terça-feira, 14 de agosto de 2018

Descoberta Dino–ave




Animal  que viveu  há mais  de 70  milhões  de  anos em  Minas  Gerais, tinha  garras de  dinossauro  e penas 

Um dinossauro com penas e grandes garras usadas para destroçar suas presas. Era assim o animal que cientistas acreditam ter vivido, há mais de 70 milhões de anos, em Minas Gerais. Eles chegaram a esta conclusão depois de encontrar uma garra fossilizada na cidade mineira de Peirópolis.

A garra tem 5,5 centímetros de comprimento e o formato parecido com o de uma foice bem afiada. Os cientistas acreditam que o dinossauro tinha dois metros de comprimento, 60 centímetros de altura e pesava 80 quilos.

Além disso, era bípede  ( andava sobre duas patas  ), carnívoro e tinha olhos grandes.

Ele era de um grupo chamado maniraptores, de intermediários entre dinossauros e aves. Os cientistas ainda não sabem de que espécie ele é ou se é de uma espécie ainda desconhecida.

A descoberta é importante pois ajudará a entender melhor o processo evolutivo de dinossauros e aves. Os primeiros dinossauros voadores surgiram há 150 milhões de anos. As penas apareceram bem antes, para ajudar a regular a temperatura do corpo.

Fonte  - GLOBINHO pág 3
Sábado, 27 de maio de 2006 notícias  miúdas 





RÉPTIL  VOADOR
O  animal  alado  de 'Avatar' fora  das telas.  

Cientistas  sino-brasileiros  anunciam  descoberta  na  China  de  espécie  de  pterossauro  de  120 milhões  de  anos  que seria  semelhante ao da ficção.

A descoberta de fósseis de um réptil voador em rochas com cerca de 120 milhões de anos no Nordeste da China foi anunciada ontem na revista “Scientific Reports“ por uma equipe de cientistas sino-brasileira. O novo pterossauro, batizado de Ikrandraco avatar pela sua semelhança com o Ikran, animal alado fictício do blockbuster “Avatar“, tinha dentes pequenos e provavelmente se alimentava de peixes. 

Seu crânio era alongado e baixo, com uma grande crista óssea na mandíbula e nenhuma na cabeça. Os dois exemplares que permitiram a identificação da nova espécie foram descobertos pelo cientista Xiaolin  Wang e seus colegas (incluindo os paleontólogos brasileiros Alexander Kellner e Taissa Rodrigues) e são provenientes da Formação Jiufotang, uma unidade geológica extremamente rica em fósseis e da qual são conhecidas outras espécies de pterossauros.

FÓSSEIS  RAROS  

Os fósseis desses répteis, apesar de serem conhecidos em vários locais do mundo, são relativamente raros e permitem os paleontólogos ter maior conhecimento acerca da biologia dos animais. Nas últimas décadas, mais espécies têm sido descobertas em depósitos lacustres do Nordeste da China do que em qualquer outra região do mundo, apontando para uma grande variedade do animal.

- O ambiente na China era de lagoas de água doce, dentro do continente. Já o do Brasil era de lagunas, ou seja  , porções de água salgada, perto da costa  - explicou Kellner, que há 11 anos participa de pesquisa com os chineses.

De acordo com a equipe brasileira, que teve a pesquisa parcialmente financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro ( FAPERJ ), a principal diferença entre o Ikrandraco e outras espécies de pterossauros é seu crânio, bem mais baixo e longo, e sua crista inferior, bastante desenvolvida, que termina em uma estrutura óssea bem peculiar em forma de gancho. Paleontólogos acreditam que essa estrutura, nunca observada antes em nenhum animal, servia coo uma âncora para tecidos moles.

Pela localização da crista, abaixo do queixo, os estudiosos supõem que o Ikrandraco tivesse uma extensão de tecido mole que se assemelharia a uma bolsa de garganta, hoje em dia observada em animais como avestruzes e pelicanos, com papel de auxílio na alimentação. 

Especialistas imaginam uma cena perdida no tempo: 
- O animal sobrevoa um lago, localiza sua presa, voa de forma rasante, corta a água com a crista, captura a presa e aloja numa espécie de saco gular  - descreve Kellner.

Também ontem foi divulgado estudo de fósseis na revista “ Science “ mostrando que o Espinossauro  (Spinosaurus argyptiacus) – um dinossauro carnívoro maior que o Tiranossauro Rex era um exímio nadador. O fato é uma grande novidade sobre os extintos habitantes da Terra, já que eles eram historicamente compreendidos com feras terrestres.

Desde que os primeiros fósseis de Espinossauros foram examinados, há mais de um século, a espécie foi considerada uma raridade, com suas características peculiares, como  uma enorme e distinta espinha, cujas funcionalidades ainda suscitam debates.

TUBARÕES  NA  DIETA  

A compreensão da de morfologia do Espinossauro  ficou restrita a abordagens  especulatórias por meio século, já que os primeiros fósseis foram destruídos na Segunda Guerra. Agora, um conjunto de fósseis muito mais completo sugere que o carnívoro ou semiaquático.

O paleontólogo marroquino Nizar Ibrahim recuperou os novos fósseis, que incluem partes de um crânio, coluna vertebral, cintura pélvica e membros, a partir de escavações em Kem Kem, no leste de Marrocos.

Os pesquisadores usaram um software para criar o modelo digital de um Espinossauro adulto, que sugere que ele tinha mais de 15 metros de comprimento, e o com para com espécies relacionadas. Os resultados indicam que o dinossauro tinha um conjunto de adaptações que lhe permitiam passar grande   parte do seu tempo na água, se alimentando de tubarões e outros peixes. As características apontam ainda que ele caminhava sobre quatro patas quando estava em terra.

Os estudiosos concluíram que o dinossauro poderia retrair suas narinas carnudas para o topo de sua cabeça e que seus pés chatos provavelmente foram utilizados para empurrá-lo dentro d’água. A cintura pélvica e membros posteriores se revelaram menores que os de outras espécies, e o centro de gravidade parece ter sido deslocado para a parte traseira, facilitando o nado.

