terça-feira, 6 de novembro de 2018

A INOCENTE ANNE FRANK



Ela  deu  voz  à  luta  pela  dignidade. 

ANNA  FRANK SIMBOLIZOU, ENTRE OUTRAS coisas, o poder de um livro: seu diário, escrito entre 1942 e 1944, no sótão secreto de um depósito em Amsterdã (onde sua família se escondeu até ser descoberta pelos nazistas). Graças a ele, Frank se transformou na personagem mais memorável da Segunda Guerra Mundial – ao lado do próprio Hitler, que também deixou suas convicções publicadas em sua biografia. De certe forma, o Holocausto começou com um livro um livro e terminou com outro. Mas foi o de Frank que prevaleceu, com um trabalho completo e valioso, sobressaindo em relação ao outro, simples e malévolo. Assim, ela passou a ser segunda criança mais famosa na história. 

Quando os nazistas invadiram a Holanda, a família Frank, como todos os judeus residentes, tornou-se vítima de um universo onde as limitações eram sistemáticas. Primeiro, vieram as leis que os proibiam de realizar transações comerciais. Depois, os livros escritos por eles foram queimados. Os judeus eram mantidos fora de parques, praias, cinemas e bibliotecas. A partir de 1942, foram obrigados a usar uma estrela costurada em suas roupas. Em seguida, não podiam mais ter telefone nem bicicletas. Presos em suas casas, eles “desapareceram“. Foi quando Otto e Edith Frank, suas filhas Margot e Anne e a família  Van Pels decidiram se esconder e levar, durante dois anos, uma vida confinada em esconderijos, até que alguém os denunciou. Mas Frank transformou um caderno de autógrafos que ganhou em seu 13° aniversário em um instrumento de liberdade. 

Era uma escritora de talento extraordinário – independentemente de sua idade. A qualidade de seu trabalho é o resultado direto de seu espírito honesto e sem concessões. O profundo efeito que sua obra causou nos leitores vem do fato de Frank ter sido uma adolescente inteligente, mas normal. Tinha curiosidade sobre sexo, dúvidas sobre religião, era sarcástica quando falava de seus pais e especialmente irritável consigo mesma.

Os leitores costumam lembrar uma das frases mais ternas do diário: “Eu ainda acredito que, apesar de tudo, as pessoas têm bondade no coração“. O trecho que se segue é ainda mais revelador: “Vejo   o  mundo  ficando  cada  vez  mais   selvagem, escuto  ao  longe  o  trovão  que  vai nos destruir. Posso sentir o sofrimento de milhões de pessoas e,  mesmo assim, quando olho para o céu, acredito que tudo vai melhorar, a crueldade vai acabar e a paz e a tranquilidade vão retornar. Preciso manter meus ideais porque o dia em que os colocarei em prática pode chegar”.  

É uma declaração de princípios, não um otimismo puramente infantil. É uma maneira de lidar de forma prática com um mundo que parece querer destruí-la. É o clamor dos judeus em um sótão e o reflexo da mentalidade do século 20, do refugiado, do homem invisível que quer se fazer notado. No diário, Frank mostrou, a todos não apenas a essência de sua bondade, mas também como é necessário ter princípios morais, até mesmo – ou principalmente – quando o contexto é de horror.

Legado:  Frank  simboliza  a  crença  na  bondade.

Fonte  -   Revista  - pág 5  - TIME  MAGAZINE 
 TIME   100 -   ROGER  ROSENBLATT 

O MODELO - JACKIE ROBINSON



Ele  derrubou  as barreiras  raciais  no   esporte  americano.

Em 1947, OS  ESTADOS  UNIDOS  CONVIVIAM  COM  a segregação racial. Havia dois mundos distintos – o dos negros e o dos brancos -, universos temerosos um do outro. Escolas, restaurantes, hotéis, bebedouros e ligas de beisebol, tudo era separado. A vida era impiedosa e, às vezes, odiosa para os negros que tentavam mudar essa situação. Mas Jackie Robinson foi maior que tudo isso. 

Ele tinha de ser. Precisava ser maior que seus colegas do time beisebol Brooklyn Dodgers, que assinaram uma petição para que fosse mantido fora do Brooklyn, maior que os ogadores que arremessavam bolas: contra ele ou usavam as travas dos sapatos para machucar suas canelas, maior que os ditos fãs, que ridicularizavam sua condição de negro e o ameaçavam de morte. 

