desses estudos e visitas: “Memória sobre as fundações com ar comprimido da ponte Lavulte sobre o Ródano“. Estudos sobre caminhos de ferro franceses“ sobre portos de mar“, todos publicados no Rio de Janeiro em pequenos volumes isolados.   
Na Inglaterra visitam os Rebouças Londres, Liverpool e Manchester, sempre ávidos de ensinamentos e informações. Na capital avistam–se com nosso Ministro Carvalho Moreira, Barão de Penedo.  Não tínhamos embaixadores no Império; tivemo–los na República, com Joaquim Nabuco em Washington, nosso primeiro representante com essa qualificação.  Penedo convidou-os a fazerem  parte da Comissão Brasileira à Exposição Internacional de Londres; ambos se integraram em nossa representação, dando relatórios que foram escritos na Legação.   
Foi em Londres, em “visitas repetidas às docas, especialmente com aparelhos de reparação de navios de Edwin Clark“ que André, fazendo esforços para “inventar modificação ao aparelho Clark“, teve as primeiras ideias dos “diques múltiplos“. Ele anota que fez “experiências em presença do Imperador a 02/04/1864“.   
O restante do ano de 1862 foi empregado em redigir relatório da viagem à Europa, conforme determinação do ministro da guerra, general Polidoro da Fonseca. Quintanilha Jordão e efetuar visitas técnicas de prospecção, em companhia de amigos (Saldanha da Gama, de quem foi sempre muito afeiçoado, e o Dr Antônio Maria de Sá e Benevides).   
O ano de 1863 ficou assinalado na vida de André e do país; a ocorrência da ominosa questão Chrüstie. O ministro da guerra nomeou os dois irmãos para vistoriarem nossas fortalezas de Santos a Santa Catarina, e efetuarem obras militares. Eram providências determinadas pelo governo, receoso de que a questão com a Inglaterra pudesse degenerar. Em Santa Catarina os Rebouças realizaram o primeiro serviço de caráter verdadeiramente profissional: obras na fortaleza de Santa Cruz. André passa a residir na ilha de Anhatomirim. Mantém o ministro informado, o mesmo fazendo com o presidente da província Pedro Leitão da Cunha. Sua assistência à obra é assídua e permanente, características que manterá sempre com muita constância. 
   
Fonte – André Rebouças e seu tempo  de Sydney M. G. dos Santos  CIP do Brasil – Catalogado na fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros Rio de Janeiro  584 pág, 1985 Rio de Janeiro

   
Irmão mais moço do célebre engenheiro André Rebouças, com ele às vezes confundido por ser obscurecido, Antônio Pinto Rebouças nasceu também em Cachoeira (BA). Como o seu irmão formou–se  pela Escola Central e foi depois  à Europa em viagens de estudos. Tendo se especializado em obras ferroviárias. Colaborou intensamente com o irmão André nas obras da Doca da Alfândega e da adutora do Rio do Ouro, no Rio de Janeiro, dedicou–se, no entanto, mais a obras de estradas.   
“O mais ousado dos nossos exploradores“, como o chama Ademar Benévolo, explorou a estrada Curitiba–Guarapuava até o Rio Ivaí (1868), a Antonina–Curitiba (1871), construiu grande parte da famosa Estrada da Graciosa e, principalmente, estudou e projetou o notável traçado da linha Paranaguá–Curitiba que, no entanto, não chegou a construir. Trabalhou depois para a Companhia Paulista, em que cujas obras de prolongamento veio a falecer de malária. Sua morte prematura, aos 35 anos, cortou a carreira de quem ainda tinha, certamente, muito a realizar. 
Publicou diversos trabalhos técnicos, entre os quais “Memória sobre as fundações com ar comprimido“ (1861), “Vias férreas estreitas“ (1871) e “Estudo comparativo das vias de comunicação com Mato–Grosso“ (1872).

Fonte: HISTÓRIA DA ENGENHARIA FERROVIÁRIA NO BRASIL
de Pedro Carlos da Silva Telles - Engenheiro pela antiga Escola Nacional de Engenharia, Professor aposentado da Escola Politécnica da UFRJ e do Instituto Militar de Engenharia, Engenheiro aposentado da PETROBRAS, sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Membro titular da Academia Nacional de Engenharia
Ed. Notícia & Cia.
Rio de Janeiro, 2011