Fonte    -    Jornal   -   O   GLOBO   pág  33    Sociedade 
Sexta-feira   , 12/09/2014    ANTONELLA  ZUGLIANI 





Como  vivem  os  tubarões?  Eles  são  mais  velhos  que  os  dinossauros  e  só  conseguem boiar porque  aspiram  uma  grande  quantidade  de  ar.

Calcula-se que os tubarões surgiram nos mares há 400 milhões de anos. Nessa época,  nem a Terra e nem os mares eram os mesmos. Uma única e gigantesca porção de terra, a Pangea, unia o que hoje são todos os continentes  , que começaram a se separar há 140 milhões de anos .

Quando os tubarões apareceram, existiam criaturas estranhas no mar e que hoje estão extintas. Mesmo os dinossauros, que já desapareceram, só surgiram depois deles.]

São criaturas primitivas e não têm as bexigas natatórias, que dão flutuação para os outros peixes. Para flutuarem engolem grandes quantidades de ar e criam uma boia provisória. Depois,  quando mudam de ideia dão ruidosos arrotos  e se livram do ar.

Existem muitas espécies de tubarões. Alguns são enormes como o peregrino, que pode passar dos 12 metros, mas se alimentam de zooplânctons, pequenas criaturas animais do mar. Outros, como o temível tubarão branco, de até 7 metros  de comprimento, podem atacar o homem, mas ele não é comum na costa do Brasil. Aqui, um dos maiores tubarões, é a tintureira, de até 4 metros, que pode atacar  . 

Muitos pesquisadores de tubarões acham que estes animais não merecem a má fama que têm. Eles não seriam tão agressivos como se diz. Mas tubarões são imprevisíveis e é bom não confiar no humor deles. Registros indicam 2.500 ataques ao homem. A primeira vítima foi um marinheiro português, em 1580.
                               

Para  ficar   longe do  perigo 

Na  praia, alguns cuidados podem evitar a companhia indesejável de tubarões. Um conselho de pesquisadores como Otto Gadig, da Universidade Federal da Paraíba, é  não entrar na água com ferimentos. Também é bom evitar os horários com pouca luminosidade no início e no fim do dia, quando muitas espécies se aproximam da terra em busca de alimentos.

Não é só o sangue que atrai os tubarões. Líquidos orgânicos nas fezes e urina também podem atraí-los. Além de ser boa educação não fazer xixi no mar é uma boa norma de segurança.

Outro conselho é nunca entrar no mar sozinho, mas é bom sair para a areia quando observar peixes saltando para fora da água, ou sinais de animal de grande porte. É bom sair com calma para não atrair um eventual tubarão.

A forma afunilada ( hidrodinâmica ) do tubarão, que lhe permite atacar e fugir com rapidez incrível e os numerosos dentes renováveis enfileirados no interior de uma boca enorme, provocam medo nas pessoas. Mas os tubarões também são vítimas do homem. Um grande numero erro desses animais morre aprisionado em redes de pesca  , ou são abatidos por puro prazer.

Quem pensa que tubarão só vive no mar está engando. Muitas espécies podem subir centenas de quilômetros rio acima.  Ninguém sabe direito porque eles fazem isso. Coisas de tubarão.

Diferenças embaixo   d’água 
Tubarão-azul:   é  o  mais  comum deles;
Tubarão-baleia: é  o  maior  de  todos   -  o recorde tinha 12,65 metros;
Tubarão-bocarra:  espécie mais rara  -  só  foram  encontrados  três  no  mundo;
Tubarão-branco:  ataca   o  homem  e  é  encontrado  nas águas  mais  quentes;
Tubarão-elefante:  depois  da  baleia  é  o  maior  deles;
Tubarão-martelo:  a  cabeça  dele  é  achatada  e   mede, no  máximo, 7  metros;
Tubarão-tigre:  come  tartarugas  e  detritos  e  prefere  águas quentes; 
Galeus arae:  é  o  menor  de  todos  -  não  mede  mais  do  que  13  centímetros.

Fonte    -      Jornal      -  ESTADINHO       -  O  ESTAO  DE  SÃO  PAULO  
Reportagem  da  capa     -  ULISSES  CAPOZOLI 

VACINAR CONTRA A IRRACIONALIDADE



O leitor que algum dia recebeu um diagnóstico que o deixou preocupado deve ter levado o médico a sério. Esperamos que um profissional como um médico saiba o que está dizendo. Afinal, o que está em jogo é só a nossa vida.

Quem viaja de avião também quer ter paz de espírito de saber que ali, na cabine, vai conduzindo a aeronave um piloto experiente, com muitas horas de voo, que domine a arte / técnica de pilotar

De um advogado espera-se habilidade na operação da lei, talento argumentativo, queremos alguém muito bem capacitado em nossa causa

Já se deve ter visto o padrão aqui, em áreas em que somos leigos, e tendo necessidade de sermos orientados em questões próprias dessas áreas, queremos gente com o máximo de capacidade possível. Gente de cujos conhecimentos específicos possamos depender, nos quais podemos confiar

É só de deixar espantado – na verdade, furioso -, então essa disposição franca, aberta e desinibida de duvidar da eficácia das vacinas, testadas, seguras e eficientes, além de qualquer dúvida razoável , contra doenças de que achávamos já estar livres. Veja-se o caso recente do sarampo. Quem dera fosse este o único caso, e só com ele  já estaríamos muito mal arranjados. Vimos uma polêmica, uma militância engajada e barulhenta que se nega a imunizar os filhos sob a alegação de que a vacina teria relação causal com a manifestação de autismo. Os defensores dessa ideia se sentem completamente à vontade para discutir com especialistas que se valem de ciência de ponta para desenvolver a vacina, segundo protocolos e com tecnologias de ponta

Sinal dos nossos tempos? O avanço da internet trouxe a falsa ilusão de sabedoria, de que toda a informação do mundo está ao alcance de alguns toques (está) e que torna todos capacitados a debater com gente experiente, dedicada a pesquisas e especializações ( não torna ). 