Hoje em dia, não sei como Robinson aguentou tudo isso sem revidar. Já passei por momentos difíceis na vida e me considero uma pessoa paciente, mas sei que não conseguiria ter feito o que ele fez. Não acredito que alguém mais o faria. De alguma forma, ele suprimiu seus instintos e engoliu o orgulho em nome de sua raça. Foi seu incrível ato de altruísmo que conseguiu unir as raças e moldar os sonhos de toda uma geração

O caráter de Robinson contava mais do que a média de suas rebatidas. Mas o fato de ele ser um grande jogador de beisebol certamente ajudou – um rebatedor cuja marca registrada era confundir os jogadores com sua ousada corrida entre as bases. Jogava com uma criatividade feroz. Com Robinson no campo, os Dodgers venceram seis campeonatos da Liga Nacional . 

Em uma época posterior de de sua carreira, quando o “grande experimento“ demonstrou seu êxito e outros jogadores negros começaram a participar da liga principal do beisebol, Robinson permitiu que seus instintos aflorassem nas questões raciais. Soltou a voz e, quando falava abertamente ,nós jogadores negros , ouvíamos com atenção . Ele deixou claro que não estávamos jogando apenas por nós mesmos ou por nossos times, mas por nossa gente.

Mesmo depois de ter aposentado o bastão em 1956 e de ter sido eleito para figurar no Hall da Fama, o museu dos melhores jogadores de beisebol da história, em 1962. Robinson batalhou para que treinadores e técnicos negros participassem do mundo do beisebol. Ele já não estava mais aqui quando, em 1975, Frank Robson - cujo parentesco com o Jackie é apenas espiritual - finalmente se tornou primeiro técnico negro desse esporte. Sua última aparição pública foi no World Series de 1972 quando ele já mostrava sinais da idade, de cabelos brancos, bengala na mão e quase cego em decorrência do diabetes. Ele morreu nove dias depois. 

Muitos dos ogadores contemporâneos de Robinson compareceram ao seu funeral, mas fiquei chocado ao ver quão poucos jogadores jovens apareceram para lhe render a última homenagem.

Quando isso aconteceu, faltavam 41 home runs para que eu ultrapasse o recorde de Babe Ruth. Senti a obrigação de realizar o sonho de Robinson e me inspirei nele para dedicar o meu recorde à causa à qual Robinson havia se dedicado por toda a vida.
  
Continuo  me  inspirando  em  JACKIE  ROBINSON  .

Fonte  -    TIME   MAGAZINE    pág  7
TIME  100   -  HENRY  AARON 

Motivos fúteis de uma Sociedade violenta




Os brasileiros com o dedo no gatilho

Li em ÉPOCA da semana assada e ouvi na CBN: mais da metade das pessoas que morrem de tiro, no Brasil (na proporção de uns 60%), morre por “motivos fúteis“. A expressão é chocante. Refere-se, sabemos, aos crimes de ocasião, cometidos por pessoas que não tinham nenhuma relação com a vítima e / ou nenhum antecedente criminal: brigas de bar, ciúme, confrontos entre torcidas, desentendimento no trânsito. Mas parece sugerir que outros 40% dos assassinatos ocorrem por motivos sérios, consistentes, filosoficamente justificados. A meu ver, toda morte ocorrida pela mão de um semelhante é fútil, absurda, incompreensível. Inclusive nos casos em que o Estado pratica a pena de morte.

Em todo caso, saber da grande quantidade de mortes por "motivos fúteis“ desmente um pouco nossos preconceitos a respeito da periculosidade dos jovens marginalizados, a horda de desocupados e enfurecidos que parece ameaçar a paz nos lares. O risco de você levar um tiro daquele pacato vizinho que se irritou com os latidos de seu cachorro é maior que o de ser morto por um sequestro do crime organizado.

Por que tantas pessoas passam rapidamente ao ato extremo de tirar a vida alheia em conseqüência de um desentendimento besta? Por que cresce o número de pessoas que escolhem - isso mesmo, escolhem – matar oponente a tiros em vez de discutir uma desavença mesquinha? Primeiro:  porque cada vez há mais gente armada no Brasil. A Justiça, comprometida com a defesa da propriedade e dos direitos privados, é omissa quanto a gravíssima questão do porte de armas. Claro que um bandido profissional não vai tirar porte de armas antes de assaltar. Mas o vizinho nervoso, o motorista estressado, o comerciante paranoico vão. E, se não conseguirem, não vão ter como atirar.

