terça-feira, 24 de janeiro de 2017

São Paulo de Piratininga - 25 de janeiro





Pátio  do  Colégio. É certo que ainda não tinha esse nome. Era 25 de janeiro de 1554. Lá estavam os padres Manuel de Paiva  , Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Paiva celebrava a missa oficializando a instalação do real Colégio de São Paulo de Piratininga  . Nascia São Paulo. Naquele momento era apenas uma cabana de madeira medindo 14 passos de comprimento por 10 de largura  , construída com a ajuda dos índios. Logo estaria servindo também para escola, enfermaria, cozinha, refeitório e dormitório.

Dizem que os padres jesuítas vieram para catequizar os índios. Não era o caso de Anchieta, que além de ter vindo com essa missão, veio principalmente para se restabelecer de uma tuberculose óssea, pois haviam recomendado que o clima daqui era altamente propício para a cura.

Nóbrega era o superior dos jesuítas e decidiu que deveriam expandir o trabalho, não se atendo apenas ao litoral. Eles haviam começado na Bahia e descido até São Vicente. Os padres eram poucos, portanto a sua estratégia era reuni-los em uma única aldeia para facilitar a catequese. Foram designados vários dos poucos padres. Anchieta era um deles. Assim subiram a serra em direção a Piratininga ..

Mas não era fácil subir a serra. Precisaram da ajuda de Caiubi e de seu irmão,  o cacique Tibiriçá. Este já tinha um relacionamento muito bom com os portugueses  , já que escravizava e vendia índios de tribos inimigas. A ajuda veio também de João Ramalho, bandeirante casado com Bartira, filha de Tibiriçá, apesar de já ser casado em Portugal

O local escolhido para a formação da vila  , chamado pelos índios de Piratininga (Tupi-Guarani , peixe  seco )  , tinha uma posição favorável do ponto de vista estratégico. Era margeado pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú e de lá os padres tinham uma visão total de toda a região. De cima podiam observar  se os índios inimigos estavam vindo para atacá-los além de teriam água farta com os rios próximos   , que serviam igualmente como uma barreira natural contra eventuais ataques.

Daquela época só ficaram os nomes de ruas e viadutos homenageando seus pioneiros. A construção atual do Pátio do Colégio tem muito pouco de original. Apenas uma parte da parede de taipa de pilão permaneceu e está exposta na praça de alimentação do Café do Pátio  . A taipa empregada nessa construção era feita de terra úmida, barro, sangue de boi  , fibras vegetais  , folhas e ervas  , que eram misturados e socados num pilão, depois colocados  , para que secasse.

As catacumbas  , situadas sob a capela  , também são dessa época. Eram utilizadas para o sepultamento dos padres e, mais tarde, também pessoas consideradas importantes da sociedade , como o próprio Tibiriçá. Atualmente, as catacumbas estão vazias e os restos mortais de Tibiriçá estão na Igreja da Sé. A capela  , apesar de restaurada  , matem a torre original e boa parte das peças do altar. Nela estão expostos o fêmur e o manto de Anchieta

Após a expulsão dos jesuítas do Brasil  , o governador Morgado de Mateus requisitou o espaço em 1765  , para ser sede dos Capitães Generais ou Palácio dos Governadores  . O espaço passou então a se chamar Largo do Palácio  , tornando –se o centro de atividades cívicas e culturais da cidade. Abrigou a sessão inaugural da Academia Paulista de Letras, chamada Academia dos Felizes  , em 1770. Começaram a aparecer ao redor a Casa de Fundição, a Casa da Ópera, onde D.Pedro I foi aclamado rei em 1822  , o aristocrático Solar da Marquesa  , os ruidosos feirantes da Rua do Carmo  e o comércio agitado da Ladeira do Palácio.

O Palácio do Governo precisou passar por reformas para se adaptar as instalações das numerosas repartições decorrentes do desenvolvimento dos serviços públicos  . Florêncio de Abreu , quando assumiu a presidência do Estado  , em 1881, determinou uma radical transformação do Palácio, derrubando a ala perpendicular à fachada principal, a qual foi completamente modelada.

Já no final do século XIX , a cidade sofreu grandes transformações urbanas  e  , novamente  , o Largo do Palácio foi atingido  . Um jardim e uma fonte foram construídos na praça em frente ao Palácio do Governo  . Com o advento da República  , o palácio passou para o poder do Estado e a Igreja foi transformada em Palácio do Congresso.

