terça-feira, 21 de junho de 2016

História da joalheria brasileira



Ouro, pedras preciosas e diamantes sempre fascinaram a humanidade, em forma de arte, reserva de valor, e em algumas culturas, proximidade do divino. Joias são tidas como a primeira manifestação artística do homem. Desde a pré-história até hoje, são símbolos de riqueza, majestade, poder e grande magia. A história das joias é tão antiga quanto à vaidade dos homens. No Brasil, país descoberto pelos portugueses em 1500,  o ouro era abundante e logo começou a ser extraído da terra. Igrejas logo começaram a ser construídas, e adquiriam o resplendor  do sol quando enriquecidas e recobertas pelo ouro, quase como um agradecimento ao divino. Porém, grande parte desse grande metal era enviada para Portugal em forma de impostos. Mais precisamente, um quinto do todo. Até 1720, 25 toneladas anuais eram enviadas a Portugal. A partir de 1727, foram descobertas no Brasil minas de diamantes, nos Estados da Bahia  , Minas Gerais e Mato-Grosso, e até 1870 o Brasil foi o maior produtor de diamantes do mundo e presenteou Portugal até esta data com mais de três milhões quilates.
Inúmeras outras gemas surgiram das entranhas brasileiras, possibilitando assim o fausto das joias em uma época de exuberância. Com a vinda de Dom João  VI e a corte portuguesa, instalada no Rio de Janeiro em 1808, intensificou-se a produção das joias para atender a burguesia e até mesmo as classes menos favorecidas, incluindo os escravos. Ourives luso-brasileiros trabalhavam no Brasil. Foram criadas as chamadas joias de crioulas, especialmente na Bahia, para mulheres negras e crioulas nascidas no Brasil, sendo estas uma expressão ímpar de um estilo brasileiro. A estética da riqueza e do exagero exteriorizava o luxo e sinalizavam poder e distinção. Escravas e amas  de leite de lares abastados circulavam ostentando enormes peça de ouro, exibindo assim o poder de seus senhores. 
O Brasil nunca produziu  prata. Ela chegava do México e Peru, e aqui era trocada por outros produtos, e até mesmo por escravos africanos. As pencas de balangandãs eram adornos usados na cintura e fizeram parte da indumentária baiana  do século XVIII até meados do século XX. Carregavam consigo um sincretismo religioso e eram compostos por vários grandes elementos manufaturados em prata, que adquiriam uma conotação mística através de amuletos de boa sorte. Todos estes adornos de prata e ouro representavam também reserva de capital a ser transformada em dinheiro em caso de necessidade financeira.” ( Ruth Grieco )

SERVIÇO
Ruth  Grieco  - Poetizando a Joalheria
Autor: Didier Brodbeck  - Editora Dazzing  Books  - 256 páginas,
Papel couche  - Capa dura de tecido - Livraria Cultura 

Os balangandãs 
Da  Bahia 

Bentinhos & amuletos. A sofisticação místico-social do branco e o terror animista dos povos primitivos do Brasil amalgamados numa ourivesaria de raiz popular. O homem na sua queda ( leia-se: diáspora tribal ) e perdida unidade teísta e cultural refugiou-se na saudade daqueles tempos de glória. Bentinhos & amuletos seriam, afinal de contas, a projeção e a memorialística coletiva de uma idade de ouro em que tudo era uma só Verdade de consumo coletivo  representada cabalisticamente pelo olho do conhecimento humano no meio do triângulo egípcio; ou pela cruz de Kristó significando o equilíbrio In e di Yang  - o positivo e o negativo, forças mestras da vida. E o escapulário sobre  peito dos líderes religiosos e das multidões de fiéis, vibradores a irradiar força animista  / psíquico positiva, ou proteger e amortecer, pela neutralidade mineral e a nobreza química de seus componentes, o yang negativo e o maléfico das forças cósmicas e humanas desencadeadas e decaídas. 
Os balangandãs da Bahia seriam assim, uma representação simbólica dessa velhíssima tradição do conhecimento humano e divino acumulado e esquecido: o temor de Deus onipresente pelo conhecimento de suas forças fecundantes de luz & sombra  , noite & dia , sol & lua , terra & água , ar & fogo, homem & mulher. Braços propiciatórios e mortais, todos eles a embalar um ser de eleição terrestre: aquele feito à semelhança e imagem de Deus. Mãos diferenciadas e unas do mesmo corpo cósmico. E místico . Tudo revelado ( e encoberto ) pelas três palavras profanas que se escondem a grande unidade simbólica tripartida: Uma Coisa Só.
Introduzida pelos negros islamizados do Daomei e vizinhanças, a ourivesaria baiana vem repetindo o comício castralvino da dor dos negros sublimada pela beleza. Fruto menos dramático da tragédia da escravidão em sua floração plástico-simbólica, repete o sofrimento documentado do Navio Negreiro: nos pequenos arranjos conhecidos como pencas de balangandãs, certas peças são conhecidas como nave, galera, chave, correntão grilhão - toda a gíria de dor tartamudeada pela escravaria em viagem para o Brasil e sublimada, em forma de esconjuro criativo, pelos delicados artífices da ourivesaria baiana, escravos e forros em sua quase totalidade

Por  Homero Homem 
Fonte  -  Revista -  A  RELÍQUIA    
pág  24  Setembro de 2012 

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