Em segundo lugar, as pessoas matam porque estão com medo umas das outras. A sociedade brasileira é violenta, sim, cordialmente violenta, desde a colonização. Mas o clima de medo em que vivemos hoje, incentivado e fomentado no rádio e na TV, além de dezenas de enlatados violentíssimos, produz efeitos de pura paranoia. O desconhecido no ônibus, na fila do banco, o sujeito que esbarra no outro na calçada apinhada são vistos antes de mais nada uma ameaça. Vivemos com o dedo no gatilho, prontos paranos defender “. Só não temos  defesa contra as próprias fantasias.

Entre tantos motivos fúteis, destacam–se as brigas de trânsito. Por uma fechada, uma batida, um arranhão na lataria, o motorista já sai perseguindo o culpado com sangue nos olhos. Para muitas pessoas um carro arranhado vale bem o preço de uma vida. É o pilar de sustentação da auto-estima. Fomos convencidos de que um homem motorizado vale mais que um pedestre e um homem com carro zero vale mais que o dono de um carrinho velho, que cumpre apenas a função de meio de transporte. O carro no Brasil não é um meio de transporte; é o bem precioso que dá sentido à vida de seu proprietário. Diga-me em que carro andas, e te direi Quem és. Dentro do modelo novo de uma marca importada o sujeito vive uma espécie de intoxicação narcísica. É um rei, um “vencedor“ (argh). Um semideus.

Morte àquele que danificar essa ilusão.

Fonte  -   Revista   ÉPOCA        pág 26  
                26/08/2002    MARIA  RITA  KEHL    é  psicanalista

A Ilusão do Poder



TUDO  passa. Um dia vem, outro vai e nunca é o mesmo. Traz-nos alegria ou tristeza, num dia chove e no outro faz sol. As estações mudam e percebemos as várias formas da natureza, em sua beleza, apresentar-se para nós. Em mudança contínua, os dias nos mostram, também, a impermanência da vida e que, como parte dela, passaremos, e que a morte é certa. Porém, isso é algo que evitamos pensar; a morte é para os outros, não para nós. Detestamos concluir que não somos donos de nossa vida e que ela pode ir-se a qualquer momento tomar um rumo desconhecido, e essa possibilidade é, no mínimo, apavorante. 

Vivemos numa realidade dualística, num mundo de opostos: alegria / tristeza, vida / morte, matéria / espírito e enquanto nos apegamos a um dos opostos e negarmos o outro, sofreremos. Entretanto, se negarmos a morte porque temos medo dela, também negamos a vida, assim como o espírito quando nos vemos somente como um corpo que se acabará um dia. Sendo assim, nos apegamos ao que possuímos, nos tornamos aquilo que temos ou acreditamos ser e lutamos por esse status com todas as nossas armas, pois precisamos nos sentir importantes. Nós nos tornamos ansiosos e prepotentes porque queremos mostrar para os outros a nossa superioridade. Como necessitamos nos sentir alguém importante, nós nos tornamos ambiciosos , invejosos e inimigos uns dos outros, numa luta acirrada de muita competição ansiando segurança. E para vencer, não hesitamos em mentir, manipular, controlar, como se tivéssemos o poder sobre a vida. Que ilusão! É claro que existe o poder para o bem e para o mal. Mas verdadeiramente para o bem , numa forma desprendida e totalmente desapegada , são poucos . Na maioria das vezes, estão por trás a ambição desenfreada, o orgulho, a vaidade, a falta de ética que caracterizam bem o poder do mal. Ele se reveste de muitas caras. Em nome do bem, muita barbaridade á foi praticada e ainda o é neste mundo

