terça-feira, 27 de março de 2018

ARUN GANDHI


Neto  de Mahatma  Gandhi compartilha  histórias  de  sua  infância  com avô  em  seu 
mais   recente livro, 'A  Virtude da Raiva'. Ao  Metro  Jornal, o  autor  comenta  mudanças  pessoais  afetam  o  mundo. 

'PRECISAMOS  MUDAR'

Mahatma Gandhi ( 1869 - 1948 ) teve grande influência sobre seu neto que, aos 84 anos, conta no livro 'A Virtude da Raiva' as lições aprendidas com o avô ao vê-lo lidar com injustiça e racismo
Arun Gandhi conta a transição emocional que viveu na juventude, da raiva para a não violência. O autor aborda também reflexões atuais de seu cotidiano como ativista humanitário
Jornalista e presidente do Ghandi Worldwide Education Institute, Arun, que é sul-africano, dedica sua vida a continuar o legado de seu mestre.

Redes  sociais  

"Precisamos decidir se queremos gerar mais conflitos na sociedade ou se queremos informá-la da forma correta. Se escrevermos artigos e posts com a intenção de informar e educar as pessoas, vamos ter um cenário diferente. Mas, se a intenção for de prejudicar, então conseguiremos apenas mais estragos".

Gerenciamento  da raiva 

"As pessoas precisam entender o que é a não-violência. Não é uma solução política, mas de transformação pessoal. Se esperarmos que as mudanças venham de cima para baixo, nada vai mudar. A mudança tem que vir da base. Comece a mudança você mesmo e, através de si, mude o resto. Assim a revolução acontece. Em vez de responder ao ódio com ódio, responda com amor".

Passar  à frente  a  sabedoria 

"Quando meu avô foi assassinado, fiquei muito perturbado e com raiva. Disse a meus pais que queria ter matado a pessoa que fez isso, mas eles me lembraram que meu avô não aprovaria esse tipo de atitude. Lembrei das lições que Ghandi me ensinou e decidi que a partir dali iria dedicar a minha vida a fazer com que esse tipo de violência não acontecesse mais. Desde então dedico o meu tempo a ensinar as pessoas mudarem e a entenderem que devem se dedicar a algo bom".

Atuais  líderes  mundiais 

"Precisamos   ficar  atentos  a  um ponto:  a  questão  não  é  apenas  sobre  os  políticos, mas  sobre  todos  nós. Se  não  começarmos  a  redefinir  nossos  valores, não  poderemos  esperar  que   os  políticos  mudem. Eles  não  são  alienígenas, o  que  eles  fazem  reflete  os  valores  da  sociedade.  Nós  precisamos  começar  e  mudar." 

Fonte  -     Jornal    -     METRO              pág   11     -          CULTURA 
Rio  de  Janeiro  , 20/02/2018      -      terça-feira 

DA   PAZ 
NETO  DE  GHANDI  ENSINA A  REPENSAR  A   RAIVA 

Ativista  conta  em  livro  como  usou  as  lições  do avô, assassinado  há 70  anos,  para aplacar  a  própria  ira  

Setenta anos depois,  o indiano Arun Gandhi ainda se lembra com muita nitidez daquele 30 de janeiro de 1948. Ele voltava a pé do colégio, que ficava a mais de um quilometro de sua casa, em um vilarejo na África do Sul. Um conhecido apareceu e pediu que ele apressasse o passo. Quando chegou e viu a sua mãe chorando, percebeu que algo sério havia acontecido. Seu avô, Mahatma Ghandi, fora assassinado a tiros na Índia. 
Arun foi tomado pela raiva. Ao longo dos anos, porém, usou as lições pacifistas ensinadas pelo avô para canalizar o sofrimento em algo positivo. Estes ensinamentos estão em "A virtude da raiva " ( Sextante ), que acaba de sair no Brasil. Hoje com 83 anos, o ativista político foi a Campinas ( SP ) participar do "Fórum Campinas Pela Paz", que aconteceu nos dias 23 e 24 de fevereiro.
- Quando soube do assassinato, fiquei em choque, não entendia como podiam ter matado alguém tão gentil e amável - lembra Arun, em entrevista por telefone. - Disse à minha família que iria me vingar de quem fez isso. Na hora, meus pais me lembraram que o meu avô não aprovaria esse tipo de comportamento, e que ele gostaria que eu dedicasse minha vida a mostrar que não há mais lugar para esse tipo de violência. Foi o início da minha trajetória no ensino da não violência. 

UMA  ESPÉCIE  DE  ELETRICIDADE 

"A virtude da raiva " traz dez ensinamentos que Arun recebeu de Ghandi. Nascido na África do Sul, em 1934, o ativista passou os primeiros anos da vida sofrendo com os efeitos do apartheid: era atacado pelas crianças brancas por não ser branco o suficiente e pelas crianças negras por não ser negro o suficiente. Ressentido, só compreendeu melhor o mundo depois que sua família se mudou para a Índia, e ele conheceu o seu avô. Arun tinha 12 anos e teve contato direto com Ghandi até os 14, quando voltou para o país natal.
Presidente da Ghandi Worldwide Education, e jornalista com textos publicados no "Whashington Post " , o quinto neto de Mahatma dedica sua vida a divulgar o sentido da justiça do avô. Um dos caminhos para isso, defende no livro, é compreender o poder estimulante da raiva, que pode ser uma ferramenta poderosa para lutar contra as injustiças, desde que se deixe de lado os seus aspectos tóxicos. - Eu tinha muita raiva pela discriminação que sofri no apartheid e mostrava isso no meu dia a dia  - conta o ativista, - Mas, ao chegar à Índia, meu avô me explicou o que era essa raiva e como ela poderia ser usada
O velho Ghandi usava uma metáfora para ilustrar a questão. A raiva, dizia ele, é como a eletricidade: dependendo de como a usamos, pode resultar tanto numa centelha de energia  quanto num curto-circuito. Espelhando-se no jeito calmo e controlado do avô, Arun percebeu que não adiantava, por exemplo, revidar as agressões que recebia
- A raiva que pode ser positiva resolve problemas - explica Arun. - Mas ela é ruim para a Humanidade quando abusamos dela, nos tomamos violentos e agredimos uns aos outros tentando achar uma solução. É preciso usá-la de forma inteligente, sem exagerar na dose. 
As redes sociais não escapam da análise de Arun. Segundo ele, as novas mídias podem ter contribuído para expandir raiva e violência.
- Na maior parte das vezes as redes sociais são usadas de forma errada, para coisas sem sentido - avalia -. - Também criam um déficit de atenção. Sinto que, quando faço post longos, ninguém os lê. Apenas dão like e seguem em frente.

E Gandhi teria hoje, uma conta no Twitter ou no Facebook ? 
- Acho que ele usaria porque a sua ideia era espalhar a sua mensagem para o maior número de pessoas  - palpita o ativista . - Em seu tempo, ele usou rádio, telefone, tudo que podia lhe facilitar a espalhar a sua mensagem . 

Fonte  - Jornal   - O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO     pág  6     - Segundo  Caderno
30/01/2018       -  BOLÍVAR  TORRES  

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