Temos terraplanistas, que exigem ser levados a sério. Há os criacionistas, que questionam a teoria da Evolução a sério. Quem nega a evolução mas se beneficia dos avanços da Medicina e da Biologia incorre em uma grossa contradição, para dizer o menos. 

A racionalidade não nos torna melhores que os animais não racionais, só nos diferencia. Quem dera houvesse uma vacina contra tanta irracionalidade que empesteia o ar que todos respiramos. 

Fonte   -  Jornal   Destak   - SEU  DESTAK    -  pág  6 
2.8.2018    -   VINÍCIUS  ALBUQUERQUE     - EDITOR  CHEFE



CAUSAS  E  EFEITOS  DA  POLIOMIELITE

A poliomielite é uma doença infectocontagiosa altamente transmissível, mais conhecida por “paralisia infantil” ou “pólio”, que infecta crianças e adultos e pode causar paralisia muscular. O agente etiológico responsável pela doença é um vírus, chamado Poliovírus, que apresenta três sorotipos I,II,III e um período de incubação de sete a 12 dias, porém, pode variar entre três dias. O homem é o único hospedeiro, sendo assim, é uma doença erradicável por meio de excelentes coberturas vacinais, saneamento básico e água de qualidade.

Fatores  de  risco 

- Sem dúvida, a falta de saneamento básico é um fator de risco, não apenas para poliomielite, mas também para várias outras doenças de transmissão pela água e alimentos contaminados. Assim, água não tratada, alimentos mal lavados, além de fezes e secreções (espirro, tosse, saliva, etc.) são situações de risco. Por ser uma doença contagiosa, as pessoas que contraíram o vírus devem permanecer afetadas durante a enfermidade .

- Apesar de a doença ser muito conhecida por causar paralisia, estima-se que só  1% dos infectados desenvolvem a forma paralítica da doença. A grande maioria dos casos é assintomática ou exibe, apenas sinais e sintomas leves, como febre, coriza, náuseas, dor de cabeça e garganta, que podem ser confundidos com outras doenças virais comuns , como gripe e resfriados.

Prevenção 

- O vírus se encontra em fezes contaminadas, então, a transmissão está associada às condições de saneamento básico e higiene. É importante ter cuidados básicos como lavar as mãos e alimentos.

- A vacinação contra a pólio é a forma mais eficaz, segura e barata de evitar a doença.

Fonte   -  Jornal   -       METRO    - pág   2  -  FOCO 
Rio de Janeiro, 01/08/2018   -   SAÚDE  EM  PAUTA   

EDIMILSON  MIGOWSKI   - Professor  de  Medicina  e  presidente  do  Instituto 
Vital  Brasil  , Dr Edimilson Migowski escreve  às  quartas-feiras 

PARA LEMBRAR ELISETE CARDOSO E CLEMENTINA DE JESUS



A   INESQUECÍVEL 

Biografia  de   Sérgio  Cabral  é relançada 20 anos após a morte  da cantora, considerada   a  maior   de   todos  os  tempos.

A relação de amizade entre a cantora Elisete Cardoso e o pesquisador musical Sérgio Cabral, que viria a ser seu biógrafo, era de tanto carinho que até hoje, passados  20 anos de sua morte, Cabral se emociona ao reler as páginas que escreveu. Tendo como mote a data redonda – a cantora morreu no dia 7 de maio de 1990 , aos 69 anos, de câncer  - Elisete Cardoso, Uma Vida ( Editora Lazuli ) foi relançado, com pequenas revisões e mais fotografias da “mãe de todas as cantoras brasileiras“, como escreveu Chico Buarque na contracapa do último LP que gravou.

O relançamento é uma maneira de lembrarmos Elisete“, diz Sérgio, que escreveu o livro era 1994, depois dois anos de pesquisa. “A tendência é ela ficar na lembrança só dos interessados em música mesmo. Essa é a sina dos artistas. Hoje, se eu for falar ao público sobre MPB, dependendo da idade da plateia, tenho que explicar quem é ela“. Ele optou pela grafia com “s “ e “te “ porque esta respeita a língua portuguesa ( o registro foi como Elizette, mas ela ficou conhecida como Elizeth ).

O livro descreve não só Divina, aquela que foi considerada a maior cantora do Brasil de todos os tempos, precursora da bossa nova, artista prolífica, que gravou mais de 40 LPs em pouco mais de 50 anos de carreira. Fala da figura discreta, doce, maternal, carinhosa, queridíssima pelos colegas. A mulher que disse certa vez: “Não quero ser melhor nem pior  . Quero ser apenas uma cantora brasileira . “ 

Para coletar informações, além de contar com a própria experiência, de anos de convivência, Cabral percorreu o Brasil procurando amigos que ela deixou espalhados .Gente que ela conheceu nas centenas de shows que fez, e com quem desenvolveu relações próximas. Ele ouviu também músicos que trabalharam com ela, Maurício Carrilho, Henrique Cazes  e Gilson Peranzzetta. Conversou com amigos-irmãos, como Hermínio Bello de Carvalho, que cedeu fotos de seu acervo.

Do acervo pessoal de Cabral, jornalista que escreve sobre MPB desde os anos 50, e também do Elisete, doado ao Museu da Imagem e Som, saiu muito material. 

Com Elis a relação era conturbada, de rivalidade, conta Cabral, mais por conta do temperamento da Pimentinha, igualmente saudada como “ a maior de todas “ . O livro conta que certa vez; anos depois da morte de Elis, Elisete foi visitar seu túmulo. Orou e cantou por cerca de uma hora, e ao sair foi abordada por um homem com um pedido de autógrafo da “maior  cantora do Brasil“. Ela sorriu e respondeu, apontando para o túmulo: “Muito obrigada  , mas o senhor está enganado  . A maior cantora do Brasil está ali “.