O poder é sedutor e deslumbra porque nos coloca numa posição de superioridade. Todo aquele que o busca, precisa dele para disfarçar sua própria inferioridade. Então, impõe, controla, manipula, mente e precisa se manter seu sucesso a qualquer preço. Porém, aquele que é realmente seguro de seu poder, por tê-lo construído em bases sólidas que só o autoconhecimento profundo proporciona, é humilde e generoso, sabe internamente de sua força, e isso basta. Conforme disse Buda: “A causa do sofrimento é a cobiça". O arquétipo do poder está em todos nós e tentaremos exercê-lo sobre aqueles que, de alguma forma, estão numa posição supostamente inferior a nossa. Se é mãe ou pai, tentará exercê-los sobre os filhos; se é uma dona de casa , tentará exercê-lo sobre sua empregada; se é um chefe de repartição , tentará exercê-los sobre seus subordinados. Mas como exercer esse poder de forma que não nos tornemos repressores , controladores , cruéis e irresponsáveis com os direitos e os valores dos outros , por conta de um ego negativo ? Queremos sempre controlar tudo: objetos, pessoas, o status alcançado, porque nos apegamos a tudo isso, e assim , caímos na angústia e no sofrimento por medo de perdê-los. O medo da perda nos torna controladores e, muitas vezes, até cruéis. A nossa verdade, que está sedimentada em premissas falsas, é o que queremos impor a qualquer custo. Ela é que nos livrará do medo da perda, do fracasso e da incompetência dos quais fugimos, e assim nos tornamos surdos, mudos e cegos. Só ouvimos, falamos e enxergamos, o que nos interessa. O egoísmo, a vaidade e o orgulho são partes integrantes do arquétipo do poder. Os outros, com seus valores e necessidades, não têm importância. Nossos interesses mesquinhos, que jamais reconhecemos como tais, têm de prevalecer. Mas por que é assim? O que impede que respeitemos e amemos uns aos outros? Eu diria que é a falta de consciência. Nós não somos conscientes apenas porque temos um cérebro que funciona saudavelmente. A base do nosso ser é uma consciência transcendente que só amor, todavia, precisaremos conquistá-la para que saíamos de uma consciência ilusória e dualista, que nos faz criar um mundo mau e repressor. 

Estamos sempre encobrindo nossos reais sentimentos e atos mesquinhos por trás de uma máscara, que pode apresentar-se de várias formas. Passamos a vida lutando para que a máscara não caia e sejamos descobertos, vistos como um fracasso que acreditamos ser. Mas esse eu fracassado também é ilusório. Na realidade somos nosso Ser Superior mas para vivê-lo em sua plenitude, deveremos transformar todas as crenças falsas que nos levam a ter uma visão equivocada da realidade. Quanto mais apego a um poder egoísta e controlador alguém tenha, mais medo do fracasso terá e fatalmente caíra nele. O poder é ilusório e, como tudo na vida passará uma vez que não temos controle sobre nada, tudo que existe é passível de mudança ou perda: dinheiro, status, saúde, amizades. Uma hora os temos, outra, não mais. Porém, mesmo sabendo disso, queremos manter, sustentar o prazer, o sucesso, a felicidade para sempre, esquecendo que seus opostos também fazem parte de nós e da vida. Assim, tendemos a controlar para não perder porque vivemos a ilusão de que temos poder. Todos nós exercemos o poder de alguma forma na hierarquia social e devemos refletir como o fazemos, e mais que nunca quem o exerce sobre as massas. Não podemos permitir que níveis de consciência primitivos e inconscientes nos dominem e nos levem a ações egoístas, controladoras, injustas, sem ética, trazendo mais sofrimento para nós e para os que nos rodeiam. Precisamos aprender a ser mais altruístas, buscando a coragem e a responsabilidade para transformarmos primeiro nossa destrutividade interior, em vez de impô-la aos outros. Muitos preferem ignorar seus defeitos porque não querem carregar o fardo desse conhecimento. O poder para ser justo só exige consciência

Somente o autoconhecimento, de uma forma profunda e sistemática, poderá nos levar à paz, a felicidade e a exercer nosso poder de uma forma justa, desapegada e ética. É uma opção de vida, sobre a qual cada um de nós deve refletir com seriedade. Novos valores surgirão, assim como um código ético e moral, baseado nas premissas, verdadeiras de nosso Ser Superior.

Fonte - JORNAL  PRANA  - PSICOLOGIA  -  pág 18 
FEVEREIRO / 2013   -  UNIVERSO  HOLÍSTICO 
POR  CRISTINA  AZEREDO  - Psicoterapeuta  holística 

Nossas Crianças Sob Risco



Para entendermos bem os efeitos ou a influência da alimentação sobre a saúde dos estudantes e os reflexos desses fatores sobre o aprendizado, devemos dividir a faixa etária infanto juvenil segundo a sua classe social ou econômica. 

