domingo, 30 de julho de 2023

" ENTROPIA "



CCBB  A PRESENTA   “ ENTROPIA “

O espetáculo  teatral  ENTROPIA , com  texto de  Rodrigo Nogueira e direção de  Marcrlo Mello , estreia dia 09 de janeiro próximo no Teatro  III do CCBB . No elenco estão Alexandre Braga ,Diogo Salles ,José de Brito ,Liliane Rovaris,Luisa Friese , Marcello Mello ,Miwa Yanagizawa ,Regina Mello . O patrocínio e a realização são do  Centro  Cultural Banco do Brasil . 

ENTROPIA  questiona a possibilidade de se criar  uma sociedade ideal , ou ainda , conciliar desejos individuais com o coletivo. A peça que não é  ecológica nem  levanta  bandeiras , busca refletir sobre o que faremos do espaço em que habitamos .

“ Como encontrar a  felicidade vivendo no  mundo da  desordem ?  No  mundo possível  . E a  pa - lavra é  desordem . Ou  entropia a  quantidade de  desordem  presente  num sistema . Segundo  a  Física ,estamos  fadados à desordem . E esse é um  caminho sem volta . A quantidade de desordem de um  sistema só tende a  aumentar. A quantidade de desordem de um sistema só tende a aumentar . E a de nosso , parece estar bastante  avançada  “ , afirma o  diretor , Marcelo Mello.

A  peça fala de  preocupações que hoje cercam o  planeta e que já  começam a ter  repercussão que hoje cercam o  planeta , e que já começam a ter  repercussão mundial  -  exemplo disto é o prêmio Nobel da Paz  de 2007  concedido ao ex -vice presidente americano Al Gore, por  sua  luta em causa  do  meio ambiente . O  assunto  esteja nos  cinemas , livros e  TVs , mas ainda  pouco  comum no  teatro . 

Numa época em que controlar catástrofes  parece ser  mais  importante do que qualquer outra coisa parece ser mais  importante do que qualquer coisa , perder  tempo imaginando um  mundo perfeito parece um contra -senso . Mas é um  bom ponto de partida para uma  importante  discussão .O ideal é inatingível , mas sem ele não vivemos . Como conciliar uma busca  sem resultados com as  expec - tativas do dia a dia ?  Melhor . Como encontrar a  felicidade vivendo no  mundo de desordem ? No mundo  possível  "  , continua  Mello.

SINOPSE  

Três planos distintos definem a  ação de  ENTROPIA  : 

- no primeiro deles , um  grupo de   sete pessoas se reúne num  " não lugar " para criar  uma ci-  dade  ideal  -  nomes , relações  pessoais e  memória são suprimidos para garantir a  criação . 

- no segundo  , um grupo de  sete pessoas vive  num  " lugar criado " e trabalha para manter essa  cidade ideal  - nomes , relações  pessoais e  memória  estão presentes o  tempo todo , pois fazem parte de um  cotidiano . 

À  medida que a  ação avança , esses  dois planos se  confundem , dando início a  um  " quebra cabeça " , em que são levantadas as  questões : deve-se abrir  mão da busca  por uma  sociedade  ideal ? Como agir para salvar o que ainda é possível para  salvar ?

Como  conciliar desejos individuais e o  bem coletivo ? Num terceiro plano , os atores apresentam  cidades imaginárias ,que poderiam ser  reais .Representam  sonhos concretizados . Que são  criações , e também  são memórias .

A PESQUISA 

 Platão , até 1984 de  George Orwell e o  Admirável  Mundo  Novo  de  Huxley , passando  pelas  Cidades Invisíveis de  Ítalo Calvino e  Cidade do Sol , de  Campanella . 

Fonte  -  Jornal  Centro do  Rio  -  pág 5 

Apresentado no Centro Cultural do  Banco do Brasil 



Os  idiotas  digitais  e  os  clássicos  

O  enxame  dos  bons  é  constituído  pelos  idiotas  do  bem 

Na  semana passada , nesta coluna , fiz referência a uma  categoria  típica da  fauna  dos  mais  imbecis aos quais  Umberto Eco ( 1932 - 2016 )  fez referência quando falou da  catástrofe  da inteligência nas  redes sociais .  " As  redes sociais  deram  voz  aos  imbecis  . "  A  afirmação        pode ser vista como um canto do cisne melancólico ou um enunciado de profunda percepção do contemporâneo . Ou as duas coisas ao  mesmo tempo . 

Lembro quando ,nos anos  1990 , o historiador francês  Jacques Le Golf ( 1924 - 2014 me falou , numa entrevista para o  jornal . O  Estado de São Paulo ,do seu temor de que a  cultura ocidental estivesse profunda por causa do lixo americano crescente que começava a  soprar . 

Tanto um quanto o outro , no meu  entendimento , estavam corretos em seus sentimentos melan- cólicos e em suas  análises do  contemporâneo .

Perguntaram - me : o que é o  idiota digital do qual falei na  coluna passada nesta  Folha e qual é a  sua relação com os  clássicos ?  Vejamos algumas  frases típicas que podem  ajudar a identificar um  idiota digital falando de um  grande clássico .Em seguida  proporei algumas poucas ideias de por que um  grande clássico é um  grande clássico .

Como  reconhecer um  idiota digital falando de  clássicos ? " Estava lendo  'X' - 'X' aqui sempre  igual a um título de algum clássico - e vi uma  frase racista ! Oh! Imediatamente pus o livro de volta na es - tante e nunca mais vou abrir esse livro horroroso . "  Estava  lendo  'X '  e  tinha um  trecho em que pessoas foram mortas  numa batalha ! Oh ! Botei de  volta na  estante e nunca mais vou  olhar para esse  livro  horroroso ! " Mas deixemos de lado  essas  bobagens . Passemos ao que interessa . 

Friedrich Nietzsche ( 1844 - 1900 ) disse que a  intimidade com os clássicos nos deixa  céticos .E que essa  intimidade ,seria a única salvação para a miserável educação moderna .O que  isso  quer dizer?  

A leitura de um clássico pressupõe a  suspensão de qualquer   juízo moral da moda para o consumo , que é o único tipo de  ética disponível para  os idiotas digitais em busca do  sucesso . Eis o ceticismo .

Um  clássico , quando lido sem o filtro de qualquer autoestima  ou  narcisismo , faz sentir ódio ,des- prezo , encanto , vontade  de matar , vergonha de ver em si mesmo sentimentos baixos . Inveja de quem é  melhor do que você , paixão por quem lhe revela uma  beleza que  você desconhece em si  mesmo .

A  insegurança mortal do  amor ,a dúvida constante em  relação à  fidelidade da amada ou do amado .A  dura descoberta da  indiferença dos elementos do mundo que  nos acossam de  todos os  lados . O  choque diante do  fato que um  texto datado de 2.000 anos pode ser mais   "avançado "  do que  você . 

Como diz  Electra na  segunda  peça da  trilogia " Orestia " ,de  Ésquilo :  " Onde  está  a  alegria  ?  Que  há  isento de  dor  ?  Não é  invencível  a  desgraça  ?  "  No  espírito cunhado na  filosofia  nietzschiana , vemos o  ressentimento , típico dos idiotas  digitais  , não  alcançam  a  beleza de tal  desespero  essencial  porque crê nos  seus  tuítes a  favor da  causa da  moda , a  fim de  engajar  patrocinadores  oportunistas  e  seguidores  anônimos .

Nada disso está  ao alvo  dos  idiotas  está ao  alcance do  idiotas digitais porque eles se  consideram  membros dos  bons é constituído pelos  idiotas do  bem .Como  uma  praga de  gafanhotos , devoram as letras  ao  sabor do  seu puritanismo capenga .

A  leitura dos clássicos nos  faz  céticos , segundo  Nietzsche , porque nos oferece gotas da condição  extramoral a qual ele  buscava . A  única que  nos faz  ver a alma sem  véus . 

O  escritor italiano Italo Calvino  ( 1923 -1985 )  dizia que um clássico nunca  acaba de dizer o que  tem  para  nos  dizer . Por  ser   lido e  relido  em  momentos  diferentes da  vida porque o  leitor , é  outra pessoa depois que o  mundo o  tocou  impiedosamente . E a  piedade , como  toda virtude , só  brota  num  terreno  que  lhe  é  hostil . 

Fonte  -   Jornal  FOLHA DE  SÃO  PAULO   -  pág  C 5  - ILUSTRADA 

Segunda-feira , 15 de Agosto de  2022     -  Luiz  Felipe  Pondé  Escritor ,  

autor de  ' Notas  sobre  a  Esperança   e o  Desespero'  e  ' Política  no

Cotidiano '   -  É  doutor em  Filosofia na  USP


terça-feira, 25 de julho de 2023

DEPENDÊNCIA DIGITAL


 


Viciados em smartphones 

Há  mais de  280 milhões de  usuários compulsivos de  celulares  no mundo , diz estudo 

Você abre apps no seu smartphone mais de 60 vezes por dia ? Se sim,está na categoria dos “ vivia  dos em celular “ .O  transtorno pode ser  grave  , mas tem  cura e você não está  sozinho .Há mais  de 280 milhões desses compulsivos no mundo  , de acordo com um l evantamento divulgado pela Flurry , uma empresa de análise de aplicativos que o Yahoo ! comprou no ano  passado . O dado  mais  preocupante é o que mostra que esse  índice cresceu  quase  60 %  em relação ao  ano pas- sado  .

Os aplicativos mais acessados pelos “ viciados “  são , na maior parte , de redes sociais e de men- sagens instantâneas  , e os dependentes usam esses  dispositivos com uma freqüência pelos menos cinco vezes maior que o usuário médio  .

De  2014 para 2015 ,o número de  dispositivos  inteligentes cresceu  1,3 bilhão para  1,8 bilhão, o  que representa um aumento de  38 % de um ano para o outro . O número de usuários medianos ,   que utilizam  aplicativos entre uma vez e 16 vezes  por dia  , cresceu de  784  milhões  para  985 milhões no mesmo período , um aumento de 25 %  . Já  para número de  usuários  muito ativos ,  que são presentes  16 a  60 vezes por dia  , cresceu  ainda mais : de 440  milhões para  590  mi-  lhões  ( aumento de 34 % ) .Mas o  grupo de usuários  “ viciados “  foi o que cresceu  mais violen- tamente , passando de  176 milhões em 2014  para 280 milhões em 2015  - um aumento de 59 % . 