Está lá também a descrição do câncer no estômago. Sentindo-se mal havia muito tempo, desconfiava que tinha uma úlcera. O tumor foi descoberto durante uma temporada de 40 dias no Japão, que incluía 15 apresentações. Mesmo depois de diagnosticada por especialistas, que aconselharam o cancelamento da turnê, Elisete cumpriu toda a agenda, ainda que, àquela altura, só se alimentasse de frutas. Mostrava-se alegre no palco.

Foi com alegria que ela viveu e trabalhou. Homenageada muitas vezes em vida, hoje, passados 20 anos sem ela, Elisete segue no imaginário popular e na lembrança dos amigos, diz Nana Caymmi. “Os fãs de Elisete estão vivos. Quem toca Pixinguinha, Ary Barroso, Jacob do Bandolim, Tom Jobim, está sempre com Elisete no meio. Não tem como esquecê-la, ele é Rebecca, a mulher inesquecível  . “ 

Nana lembra da solidariedade da amiga da família, mesmo fragilizada, magrinha  . “A última lembrança que tenho é da Elisete na clínica São Vicente, vindo me visitar depois do acidente do meu filho ( João Gilberto , de moto ). Ela me ajudou muito, cantou na boate People para arrecadar fundos para eu pagar o CTI.“

O show, em janeiro de 90, foi sua última apresentação. Em abril, a Hermínio, no hospital, na entrevista final. Elisete confidenciaria  que sua técnica como cantora era "a vontade de cantar . “

Fonte   -  Jornal   O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO  pág D 8 Caderno 2
Sexta-feira , 07/05/2010       Música  - Memória     ( livro ELISETE CARDOSO , UMA VIDA -  autor Sérgio Cabral  






A  RAINHA  GINGA NÃO  TEM  SUCESSORA

Não  há  cantora   que  se  aproxime  da  voz  negra  e  rouca  de  Clementina  de  Jesus. Mas  ele  abriu  caminhos  na  música  brasileira,  como  demonstra  uma  nova  biografia
  
NESTE  ANO  em que o samba, representado pelo maxixe Pelo Telefone, completa um século de seu lançamento ( o disco saiu em janeiro de 1917 ), outra data engorda a lista de efemérides relacionadas ao gênero: os trinta anos da morte de Clementina de Jesus. A cereja do bolo que marca a data é o livro Quelé  , a Voz  da  Cor  : Biografia  de Clementina de Jesus, de Felipe de Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa e Raquel Munhoz. Tudo começou com um trabalho de conclusão de curso na faculdade, mas depois de seis anos de pesquisa virou uma obra que preenche um vazio na história da música brasileira de influência africana: a trajetória de uma negra pobre, que deu duro na vida e venceu num campo em que não escolheu jogar  - foi nele colocada pelo acaso, e não fez feio.

Nascida na cidade fluminense de Valença, em 7 de fevereiro de 1901, neta de escravos, filha de um operário da construção civil com uma parteira vindos de Minas Gerais, Clementina cresceu no Rio de Janeiro, para onde mudou com a família ainda criança. Desde pequena Quelé, apelido que ganhou ainda na cidade  natal, teve contato com as mais diversas formas de manifestação musical folclórica, religiosa e popular, das profanas rodas de samba ao ecumênico canto religioso, que ia do ponto de candomblé  à ladainha católica, passando por manifestações intermediárias, como o jongo, que têm um pé na terra e outro no mistério. Morou em Jacarepaguá, na Zona Oeste, mudando-se depois para Oswaldo Cruz, terra de sambistas na Zona Norte do Rio. Dançou o pastoril - auto de Natal que lembra a visita dos reis magos ao menino Jesus - e o organizou procissões

Conviveu com Heitor dos Prazeres, Donga, João da Baiana e Pixinguinha. Testemunhou a criação da Portela e frequentou rodas de samba nos quintais do subúrbio, Cidade Nova, Saúde, Gamboa e Praça Onze, a chamada Pequena África, ponto de encontro de sambistas e capoeiras. Conheceu a famosa baiana Tia Ciata, cuja casa era frequentada por pioneiros do batuque urbano carioca. Mãe solteira  aos 20 anos, morou também no Morro da Mangueira, levada pelo segundo marido, Albino Pé Grande, com quem se casou em 1950. Integrou-se à verde e rosa, na qual desfilou na ala das baianas e na velha-guarda.

Em 1964, Clementina trabalhava como empregada doméstica no Grajaú e cantava nas horas vagas, quando  , aos 63 anos, foi "achada " pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho. Pelas mãos de Hermínio, exibiu-se como atração no famoso ZiCartola. Num desfio maior, Hermínio a apresentou acompanhada pelas cordas de César Faria, pai de Paulinho da Viola, no recital O menestrel, no Teatro Jovem, na Praia de Botafogo. Clementina bebeu uma garrafa de vermute para tomar coragem, entrou no palco e o sucesso foi imediato. Saiu aplaudidíssima. No ano seguinte, integrou o elenco musical Rosa de Ouro, ao lado de cobras criadas como Elton Medeiros, Aracy Cortes, Paulinho de Viola e Nelson Sargento, espetáculo que resultou dois álbuns. Aquele vozeirão indomável contrastava com a refinada delicadeza de Aracy, num contraponto que muito bem representa a riqueza da nossa música. Em pouco tempo foi escalada para representar o Brasil no Festival Mundial de Arte Negra, no Senegal, e num show em Cannes, na França. Em 1968, gravou com os mestres Pinxinguinha e João da Baiana o disco Gente da Antiga, com composições dos dois parceiros e velhos temas folclóricos que aprendera na roça. Nas décadas seguintes, lançou cinco álbuns-solo e participou de mais produções coletivas, sempre recuperando com sua voz de terreiro o canto ancestral de sua gente,  ao qual mesclava novas composições de autores modernos. É antológica sua versão par Incompatibilidade de Gênios, de João Bosco e Aldir Blanc.