Em 1897  , a cidade começava a ganhar ritmo de metrópole  . O intendente de obras  , Gomes Cardim  , sugeriu a construção do Viaduto Boa Vista ( entre a Sé e o Largo São Bento  , para evitar o congestionamento triângulo central – ruas Direita  , São Bento e XV de Novembro ).

Com as novas construções  , o Pátio do Colégio  , modificou-se novamente  . Em 1908  , a area do Palácio  , reservada à habitação dos presidentes  , foi demolida e os Palácio dos Campos Elíseos passou a ser a residência oficial. Com a mudança da sede do governo estadual  , o Palácio do Governo  tornou-se sede da Secretaria Educação, perdendo assim em importância, apesar da própria importância da Secretaria ali instalada.

Nova mudança  : a Secretaria da Educação vai para o Largo do Arouche, em 1953. Começa então o início da demolição do Palácio do Governo ( Pátio  do Colégio ), encontrando-se nele a parede de taipa de pilão ( citada acima ) intacta. Depois disso, foi promulgada na Assembléia Legislativa a lei que doava o terreno do Pátio do Colégio à antiga Companhia de Jesus  , representada pela Sociedade Brasileira de Educação.




A  Cultura  noprimórdios 
De  São  Paulo 

Fundada em 1554  , São Paulo tem uma riqueza histórica de grande importância mas que caiu no esquecimento da população pela preservação quase nula dos patrimônios históricos do Período Colonial.

Com o desenvolvimento e a urbanização  , os traços históricos do colonialismo foram ficando para trás  , fazendo com que a história da fundação de uma das mais importantes cidades do mundo caísse no esquecimento. Marcos Mendonça  , Secretário da Cultura do Governo do Estado  , enfatiza a necessidade do resgate desse momento histórico  . “ Os paulistas precisam saber mais sobre a origem da cidade  , sobre o momento de sua fundação  e não deixar de lado esse momento histórico tão importante e com fato s tão marcantes  .

A São Paulo de Piratininga tem sua história contada por intermédio de suas Atas  , que são guardadas desde o século XVI  , momento de sua criação , até os dia de hoje  . Esse fato classifica a cidade de São Paulo como a única das cidades do século XVI que tem esse tipo de documentação até a atualidade  . A relíquia está guardada no Arquivo Histórico Municipal Washington Luiz , na região central.

A influência dos aspectos sócio-político e econômicos da Coroa Lusitana na formação da Cidade da Garoa

Em 1532 , D. João III criou o sistema de capitanias hereditárias a fim de explorar os recursos econômicos do país e defender a costa de ataques estrangeiros  . Desmembrou as capitanias em governos municipais  , para fazer a fiscalização e manutenção das vilas  . Mas a Coroa novamente volta a centralizar o poder em suas mãos  , com criação dos Governos Gerais  , em virtude da excessiva autonomia das câmaras municipais.

Apesar disso foram criadas as capitanias de São Vicente  , doada a Martim Afonso de Sousa  ; e de Santo Amaro  , a Pero Lopes de Sousa  . E elevadas à condição de vila a povoação de Santo André da Borda do Campo ,fundada por João Ramalho.

Segundo o historiador Paulo Garcez Marins  , São Paulo de Piratininga era considerada um ponto estratégico para a Coroa Portuguesa  . “ A Vila de Piratininga era cruzada por vários caminhos indígenas e importante ponto de acesso ao interior do país  , sendo fato de fundamental importância para a “ Coroa Portuguesa “ , diz Garcez .

A pobreza da Vila de Piratininga era grande e só foi atenuada com o advento do ciclo do ouro no bandeirantismo paulista  . No fim do século XVI  , a população chegou a atingir cerca de 4.000 habitantes. Com esse avanço  , os ataques dos índios carijós passaram a ser frequentes  , o que ocasionou a criação da muralha de Piratininga.

Fora do núcleo urbano  , as roças  , sítios e fazendas tomavam conta da paisagem da vila. A historiadora Eliane Bisan Alves faz uma análise do paulista seiscentista como um “ tipo rural   . “ O paulista do século XVI só saía de casa para ir à vila por motivos religiosos, ou quando era intimado pela Justiça .