É bem sabido que as classes mais pobres apresentam um tipo de alimentação quantitativamente mais deficiente, com tendência a problemas de ordem carencial, como anemias , deficiências imunológicas, raquitismo , verminoses , parasitoses em geral e maior tendência também às viroses comuns da infância (caxumba, varicela, sarampo , rubéola) e infecções. As classes mais ricas, incluindo a classe média, possuem uma alimentação quantitativamente mais completa e apresentam menor incidência desses problemas, mas mostram incidência de outros, como alergias respiratórias e obesidade. No entanto, devido a alimentação industrializada empobrecida nutricionalmente e rica em aditivos e componentes nocivos – há uma diminuição qualitativa da saúde em todas as classes sociais, determinando alguns problemas comuns de saúde como cárie dentária, menor nas classes mais abastadas devido à possibilidade de assistência odontológica particular, mas com tendência praticamente igual pela falta de escovação após as merendas e lanches, desmotivação, dificuldade de aprendizagem, ansiedade e doenças crônicas.

Estes dados importantes são motivo de discussão entre autoridades sanitárias e educacionais. A maior possibilidade de acesso por parte das crianças e adolescentes das classes média e alta a alimentos industrializados e proteínas animais condicionadas (ou mesmo as comuns) os expõe a perigos bem maiores, ou seja, doenças degenerativas produzidas pelo excesso alimentar, como o câncer em geral (a leucemia, em particular) as doenças reumáticas, o diabetes e as síndromes de incidência mais recente, como mieloma múltiplo, miastenia graves, artrite reumatóide e doenças autoimunes em geral. Isso pode ser facilmente comprovado se observarmos estatísticas oficiais que mostram maior incidência de doenças degenerativas e crônicas nos países mais desenvolvidos que adotam a dieta industrializada. Por isso, mesmo que as classes mais pobres possuam uma dieta mais carente, são menos expostas às doenças degenerativas. Em outra palavras, as classes mais favorecidas apresentam qualidade biológica menor. Certamente, por conta da alimentação industrializada, este quadro se inverteu e surpreendeu a muitos nutricionistas e autoridades sanitárias, pois até há pouco tempo acreditava-se que uma alimentação pobre em nutrientes era a causa de numerosas doenças. Hoje, as estatísticas apontam que há mais riscos de doenças com uma alimentação excessiva do que uma carente. Some-se a isso o fato de que as classes mais pobres geralmente têm acesso a certos alimentos hoje considerados como funcionais ou como fonte de elementos protetores da saúde, como folhas verdes, hortaliças, frutas regionais, rapadura, farinhas, cereais naturais etc. Em contraste, as classes mais ricas acostumaram-se a consumir produtos altamente elaborados: enlatados, empacotados, fritos, ricos em colesterol e açúcar como os chips, a salsicharia, o presunto, os laticínios gordurosos, o pão  branco, as cereais matinais empobrecidos em nutrientes mas repletos de sacarose e aditivos, a proteína animal além das necessidades do organismo e outros de difícil aquisição pelas classes  mais pobres devido ao custo elevado.

Infelizmente há, no entanto, alguns produtos industrializados de baixo custo - repletos de corantes, aromatizantes e conservantes, gorduras trans, calorias vazias e colesterol, principalmente em guloseimas, chips, doces, sorvetes e refrigerantes - e de fácil acesso também às crianças pertencentes a classes mais pobres, o que expõe uma classe intermediária a maiores problemas que as classes situadas nos extremos de uma escala social e econômica, pois além de uma dieta carente, absorvem também produtos químicos artificiais prejudiciais. De qualquer modo, todas as crianças e adolescentes estão sujeitos a problemas de saúde que poem em risco a saúde e, consequentemente, a capacidade de aprender.

Neste ponto, somos forçados a aceitar que muitos desses problemas dependerão de aspectos individuais, de fatores familiares, genéticos, raciais, culturais, regionais e de idiossincrasias de cada organismo.  

A pergunta é: até que ponto as carências nutricionais, bem como os efeitos da má alimentação e da alimentação industrializada são responsáveis ou contribuem para a desmotivação, o baixo rendimento escolar, a reprovação e o abandono dos estudos? E até que ponto são esses fatores resultantes de uma saúde geral deficiente, também motivados pela dieta precária ou rica em aditivos debilitantes? Esta pergunta abre caminho para outra: temos condições de avaliar completa e amplamente todos os efeitos negativos da alimentação industrializada, principalmente aquela consumida nas escolas e nos lares, sobre os organismos das crianças e jovens? Isso nos leva a mais uma pergunta preocupantes: até que ponto a má qualidade alimentar, em todas as faixas sociais de alunos, está prejudicando a qualidade de ensino no Brasil? 