Voz cavernosa, grave e potente, quando entrava no palco, toda de branco, pele muito negra, Quelé parecia uma entidade flutuando em direção ao microfone, como ilustra a capa do LP Marinheiro Só  ( 1973 ). Chamaram-na de Rainha Ginga, a valente angolana que enfrentou os portugueses no século XVI, agora renascida nos campos do café Brasil. "Clementina era uma negra banto  . Aliás  , o canto dela era o canto de uma negra banto", diz em depoimento no livro o compositor Elton Medeiros. Em 2000, antecipando-se ao centenário de seu nascimento, a EMI editou, com patrocínio da Petrobras, uma caixa com nove de seus álbuns. 

A importância de Clementina foi reconhecida em 1983  pelo então vice-governador e secretário da Cultura fluminense, o antropólogo Darcy Ribeiro, que reuniu um time de primeira da música popular para homenageá-la no teatro Municipal, uma noite de gala para a qual alguns torceram o nariz. Para Darcy, Clementina era "a voz dos milhões de negros desfeitos no fazimento do Brasil " .

Quando Quelé surgiu nos palcos, o Brasil vinha da era dos vozeirões. Carlos Galhardo, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Angela Maria e Dalva de Oliveira  ainda ocupavam as ondas do rádio, ofuscados pela bossa nova. Clementina era um bicho estranho aos dois universos. A partir dela, gravadoras, artistas e público passaram a receber com maior tolerância as vozes fora da curva, permitindo que compositores se arriscassem como intérpretes de suas canções. Clementina abriu caminho para que gente como os compositores Synval Silva, Cartola e Nelson Cavaquinho pudesse botar voz nos próprios sambas. A cantora morreu em 19 de julho de 1987, de derrame aos 86 anos. Ela foi pioneira, graças a visão de Hermínio Bello  de Carvalho, um grande descobridor e incentivador de talentos de todos os matizes. Seu legado é significativo no contexto da contribuição dos negros para a música popular brasileira. A  Rainha  Ginga  não  deixou  sucessora,  mas  sua  saga, sociologia  à  parte, está  bem  contada  neste  livro  que  chega  agora  às  livrarias.

Fonte   -     Revista    BIBLIOTECA   NACIONAL     págs  92 e  93 
22  de  Fevereiro  de  2017    -   JULIO  CESAR  DE  BARROS  

Além do tema também professor!


Depoimento

A cultura negra não é apenas motivo de pesquisa: pode e deve,  também, inspirar modelos de ensino sobre as tradições e histórias do povo brasileiro. Assim comprova a trajetória de Raquel Trindade, considerada uma das principais griôs - guardiões do conhecimento na cultura negra  - vivas no país. Filha do poeta, escritor e ativista negro Solano Trindade, é fundadora do Teatro Popular que leva o nome do pai, na cidade paulista de Embu das Artes, local cuja história também se confunde com a sua própria. Ali, os grupos de dança do Teatro mantém vivos os ritmos e as músicas originais trazidos da África – como maracatu, coco, jongo, samba de roda, bumba meu boi e lundu. Em ações culturais na comunidade ou procurando vencer o desafio de inserir o tema da cultura negra em ambiente escolar, Raquel leva a sério as palavras do pai em um de seus últimos poemas: “estou conservado no ritmo do meu povo. Me tornei cantiga determinadamente e nunca terei tempo para morrer"

Nasci em Pernambuco, meu pai também. Moramos em muitos lugares antes de vir aqui ao Embu. Passamos por Rio de Janeiro, São Paulo, com meu pai sempre atuando na militância política. No Rio de Janeiro, em 1950, ele criou ao lado de minha mãe Maria Margarida e do sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro. E depois do falecimento dele, em 1974, criei o Teatro Popular Solano Trindade, que foi registrado formalmente em 1980, já no centro de Embu.

No teatro, que não tinha ainda um prédio, mas se caracteriza por um movimento cultural, passei a ensinar as danças que meus pais tinham me ensinado: maracatu, coco, lundu, jongo, samba-lenço rural paulista, jongo mineiro, jongo fluminense, bumba-meu-boi, de Pernambuco, guerreiros de Alagoas. Todas as danças que trazem a herança do folclore nacional. Alguns anos depois, nosso grupo de dança ganhou um terreno da Prefeitura e construímos um barracão para ensaiarmos. Depois conseguimos uma verba do estado, enviada por meio da Prefeitura da cidade, e foi então construído o primeiro prédio do teatro.

Tínhamos, porém, diversos problemas com chuvas. Uma parede chegou inclusive a cair devido a vazamentos. Além de desejar melhorar a estrutura do teatro, tínhamos também o sonho de ter um estúdio de gravação. Meu filho Victor da Trindade, meus netos Manuel, Zinho Trindade e Carlos Caçapava são músicos. Do próprio teatro saíram várias bandas, e mesmo eu sempre quis gravar o repertório do grupo. Então, há cerca de um ano, o Ministério do Turismo enviou para a Caixa Econômica Federal do Embu, via Prefeitura Municipal, a verba para restaurar e ampliar o teatro. Em novembro  ( 2010 ), foi reinaugurado com uma grande festa organizada por meu filho Victor da Trindade e por meu neto Marcelo Thomé, que é circense e cuida da administração do teatro.

Com a reforma, ele se amplia e ganha um estúdio, dois camarins, a instalação da cabine de luz e som e melhorias da questão acústica. O palco foi ampliado com um anfiteatro para que as pessoas assistam aos espetáculos. Além disso, o teatro segue todas as normas de segurança e acessibilidade, incluindo rampas para pessoas com deficiência. Abrigando todas as aulas já dadas atualmente – de percussão, hip-hop, capoeira angola, danças brasileiras, construção e pesquisa de instrumentos africanos e afro-brasileiros.