Os campos de Piratininga eram repletos de plantações de trigo nesta época  . O trigo era aceito como dinheiro pelos mercadores forasteiros. Segundo o historiador Paulo Garcez  , São Paulo de Piratininga foi um grande produtor de trigo, fato ausente na memória paulista. “São Paulo exportou trigo nos primeiros cem anos de sua fundação  , mas poucas pessoas têm conhecimento deste fato  .

Plantações de algodão  , cana , vinha e cereais necessários para a subsistência também faziam parte da economia da vila  . A mão-de-obra indígena era usada para o cultivo dessas plantações e eram considerados “ gentios da terra “ , para não serem confiscados pelo governo.

Mas um grande ódio racial tomava conta de uma camada de grande importância na Vila  de Piratininga  : os Bandeirantes  , que tinham nos índios sua inspiração para realizar grandes caçadas e matanças em suas expedições.

O Bandeirante: “aventureiro grego“ em busca do ouro brasileiro
"E um dia, povoada a terra em que te deitas,
Quando, aos beijos do sol, sobrarem as colheitas,
Quando aos beijos do amor, crescerem as famílias,
No resto da multidão, no tumultuar das ruas,
No clamor do trabalho, e nos hinos da paz!
E subjugando o olvido, através das idades,
Violador de sertões, plantador de cidades,
Dentro do coração da pátria viverás“.

(Olavo  Bilac, em homenagem a João Ramalho)

Não se pode falar sobre a história de São Paulo sem mencionar um ícone importante dentro deste contexto  : os bandeirantes. Bando inquieto e obstinado, os bandeirantes foram responsáveis pelo desbravamento do interior do país, atrás de pedras e metais preciosos. Quando as “ entradas  “ se transformaram em expedições mais numerosas e organizadas receberam o nome de “ bandeiras , que originou a denominação “ bandeirantes “.

Afonso Sardinha  , Fernão Dias Paes  , Raposo Tavares, que chegou até o Peru partindo de São Paulo e percorrendo a costa brasileira  - Domingos Jorge Velho  - considerado um dos mais violentos, são bandeirantes que fizeram a história por meio de suas expedições, desbravando terras  , escravizando e massacrando índios.

São Paulo é marcada por um clima de tensão em seus principais momentos do Período Colonial  . E  o capítulo sobre os bandeirantes é um deles  . “ Disputas com os índios  , conflitos com os jesuítas e desentendimentos entre si são fato que tornam pesada e tensa a história dos bandeirantes paulistas “  , acrescenta o historiador Paulo Garcez Marins.

Partindo de São Paulo  , as “ bandeiras “ , que seguiam por clareiras já abertas nas florestas imensas da zona costeira  , ou navegavam pelas correntes fluviais  , guiaram–se pelo instinto na região dos ouros e diamantes  . Segundo o relato do historiador Oliveira Lima  , no livro “ Formação histórica da nacionalidade brasileira “ , a geografia parecia indicar a direção do movimento de expansão brasileira. “ Por uma curiosa anomalia  , os cursos de água da região de São Paulo ao Paraná correm do litoral para o interior  , como se houvessem sido predestinados a conduzir para ali os aventureiros “ .

E era com os jesuítas que os bandeirantes tinham também algumas diferenças de propósitos  , gerando grandes conflitos no século XVI  . Os religiosos realizavam expedições para libertar os índios das mãos dos bandeirantes  .  Estes últimos não recuavam diante dos jesuítas  e utilizavam das piores violências contra eles  , até o ponto de se rebelarem contra as autoridades civis  , sendo eleito  , em 1640  , um representante deles como rei em São Paulo. Conta-se que João Ramalho , um português que  , atraído pelo mistério dos sertões fechados, embarcou em uma das primeiras expedições enviadas para fazer o reconhecimento do litoral brasileiro da Serra de Paranapiacaba tendo conseguido chegar até o alto da Serra do Mar. Fascinado pelo panorama agreste e arejado sob seus olhos, João Ramalho resolve fugir e desbravar aquela região. Perdido entre as matas e tribos do planalto, une-se a Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Do casal nasceram os primeiros luso-tupis do planalto. A vida desse primeiro povoado de descendência luso-indígena está retratada nas atas da Câmara de Vereadores de Santo André da Borda do Campo. De estilo simples e inquieto, este povoado se localizava na orla do mato com os campos da Vila de Piratininga.