Não por acaso ,desde 2008 o Instituto Dieese faz pesquisas sobre dependência de celular no Brasil    e promove o uso  consciente da tecnologia  . Em seu centro de tratamento especializado em detox digital , mais de 400 pessoas já foram atendidas  . 

Eduardo Guedes,diretor de programa do Instituto de Psiquiatria  da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) , diz que o primeiro passo para a cura é saber identificar se o indivíduo é um viciado  ou não .Segundo o pesquisador , isso nada tem a ver com o  tempo que se passa on-line ou o número de vezes que se acessa o  celular .

- O  uso abusivo ocorre quando a  vida virtual começa a  atrapalhar a real - define  Guedes  , -  Por exemplo , se a pessoa  deixa de viajar porque não vai ter conexão  WI-FI no local , se  ela  fica de  mau humor quando está longe do aparelho e , em  casos mais graves , e  há brigas com  parentes e  amigos por conta da  dependência.

A compulsão pode ainda gerar problemas de saúde , como tendinite nas mãos e  dores na  coluna cervical  ( pelo hábito de olhar sempre para baixo ) ,além de piora na qualidade do sono e ansiedade . Por isso , pode ser necesário fazer um  detox digital . O próprio  Instituto Delete dá algumas dicas : desligar o celular ou deixá-lo no modo   " silencioso "  na  hora de  dormir , não checar o  aparelho quando estiver  dirigindo nem durante as  refeições ,  criar horários específicos para navegar pelas redes sociais  etc.

Fonte    - Jornal    O  GLOBO     -  SOCIEDADE      -   pág  25

Quinta-feira  ,16.7.2015     -  MARINHA  COHEN   




Ficar  de  fora  é  uma   opção  apocalíptica  ? 

Na  década de  60 , o multi - intelectual   Umberto -  Eco  escreveu  "  Apocalípticos  e  integrados " , um clássico . Ali , ele avalia  dois tipos de  atitudes frente à cultura : os que a veem como atribuído aristocrático - e portanto incompatível com a ideia de torná-lo acessível às massas -  e os que talvez nem se importem com a natureza aristocrática da cultura , absorvendo  informação venha de onde vier e , com isso , compondo uma "  cultura  popular  " .Os primeiros são os apocaliticos ,os últimos , os  integrados . Quando o  livro  foi escrito , a televisão era um fenômeno cultural relativamente re- cente - programas ao vivo , noticiários , rock'roll , uma sensação de " tudo ao mesmo tempo agora "  , se não se infiltrava ,se consolidava no jeito de ser das coisas .Tudo porque o  mundo todo começava a entrar pela janelinha eletrônica que se tornava comum nas salas de estar , primeiro nos EUA ,e dali para o mundo . Claro , havia o rádio , mas as experiências , óbvio , são bem diferentes . 

Já se vão quase  70 anos desde que a  TV  foi tão relevante . Não que tenha deixado de ser , não é o que se quer dizer aqui  ( até porque seria ridículo sugerir isso ,ainda mais no Brasil ). O que acontece é que hoje temos o fenômeno das redes sociais na internet . Que já não é tão novo , diga-se ; desde a década de  90 mais e mais . Havia esperanças mais elevadas para a internet :  a rede era vista como o canal pelo qual a cultura fluiria ,contribuindo para criar uma humanidade mais e  irmã ,mais unida em um  propósito de gerar paz e prosperidade .Claro que nada disso se verificou . A rede hoje é uma terra de ninguém , onde manda a selvageria  verbal  ( que por  vezes até vira  selvageria  física )  ; é  um conjunto de  pequenos feudos , nos quais valem  pequenas  leis locais , códigos e  restrições  impla- cáveis com os  de fora . Essa é a posição dos  aristocráticos apocalípticos , só enxergam a mudança trazida pela internet como decadência .

Já os  integrados veriam a  rede como a terra a se coquistar ,onde vão se  moldar os novos costumes , que as gerações futuras enxergarão como normal , à medida em que os costumes de hoje vão saindo. 

Há espaço para quem não queira se incluir nessa dicotomia . Sim , há ( ao menos em países em que haja  alguma  liberdade de  expressão  ; onde não há , a  categorização nem se  põe . Embenhar -se no debate poderia ser  mais produtivo , oxigenar a discussão . Mas um  breve  passeio pelas redes , basta para mostrar que a contribuição seria pequena . O melhor é ficar de fora .Isso  faz de  você é um aristocrata  apocalíptico ?   Que  seja  .

Fonte   -   Jornal  DESTAK   -  pág   8

Quinta-feira , 20.072017     -  VINICIUS  ALBUQUERQUE  - Editor  Chefe



CONVIVER  para  viver 

SOMOS  seres da  espécie  Homo  sapiens , que  " sabem  que sabem  ", quer dizer : somos seres que têm a  capacidade de pensar e podem pensar sobre aquilo que pensam . Ou seja , têm consci- ência e  auto - consciência . A consciência  oferece a  possibilidade de construir a  individualidade  ;  além disso vivemos em um ambiente  social , isto é , somos sers sociais . Como  Homo  sapiens  somos indivíduos  e , ao  mesmo  tempo , seres sociais .

O ser humano é um ser gregário , que não vive isoladamente , necessita  viver em grupo , estabe- lecendo relações de  troca afetiva e  intelectual com outros seres humanos . Aliás,para que um  ser humano se  torne verdadeiramente humano ,precisa ter a  experiência de uma convivência humana , estar inserido em um  contexto no qual  aprenda  hábitos e costumes e construa sua  identidade  .

O personagem Tarzan é um bom exemplo de alguém que não se tornou humano , embora tivesse todo o potencial para sê-lo , pois não contou com um ambiente para lhe ensinar os hábitos e a lin- guagem humanos , que o estimulasse a desenvolver suas capacidades  humanas .

Relacionamentos humanos são , portanto , a base da  costrução da  humanidade , pois , a partir da troca   interpessoal do convívio cotidiano , o ser humano se apropria dos elementos de sua cultura e se insere na dimensão da vida social .As relações humanas tecem a trama dos vínculos significativos de cada pessoa e traduzem a rde de interações entre indivíduos dentro dos grupos .

Redes  sociais 

As redes sociais são o conglomerado de relacionamentos que cada  agrupamento de  indivíduos es - tabelecer  entre si a que se preserva a  identidade  cultural do grupo e a  sua participação social no  contexto social no contexto  maior do conjunto da  sociedade  humana . As relações interpessoais    dão suporte à experiência de existir , de ser e fazer de cada indivíduo .

Já as  redes sociais  virtuais exemplificam muito bem , na  atualidade ,a  necessidade do ser humano de sentir parte de um grupo . A participação ,às vezes compulsiva , de acessar as redes e  publicar incessantemente mensagens e fotos ,parece alimentar o asseguramento ao indivíduo de que ele não está  isolado , ou mesmo , marginalizado . A busca incessante de estar  "conectado "  24 horas  às redes sociais virtuais pode estar refletindo a ansiedade de se sentir só e desamparado frente a uma  sociedade atual  intensamente  exigente excludente .

Não pode falar do ser humano sem incluir o debate da importância das relações humanas,  pois não há seres humanos sem o mundo humano . E não há  mundo humano sem  seres humanos . O  ser  humano criou o mundo  humano do qual faz parte e dele depende . São  as duas faces da mesma moeda : o ser e o mundo .

Vale destacar que o  indivíduo tem no  isolamento  social seu maior  castigo  existencial , pois estar  marginalizado socialmente significa estar  privado de algo que lhe é fundamental  : compartilhar sua experiência de exisitr e viver , que nada mais é que conviver ! 

Fonte  -   Revista   O  MÍLITE   -   pág  40   -  Para viver  bem 

CLEUSA  SAKAMOTO   -Profa de Psicologia da Comunicação da Fapcom 














































domingo, 23 de julho de 2023

Paróquia Sant ' Ana celebra 200 anos

 


Paróquia  Sant 'Ana 

O  primeiro Santuário  de  Adoração  Perpétua  do  Brasil , a Paróquia de  Sant’Ana , no Centro  do  Rio ,no  15 de  dezembro seu  jubileu  de  200 anos . Ela abriga , desde 1926 , há  88 anos , a  Obra de Adoração  Perpétua , fundada por  Dom Sebastião Leme Silveira Cintra . As  relíquias e  símbolos que a  paróquia  guarda  ajudam a  contar a  história  da  cidade do  Rio de Janeiro , que começou a  ser construída a  partir do  Centro . A  missa em ação de graças pelo  jubileu foi celebrada pelo bispo auxiliar  Dom Edson de Castro Homem , no dia  14 de dezembro , às 10 h .

O  INÍCIO  DE  TUDO 

A  primeira  igreja dedicada a  Senhora  Sant’ Ana , na cidade foi  construída , em 1735 , devido à  devoção do  povo ,que inicialmente venerava a imagem da  padroeira na  Igreja de  São  Domingos de  Gusmão ,que em 1943 , foi  derrubada para a   construção da  Avenida  Presidente Vargas . A igreja primitiva ,que ficava onde hoje é  o  prédio da  estação  Central do  Brasil ,foi edificada num  grande  terreno conhecido como  Campo de  Santana .

Quando foi estabelecida a  Paróquia de Sant’Ana ,em 1814 , por  decreto de  Dom João  VI , foi construída a  matriz que  funcionou até  1870 , quando foi  reconstruída e permanece até  hoje , apesar das  reformas de 2003 .

“ A Paróquia de  Sant’ Ana está  instalada onde era a  cidade da época . Não existia outros bairros , como conhecemos hoje.Foi aqui no Centro que  nasceram todas  as festas e manifestações culturais do  Rio de Janeiro .Por isso , Sant’Ana é a  segunda padroeira do  Rio de Janeiro , depois de  São Sebastião “ , esclareceu o  pároco, padre José Laudares de Ávila , pároco  desde  julho de  2003 .