Tudo isso é continuação do trabalho  de minha família, desde meus avós no Recife. Meu avô era velho de pastoril, minha avó fazia lapinha no Natal, minha outra avó por parte de mãe dançava maracatu. Minha mãe era evangélica, terapeuta ocupacional  - mas foi ela quem me ensinou todas as danças, com exceção do candomblé, que eu vim a conhece depois. Meu pai era marxista, comunista, e minha mãe presbiteriana. E participo do candomblé há mais de quarenta anos. Tenho uma filha que é evangélica batista, atualmente morando no Rio, e outra filha que faz faculdade nos Estados Unidos e é budista. Eu e meu filho Victor somo do candomblé e minha nora Elis é católica. E todos nos damos bem, um respeita o espaço do outro.

TRADIÇÃO  NAS  NOVAS  GERAÇÕES

Toda a comunidade frequenta nossos cursos, que são gratuitos. A cultura que difundimos é negra, mas voltada para todas as etnias. Temos descendentes de japoneses, brancos, descendentes de índios e negros – dos dez aos setenta anos. Vêm muitos estrangeiros também, para ter aulas de percussão. Desde 2009, somos Ponto de Cultura, reconhecido pelo Ministério de Cultura.

Há cinco anos, fundamos também aqui o bloco do Kambinda. Nele, expresso um pouco de minha longa vivência no samba. Fui vice-campeã da Escola de Samba Vai-Vai duas vezes – a primeira com “Solano Trindade – o moleque do Recife", com versos de Geraldo Filme, depois com “José Maurício, músico do Brasil Colonial". Depois fui convidada pelo sambista Candeia para fazer o Carnaval da Escola de Samba Quilombo, criada por ele no Rio de Janeiro em 1978. Fiz o enredo  “Ao povo em forma de arte", com base no lema do meu pai: Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte. Esse samba foi campeão com Wilson Moreira e Nei Lopes. Depois disso, fiz vários sambas-enredo para escolas até que, junto com o Maninho da Cuíca, primeiro sambista do Embu, decidimos criar um bloco aqui em casa – que, no ano de 2010, saiu com mais de cem pessoas.

Os jovens, as novas gerações, têm muito interesse pela cultura negra. Só aqui no Teatro, vemos surgir várias manifestações culturais novas. Foi organizado um grupo, Capulanas, que mistura dança e poesia. Da mesma forma, os meninos do hip-hop, desenvolvem seu próprio estilo. Claro que o hip-hop não é brasileiro, mas é um ritmo que já se abrasileirou. O que é MC?  É um repentista. Meu neto Zinho de Trindade é um repentista que coloca isso, modernamente, no hip-hop. Aqui cultuamos muito as tradições, mas também temos os olhos abertos para as coisas novas de boa qualidade. E estes que citei conseguem fazer com qualidade as duas coisas - o novo e o antigo.

No Teatro atendemos as escolas, universidades  , jornalistas. As pessoas vão à Secretaria da Cultura da Prefeitura da cidade, para saber a história do Embu, e eles pedem que venham conversar comigo. Escrevi em 2003 o livro Embu - Aldeia de M'Boy, sobre a história da cidade, pela Editora Noovha América, e finalizei outro lançado pela mesma editora, com o apoio da Secretaria da Educação - falando sobre a história, a vida cultural, os artistas do Embu.

Posso dizer que, de fato, ajudamos a construir a história cultural do Embu. Depois de morarmos em Recife e no Rio de Janeiro, passamos uma temporada na Europa  com o grupo de dança de meu pai. Dançamos toda a Polônia, toda antiga Tchecoslováquia. E, quando voltamos ao Brasil, organizamos um espetáculo em São Paulo. Aqui já estavam os escultores Tadakiyo Sakai, Cássio M' Boy, Claudionor Assis Dias. Foi quando Sakai disse ao Assis que ele, sendo negro e escultor, deveria conhecer Solano Trindade, para entender mais sobre a cultura negra e aplicá-la como temática em seu trabalho. Então Assis foi assistir a um espetáculo de nosso grupo e gostou muito, participando inclusive. Fez amizade com meu pai e trouxe a nós todos para conhecer o Embu.

Isso aconteceu em 1961. E o Embu, naquela época, era ainda mais bonito do que é hoje. O rio Embu-mirim  tomava o terreno quase todo com água mineral pura. A região era cheia de árvores, não havia a maioria das casas de hoje. A cidade era formada praticamente pelo centro colonial e pela cachoeira, o rio e a lagoa limpos. Nós adoramos o lugar e fomos todos para o barraco de Assis. Ele e a esposa, Imaculada, tinham várias crianças. Nós dormíamos todo pelo chão e fazíamos festas culturais , religiosas, que duravam três dias ao redor da lagoa. Não fomos mais embora.

O movimento cultural que existia, ao lado dos artistas que já estavam aqui, foi atraindo cada vez mais gente para o Embu. Logo foram criados os salões de arte, mais tarde quando foi organizada a feira da Praça da República, em São Paulo, comecei a ir também. E o Assis, com medo de que o movimento na Praça da República enfraquecesse as atividades no Embu, criou a feira da Praça do Embu. Começaram então a vir para cá todos os artistas. Nessa época não havia Secretaria de Turismo, iniciativa formal, nada disso. Nós criamos a Secretaria do Turismo. E atualmente estamos nos preparando para o plebiscito que haverá no ano que vem, pelo qual se decidirá se o Embu, considerado estância turística, ganhará o nome oficial de Embu das Artes - o que ele já é espontaneamente.

CULTURA  QUE  É  DE  TODOS 

Percebemos o aumento de interesse pela cultura negra desde a década de 1950, quando morávamos no Rio de Janeiro. Na época em que eu era menina, já havia o Teatro Experimental do Negro  , fundado por Abdias do Nascimento. Havia também a Orquestra Afro-brasileira, criada pelo maestro Abigail Moura, e o balé Afro, de Mercedes Batista  , a primeira bailarina negra do Teatro Municipal. Meu pai e minha mãe ajudaram a criar o teatro folclórico do escritor e produtor Aroldo Costa, logo antes  de criarem o Teatro Popular Brasileiro. Ou seja, a luta vem de muito tempo, apesar da discriminação muito grande, inclusive da mídia.