Patriarca dos Bandeirantes  , João Ramalho  , aceitou os costumes e cultura tupi  , constituiu uma nova raça e criou o humanismo luso-bandeirante. Enriqueceu a língua latina com palavras celtas  , gregas  , germânicas e árabes  . Fundiu o idioma lusitano à língua Tupi.

As dificuldades   e  costumes
Da sociedade  da Vila  de Piratininga 

Nos primeiros séculos da colonização familiar e a vida doméstica paulista não poderiam deixar de ser influenciadas por alguns dos elementos que marcaram profundamente a formação da sociedade brasileira e o modo de vida de seus habitantes. A distância da Metrópole  , que dividia muitas vezes os membros de uma família entre os dois lados do Atlântico  , a falta de mulheres brancas, a presença da escravidão negra e indígena, a constante expansão do território, assim como a precariedade de recursos e produtos com os quais estavam acostumados os colonos no seu dia-a-dia, são alguns fatores que levaram a transformações de práticas e costumes construídos no Reino, tanto que se refere à constituição das famílias como aos padrões de moradia, alimentação e hábitos domésticos .
Justamente devido a isso a vida doméstica era um dos principais espaços de convivência da intimidade do povo paulista no Colonialismo. Habitadas sempre por indivíduos de várias origens  - portugueses , índios , escravos  - as residências  , em sua grande maioria consideradas rústicas  , localizavam-se longe umas das outras  , o que reforçava ainda mais o convívio doméstico.

Marcada pela solidão e isolamento, a vida social paulista no período colonial era limitada aos encontros em casas de pessoas amigas  , festas religiosas e missas. As mulheres só saíam de casa acompanhadas e apenas para compromissos religiosos. Viviam sempre acompanhadas das índias, que ensinavam as colonas a fazer trabalhos manuais  , socar o milho  , preparar a mandioca  , trançar as fibras , fazer redes e moldar o barro  . Sua educação era voltada para o casamento e às atividades desempenhadas enquanto a mãe e esposa. Os homens se divertiam em encontros para jogar xadrez e baralho, sendo uma forma de sociabilidade entre familiares e amigos. Eram realizados banquetes nas casas dos habitantes mais abastados, com direito a comes e bebes  a todos os convidados. Festas como o Natal, Páscoa e Semana-Santa já eram comemoradas desde aquela época na Vila de Piratininga.

Os paulistas tinham o costume de se alimentar com as mãos, em grande parte das vezes  , pela escassez de talheres, pratos e copos ( feito de estanho ). A nobreza desses materiais  , não impedia que as refeições fossem feitas ao redor de uma mesa muito baixa ou em uma esteira. Alimentos como a farinha de milho e a marmelada não faltavam na mesa dos colonos de São Paulo de Piratininga. A família paulista sempre era reunida ao menos uma vez por dia em uma das refeições  , tradição que se preserva até os dias de hoje.

Mas mesmo com essa pobreza de infra-estrutura os paulistas mantinham hábitos de higiene como lavar as mãos antes das refeições e banhar os pés antes de dormir  , para evitar infecções como o “ bicho no pé   . Banhos quentes e remédios caseiros feitos por curandeiros eram usados no tratamento de doentes com diarréia, febre amarela, varíola e sífilis.

Com todas essas dificuldades  , o fortalecimento da indústria caseira em São Paulo supriu a falta de produtos que vinham das frotas portuguesas que  , na maioria das vezes  , chegavam deteriorados ou sem condições de uso. E os colonos portugueses foram se tornando cada vez mais “ americanizados “ ao incorporarem costumes e tradições da Terra de Santa Cruz .