Enquanto não pudermos responder a estas perguntas, devemos procurar meios para melhorar a qualidade e a quantidade do que nossos filhos , alunos e estudantes estão comendo. Antes, apenas as deficiências de ferro, de cálcio, vitaminas A e as proteínas eram motivo de atenção e estavam diretamente envolvidas com numerosas situações anômalas capazes de produzir tais efeitos. Atualmente, a alimentação industrializada é mais um elemento desse conjunto.

Todos os problemas relacionados a este tema, dada a sua gravidade e urgência, envolvem atenção e participação de pais, educadores, autoridades sanitárias, empresários da produção e fornecimento de alimentos, médicos, nutricionistas e da mídia.

São urgentes a firme tomada de posição e estudos mais sérios quanto ao tipo de substâncias  e compostos ingeridos pelos nossos alunos. Sabemos dos riscos da diminuição da capacidade de aprendizagem, da capacidade intelectual que muitos alimentos podem produzir e também dos riscos que tudo isso representa quanto ao futuro da nação. Precisamos conscientizar e atuar, em conjunto na defesa da saúde e da qualidade de vida e aprendizagem da faixa etária do povo que formará o nosso futuro.

Fonte   -   Jornal   PRANA       -  pág 10 
UNHO / 2014   Universo  Holístico  - MEDICINA  NATURAL 
Por : DR MÁRCIO  BONTEMPO  - Docente do Grupo Zênite , Médico com Especialização em Saúde Pública . Pós-Graduado em Nutrologia. Presidenta da Federação Brasileira de Medicina Tradicional .Diretor Científico da Associação Brasileira de Acupuntura (ABA) . Membro da Associação Brasileira de Nutrulogia (ABRAN) . Membro da Academia de Letras do Brasil . Autor de 66 obras sobre Saúde Integral 

EDITORIAL



No dia 15 de outubro vamos reverenciar aquele que tem qualidades extraordinárias que fazem o ser criativo , único e transformador , capaz de influenciar positivamente os outros : o professor ! Ele atua como um técnico de futebol, ou melhor , os seus jogadores são responsáveis por criar os lances e fazer os gols, porém é a estratégia dele que vai facilitar ou dificultar a construção do resultado. "Parabéns professor, pela sua insistência em transformar vidas." 

Falar de professor é falar de aluno e, principalmente, no investimento na infância. Nós também, devemos comemorar o 12 de Outubro. Afinal, ao contrário de outras épocas, ser criança no século 21 significa ter direitos como educação, saúde, nutrição e o fundamental direito à vida, apesar do poder público ainda não conseguir garantir que todas as crianças concluam os estudos e fiquem livres do trabalho infantil. Vamos lutar para que esse sonho se torne realidade! 

Neste mês, também, não podemos nos esquecer do Outubro Rosa. A campanha é mundial e busca a conscientização das mulheres a respeito da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, aumentando as chances de cura e reduzindo a mortalidade.

E no processo de busca por um país melhor, você, eleitor, tem um forte papel, cujo instrumento é o voto consciente. Então exerça o seu direito ao voto de forma madura, refletida e consciente. Só assim contribuirá para impedir a eleição de maus políticos e possibilitará o alcance de maior legitimidade no processo eleitoral.

Fonte   -    Jornal   OPÇÃO     pág  2 
Rio de Janeiro,  outubro de 2018   - EDITORIAL 


OUTUBRO  ROSA 

A  vida  depois  do  diagnóstico 

O câncer ainda é muito associado à morte, e até falar a palavra dá medo - mesmo num cenário de constantes avanços para aumentar o tempo e a qualidade de vida. A verdade é que a desinformação e informações erradas só atrapalham. Uma pesquisa realizada pela Pfizer em parceria com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica mostra que 54 % das pacientes acreditam que o câncer de mama foi desencadeado por causa de mágoa ou castigo

Luciana Holtz, psicóloga e oncologista, preside a ONG Oncoguia, que leva conhecimento a pacientes e familiares. "Existe ainda esse estigma de que o câncer mata", diz Luciana. "A  nossa  bandeira  principal  é  fazer  de  tudo  para  mudar  isso. Há pessoas com medo de se cuidar. Há pacientes com medo da informação. Há amigos e familiares que abandonam por não saber lidar. A falta de informação aumenta o medo".