Na verdade, sempre recebemos um bom apoio dos jornais impressos. Já as emissoras de televisão abrem um pouco menos de espaço, com exceção da TV Futura e da TV Cultura, além da TV SESC. Temos um bom relacionamento com a Rede SESC: costumamos nos apresentar em praticamente todas as unidades de São Paulo. Aos poucos, vemos o espaço se abrindo. Mas ainda não é o ideal - ainda se toca muita música estrangeira, se dá muito destaque para o que vem de fora do país, e pouco para a nossa cultura propriamente.

Mesmo entre as escolas o interesse vem crescendo, inclusive anterior à lei que determina o ensino da história negra em sala de aula. Em 1987, por exemplo, fui convidada por Antônio Nóbrega para dar aulas sobre dança e artes cênicas na UNICAMP, onde trabalhei de 1987 a 1992. Comecei a lecionar como técnica didata e depois passei a professora. Ali percebi que, dentro do curso de graduação em artes cênicas, só havia um negro. Então, organizamos na UNICAMP um curso de extensão abordando o folclore e a cultura negra. Tivemos grupos de alunos da comunidade de Campinas e de outras graduações. Essa reunião de interessados deu origem ao grupo de dança e resgate da cultura Urucungos, Puítas e Quijêngues, que existe até hoje - de nome inspirado em instrumentos bantos que foram trazidos pelos escravos para São Paulo. O Urucungo equivale ao berimbau, as puítas, às cuícas, e os quijêngues, aos tambores.

Apesar do sucesso do curso, porém, eu sentia certa discriminação do meio acadêmico por não ter nível universitário. Na época, estava tratando um câncer e me separando de meu último marido. Foram questões demais para administrar. Decidi, dessa forma, pedir demissão da Universidade e voltar para o Embu. Desde então, mantenho o trabalho aqui e tenho dado também muitas palestras.

Atualmente, temo um projeto em análise há quase um ano junto à Prefeitura do Embu, propondo aulas de cultura negra para os professores e educadores em geral, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação. A própria formação dos educadores é uma necessidade que se reforça com a entrada do tema nas escolas. Pretendemos, no curso, abordar a África Pré-colonial, os sistema de escrita que já existiam, a primeira operação de cérebro, realizada ainda no Egito antigo. Discutiremos os costumes e fatos importantes ligados à história negra  e, numa segunda etapa, as personalidades brasileiras - os grandes líderes, escritores, poetas, pintores e escultores negros. Também as religiões que vieram com eles, a culinária  e  , por meio de atividades práticas, as danças. Para me auxiliar nesta parte prática, tenho uma equipe de três ritmistas, incluindo meus netos Manoel Trindade e Zinho Trindade, além da dançarina Karla Magalhães.

Acredito que o interesse pela cultura negra cresça ainda mais daqui em diante. Como sempre existiu muito preconceito, não houve até hoje preocupação em saber a história do negro. Nas escolas, o assunto sempre esteve restrito à escravidão. E sempre se falou da lei Áurea como se tivesse sido dada de presente para nós, quando na verdade houve muita luta anterior. Tudo isso faz com que as pessoas se interessem pouco pela história do negro.

Eu, por exemplo, estou há um ano tentando trabalhar junto ao sistema formal de educação, mas a concretização dos projetos esbarra no fato de eu não ter nível universitário. Acontece que, como eu, a maioria dos griôs não tem nível universitário. Com isso, não se dá o valor que eles têm realmente, que é o valor da sabedoria popular. Minha sorte foi que tive um pai fantástico, que era autodidata , pesquisava muito e me transmitiu muita coisa. Por meio da convivência com ele, aprendi muito e tive contato com pessoas que conheciam profundamente a cultura negra: Edison Carneiro, Roger Bastide. Desde então tudo que sei procuro transmitir aos outros, seja meios teóricos, seja pela dança e pela música. E estou aprendendo ainda, com todos os que passam por aqui. Ao lidar com a cultura, a gente aprende todos os dias.

Resumo:folclorista Raquel  Trindade,  filha  do  poeta, escritor  e  ativista  Solano  Trindade,  leva  em  frente  o  trabalho  do  pai  na  preservação  e  renovação  da  cultura  negra  no  Brasil  - por  meio  de  atividades  que  envolvem  diversas  formas  de  arte, entre  elas  dança, artes  cênicas e  música. Neste  depoimento,  ela  conta  sobre  a  história  de  sua  família  e  do  estabelecimento  de raízes  no interior paulista, sobre sua  trajetória  como artista  e  ativista  e  sobre  o desafio  e  a importância  de  se  manter  viva  a  cultura  negra  no  Brasil.

Palavras - chave  : Cultura -negra  , música  , dança  , teatro  , Raquel Trindade.
Fonte    -     Revista   do  Curso  Gestão  da  Comunicação  - Ano XVI - n. 1 . jan/jun  2011
Comunicação & educação    págs  107  a  112   Juliana  Winkel 

Dom Hélder Câmara (1909-1999)



ESPIRITUALIDADE 

A frase em destaque poderia referir-se perfeitamente a Dom Hélder Câmara, um homem amado pelos humildes e odiado pelos repressores da ditadura militar (1964-1985) e pelos capitalistas de plantão. O arcebispo de Olinda e Recife, de baixa estatura e corpo frágil, foi, ao mesmo tempo, profeta, missionário e místico. 

MEDO  ?  POR QUÊ  ? 