MATRIZ  DO  PIONEIRISMO 

Além de ter tido o primeiro  Santuário de  Adoração Perpétua do  Brasil ,foi também a primeira sede de  comunidade dos  Alcoólicos Anônimos ( AA ) e a  primeira  casa de  Congregação do Santíssimo Sacramento dos  padres  sacramentinos no  Brasil , que vieram por ocasião da  fundação da  Obra de  Adoração  Perpétua . A matriz possui ainda uma  das maiores custódias  do mundo , com  cerca de 2 metros e  meio de  altura , para  abrigar o  Santíssimo Sacramento . 

SANTA  PRISCILIANA 

A  matriz guarda  a  relíquia da  Virgem  Mártir  Santa  Prisciliana , um  presente  do papa  Gregório  XIII ao  imperador  Dom  Pedro II . Vinda do  Vaticano de  navio ,a  relíquia foi recebida na  Praça  Mauá por muitos  fiéis ,que a transladaram onde hoje é a  Avenida  Marechal  Floriano até a primitiva Igreja de  Sant’Ana .

ADORAÇÃO  PERPÉTUA 

A prática da adoração ininterrupta ao  Santíssimo Sacramento em  sistema de  escalas é feitapor dois grupos : o dos  adoradores diurnos , homens e mulheres que se  revezam entre  21 h , e dos homens adoradores noturnos ,oriundos das  comunidades vizinhas e até mesmo de  cidades  próximas , que pernoitam , revezando na  adoração , entre  22h e 5 h . Os  adoradores fazem parte da  Guarda  de  Honra do  Santíssimo Sacramento . No  prédio anexo à  matriz se encontra a  Casa  Pio  XII , que conta com 132 leitos para que os  grupos possam se  revezar à  noite entre  as  horas de  sono e as de  adoração .

“ O  santuário é um  centro onde as pessoas vão encontrar o  Senhor , para adorá -Lo no Santíssimo Sacramento . A  própria palavra  santuário significa  local de  peregrinação , onde  as  pessoas vêm  encontrar-se com  Deus e também para  celebrar os  sacramentos “ , destacou o pároco .

Fonte  -  Jornal  TESTEMUNHO  DE  Fé   -  págs  12  e 13 

7 a  13  de Dezembro de  2014 - ESPECIAL 







quinta-feira, 20 de julho de 2023

Amizade - UM DOM PRECIOSO

 


Atualidades

Amizade   -  UM  DOM  PRECIOSO 

A amizade é um bem precioso e , como tudo o que é valioso , é rara . 

Geralmente os “ amigos "  se  contam nos  dedos de  uma mão  .

Amizade é  importante porque nos proporciona o raro prazer de poder estar com alguém sendo nós mesmos  , sem máscaras  . Mas como distinguir  uma amizade falsa de uma verdadeira  ? Os  pro- cessos de  identificação inconscientemente se encarregam de aproximar as pessoas  , criando  laços emocionas profundos, embora nem sempre saudáveis .É como se os inconscientes dialogassem entre si ,antes mesmo de as pessoas se conhecerem .O inconsciente nos move em direção desta ou daquela pessoa , de acordo com suas necessidades  . 

Naturalmente , nem sempre isso ocorre de maneira saudável . às vezes o que aproxima duas pessoas são as respectivas neuroses . Uma personalidade com tendência  à submissão , por exemplo, poderá sentir forte atração por um amigo dominador sádico  . 

A  marca registrada da amizade saudável é a espontaneidade .O amigo é aquele que gosta de nós co- mo nós somos ,sem que seja necessário pormos uma  máscara para  fingirmos sermos mais  interes- santes , etc . O amigo nos conhece e ,sem muitos rodeios ,sabe do que estamos falando e o que  es - tamos sentindo .Ele adora compartilhar nossos sonhos  , nosssas conquistas e nossos momentos  di - fíceis . Chora conosco , vibra  conosco e  , também sabe tirar um sarro de nossos defeitos, sem nos deixar para baixo .A amizade verdadeira nunca é interesseira . 

A amizade simplesmente “ acontece “ ,geralmente de forma inesperada .Apesar de alguns duvidarem , também ,acredito que seja possível existir amizade entre homens e mulheres , sem que a amizade se torne um romance .Novamente ,o que caracteriza esse tipo de amizade é a possibilidade de estar com o outro sem querer usá-lo .

Fonte  - Revista de Aparecida   pág 22   maio 2013    

Roberto Girola  -  Psicanaliste  e  Terapeuta  familiar       

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Pais e Avós



Atualidades     -   Pais e avós  : 

Como evitar conflitos

 O papel dos avós varia de acordo com a situação de cada família e com

A maneira de ser , do  ponto de vista psíquico  , de cada um deles .

Não é raro que o avô ou a avó sejam lembrados como uma  presença  importante na vida de uma pessoas . Às vezes, eles representam a tábua de salvação para aquelas crianças que não encontram nos pais um apoio afetivo suficientemente bom  .Em outros casos  , mesmo os pais sendo bons ,os avós são chamados a substituí-los por   causa do trabalho de outras situações em que  avô ou  avó vivem na casa dos filhos ,junto com os netos .

A presença de dois pólos afetivos na vida da criança ( os pais e os avós ) pode levá-la a fazer algum tipo de chantagem  emocional para realizar seus desejos de forma onipotente  .Mesmo querendo , é difícil para os avós assumirem o papel dos  pais  . Seu papel  , no entanto  , é importante , pois eles garantem à criança uma experiência importantíssima do ponto de vista psíquico : o contato com suas raízes . Ao contar seus causos , suas histórias ,ao compartilharem com elas suas  ”  formas de ser  “ , suas experiências e seu  mundo , eles estabelecem um elo entre o  passado e o presente ,que lança a criança para ser seu próprio futuro  . Sabendo de onde ela vem , ela pode escolher para onde  ir  .

No que diz respeito à  educação dos netos , é  importante que os avós evitem toda forma de desau-torização dos pais .Quando estes tentam educar os filhos  , impondo os limites , os avós não devem interferir ;  pelo contrário , devem  apoiá-los . Se eles acharem que os filhos  não agiram  de forma certa  , podem conversar com eles e , se for o caso  , não agiram de forma certa , podem conversar com eles e ,eventualmente  , questioná-los ,mas nunca na presença dos netos  .Se a  autoridade dos pais for  questionada e atacada , as crianças poderão tender a  desenvolver formas  de manipulação onipotentes da realidade , que caracterizam certo desvio psíquico na forma como elas  passarão a se relacionar com o mundo . A tendência de burlar a lei  ; a dificuldade de lidar com a autoridade e com os limites que a vida impõe ; a tendência de fazer dívidas e de não saber lidar com o dinheiro podem ter suas origens nesse tipo de atitudes erradas na educação das crianças  .Algo que parece muito ino- cente e sem conseqüências na hora de agir pode de fato ter conseqüências inesperadas mais tarde  .

Fonte  - Revista  de  Aparecida  -  pág 12 -  julho  de 2015

Roberto Giroia  , Psicanalista  e  Terapeuta  familiar 



Os  Avós  de  Jesus 

Em  cada  fase da  vida  familiar , há relações  que  circulam  entre  nós carregam  sentidos  pro- fundos  para  o  viver 

Os avós , em geral , são gente simpática . Duas vezes pai , eles somam o carinho com a experiência de vida .E se antes foram rigorosos ,agora têm a chance de serem mais mansos e tranquilos .Talvez , por isso ,as crianças têm um fascínio particular pelos avós . Ao mesmo tmpo ,eles veem nas crianças o prolongamento de susa própria vida , um misto de saudade e esperança .

Jesus  teve  avós ? A  Bíblia não fala sobre isso , mas não é difícil  imaginar que relamente teve . Os pais de  Maria , mãe de Jesus ,recebem o nome de  Joaquim e Ana em um Evangelho apócrifo ( não autêntico ) do século II , chamado Protoevangelho de São Tiago . A veneração por eles se consolida muito tempo depois , na  Idade  Média . Embora a  gente apenas imagine os  detalhes da  relação de Joaquim e Ana com sua  filha  Maria e com seu neto   Jesus , podemos apostar que Maria aprendeu deles a  fé e a confiança profunda em Deus , e que Jesus menino também recebeu o carinho e a  fé dos seus avós . Muitas imagens e pinturas antigas sugerem isso . 

A devoção a  São Joaquim e  Santa  Ana foi trazida ao Brasil nos tempos  coloniais . Muitas igrejas foram dedicadas a eles , e sua devoção se espalhou  até hoje . São  padroeiros dos  avós e também símbolo da proteção carinhosa de Deus que nos dá a missão de transmitir sabedoria de vida . 

Eles veem crescer a autonomia dos filhos , que se casam e já não aceitam interferências . Às vezes , também alguas  tensões  familiares geram distanciamentos . Mas é mais frequente ver os avós com uma nova função na família moderna : enquanto os pais e mães vão trabalhar fora ,os avós estão lá dando cobertura e apoio . E mesmo que , às vezes , sejam um pouco explorados pelos pais das cri- anças , os avós manifestam um carinho muito benéfico para a educação dos pequenos .

Estudiosos , entre os quais Winnicott , mostram como as figuras dos pais e também dos avôs são diferentes , e como essas diferenças são complementárias e benéficas para as crianças .A mulher de- senvolve relações envolventes , cujo símbolo maior é sua gravidez .E mesmo que nunca engravide a mulher carrega em si a tarefa de cuidar dos mistérios da vida . O homem tende a desenvolver e expe- riência de ser uma unidade exclusiva , que atua nos mistérios da vida como a partir da  exterioridade . Mas ambas as figuras são importantes para a educação das crianças .De fato , nossa vida sempre in- terioridade e exterioridade . 

Existem , portanto , senti bonitos nas diferentes fases de nossa vida . A  fé nos ajuda a perceber que temos sempre a possibilidade de comuicar e receber forças construtivas de vida .Por isso , a memória de São Joaquim e Santa Ana traz uma mensagem direta sobre nossa relação com os mistérios de Deus , em nossas relações familiares . Eles são padroeiros dos avós. A devoção cristã vê a grandeza do seu neto , Jesus . Assim também nossos avós podem curtir uma alegria íntima , na esperança de seus ne- tos serem importantes para um futuro feliz da humanidade . 