TRIBUTO À CAROLINA DE JESUS

Nascida em Sacramento, cidadezinha rural de Minas Gerais, Carolina de Jesus (1914-1977), jamais, pela origem, poderia sonhar com ser conhecida, ter o mínimo destaque na vida ou na sociedade brasileira. Descendia de escravos, fato que na história nacional selou com miserabilidade, e continua selando, o destino de muitos brasileiros. A escola, que cursou até o segundo ano primário, não lhe interessou muito. Nada que a fizesse sobressair. Fica a declaração, lembrada por seus biógrafos, de que sua grande inspiração não havia sido a escola, e sim seu avô, a quem chamava entusiasticamente de "Sócrates africano".
É com 33 anos, em 1947, que Carolina chega a São Paulo. Dormiu debaixo de pontes, em estradas, passou muitas noites ao desabrigo. Foi doméstica, faxineira, auxiliar de enfermagem em um hospital, na tentativa de sobrevivência que a colocava entre os números "miseráveis e rotos" postos nos versos de Cruz e Sousa.
O livro que deu fama a Carolina é, na maioria de suas páginas, o relato da luta corpo a corpo com a fome, para, no mínimo, sobreviver, manter os filhos. Com a fama, teve ela, por algum tempo, importância de gente bem-posta, digna de ser entrevistada na televisão, para os jornais, opinar sobre política, literatura, favela, o Brasil... E, também, a seu modo, mostrou a crença da escritora no poder da palavra escrita. "Um dia houve uma inauguração de um parque infantil, próximo da favela. Todo mundo foi... Conta Carolina. A certa altura, os adultos começaram a expulsar as crianças e a tomar conta das gangorras e balanços.
Carolina disse para uma companheira, que morava ao lado: Este é o tipo de animal com quem eu tenho que viver. Eu os porei no meu diário, assim jamais serão esquecidos".
A frase foi ouvida por Audálio Dantas, na época um jovem repórter do Diário de São Paulo, alagoano, filho de nordestinos que havia chegado a São Paulo nos anos trinta. Audálio, curioso, perguntou sobre o tal diário. Compilou-o, depois, em 180 páginas e conseguiu um editor.
Quarto de Despejo é, pois, um diário que sai da vocação literária de Carolina e, com extrema veracidade, da miserabilidade da escritora, um libelo contra a fome e tudo que daí origina. 
Surpreendentemente, virou um fenômeno ligado ao mercado do livro, tendo vendido 10 mil exemplares nos três primeiros dias do lançamento; passados seis meses, 90 mil, chegando a alcançar, no espaço de um ano, a vendagem de Jorge Amado, o escritor brasileiro mais lido.

Fonte: Jornal das Exposições
Museu Afrobrasil - 2005

Em março de 2014 foi realizado o Festival no Parque Nacional da Serra da Canastra, bioma serrado em Sacramento, onde existe um saber fazer ancestral, expresso, por exemplo, pelo internacionalmente conhecido "queijo canastra" que é o seu patrimônio cultural, uma ampla mostra de arte e agroecologia, em homenagem a Carolina Maria de Jesus.

Fonte: Jornal AFPESP
Tributo à Carolina de Jesus
Terezinha Ribeiro de Barros
Cadeira 19 de Ciências
2014



QUE FIGURA...

BETINHO GUERREIRO

O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1995) era um líder social que tinha esse sentimento de urgência. Com suas ideias e com sua vida deu uma lição de solidariedade para uma sociedade que tem uma classe dirigente e média tão alienadas que se preocupa mais com a comida para os cachorros do que com o pão para matar a fome de gente.
Mas, na verdade, a vida de Betinho sempre foi dramática, não apenas pela paixão com que abraçou as causas sociais. Ele nasceu na cidade mineira de Bocaiúva em 03 de novembro de 1935 e herdou, junto com todos os irmãos homens, a hemofilia - doença que dificulta a coagulação do sangue, provocando hemorragias no caso de mínimos cortes ou machucados.
Durante a infância, chegava a passar semanas sem frequentar a escola, enfurnado dentro de casa, impedido pelos transtornos da doença. Aproveitava o tempo para ler incansavelmente: "Eu tinha espaço para brincar, mas também tinha muito medo de me machucar", conta Betinho em entrevista.
Ficar em cima do muro diante das opções políticas nunca foi para Betinho. Sempre se posicionou com firmeza. Em razão de sua militância política, passou toda a década de 70 exilado entre o Chile, Panamá e México, para escapar da truculência do regime militar. Político do cabelo até a ponta dos sapatos, Betinho tinha, no entanto, algo da pungência e do encanto de um São Francisco de Assis. Era mais do que um aguerrido militante de causas nobres. Ele encarnou como nenhum outro a ideia de solidariedade para uma sociedade dominada por valores oportunistas e mesquinhos.
Sua magia encantou e continua a encantar um exército de pessoas de boa vontade pelo Brasil a fora que participam da Campanha Natal Sem Fome.

Fonte: Revista Viração
Severino Francisco





CHAPLIN, O ETERNO GAROTO

Pergunte para seu bisavô, para seu avô, para seu pai.
Com certeza, todos eles já viram filmes de Charles Chaplin,
O Carlitos, um dos maiores cômicos da história do cinema.
Chaplin nasceu há mais de 100 anos, na Inglaterra, e é universal.