Pacientes que já passaram por tratamentos garantem que há vida além do câncer. O oncologista Sérgio Simon, presidente da SBOC, diz que hoje o câncer já pode ser considerado pela comunidade médica como uma doença crônica. "Há  algumas  semanas  eu comemorei  bodas  de  prata  com  uma  paciente  minha: ela trata  o câncer  de  mama  há  25  anos, e está  bem", contou.

Fonte  -   ESTADÃO  - Expresso    - pág 3
São Paulo, sexta-feira  5 de outbro de 2018   - SAÚDE 

A dieta de nossos antepassados



PALEONUTRIÇÃO - DIFERENTES TÉCNICAS REVELAM O QUE COMIAM OS HUMANOS PRÉ-HISTÓRICOS

As populações humanas do passado coletavam, plantavam, caçavam, criavam e comiam grande variedade de animais e plantas, muitos dos quais já nem existem mais. Entretanto, os homens e mulheres pré-históricos não deixaram registros escritos sobre o que gostavam ou encontravam para comer, ou se eram desnutridos ou obesos. Então, como os pesquisadores descobrem o que se comia há milhares ou milhões de anos? 

Diferentes técnicas são empregadas com esse objetivo. Uma delas é a análise de dados bio químicos de restos encontrados em artefatos como vasilhas e pote usados para guardar os alimentos. Pólen de diferentes plantas e grãos de amido, por exemplo, podem ser retirados de copos e penelas de cerâmica com milhares de anos. O amido é particularmente importante, porque partes das plantas ricas nessa substância, como as sementes, eram, com frequência, armazenadas em recipientes de barro. O pólen também é valioso porque algumas culturas usavam flores como alimento e condimento, e em geral os grãos de pólen são de difícil degradação. 

Outra técnica utilizada é a análise dos dentes de indivíduos enterrados. Estudos de sambaquis (depósitos de conchas e outros materiais feitos por populações pré-históricas) brasileiros vêm revelando grande quantidade de grãos de amido e de cristais de sílica ou cálcio, formados dentro das células vegetais. Esses resíduos são liberados na boca durante a mastigação e ficam presos nos dentes quando não escovados. Para recuperá-los, os cálculos são dissolvidos quimicamente e analisados ao microscópio. Muitas evidências, do uso de plantas, inclusive mandioca e milho, têm sido encontradas em dentes achados em sambaquis, deixando claro que os primeiros habitantes do litoral consumiam esses recursos. 

É possível ainda fazer a análise de coprólitos (literalmente, “fezes petrificadas“), prova irrefutável de que determinado alimento passou pelo trato digestivo do indivíduo. No Brasil, os coprólitos são mais frequentes no Nordeste -  em função do clima local - sendo, em geral, encontrados em cavernas e áreas abertas de regiões áridas, ou no intestino de múmias naturais. A coleta desse material é feita com cuidado para evitar contaminação com DNA moderno e com métodos padronizados, registrando a associação com culturas e períodos específicos. No laboratório, os coprólitos são reidratados e os macrofósseis  (sementes, fragmentos de frutas, ossículos, escamas de peixes e outros materiais não totalmente digeridos) e microfósseis (grãos de pólen, pelos, alguns tecidos vegetais e ovos e larvas de parasitas) neles encontrados são separados. Além de investigar visualmente esses materiais, testes químicos são feitos pra identificar DNA  antigo e proteínas de parasitas e animais. 

O que comemos é um aspecto tão importante de nossas vidas que talvez esteja na raiz do que nos fez adotar, há milhões de anos, uma postura bípede e um conjunto de comportamentos culturais tão diversos daqueles observados nos outros primatas. Sabe-se, hoje, através da comparação dos dois dados obtidos utilizando diferentes métodos, que no passado distante os seres humanos tinham uma dieta diversificada, resultado de seu contínuo processo de adaptação aos mais variados tipos de ecossistemas, lembrando-nos que somos, de fato, o que comemos. 

Fonte  -     JORNAL  DO  BRASIL   -   Ciência hoje ( A REVISTA INTELIGENTE DO BRASIL )
Domingo , 18 de fevereiro de 2007      A 28      Hilton P. Silva ( Museu Nacional , UFRJ  ) e Karl Reinhard (Universidade de Nebraska - Estados Unidos)