Fonte    -   Revista  de Aparecida     -   pág  28    -  Moral 

Julho  de  2014   - Pe. Márcio  Fabri  dos  Anjos  . C.Ss.R



sexta-feira, 14 de julho de 2023

O hip hop agita BH




O  hip  hop que  agita  BH

Que  som  é  esse que acorda a periferia e invade os barracos como uma epidemia ?

Que  som  é  esse que se tornou a arma do gueto ?

Que  som  é  esse que trata de nossa política e de nossas  desigualdades soociais e raciais ? 

Que  som  é  esse que busca fazer nossos jovens refletirem ?

Que  som  é  esse que embala nossos sonhos ? 

Esse  é  o  som  do  rapp !


Rap  com  rock, rap 

com pop , rap com 

reggae , rap com rap .


Cheio  de  misturas , 

mas  sem  perder 

a  ideologia 

e  a  identidade .


Música  inteligente e  engajada .

Música  que  pode  ser  

criada mesmo por 

quem  não  tem  acesso 

a  guitarras  eletrônicas 

e  baterias .


Basta  microfone

papel  e  caneta  para 

bombardear  aqueles 

que  fingem  não  ver 

o  cotidiano  de  milhares de  meninos 

e  meninas  e de  suas  famílias .


Revista  -  Viração  - contra capa 

Texto de  Laiara  Borges -  publicado pela galera que faz o  - TÁ  NA  REDE 

jornal  - O da  Rede Jovem de Cidadania  de Belo Horizonte 






O FUNK NO RIO DE JANEIRO

 



O  FUNK  NO  RIO  DE  JANEIRO 

O funk carioca surgiu quando jovens moradores dos subúrbios começaram a compor canções a partir de  músicas americanas de hip-hop , tocadas em  clubes e festas por Disc Jockeys (Djs ) locais .Trata-se de uma reelaboração dos grupos das favelas . No entanto , há  familiaridades quanto ao  conteúdo das  letras : violência urbana ,sexo ,desigualdade social e racial ,elementos do contexto suburbano .No Rio, as cantoras começaram a  promover  versões sem usar o rap ( canto improvisado ).Inicialmente, participavam como dançarinas , em seguida  tornaram -se  Mestres  de Cerimônia  (Mcs ) ganhando notoriedade ao exibirem versões que narram histórias sobre sexo causal e o cotidiano das favelas.Nos últimos anos , este fenômeno musical se  espalhou por  outras  classes sociais . Os espaços de sociabi- lidade são os bailes funk onde as Mcs passam horas fazendo perfomances para uma audiência de mi - lhares de pessoas . 

Existe uma diversidade de pesquisas sobre a desigualdade social no Brasil  ; no entanto , busca-se re - ferir neste artigo estudos sobre representações das favelas e do funk carioca na mídia .Contudo ,vale reconhecer que ,já na década de 1980 ,o antropólogo Hermano Vianna  desenvolveu pesquisa etno - gráfica sobre os  bailes funks explorando o  universo  suburbano até então desconhecido do Rio.Sua  contribuição descreve a contribuição descreve a  introdução do funk nessas comunidades , nos anos 1970 ,envolvimento expansivo de  público negligenciado pelas classes sociais  mais favorecidas e pela mídia . No final dos anos 1980 , cerca de 700  bailes funks aconteciam semanalmente no Rio de Ja - Janeiro .Cada uma reunia , pelos  menos  mil  pessoas sendo que alguns concentravam de  seis a dez mil pessoas . O fenômeno  ainda persiste . De acordo com  Denise Garcia , são  cerca de  500 bailes  por semana , que reúnem mais de  cinco mil pessoas cada . Se no início , a mídia parecia ignorar a exis -tência do lado carente carioca , hoe é representado pelos  meios como a  violenta  e exótica face do país . Viana  aponta ainda que o  funk  carioca  não sofreu  imposição da  indústria cultural norte -americana . As gravadoras refutaram - por muito tempo -  o mercado brasileiro .Os jovens dos subúr- bios apreciavam o funk , mas  encontravam dificuldades em adquirir álbuns .No início , eram  apenas os  Djs  a  promoverem o  funk através dos  bailes . Os grupos mais conhecidos eram : Furacão 2000 e  Soul  Grand  Prix .Há também um  protagonista nessa trajetória , o Dj  Malboro , responsável pela nacionalização do funk nas rádios locais e pela  promoção de bailes . 

Estudos recentes demonstram que o fenômeno suburbano do  Rio não foi notícia até década de 1990, assim como não participou da  sociabilidade  das classes  médias cariocas até  recentemente . Micael Herschmann comprova este paradoxo em sua análise de reportagens publicadas na imprensa sobre o funk . De um lado ,observou que havia o funk identificado com a criminalidade e a violência no con- contexto carioca . De outro ,que a  música funk  começava a ser  reconhecida como expressão cul  - tural e representação de um segmento particular . Isso explica o interesse de outras audiências , inclu - indo a Londrina . É importante salientar , no entanto , que os elementos relacionados ao funk carioca e à cultura vem da favela estão presentes na promoção e consumo dos bailes funk .Thornton ( 1995 ) contribui na compreensão da relação entre espaço e cultura :  A cultura de clubes é a cultura do gosto. As massas que frequentam  clubes geralmente congregam na sua base o  gosto pela  música [...] . A participação na cultura de clubes construi a finidades  sociabiliza os  participantes no  conhecimento  daquilo que gostam ou desgostam ( frequentemente em benfício de ) , significados e valores culturais .

Contudo , o estilo musical é o elemento principal desta comunicação .Quando o funk norte-americano começou a  ser difundido nos subúrbios cariocas , as comunidades jovens  não compreendiam o signi- significado das letras das músicas . Atualmente , o público de  Londres -  ou de outros países onde é exibido - dificilmente chegam a compreender o conteúdo linguístico . No entanto ,o estilo musical está presente , convidando audiências a aprenderem mais sobre este específico contexto .

Se no  início o funk concentrava-se nos bailes , logo surgiu um novo elemento :  a mulher , que con - conquistou espaço e passou a invocar discursos de gênero .No passado , a parte das mulheres era  a apenas o dedançarinas eróticas . Hoje as jovens adquiriram visibilidade : são cantoras exibindo ideias , sentimentos , discursos do cotidiano , liber-dade sexual e poder na estrutura  socioeconômica familiar. Mais ainda , o  funk  vem estimulando as jovens a deixarem o  trabalho diário - de domésticas ou co- zinheiras - para  perseguirem a fama como  Mcs , como demonstra o filme em questão . O (  filme - Documentário  diretora , Denise Garcia  : Sou  feia  ,mas  tô  na  moda ) - demonsta  a  relação con -  traditória  existente  entre  a  favela  e  a  cidade  no contexto brasileiro .

Fonte  -  Revista   - Comunicação & Educação  págs 70 e 71   - Ano XVI  nº 1 

Jan/Jun  2011  - Cultura  jovem  e  identidade    -  Jamile  Dalpaz 

Revista  do  Curso  de  Gestão  da  Comunicação  - ECA  -USP 


quinta-feira, 13 de julho de 2023

Rock in Brasil




Rock  in  Brasil 

O  balanço  das  gerações

REBELDES

Até 1955  o mundo movia-se ao  som de uma  valsa tocada  por  Glen Miller .Um dos  grandes  momentos  na vida de qualquer  jovem era quando completava 15 anos ou formava-se  normalista .Orquestras ocupavam os salões dos clubes e casais dançavam  elegantemente sóbrios . Os rapazes de summer , as moças de longo . Dançavam distantes .Rosto colado , nem pensar – a não ser que estivessem assumindo publicamente o com - promisso de namoro e todas as suas regras conhecidas .O próximo passo ,uma semana depois, seria o  beijo na boca. Passado um mês , abraços mais  Nas festas mais inebriantes . Mais outro mês , e a maravilha de um  beijo de boca aberta . 

A partir de 55 o  rock  explodiu o  mundo –  e nem  o namoro ficou indiferente a isso . As ruas das grandes cidades eram  cruzadas  por  lambretas que  conduziam na  frente o  rapaz  ( topete , calça  brim  coringa , alpargatas ) e na garupa , agarradinha  , o broto ( rabo de cavalo , calça  pescando siri e camiseta de gola canoa ) . As regras básicas , no entanto, persistiam .A moça tinha que parecer difícil para “ não cair na boca do povo“, muito “ dar o mau passo” ( perder a virgindade ) . O rapaz, reprimidíssimo , era incentivado pelo pai a iniciar-se na vida sexual com prostitutas .

Essa  juventude às vezes  inventava moda jogando ioiô ,  rebolando com bambolê ou enchendo os cinemas quando havia  algum filme em terceira  dimensão  ( aqueles dos oclinhos ) .  Nas festas mais avançadíssima  , as que tocavam os  rocks de  Bill Haley e Elvis Presley , o pessoal tomava drinks considerados verdadeiras bombas de desinibição : cuba libre ( Coca Cola com rum ) e hi-fi (vodka com Crush) .Nos bailes bem- com-portados havia  coquetel que derrubasse a tensão.As moças temiam levar " chá de cadeira ",ou seja ,não ser convidadas para dançar . Os  rapazes também sofriam. Tinham que atravessar todo o salão para tirar a moça .E quem lhes garantia que não, a famosa "tábua " uma época de avanços tímidos. Os brotos  trocavam as toa- lhinhas higiênicas da farmácia . E começavam a ir à praia vestindo a audácia do biquini e isso provoca escân- dalos curiosos, como o que  Ronnie Cord flagrou em   Biquini Amarelo, a história de uma  tal   Ana Maria ex- perimentando o duas-peças numa loja. No lado dos rapazes - por mais que as  grandes potências começas -sem a cruzar o espaço com seus satélites e no Brasil a  indústria  automobilística  se  firmasse .

Como tentativa de afirmação,algumas  moças fumavam escondido . Em público, nem pensar. Nas noites que antecediam os exames , fazia-se um novo esforço de compreensão das matérias à custa de bolinhas e  anfe- taminas . Foi através delas que  as drogas entraram na  classe média.O  Instituto de Educação , um dos mais famosos do Rio , apresentava durante as provas parciais e orais - eram o horror da estudantada - um  movi -vimento especial de  normalistas abaladas pela excitação das bolinhas.