Sua coragem impeliu-o a uma obstinada denúncia das injustiças cometidas pelo poder e pelo dinheiro, não apenas em âmbito provinciano, mas até em nível internacional. Sua voz se levantava contra qualquer sistema econômico ou ideológico que pudesse, de alguma forma, aviltar a dignidade dos humildes. “Pobreza é suportável – repetia, mas a miséria é uma provocação à natureza humana". E ensinava que é preciso superar o medo,. “tanto o medo dos que se julgam irremediavelmente oprimidos porque nada têm; como o medo dos que muito têm e se apavoram com o perigo de perder os próprios bens"  ( “O Deserto é fértil“, Civilização Brasileira . p. 60 ) .

Na contramão de certos setores políticos, econômicos e religiosos, centrados no próprio umbigo, Dom Hélder conseguia olhar para além de todas as estruturas e chegava ao âmago do Evangelho: “Quem ama o próximo já cumpriu metade da Lei".. Detestava o assistencialismo: “Não carregues as pessoas nos ombros. Leve-as no coração “ .

Sua palavra queimava as elites até descobrir que o ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, proibira, em 1970, que todos os órgãos de imprensa de sequer citar seu nome. Fora do Brasil, porém, sua voz continuava a denunciar torturas praticadas por aqui.

Ele tinha predileção especial pelos jovens, a quem dizia: “Só se é jovem, quando se tem uma razão para viver". Discursava em Universidades, Congressos, Tribunas de Entidades Humanitárias Internacionais, das quais era membro. Vários de seus livros foram publicados originalmente em francês. Alemães, italianos e demais povos europeus, também conheceram sua mística antes de nós, brasileiros. Lamentava-se: "Se dou comida aos pobres chamam-me de santo. Se pergunto por que os pobres não têm comida, sou comunista " . 

O  PASTOR  PREOCUPADO  

A trajetória de Hélder Câmara é também marcada por um grande amor à Igreja, que, segundo ele, deveria se aproximar mais da miséria humana, se quisesse ser evangélica. "Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios , de maneira a dar-nos ao luxo de procurar Deus em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e não raro, vazias, sem vê-Lo, sem ouvi-Lo, sem tocá-Lo, lá onde Ele está, e nos espera e exige nossa presença: no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós muitas vezes, coniventes com esta situação? ..." (Op.Cit .p.25). 

Seu nome está ligado à criação da CNBB e da CF, no Brasil, e do CELAM, na América Latina, entre outras instituições eclesiásticas. Entre 1962 e 1965, participou das 4 sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II, influindo decisivamente em suas novas decisões pastorais.  Participou e influenciou nas decisões das Conferências episcopais em Medelim (1968) e em Puebla (1979). 

UM  SER  VERDADEIRAMENTE  HUMANO

Como todo grande líder Dom Hélder Câmara era também adepto da não-violência: "O sopro do amor fará aumentar o talento, o número das minorias que desejam a justiça, mas não querem responder à violência com a violência". Não escondia a sua veia poética: "Que importa que eu seja uma choupana, se mora em meu barraco a Santíssima Trindade?" E nem sua capacidade de conhecer a alma humana: "Mais importante que escutar as palavras, é adivinhar as angústias (do povo), sondar o mistério, escutar o silêncio".

Dom Hélder Câmara viveu para servir e serviu ao máximo. Morreu mansamente na noite de 27 de agosto de 1999. As injustiças denunciadas continuam a acontecer. Não importa.  O importante é aprender com seu exemplo e não esmorecer. 


Revista   - MUNDO  E  MISSÃO   pág 19 
ABRIL  - 2006  por  Pedro Miskado 

EDITORIAL



Vamos nos aventurar a fazer, o que entendemos, como uma oportuna reflexão, sobre a atual situação do país, onde se pretende acabar com a corrupção, mas somos obrigados a aceitar a existência de políticos e uma elite de burocratas, nos três poderes da República, com o recebimento de muitas regalias e auxílios (moradia, paletó, plano de saúde vitalício, cartões corporativos, carros com motorista e combustível, férias de três meses, e por aí vai…), numa infindável lista de privilégios, que dilapidam nosso combalido erário, criando castas que exorbitam e ultrapassam em muito os tetos salariais permitidos. Ora, se pela Constituição, todos são iguais perante a Lei, como se conseguiu criar essa elite de exceção, de primeira classe, que quase tudo pode, e relegar o povo o condição de mero pagador de impostos, e a quem é negado quaisquer dessas vantagens. Só a conivência e a pressão de pessoas poderosas, com poder decisórios nos escalões superiores dos poderes da República, podem explicar a existência e a manutenção dessas anomalias. Lógico que para a tranquilidade dos beneficiados receberam o respaldo de uma legislação criada, para sua legal, mas imoral, validação. Mas, tal fato, não justifica a manutenção dessas odiosas distorções . É preciso urgente corrigi-las, combatendo o conluio das classes políticas, sempre prontas para legislar em seu próprio interesse. Isso é uma vergonha. Acorda Brasil! Um povo que não reivindica e que não reclama pelos seus direitos, vai sempre pagar a conta. Sem as correções dessas distorções estaremos fadados à permanecer como um dos países mais desiguais do mundo. Fruto, talvez, de nossa origem colonial e , até hoje não resolvido , quando existia a nobreza e os outros. Agora existe uma democracia deturpada, que segrega seu povo, a quem cabe o ônus da manutenção da classe política e de uma elite burocrática, que está encastelada no poder e tudo comanda, sem se perceber, ou fingir não entender, que fazer política, numa democracia, é um compromisso assumido com os eleitores, de se atuar para promover sempre, e apenas, o bem estar coletivo. E nada mais. Até quando teremos de aturar isso, sem nos rebelarmos e exigirmos uma verdadeira democracia, onde as oportunidades existam para todos, e os direitos e deveres também sejam para todos. No Brasil, enquanto não forem resolvidas essas diferenças, seremos todos, infelizmente, cidadãos de terceiro mundo. Até a próxima ! 

Fonte  -   INFORMATIVO  MENSAL  SATI  NOTÍCIAS   ( impresso ) 
Junho de 2018      -     Ano  XIV    - ( circulação dirigida gratuita )
Sérgio  Canedo