quinta-feira, 28 de maio de 2015

ESPECIAL LIVROS - MELHORES LANÇAMENTOS INTERNACIONAIS

 

Mulher  adolescente do Mahatma 
Gandhi transformou vida do líder

Neto e biógrafo de Kasturba Gandhi conta em "Daughter Of Midnight - The Child Bride of Gandhi" como ela passou de simples objeto de lascívia  a alicerce fundamental na filosofia do ícone indiano

Em 1930, Kasturba Gandhi – uma avó tímida, submissa e quase analfabeta – tornou-se influente símbolo da referência ao regime britânico na Índia. Seu marido, Mahatma Gandhi, estava preso. Kasturba sentiu que não tinha escolha, precisava sair das sombras, da vida tradicional das famílias indianas e continuar a obra de Gandhi. Sem ser líder política nata, ela deixou claro que preferiria ficar na companhia dos netos.
Mas, nos dez anos  seguintes, Kasturba percorreu o país viajando em vagões de terceira classe, pregando aquele veemente misto de ação direta não–violenta e pureza espiritual que acabaria definindo o pensamento de Gandhi. Ela própria foi parar na prisão pelo menos oito vezes e morreu de doença cardíaca quando encarcerada com o marido, em 1944.
Arun Gandhi, neto e biógrafo de Kasturba, acredita que o Mahatma, seus seguidores e biógrafos minimizaram a importância dela. Kasturba não foi, conforme ele escreve em Daughter of Midnight  - The Child Bride of Gandhi ( Blake, 16,99 libras, 314 páginas ) “tão desfibrada e velha sofredora" quanto o Mahatma nos quis fazer crer com a sua autobiografia franca e obcecada consigo mesmo. Também afirma, sem convencer muito, que ela teve papel significativo na evolução da não–violência do marido
O biógrafo mal conheceu a avó – ele foi criado numa colônia que Gandhi fundou na África do Sul. A única fonte sobre os primeiros 30 anos de Kasturba é a autobiografia de Gandhi. Arun recheia–a com boa dose de complicadas conjecturas românticas sem comprovação. Imagina o avô pensando em Kasturba: "Sua pele macia, seus grandes olhos emoldurados por cílios espessos, seu delgado corpo bem torneado e flexível sob as dobras macias de seu sári de cores claras!." 
Os desavisados que apenas folheiam obras numa livraria, podem ser induzidos a pensar que esta biografia, enfeitada pelo rosto de uma bela indiana meio velada e de lábios viçosos é um romance. O subtítulo também desorienta.  Kasturba e Mohandas tinham 13 anos quando se casaram em 1882. Se Kasturba era noiva menina, ele era um noivo menino. 
Kasturba tem um papel importante na autobiografia de Mahatma Gandhi. É em grande parte descrita como objeto de Iascívia, mas não só isto. Gandhi assombrava-se com os "desejos carnais", conforme disse  - tanto assim que estes induziram o casal a fazer amor, num quarto contíguo, quando o pai dele morreu. Kasturba engravidou e, quando o bebê morreu com poucos dias de vida, Gandhi culpou “os grilhões da luxúria“. Nunca ficamos sabendo o que Kasturba sentiu.

Voto de castidadeGandhi tentou ensiná-la a ler e escrever, mas era dominado pela luxúria, e as lições terminavam antes da hora. Ele nunca se perdoou por isto. Mahatma Gandhi não se perdoou muita coisa e passou grande parte da vida fazendo penitência por seus erros. Fez o voto de castidade em 1906. Kasturba, conforme ficamos sabendo, não se opôs. Gandhi ficou obcecado com a dieta – negando–se todo alimento de que gostava e severamente incentivando a mulher e filhos a fazer o mesmo.
À medida que se convertia a um meio mais espiritual de vida. Mahatma Gandhi começou a ver em sua mulher um exemplo a imitar. 
Quando jovem estudante em Londres, ele se trajava à moda ocidental e recebia lições de dança e de violino; na África do Sul, foi um advogado astuto e bem remunerado. Na maior parte desses anos iniciais, Kasturba viveu na Índia uma vida tradicional. Quando ela partiu para a África do Sul, seu marido a obrigou a usar meias e sapatos, sentar-se à mesa  e comer com faca e garfo. Aqueles eram exatamente os símbolos de uma vida urbana ocidentalizada  que Gandhi mais tarde rejeitaria.
Segundo, seu relato, ele conseguiu essa extraordinária transformação graças ao exemplo  de sua mulher. Mas o Mahatma não fazia nada pela metade. Logo se saiu melhor que sua mulher nos modos de vida simples. Ela se desfez em lágrimas quando Gandhi lhe pediu que esvaziasse o urinol de um visitante de casta inferior, quando ela ficou chocada com o furto de sua pequena caixa de pertences, Gandhi respondeu que para início de conversa, a mulher nem devia possuir a caixa. Era difícil conviver com ele - e Kasturba passou grande parte de seus últimos anos mediando entre Gandhi e os quatro filhos. Ele negava-lhes  a instrução formal, recusava-se a atender a seus desejos para não o acusarem de favoritismo e adiou o consentimento para que se casassem.
Três deles continuaram leais, mas o mais velho, Harilal acabou odiando–o. Harilal converteu-se ao Islamismo e escreveu aos jornais criticando Gandhi. Chegou bêbado e delirando ao leito de sua mãe moribunda, e funcionários do presídio lhe mostraram a porta da rua. Outro filho tentou tratar Kasturba com penicilina, mas Gandhi ( que desconfiava da medicina ocidental )  o convenceu a não fazê-lo. Respondendo a uma carta de condolências de lorde Wavell, vice–rei da Índia, Gandhi escreveu “Sinto a perda, mas o que havia imaginado... Sem que eu quisesse, ela decidiu perder-se em mim, e em conseqüência se tornou minha cara metade.” ( Tradução de Magno Dadonas ) 

Fonte – Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO   D2  17/05/1998     
   SAM  MILLER( The Sunday Times) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário sobre a postagem.