Mas a facção mais alardeada dos anos  50 é a da  juventude transviada . Eram os revoltados , os que estavam de  mal com tudo e  manisfestavam isso em  atitudes . 

Quebravam cinemas após  filmes de rock , lutavam de correntes e canivetes nas es-quinas,a turma de uma rua contra a da outra. No  visual imitavam  James Dean com seu jeitão eternamente entediado , blusão de  couro e blue jeans desbotado . Eram um caso de polícia . Praticavam a  roleta -paulista , uma  brincadeira de avançar sinais , e de vez em quando estavam no noticiário como envolvidos em mais uma farra num  apartamento em  Copacabana . O jovem queria explodir mas não sabia para onde . Tempo de repressão . Nem  usar  camisa vermelha o  rapaz podia . Era coisa de " maricas " .

JOVEM  GUARDA

Uma brasa mora -o elogio máximo entre a turma da  Jovem Guarda - era o rapaz usar  botinhas  The  Beatles bem engraxadas , calças tipo  Saint- Tropez e  namorar uma garota papo-firme: aquela de minissaia , cabelos lisos longos repartidos ao meio e  botas de cano alto. Tinha mais : os  cabelos  masculinos eram compridos , desciam até a altura dos ombros e dali faziam uma volta para cima . Do exterior já vinham  notícias sobre a pílula anti-concepcional. Mas a  garota-papo-firme , indecisa, não deixava que o namoro passasse de uns " amassos " no portão.

A coisa estourou mesmo em 1965, Roberto e Erasmo Carlos já vinham fazendo  composições próprias , de temáticas tiradas do cotidiano do  jovem brasileiro - como a chegada do  monoquíni às prais do Rio .Mas foi no final desse ano , quando os dois - mais  Wanderléa , Renato  e seus  Blue Caps ,  Jet Blacks e outros - ganharam um programa aos domingos , na TV Record (SP) , que o movimento se tornou um acontecimento sem precedentes . Jovem Guarda , o nome do programa , era a  ressonância aqui de um  fenômeno mundial , de novos compotamentos e  nova música, criado a partir de 1962 com o primeiro disco do grupo inglês  The Beatles .

Eram quatro cabeludos , franjinhas caindo escandalosamente até as sobrancelhas até às sobrancelhas , e que provocavam crise de  histeria nas platéias femininas .Eram jovens , bonitos , sensuais , levemente  inconse  - sequentes e com uma  inspiração musical típica dos  grandes gênios . Deram ao  rock o  frescor , liríssimo e sofistificação que o gênero precisava para sua  enlouquecedoura   negritude  rítmica . Feito o coquetel ,  tudo  o que aconteceu nos costumes do mundo - e como aconteceu - deve ser posto na conta dos  Beatles : as saias femininas foram reduzidas à metade , os jovens passaram a ser o  grande modelo idealizado pela sociedade de consumo, os homens ficaram  mais liberados da  obigação do machismo ( com aqueles cabelos, não podia ser de outro jeito ) , a revolução sexual , finalmente , punha-se em marcha .

A  Jovem Guarda adaptou como pôde essa onda de  libertação . Os militares estavam no poder, a marcha pela família acabara de varrer o pecado das ruas .  Achava-se que em cada  LP de Rock vinha um encarte com todas as informações para as meninas deixarem de lado  suas  bonecas e caírem na  grande  festa da  luxúria e perdição . Não era bem  assim. As  músicas descreviam o  namorinho de portão , o encontro no boliche , as turmas de rua e as festas dadas como de  " arromba" , mas que na  verdade eram apenas de  brincadeira ginasianas . Foi a última  juventude ingênua da  história do Brasil . Drogas , virgindade , homos- sexualismo não eram  "papo" pra  Jovem Guarda .

Tempos difíceis, convenhamos . Mesmo assim  Roberto Carlos fez um bom desabafo em Quero que Vá Tudo pro Inferno , Wanderléa  deu os primeiros sinais de insatisfação feminina  em  Prova de Fogo  e  novamente  Roberto louvou uma companheira mais forte e decidida em É Papo Firme .  Mais, impossível. A informação dos artistas daJovem Guarda não era muito  sofisticada - e, felizmente, eles não tentaram  demonstrar o con- trário . Cantavam o que lhes acontecia na vida , paixões com  uma coloquialidade simples e efeciente . Eram beijos e beijos, a forma mais inebriante de realizar o desejo sexual .

O importante era que o  jovem tivesse seu caranga incrementado para impressionar as  meninas ao desfilar na  Rua Augusta ,uma versão moderna do  antigo footing na pracinha do interior. Roupas Calhambeque , lançadas por Roberto, também caíam bem . As calças , de duas cores  ( uma na frente , outra atrás ), deviam ficar na altura dos quadris , ser  bem  justinhas e ,a partir dos joelhos ,abrir numa monumental  boca- de- sino até até arrastar no chão . Além de " uma brasa, mora " , era "  bárbaro " e  " barra limpa "  .

TROPICÁLIA 

O  tropicalismo foi o  iê-yê-yê que frequentou e universidade , leu Marcuse , McLuhan e soube que  os estudantes  franceses estavam pichando as ruas de  Paris com slogans como "  a imaginação no poder " e    seus colegas  tchecos  protestavam contra a invasão de seus pais pelos tanques soviéticos.Foi a  primeira geração que viveu sob o  impacto dos satélites de informação . O que acontecia nos  Estados  Unidos  e Europa chegava aqui no mesmo momento em  transmissões  diretas de  rádio e televisão . E os  tropica-    listas estavam  ligados em toda  modernidade  internacional  , sem esquecer porém que  no fundo de ser    peito bateria sempre um  pandeiro .

Era preciso não ter vergonha da  cafonice da pátria , adotá-la ao mesmo tempo em que se convivia com o  intelsat e  outros  satélites da  nova  comunicação jogavam aqui no quintal . Nada de  preconceitos .  Os tropicalistas misturaram arranjos sofisticados dos Beatles , no recém-lançado LP Sargent Pepper 's Lonely Hearts Club  Bad , com Araci de Almeida . O  pinguim devia continuar em cima da geladeira - ficava bonito ali-mas na parede , para dar uma equilibrada na coisa , ia bem um  quadro  de  Andy Wahol . Não se sabia mais o que era bom e o que era mau gosto . O  tropicalismo tinha estô-mago de avestruz digeria todo sa - rapatel estético  e limpava os lábios com a língua ,achando uma  gostosura .

Foi uma revolução intelectualizada . Os baianos que fizeram o tropicalismo a partir de 1967 , principalmente  Gilberto Gil , Caetano Veloso, Tom Zé e Torquato Neto , estavam antenados com a onda das passeatas. Li- deradas pelos estudantes ,elas reinvi-dicavam um   país mais democrático , independente e moderno. Eram agitações quase diárias . Os estudantes usavam camisa cáqui de  manga  comprida  calça  Lee  desbotada    (do bolso de trás pendia o estilingue para atirar  bolas de gude que  desiquilibrariam os cavalos dos PMs ) e tênis grosseiros , especiais para batalhas de rua . As moças usavam  grandes óculos redondos , gola rulê  e minissaias - mas sem exagerar na busca da sensualidade .

Aos poucos ia se marcando um  novo visual para a  juventude. Caetano e Gal Costa usavam os cabelos alisados , mas resolveram assumi-los , com todos os  caracóis  da morenice , assim que o  movimento es- tourou nos palcos  - sempre com  cenários de quintais e bananeiras ao fundo. Houve uma revalorização do terno branco de linho, do sapato bicolor e do chapéu com jeito de malandro . O toque de estranheza  - e  genialidade - dos tropicalistas é que eles revestiam tudo isso com a  informação pop .Gravaram por exemplo o  Hino do Senhor do Bonfim , cantado nas  procissões baianas ,com um pouquinho do  feético rock  ali  .

O rock ,por sinal , nunca tinha soado tão atualizado no Brasil . Nada do  namorinho de portão da  Jovem Guarda ,mas o amor louco de  Clarice ( de José Carlos Capinam e Caetano Veloso )  O décor era a grande cidade, o  computador, o astronauta , a rebeldia mais desafiadora possível . Era o tropicalismo colocando no  palco a  grande contradição do país : de um lado, um Brasil que avançava na  tecnologia  ( grandes indústrias ,uma  sociedade de consumo excitada ) ; do outro  o  Brasil rural , com a eco-nomia sustentada pela expor- tação do café e embalando o  sono nas  lendas do  saci-pererê . O  tropicalismo dava seu  parecer  nesse  conflito as duas  culturas deviam con -viver em paz , sem oposições .

Foi uma onda rápida, como a que se eleva e desaba em Itapoã .Os de direita achavam que o  movimento subvertia a  ordem quando fazia  versões para a  guitarra do Hino Nacional .Os de esquerda achavam que as  letras não tocavam nas grandes questões sociais . Além disso , aquele negócio de  cabelo comprido e guitarra de rock era coisa de imperalista americano. Diante de um grupo desses que o vaiava no  Tuca, em São Paulo , quando cantava . É Proibido \proibir, caetano discurous veemente : " Mas é isso que é juventude que diz  que quer tomar o que pode ? Se vocês em política forem como são em estética , estamos feitos " !

Caetano, infelizmente , estava certo . O AI-5 desabou logo em seguida e a juventude foi uma de suas  grandes vítimas .

DESBUNDE 

O sonho acabou. Quem disse foi  John Lennon , assim que os anos  70 apareceram no horizonte. Acertou em cheio. Foram  tempos difíceis . No Brasil , a geração que curtiu sua  juventude naqueles  anos escuros ficou conhecida como a do sufoco, ou do desbunde . Uma das  gírias mais consagradas ficou sendo "sartar " . Não há  à  toa .

Fugia se . Das universidades com seus   professores cassados dos  meios de comunicação censurados ;  das  torturas nas prisões . As estradas ficaram  cheias de  hippies . Os rapazes usavam  sandálias , bolsas de couro e  camisetas com  flores psicodélicos  impressos em silk-screem .As moças vestiam  longas túnicas indianas . Tinham como ideal de beleza deixar os pêlos do corpo - todos,principalmente os do sovaco -  aflorar natu -ralmente .