Charles Spencer Chaplin, para quem não conhece é Charles Chaplin, o mais famoso dos atores cômicos, que no Brasil, era chamado de Carlitos; na França, de Charlote, e tinha muitos outros apelidos mundo afora. 
Charles Chaplin foi uma criança pobre e nasceu no subúrbio de Londres no dia 16 de abril de 1889, filho de atores de vaudeville (teatro musical e cômico) que não fizeram muito sucesso porque o pai, de quem herdou o nome, bebia muito. O velho Chaplin morreu cedo e a mãe, Hannah, teve que sustentar a família, que foi obrigada até ficar num asilo.
Aos cinco anos estreou no teatro substituindo a mãe quando, numa apresentação, ela perdeu a voz. Como o público exigia a continuação do espetáculo, alguém o jogou em cena, ele cantou uma música, fez algumas mímicas e agradou. Foi a sua primeira apresentação e a última da mãe cuja saúde era frágil.
Como a época era difícil, ele fez de tudo: foi entregador de encomendas, vendedor de trapos no mercado, tipógrafo etc. Na adolescência, seguindo a carreira dos pais, conseguiu um papel numa peça e já começou a receber salários. Depois desse emprego, surgiram outros em companhias maiores, até que, viajando para os Estados Unidos, foi visto e convidado a trabalhar com Mack Sennet, um famoso produtor de cinema da época.
Chaplin criou então o tipo que repetiria com sucesso em vários filmes, uma espécie de vagabundo bem-educado, vestido sempre com um paletó muito justo, calças bem largas, sapatos bicudos, um bigodinho estreito e curto, chapéu coco e uma bengala. Juntava a isso um olhar desamparado, um andar saltitante mas compassado, com a bengala girando no ar. Pronto, estava criado o mais famoso personagem do cinema.
Seu primeiro filme foi Carlitos Repórter e depois vieram Corrida de Automóveis para Meninos, Carlitos Garçom, Carlitos Dançarino e outros, até que o tipo se consagrou em O Vagabundo, de 1915. Fez muitos outros filmes como Em Busca do Ouro, O Circo, Luzes da Cidade, Tempos Modernos e, em 1940 o Grande Ditador.

"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Neste mundo há espaço para todos.
A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades..."

"A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. 
A própria natureza dessas coisas é um apelo à bondade do homem.
Neste instante minha voz chega a milhões de pessoas no mundo, homens, mulheres, criancinhas... Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que a cobiça em agonia. 
Os homens que odeiam desaparecerão. E assim, enquanto morrem esses homens, a liberdade nunca perecerá."

Fonte: O Estado de São Paulo (Estadinho)
Leonildo P. Simões





A VIDA DO ESPÍRITO

Uma grande biografia de Hannah Arendt, 
figura essencial para quem quer entender o século XX

Qualquer tentativa de compreender o que foi o século XX, no plano filosófico e político, passa necessariamente por duas obras: Origens do Totalitarismo (1951) e Eichmann em Jerusalém (1963), ambas de autoria de Hannah Arendt, alemã de ascendência judaica. Na primeira - dividida em "Anti-semitismo", "Imperialismo" e "Totalitarismo" -, ela procura analisar de que modo se forjou na Europa uma verdadeira máquina de destruição, capaz de levar ao horror do holocausto. Já no polêmico Eichmann, que nasceu de uma série de artigos publicados na revista The New Yorker, Hannah trata da "banalização do mal", a partir do julgamento de um nazista. Pensadora mas também personagem de um tempo espantosamente cruel que sofreu na pele a perseguição do regime de Hitler - obrigada a fugir da Alemanha devido à sua origem judia, acabou se exilando nos Estados Unidos -, Hannah construiu uma sólida carreira filosófica baseando-se em reflexões sobre sua própria época, vale dizer, unindo pensamento e vivência.

A banalidade do mal

Um dos conceitos fundamentais de Hannah Arendt,
a "banalidade do mal", aparece em Eichmann em Jerusalém.
Ela voltou ao tema em uma conferência de 1970

"Há alguns anos, em um relato sobre 
o Julgamento de Eichmann em Jerusalém, mencionei a
"banalidade do mal". Por mais monstruosos que fossem os atos, o agente não era nem monstruoso nem demoníaco; a única característica específica de que se podia detectar em seu passado, bem como em seu comportamento durante o julgamento e o inquérito policial que o precedeu, afigurava-se como algo totalmente negativo: não se tratava de estupidez, mas de uma curiosa e bastante autêntica incapacidade de pensar."

Fonte: Revista Veja
maio de 2007
Rinaldo Gama

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