terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Verão da Chikungunya




Cidade
Transmitida  pelo  Aedes aegypti  , o mesmo mosquito da dengue e do zika,
A  virose torna-se a  nova ameaça à saúde pública na região metropolitana

Estação favorita dos cariocas, o verão não é apenas sol, calor, praia e curtição. É também a temporada do ano em que a proliferação do mosquito Aedes aegypti atinge o ápice, aumentando drasticamente a ocorrência de doenças cujo principal transmissor é o inseto. Os moradores do Rio e dos municípios vizinhos  , que  , nas últimas décadas  , passaram a conviver com a dengue como se fosse parte da rotina, descobriram no ano passado o assustador espectro do zika, que ao infectar mulheres grávidas provoca microcefalia  nos bebês. Neste ano, cresce a ameaça de uma terceira doença, transmitida pelo mesmo vetor, de nome mais complicado, a chikungunya. As autoridades de saúde pública já esperam por uma epidemia dessa virose , e a análise dos números não deixa margem para dúvidas. Os 71 casos registrados pela Secretaria Estadual de Saúde, entre janeiro e novembro de 2015, passaram 15265 no mesmo período de 2016. A imensa maioria, cerca de 90%, diz respeito a pacientes da capital e da Baixada Fluminense. “Como a doença é nova na cidade  , a população fica suscetível  . A expectativa é que haja um aumento considerável no mesmo número de casos", avalia o infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fio Cruz em Mato Grosso do Sul, uma das principais autoridades sobre a doença no país.

A chikungunya foi identificada em 1952 a partir dum surto na África. Ao longo das últimas décadas  , ela atingiu basicamente populações no sudeste asiático e em ilhas do Oceano Índico e no Caribe. Os primeiros casos no país oram detectados em 2013 no Amapá. Um ano depois, a doença já havia chegado a Feira de Santana  , na Bahia  , de onde acredita-se, teria alcançado o Rio. O Ministério da Saúde identificou, até 28 de novembro, em todo o Brasil  , 259928 prováveis casos  , a maioria nas regiões dos Nordeste e Sudeste. Os sintomas da virose  são semelhantes aos das demais doenças transmitidas pelo mosquito  , mas com consequências bem diversas para os doentes. Os primeiros sinais são febre alta e fortes dores nas articulações  , sintomas que em 50% dos casos podem perdurar por vários meses. A doença também pode agravar outros problemas já existentes, como diabete, hipertensão, artrite e glaucoma. Pessoas com obesidade e idosos exigem mais cuidados, pois a infecção pelo vírus pode piorar quadros de doenças crônicas e levar à morte. A recuperação requer muito repouso e hidratação. Segundo Venâncio, deve-se evitar a automedicação e não interromper nenhum tratamento de uso contínuo. Assim como o zika, há um alerta para as grávidas. “Se a mulher tiver a doença nas últimas semanas de gestação, a possibilidade de passá-la para o bebê  é grande  . Nesses casos  , há risco alto de morte da criança“, alerta.

Erradicado no Rio em 1907 com o trabalho do médico bacteriologista Oswaldo Cruz, há trinta anos o Aedes aegypti voltou a incomodar os cariocas ao provocar as epidemias de dengue. As campanhas anuais de combate e controle do vetor estão nas mãos das prefeituras e vêm se mostrando ineficientes, assim como a rede pública de hospitais é sofrível. E a situação falimentar da administração estadual agrava tal cenário, pois as três doenças juntas podem provocar superlotação em serviços públicos de saúde, atualmente aquém da necessidade. O combate ao mosquito  depende, em grande parte, da própria população, mas o governo do estado vem testando tecnologias para tentar minimizar o problema. O Aedes já está totalmente adaptado ao ambiente urbano e nos cabe agora buscar um caminho para conter a contaminação da população“, explica Alexandre Otavio Chieppe, subsecretário de Vigilância em Saúde. Entre as tentativas a utilização de mosquitos tratados biologicamente para interromper o ciclo de transmissão de vírus, um novo larvicida  desenvolvido pelo Instituto Vital Brazil, uma armadilha elaborada pela Fio Cruz que envenena os insetos e um inseticida biológico batizado de Dengue Tech. “Essa é uma luta complicada mas a solução ainda está em acabar com a água parada", pontua Chieppe. Apesar de o controle ser possível com uma medida conhecida e simples, o combate ao mosquito tem se mostrado uma tarefa hercúlea.

Fonte     -       Revista  VEJA   RIO      págs  28   e  29
21de dezembro , 2016         Cidade     Pedro  Moraes


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