Essa era uma outra  palavra de ordem : ser  natural . usava-se  patchuili , um perfume  com cheiro de mato. Centenas de  comunidades  foram armadas em  lugarejos como  Mauá , nas  montanhas do estado  Rio de Janeiro e Arembepe , litoral baiano . Na primeira , os hippies faziam  cultura de mel ,amassavam  pão integral  e alimentavam-se nos rigores da  refeição macrobiótica . Em  Arambepe era  quase a mesma coisa . Só que , quando o sol ficava mais forte, todo  mundo tirava a roupa e entrva no mar, exatamente como no princípio de tudo .

As drogas instalaram-se em todas as camadas da classe média urbana . Principalmente a maconha e o ácido lisérgico.Ao mesmo tempo que estimulavam o exercíco de novas  percepções ,  faziam agumas vítimas .Os jovens começaram a curtir  drogados os  shows de  rock . 

Os músicos por sua vez , produziam uma série de cançoes  falando do barato das drogas . Houve também a head-music, com Pik Floyd, Yes e outros. A  música sozinha , com suas abstações, fazia a cabeça . Uma viagem . 

O Oriente distante era tido como o templo máximo do conhecimento e quando não exportava  modismos como  I  Ching ,u m jogo advinhatório , eram os próprios jovens que pegavam um cargueiro do Lloyd em busca de gurus e  técnicas de  meditação , como as  de  ioga e do zen -budismo .Tudo o que pudesse  ajudar a decifrar o oculto dessa existência era bem-vindo .Foi ali que se começou o que estrava escrito nas estrelas . I Ching , horóscopo , tarô, bola de cristal . Tudo isso devia ser curtido com um incenso de jasmim aceso no fundo da sala . Muitos  almofadões pelo chão e cortinas de renda compradas no  Ceará.

Outra palavra importante foi  alternativo . Indicava que não se precisava de muito di -nheiro para ser feliz . Mais : que esse dinheiro podia pintar em profissões fora dos es-critórios e das  relações  capitalistas mais explícitas . Ser artesão , por exemplo .Na  Praça da República , em  São Paulo, e na general Osório, no Rio, rapazes de barbas e cabelos longos vendiam  objetos de couro . Alternativa também era uma certa forma de imprensa . De pequenas redações saíam jornais como  Flor do Mal , Verbo Encantado, Beijo, a revista Bon -dinho . Eles davam dicas de como fugir do  sufoco com matérias sobre  ecologia, bioenrgética ,  libertação sexual e perfis dos gurus Casrañeda ,

Timothy Leary e outros. A coluna  Underground ,de Luis Carlos Maciel , no Pasquim ,era o principal  centro irradiador dessas novas idéias . 

Nas portas dos teatros, principalmente dos que apresentavam  shows de  Raul Seixas , Gal Costa e outros , joven spoetas vendiam versos rodados em mimeógrafos . ComoChacal : " Espere baby , não desepere/a lagoa há de secar / e nós não ficaremos mais a ver navios / e nós não ficaremos mais a roer o fio da vida /e nós não  ficaremos mais a temer a asas negras do  fim ".

REALCE

Cansada do  coletivismo dos anos 60 , da rebordosa do início dos 70 , a juventude que encerrou a década reuniu-se em torno do que achava  mais lindo do mundo : o próprio umbigo . 

Ficou conhecida para sempre , nos anais que registram a  história do comportamento , como " a geração do eu ' . Um ' eu " para cima , positivo , resolvido a  ficar de bem com a vida depois de  tanto protesto e picada de mosquito nas  comunidades de Mauá .

As "gatinhas" e "gatinhos", com suas camisas Hang Ten ou  Hands-Off sandálias ha -  havaianas com solas invertidas , andavam em bandos , com poucas palavras  ( mas muitas gírias ) e bastante som saído de  head-phones, que os acompanhavam sempre .Reuniam-se em frente de  lanchonetes . No coração das " cocotas " , o hippie dá lugar ao " fera" , hábil surfista de longos cabelos dourados ( mesmo que à custa de água oxigenada ou até de parafina usada em suas  pranchas ).

Um dos poucos  grandes ídolos desses tempos foi o americano  John Travolta , que cruzou o  mundo inteiro no comando do filme  OS  EMBALOS DE  SABÁDO  à NOITE, uma  ode às delícias que giravam em torno das discotecas . eram imensos  salões de dança , decorados com muitas  luzes ríttmicas  e um  som altíssimo , que despejava uma  música de arranjo cheio de metais e  batida  insistente,comparada à do  bate-estaca da  construção civil . As discotecas espalharam-se por todo o  Brasil, deram origem a uma  moda própria ( roupas sempre coloridas e brilhantes ) , criaram  mitos próprios  ( como as Frenéticas ) e viraram tema de uma tele - telenovela de  grande sucesso (Dancing Days ) . Cercadas de  espelhos por todos os lados, reletiam jovens que tinham como grande preocupação " transar o corpo numa boa " .

Foi nessa época que as academias de ginástica começaram a viver um de seus momentos fervilhantes .Flexões abdominais e  principalmente  corridas ao  ar livre , incentivadas pelo  método do dr. Kenneth Cooper, dei - xaram de ser  coisas aborrecidas, parte das  aulas de  educação física ,e foram consumidas por  batalhões de atletas. Não havia mais tempo para  utopias sociais nem viagens de labirintos da mente,que caracterizaram as  gerações anteriores . " Cada um na sua " - eis  a  gíria  mais  falada.

Dentro desse  orgulho pela  individualidade dos gays , que discutiram  publicamente a necessidade de ter seu prazer respeitado ( o jornal Lampião foi o porta-voz desses anseios ) . Todo  mundo deslizava em cima de  skates , patins , bicicletas e  pranchas de windsurf , outros modismos do final  70 .  Não eram  brincadeiras gratuitas como  ioiô . Eram  esportes wue divertiam e , ao mesmo tempo , iam trabalhando  biceps, glúteos e tudo mais .

De resto, a geração do eu consagrou a seu jeito práticas que já haviam sido detonadas anteriormente , mas fracassadas por seu  radicalismo . Ninguém evidentemente continuou a mastigar  35 vezes cada porção de porção de  macrobiótico , mas muita coisa da  alimentação natural dos  hippies ficou: o açúcar mascavo chegou aos  restaurantes finos ;as casas de sucos substituíram os bares de esquinas ;o pão integral virou um item banal nas residências  A  preservação do corpo juntou-se ao antigo pacifismo e  criticou as  usinas nu- nucleares. A poluição nas  grandes cidades foi encarada como ini-migo mortal da  felicidade de cada um . E até mesmo o cigarro , antes tão  charmoso para os jovens , sofreu sua  mais forte queda de  prestígio . Bom era ter saúde. 

PÓS - TUDO

No início dos  anos 80 o  rock voltou a estourar nas  paradas de sucesso , carregando junto uma geração que tem uma multiplicidade de  estilos tão grande quanto os que os  conjuntos aplicam na sua maneira de compor e de se exibir .A opinião geral é que todas as revoluções já foram feitas e que o novo - o  novo comportamento , o novocinema ,o novo jeito de falar - só virá com uma olhada sem preconceitos no  baú dos tempos .Cunhou-se um rótulo para isso : e  pós-tudo. 

Há um  reconhecimento da  saturação , de que as  gerações anteriores já fizeram tantas loucuras -  lutaram e sofreram tanto por elas - que é hora simplesmente de vivê-las em sua plenitude ,sem ansiedades .Nas músicas há um pouquinho de tudo: pitadas da despretensão da  Jovem Guarda ao falar do cotidiano  ; a colagemn tro- picalista ; a rebeldia do desbunde e uma glorificação do przer que vem do ideário dos  dançarinos das  dis-cotecas. 

Os jovens dos anos  80 são os  primeiros  filhos das  gerações que se criaram no embalo da música e  do  comportamento do rock. E u sou Free ,do grupo  Sempre Livre  ( só de mulheres ) , fala disso.Até o eterno choque de gerações fica difícil ; pais e filhos são todos doidões . Que bons conflitos pode ter uma  menina se os pais não lhe cobram  hora de chegar em casa e os rapazes não estão nem aí com os dogmas como a vir - gindade?

É  difícil  ser  free.  

Nunca a moda foi tão fragmentada , nunca o vale-tudo de estilos foi tão glorificado. É possível  ser feliz usando as  roupas coloridas das butiques, principalmente a combi -nação  jeans e camisa-pólo , como usando cami - sonas largas ou  saias de comprimento irregular .

As  grotas usam óculos escuros tipo gatinho, feito as pioneiras dos anos 50 , gostam de rapazes que recriam  o rock de  Elvis Presley , Bill Haley ou  Everly Brothers. Ima-gine: usam  batom carmim .Já não pegam carona nas lambretas , têm as suas .Na praia  já não ficam apenas se  bronzeando , passivas cavalgam ondas , com graça e  valentia , deitadas em  pranchas de  bodyboard .Aprofundando a tendência de recuperação do corpo do final  dos anos  70, os jovens começam a modelá-lo do jeito que acham masi  interessante . As meninas optam , quase todas , por trabalhos (" malhação ") que lhes dêem um bumbum empinado. Os rapazes cultuam  ombros largos e bíceps extravagantes . Praticam  esportes mais arrojados e  emocionantes  canoagem , asa delta , ultraleve , motocross, etc.

Há por outro lado, grupos que não concordam com toda essa  exaltação do visual e da felicidade individual num  mundo cercado de guerra e podridão. São os punks .Moram principalmente nas  periferias das grandes cidades , filhos de operários e baixa classe média , e mostram sua rebeldia com cabelois cortados feito os dos índios moicanos do cinema , alfinetes de  fraldas  espetados no rosto,  casacos de  couro preto, correntes, roupas absolutamente andrajosas.

Consideram-se o podre, o lixo descartado da  sociedade . Comunicam-se através dos  fanzines , pequenas revista geralmente em xerox .Assim como os punks , os darks também não vão com a  cara do mundo , embora não façam disso uma  bandeira política  .São absolutamente  individualistas .Vestem-se basica -camente de preto,com roupas superproduzidas e pesadas maquiagens. Cultuam a pele branca frequentam clubes noturnos , onde bebem coquetéis chamados  chuva Ácida , Kamikaze , Hepatite e Lagoa  Cinza. deprimidos , mas com estilo .