Fonte     -   REVISTA  CULTURAL           págs   5 , 6  ,12 , 13  e 14
Ano  I   -    nº 9  - Janeiro  / 2000  Publicação Mensal da Secretaria da Cultura
Do Governo do Estado de São Paulo







O  mais  antigo  arranha-céu  de São  Paulo

O mais antigo arranha-céu de São Paulo, de 1924  , fica diante do arvoredo do pequeno jardim que liga a Rua Líbero Badaró  ao Vale do Anhangabaú , entre dois edifícios modernos  , expressões da árida linha reta na paisagem do centro  . É o Prédio Sampaio Moreira  , números 344-350 daquela rua  . Projetado por Cristiano Stockler das Neves  , foi construído pelo Escritório Técnico de seu pai  , o agrônomo Samuel das Neves  , do qual era sócio desde 1911 , quando se formou em arquitetura pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Edifício de escritórios  , o Sampaio Moreira foi o primeiro arranha-céu da cidade  , com 13 andares  , mais um terraço  , batido poucos anos depois pelo prédio Martinelli, ali perto  . Mas têm a delicadeza beleza que o maçudo Martinelli não tem. Quebrou na cidade a influência   europeia, sobretudo francesa  . Inaugurou aqui a verticalidade dos edifícios nova-iorquinos, à qual o arquiteto brasileiro agregou belas intromissões de estilo Luís XVI na fachada. É um marco do nosso nascente ecletismo arquitetônico e do nosso hibridismo no gosto  .

Originalmente  , para quem olhasse do Vale , o Sampaio Moreira se compunha visualmente com os dois pavilhões que Samuel das Neves projetara para o Conde Prates  , grande fazendeiro de café  . O Sampaio Moreira é uma jóia referencial da belle époque paulistana que conserva as característica originais: do vermelho elevador sueco aos pisos  , aos metais e à luminária  .

O projeto foi feito para o negociante José de Sampaio Moreira ( 1866-1943 ) , brasileiro de São Paulo , conforme me esclareceu seu neto. Era filho de Francisco Sampaio Moreira  , imigrante português, vindo para São Paulo no século 19, chamado por um irmão, dono de uma loja de ferragens na Rua da Quitanda  . Prosperou nos negócios  , ficou rico  , teve chácara e residência no Brás. Embora fosse , sobretudo  , comerciante , foi também industrial, teve tecelagem e uma fábrica de anilinas para tecidos, foi sócio do Leite Vigor, teve casa bancária. Foi credor de empresas e pessoas. Na crise do café, recebeu em pagamento de dívidas o palacete de dona Sebastiana da Cunha Bueno, na Avenida Paulista  , com tudo que havia dentro, para onde se mudou. Parte dos móveis dessa casa está hoje na Fazenda Santa Cecília, em , remanescente da Fazenda Carlota de café  , que tinha cerca de 7 mil hectares de terra , em 1889.

José de Sampaio Moreira foi Irmão Protetor da Santa Casa de Misericórdia  , beneficiando-a com largas doações  . Conta seu neto que  , uma vez  , um grupo de benemerência foi pedir dinheiro a Francisco, o pai. À vista da quantia dada, reclamaram dizendo que seu filho José havia feito contribuição maior. Replicou ele, dizendo: “Ele pode  : tem pai rico“. Na casa bancária, certa vez, um cliente tomou emprestada uma quantia, amarrotou o dinheiro e o enfiou no bolso. José pediu-lhe o dinheiro de volta e cancelou o empréstimo, explicando:  Dinheiro tem que ser tratado com carinho“. Apesar de muito rico, andava de bonde.

Dono de um grande número de imóveis em São Paulo  , no início do século 20 foi cliente de Ramos de Azevedo  , a quem encomendou vários projetos  . Mas depois tornou-se  cliente de Cristiano Stockler das Neves  , que fez para ele um grande número de projetos  .

Foi quem lhe projetou o Edifício Mesão Frio, em estilo art déco, construído em 1940, na Rua Barão de Itapetininga, com galeria para a Rua Marconi. Mesão Frio é o nome do burgo de origem da família de Sampaio Moreira, no norte de Portugal  , perto da Fronteira com a Espanha  . Vem daí a incrível vocação comercial de pai e filho  . É historicamente lugar de comerciantes e artesãos e da feira – franca que ali se realiza anualmente, desde a Idade Média  , a famosa feira de Santo André. É o que parece explicar o pré-capitalismo rentista de uma biografia singular na história do empresariado de São Paulo. Pré-capitalismo, porém, que não o impedia de encomendar obras oníricas e avançadas aos primeiros arquitetos paulistanos.

Fonte    - 
Tesouro  Paulistano    -  Artigo        José  de Souza  Martins  , professor titular  de  Sociologia
                                                             Da  Faculdade  de  Filosofia  da Universidade de São Paulo


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