Sorridentes mesmo são os yuppies . esses jovens profissionais bem-sucedidos cercam-se de todos os confortos da  eletrônica japonesa e da sofisticação dp design italiano. Ganham muito dinheiro- e não se envergonham , nem um pouco disso - em profissões que podem ser tanto as mais caretas do mundo como as originjárias dos movimentos contraculturais das décadas anteriores .Os yuppies estão à frente de  butiques de rou-pas loucas empresariando ou tocando em  grupos de rock ,em fábricas de pranchas de surf. Vestem-se limpinhos , ou "clean",como preferem.São o exagero de uma  geração que as pesquisas no geral , apontam como conservadora ,romanticamente casamenteira como a dos  jovens dos anos  50. A preocupação é com carreiras rentáveis, conforto e status.Nada de sonhar com o Oriente. Para o yuppie o  nirvana está em  Nova Yorque .

Ou  aqui  mesmo. é o  jovem completando  um  ciclo. Caindo  na  real  .

Fonte-   ROCK  IN  BRASIL - BASF  -  Ricardo  Botelho

Projeto Cultural das Empresas do  Grupo BASF  

 





segunda-feira, 10 de julho de 2023

História da Saúde Pública no Brasil




História  da  Saúde  Pública  no  Brasil

As atividades sanitárias no Brasil com  especial  ênfase  na cidade do  Rio de Janeiro  , foram minu -ciosamente estudadas no passado ,por dois colaboradores de  Oswaldo Cruz  –  Plácido Barbosa e  Cássio Barbosa de Rezende , desde a chegada do Príncipe Regente , Dom João ? Em 1808 , até a  vitoriosa campanha contra  febre amarela em 1907. Durante um século ( 1808-1907 ) ,esses ilustres colegas reviram tudo o que se fez em matéria de  saúde  pública em nosso país , publicando trabalho que se tornou  clássico e que foi  reeditado há pouco  graças aos  esforços de  Edgard  de Cerqueira Falcão , colega dos mais ilustres e que , em tarefa gigantesca  tanto vem  enaltecendo a  Medicina Pátria.

Ferido trabalho ,num total de 1023 páginas , além de  fotografias e gráficos , se inicia , com as  re - formas elaboradas por Dom João , mediante o estabelecimento dos cargos de Cirurgião – Mor  dos  Exércitos e Físico – mor do  reino , em nosso meio.

Depois , sob o título de Esboço Histórico , em mais de 500 páginas , é diz  respeito à  evolução da  saúde pública no Brasil . Assim , no tocante a  varíola , as  autoridades em  saúde pública já  preco-  nizavam seu  combate com a  vacina jeneriana trazida de Portugal  braço a braço .A  peste também teve  sua história descrita no trabalho em tela ,com a construção do laboratório produtor da vacina e do soro antipestoso ,de Medicina experimental de Manguinhos . A  febre amarela chegou ao  Rio de Janeiro, em 1850 , depois de ter assolado a  Bahia no ano anterior . Como referiu Edgard de Cer - Cerqueira  Falcão , o  trabalho desses dois abnegados  brasileiros constituiu-se em esforço hercúleo devendo ser  lido por  todo  aqueles  que  se  interessam  pela historiografia   médica  de  nosso país . 

Plácido Barbosa  ( 1871  – 1938) n foi também  grande dicionarista e no dizer de  Manoel Ferreira constituiu-se no  grande  elo entre as  administrações  de  Oswaldo Cruz e Carlos Chagas nos domí- nios da  saúde pública no Brasil . Cássio de Rezende, durante muitos anos exerceu atividade clínica em minha cidade natal –Guaratinguetá ,onde tive o prazer de conhecê-lo quando fazia o  meu curso médico em  São Paulo. Tornou-se  homeopata , dono depois ,de grande clínica  no  Rio de Janeiro , cidade onde faleceu , em avançada idade. 

Edgard de  Cerqueira Falcão é um  homem extraordinário e incansável , acabando de trazer ao  sol mais  este  verdadeiro  tesouro soterrado , raridade  bibliográfica  em  nosso  meio . São dois os vo- lumes a  serem publicados , tal a extensão da  obra .No primeiro , constam o  esboço histórico e a legislação dos dos  serviços de saúde  pública de  saúde pública no Brasil .

Quando Dom João chegou ao Brasil , vinha acompanhado de seus  melhores cirurgiões .Chegando à  Bahia a 26 de janeiro de 1808 , já em fevereiro expedia  alvarás restabelecendo no  Brasil o cargo de  cirurgião - mor  dos  Exércitos do  Reino ,nomeando o  médico pernambucano José  Corrêa Picanço para tão elevada função . Ao físico – mor  D. Manoel  Vieira da Silva foram atribuídas  outras ativi - atividades ,organizando os  primeiros serviços junto  aos portos . Naquela época fazia-se a chamada “ quarentena “ , devendo os  navios , carregados de escravos esperar nos ancoradouros , para  depois serem os  doentes tratados convenientemente ,“ fazendo -os lavar , vestir roupas novas , e sustentar de alimentos frescos , depois do que se lhes dará o bilhete de saúde e poderão entrar na Cidade para se  exporem à venda .” 

Lendo o  trabalho de  Plácido  Barbosa e  Cássio de  Rezende tem-se uma ideia da evolução dos ser- viços de  saúde pública em  nosso país , com a  criaçõ das  delegacias de saúde , o decreto criando o  Instituto Oswaldo Cruz , com o seu  Regula-mento ,os conselhos distribuídos ao  público pela Dire - toria  Geral de Saúde Pública , principalmente em relação à  febre tifoide , a peste e a  tuberculose , culminando com a  vitoriosa campanha  promovida  por Oswaldo Cruz no combate à  febre amarela . 

Bem – haja  Edgard de Cerqueira Falcão ,reeditando os  trabalhos  clássicos daqueles dois eminentes  vultos da  nossa  profissão ,revivendo um  passado glorioso no campo  da  saúde  pública de  nossa  terra .

Bibliografia  Científica 

Ciência do  Brasil  - Raros  têm sido no  Brasil os  esforços para estudar a  história e a  sociologia da  ciência que aqui se  pratica . É evidente que uma  afirmação dessas dever ser  acompanhada de  es- pecial referência a  monumental  obra de  Fernando de Azevedo  " As  Ciências  no   Brasil  " . 

A  FINEP  -  Financiadora de  Estudos e  Projetos  vem há algum tempo amparando o trabalho de  grupo interessado em  aprofundar esse  estudo e situar  adequadamente a  ciência no  contexto de  nossa vida cultural e econômica . Belo fruto desse  trabalho é o  livro de  Simon  Schwartzman  " formação da  Comunidade Brasileira " , com a colaboração científica de  vários  especialistas que  vêm mencionados logo após o  nome do autor , e a competência editorial  da  Companhia Editora Nacional para  feitura e  distribuição da  obra . 

Schwartzman está  particularmente interessado na  comunidade  científica , o conjunto dos homens que constroem a  ciência em  nosso país . E seu livro é de  fato a primeira  história  que se escreve dessa  comunidade .Para atingir seus  objetivos o autor empreendeu amplo trabalho de  pesquisa em  profundidade , levantando  fontes existentes e entrevistando  dezenas de figuras  representativas da  ciência em  nossos meios .

Com o  resultado de  tão grande e bem conduzido  esforço compôs as  400 páginas desta obra  densa de  informação e  observação e  muito  bem completada com  índice  alfabético e  biografia das  pes- soas entrevistadas nas  mais  diversas  áreas da  pesquisa .

Não perde de  vista o  autor , em seu  exame , a  conjuntura da  ciência mundial em cada época e as  condições sociais , econômicas e  políticas do  Brasil . Abordada  naturalmente , à  luz dos dados de sua  pesquisa , temas candentes como o  aparente dilema wntre  ciência  pura e  aplicada ,dentro ou fora da  Universidade . 

E muito sugestiva a  citação que apresenta como  epígrafe para  o livro todo , de um  trecho  de  Amoroso Costa , o nosso  grande  matemático . Vale  a  pena  reproduzi-lo  aqui  :  "  O  mundo moderno , com oseu  fanatismo do progresso material , não des- conhece o que  deve ao trabalho dos  homens de  ciência . Nos países  novos esse  fanatismo é levado ao auge, e mesmo  pessoas muito instruídas ignoram por completo que exista um  ideal científico superior ao do  homem que fabrica  mil automóveis por dia ou do que  opera  uma apendicite em  dez minutos . Daí a opinião quase  unanimente admitida entre nós : a  ciência é útil porque dela precisam  médicos , os engen-heiros ,os industriais ,os militares ;  mas não valea pena fazê-la no Brasil porque é mais cômodo e mais  barato importá-la da  Europa ,na quantidade que fôr estritatamente  suficiente para o nosso consumo .Tal a mentalidade dominante entre aqueles que nos  educam e , por mais , forte razão , entre aqueles que  nos  governam " . Isto  foi  escrito em  1923  e  soa  muito  atual .

Schwarstzman escreveu um  livro fundamental , que permite aguardar com muita simpatia os de- mais trabalhos que  nascerem do projeto de  História Social das Ciências no  Brasil , criado e man-tido pela  FINEP . J.R.

Fonte  - FOLHA DE SÃO  PAULO  - pág  5°  caderno - 71 

1979  -  PROF CARLOS  DA  SILVA  LACAZ -  Ilustrada 



quinta-feira, 6 de julho de 2023

PORUNDUBA




PORANDUBA  quer dizer Notícias  . Neste meu poema , Francisco Brasileiro nos dá notícias do Homem . É Homem dos subterfúgios , eternamente ressurecto de si mesmo , desvinculado de tudo    e visto nas suas dimensões  incomuns  , -  “ Sou o próprio Universo  - Com corpo cabeça e pé “  - daí a indiferença cósmica que revela em seus julgamentos  , fora do  âmbito do  Bem  e do Mal  .    A  segurança com que calça o pé sobre a  “  metade do mundo “ lhe dá a condição de ser o dono   das coisas  ,  senhor de si mesmo  ,   -  “ Em cima do meu cavalo  -   Debaixo do  meu chapéu  - Quem monta as coisas sou eu  “ – No seu individualismo contrapõe-se  ao Homem  –  Grupo  , -        “ Sempre estou um passo à frente  - De quem vai um passo atrás  “ - . Não faz  concessões a uma  maioria  , mas sim e apenas  “ fala  “ a quem “ também tenha sua viagem “ , preferindo qualidade     à quantidade , não aceitando  “ gama igual aos desiguais  “ . Sendo um “  tempo do Imperfeito  “ nada procura como fim ,achando até que “ a perfeição é uma ruína “ . Busca em cada coisa  ,e de cada vez  . “ Uma face sempre nova “  . Tendo a vida “ Presente “ , não morrerá mais  .Dentro de sua “ solidão “ reve-la-se de uma grandeza absoluta  ; - “ Tendo a vida em minha mão “  -  .  Por nascer tem a vida me aperte – Qualquer paixão me diverte  - Da vida não digo adeus “ – E  assim , sem pontos e sem vírgulas ,entregue aos  impulsos do coração e ao  ritmo da respiração , Francisco Brasileiro dá a seus  inúmeros leitores ,neste poema rebarbativo  - que é  uma  Cantiga –  notícia do Homem  – Natureza  , do Homem livre  , desvinculado e eternamente redivivo ,  do  Homem sem raízes , sem cadeias , sem peias   . O  Homem maior que a vida  .  

 Fonte  -   Editora  Arte  Limitada  -  EDARLI  - pág  8

PORANDUBA     POEMA   -    FRANCISCO  BRASILEIRO 




Chicão  ,  um  apaixonado  pelo  Brasil

Nos  anos  quarenta ,  Francisco  Brasileiro  já era  um  veterano  quando  os  irmãos Villas  Bôas só  estavam  começando . Se fosse um pai de família como qualquer  outro  , levaria filhos e  sobrinhos  pequenos  para passear na praia . Mas  Francisco  Brasileiro ( l906 -l989 ) , o Chicão , reuniu  cinco  crianças  - os três  filhos e mais dois sobrinhos  - e , partindo de São Paulo em julho de hum mil no- vecentos e quarenta e nove  , enfiou-se  sertão adentro até topar com o Rio Araguaia . Foram caçar , nadar  e visitar   índios  javaés  e  carajás , em  um giro que durou quarenta dias. 

Se fosse uma família  convencional , provavelmente a ideia de levar fedelhos para os confins do País teria sido rechaçado com veêmencia por  mães  indignadas . Mas não se tratava de uma  família co- mum. Não só a ideia foi aprovada , como Ana  Maria , filha de Chicão , ficou responsável  pelo di - ário de viagem , tarefa que cumpriu  espantosamente  bem ,considerando que tinha  apenas 10 anos de idade.

Sertanista  de  l.95 metros de altura e contador de  prosa de repertório ilimitado ,Francisco  Brasileiro particpou nos anos trinta e quarenta das primeiras incursões  ao  Brasil Central, região à época pouca pouqíssimo conhecida.

Primeiro branco a dar a um  índio  xavante , ajudou afundar  cidades . Também escreveu  roteiro do  cinema , peça de teatro  e l5  livros.

A temática predileta ,evidente,era a  gente,a  paisagem e as  peripécias pelo País profundo  mas ele também gostava de viagens interiores escrevia  poesia e arriscou desconcertante uma ficção sobre a  loucura.

Nos intervalos entre as  temporadas  no  lombo  de  cavalo e à  escravaninha , surfava  (ado-rava  o  mar ) e voava  do helicóptero . Hábil , talhava em  madeira  belos  oratórios  - ainda que não fosse nada  religioso .

Casado , com Maria do rego  Freitas , da tradicional  família  de  cafeicultores  paulista , o  filho  de  italianos nascido em Jaú (SP) dedicou  a vida  de  aventuras. " Ele teve  a  sorte de ter vivido a sorte de ter vivido por mais de 50 anos com uma  mulher maravilhosa ,que praticamente bancava a casa " , diz sua primeira neta , Joana de trinta e seis anos . "  Mas não tinham  uma fortuna não , porque os  Rego Freitas já eram mais tradicionais do que abastados naquela época  " , explica . " A  avó  Maria trabalhou desde  muito cedo ,  tornou-se  procuradora do Estado " .

 JORNADAS 

Em um mil novecentos e vinte e três , com l7 anos , Chicão abandonou o emprego  de corretor de  seguros e imóveis e trabalhou como tropeiro , levando burros de  Itapetininga, região de  Sorocaba , no interior  paulista , para Santa  Maria  (RS) . 

Com vinte e quatro ,fez a primeira  expedição  ao  Rio das  Garças , que  rendeu o livro de contos  Terra  sem  Dono , obra que recebeu  menção  honrosa da  Academia  Brasileira de  Letras .

Em hum mil novecentos e trinta e dois , enquanto estourava a Revolução Constitucionalista , explorou o  Aragauaia com o amigo Hermano  Ribeiro da  Silva ,com  quem já  viajara em hum mil novecentos e vinte um . Hermano morreria  seis anos depois de malária , quando  ambos integravam  a  Bandeira  Anhanguera .O destino da  expedição  de quarenta homens , lançada em hum mil novecentos de trinta e sete e que prosseguiu até o ano seguinte , era a  Serra do  Roncador , no leste de  Mato-Grosso . A terra dos temidos  índios  xavantes . O resultado foi duplo ; a coleta de  preciosos objetos  índigenas , doados ao  Instituto  Histórico e Geográfico de  São Paulo , e o livro  Na  Serra  do  Roncador.

Em hum mil novecentos e quarenta e três , tendo já acumulado larga experiência , Chicão foi o subchefe da  epedição , Roncador -Xingu , organizada pela  Fundação  Brasil Central por ordem do Ministro da Mobilização Nacional , João Alberto Lins de Barros ( que fora um dos líderes da Coluna Prestes ) .

Definido  por  Getúlio Vargas , preocupado com  controle do  território em  plena segunda Guerra Mundial , o objetivo era acima de  tudo militar : esquadrinhar e ocupar o interior . Foi neste projeto que três jovens iniciaram sua carreira de sertanistas : Orlando , Claúdio     e Leonardo  Villas  Bôas .

Encarregado dos  serviços de vanguarda , Chicão acabou se desentendendo com os superiores , que determinaram um limite às explorações . Ele queria se embrenhar ao máximo pelo sertão, ma acabou voltando mais cedo para sua casa no  Jardim  Paulista.

FAÇANHAS  E  TRAGÉDIAS 

Chicão e seus  companheiros fundaram as cidades de   Aragarça ( GO) e  Xavantina( MT .   Em hum mil novecentos e trinta e oito enquanto o padre salesiano  Chovelon abordava diplomaticamente numa praia do Rio  das  Mortes um  grupo menos  hostil dos  índios que planejava doutrinar ,o grandalhão,  frente a frente com um xavante que defendia sua  adeia,recorria a fogos  de artifício a fim de colocá-los pra correr .Consta que este foi  o primeiro contato de um com um xavante .

Depois da fase de explorações ,ele bateu perna atrás de  jazidas  de ouro .Chegou ao Acre em  lombo de boi , gastando o triplo do tempo , porque os  cavalos tinham sido  acometidos pela  "  peste  das  cadeiras " .

Com quase 70 anos de idade , não sossegava em casa , orientando a construção de pistas de pouso e rodovias . Nunca levou flechada nem borduna na  cabeça e sobreviveu a l8  "  maleitas " ( malária ) . Mas viu  companheiros  queridos , sem a mesma  sorte , perecendo na  matas  fechada . ( " Em cada  viagem perdi um companheiro   Mas acredito em você , sertão  querido " , desabafou em um de seus relatos  ) . 

A tragédia de sua vida, no entanto , foi perder o próprio filho para  o  sertão . José  Francisco morreu em hum mil novecentos e setenta e quatro, aos vinte e nove anos . Como que para demonstrar ao  pai que também era capaz de grandes feitos, partiu sozinho para o Xingu .Nunca mais voltou .Dizem que foi morto por um carajá , por motivo jamais esclarecido . Seu diário , manchado de sangue , foi en - contrado , mas o corpo , nunca.

BRASILEIRO 

Nascido em  l906 , Francisco  Brasileiro  Pilagalo  achou por bem  adotar o segundo nome como o sobrenome de seus  descendentes  Tamanha  era sua  paixão pelo  Rio Araguaia  ,  que conhecia desde os 18 anos  de  idade  ( " aquele  ambiente transforma por completo o indivíduo , como que  infantilizando-o; o  ceticismo desaparece " , escreveu )  ; que a  um dos filhos   ( o pai de Joana ) batizou de João  Araguaia.

Machista , Chicão incentivou-o do seu jeito - a filha  Ana Maria a seguir uma carreira  profissional . " Casamento não é solução para a mulher  do  século vinte ) , advertia .O pai  severo gostava de repetir que " o reinado  da mulher é  curto " , e por isso seria mais prudente  que ela estivese preparada para viver por conta  própria , ser independentemente .

A pequenina é detalhista repórter  da  aventura de hum mil novecentos e quarenta e nove acabou tra- balhando na  Organização  das  Nações Unidas em programas de  defesa  dos di-reitos da  mulher e vive até hoje nos Estados Unidos . 

O lema  da  vida de  Francisco  Brasileiro bem como de um de seus livros : " Seja tudo , nesta vida única, de plena consciência , porque não podia ser senhor do tempo : queria viver l00 anos , ou pelo menos chegar ao século vinte e um . Em p989 , com em hum mil novecentos e quarenta e três , ele queria seguir em frente , mas o Chefe não deixou . Morreu em julho , aos oitenta e dois anos .

Para  a  festa  do  centenário  de  Chicão ,em  vinte e sete de outubro , Joana organizou um pequeno livreto com fotos das viagens e  trechos de  obras . A tiragem , infelizmente , é  de apenas trezentos  exemplares , só para o deleite  da família e dos chegados . 

Fonte  -  Jornal  O  ESTADÃO   -  VIDA &  -   pág  A  trinta 

Domingo , doze  de novembro de dois mil e seis -  BIOGRAFIA  -  Ricardo  Muniz