segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Francis Leroy Holmes

 

Revelação  de  livro  antecipa  12  anos  o  pioneirismo  olímpico  nacional 

A exatos 19 dias da  festa de abertura da 29ª Edição dos  Jogos  Olímpicos da  Era Moderna 
em  Pequim , uma descoberta obriga o  esporte brasileiro  a rever seus arquivos . Os 21 atira- 
dores, nadadores e remadores ,todos homens ,que foram aos Jogos da Antuérpia ,  em 1920 , continuam tendo um lugar  especial no  imaginário popular ,  mas já não se deve maisacreditar
a eles o  pioneirismo olímpico nacional .Até que surjam  outras evidências, o paíscelebra hoje
o  centenário de  participação em Olimpíadas , graças a  Francis Leroy Holmes,que sem 20 de
julho de 1908 , nos Jogos de Londres , disputou ,  pelos  Estados Unidos , aprova de  salto em distância parado,tornando-se o primeiro atleta brasileiro conhecido a participar da competição .
A revelação é apenas uma das  emocionantes histórias narradas pelo jornalista  Tiago Petrik no
livro  “ 1932 ,uma  aventura olímpica na  terra do cinema  “ (  PTK Livros ) ,sobre os primeiros Jogos realizados em Los Angeles , que ele lançou em 20/06 / 2008,

na Livraria da Conde , no Leblon . O nome Holmes surgiu por acaso , quando Tiago consultava  documentos da biblioteca da Amateurs  Athletics  Foundation  of  Los An-geles( Aafla ) , criada
com recursos arrecadados nos  Jogos de 1932  para preservar a  memória da história  olímpica  americana .

Engajado , criou o  teatro das Sombras

.Quando toca no assunto  discriminação em seu depoimento ao  projeto   “  Uma história  olímpica  oral “ , dado em agosto de 1987 , a corredora  Evelyne  Hall  Adams , então com 77 anos , lembra as duas únicas atletas negras da  equipe de  atletismo americana e cita  Holmes ,em suas palavras , “ um saltador em  altura do Brasil que estava na equipe nacional de 1908  “ . Segundo ela , o  companheiro lhe revelara , num  encontro  em  Chicago , que os  americanos nunca o aceitaram completamente no  membro do  time  olímpico.

- A princípio , pensei que fosse um equívoco da  Evelyne e pedi para a pesquisadora da Aafla entrar em contato com o  Comitê Olímpico Americano .  Cindy Staler , chefe da  biblioteca e dos arquivos do comitê , levantou o registro e , por e-mail , respondeu que a única informação que constava no de  Holmes era de que seu  país de nascimento  era o  Brasil , nada além disso .para mim , bastou – lembra . - Não  podia  ignorá-lo .

A partir daí ,começou a busca pelas origens de  Holmes e por respostas a perguntas como por que
ele competiu pelos  Estados Unidos. A esta , logo se esclareceu que a inscrição de atletas só poderia ser feita por associações governamentais ou por clubes amadores de comitês olímpicos de cada país. O  Comitê  Olímpico  Internacional  (COI )  reconhece  1913 como  ano de  fundação do  Comitê Olím - pico  Brasileiro  ( COB ) , ainda que este tenha começado a atuar  efetivamente  mais de  20 anos depois , em 1935 . Como em  1908 não  havia outro órgão gerencial do  esporte nacional , nem se quisesse  Holmes poderia com -petir por sua pátria . Para descobrir mais detalhes  sobre o  atleta , Tiago  teve  apoio de  pesquisadores da  Aafla que checaram  livros sobre  esporte  olímpico e  obi-tuários em jornais como o “  The  New  York  Times “ ,  Los Angeles Times e  “   ChicagoTribune 
 “ . Mas foi na matéria entitulada "  um recordista neglicenciado ", publicada numa  edição de  de - zembrode 1912  ,  no " Chicago Defender ",que surgiram  revelações importantes como o fato  de
que  Holmes morava no  meio-oeste americano , informação que consta na entrevista de  Evelyne Hall . A mais impressionante , porém , dizia que  Holmes era  recordista do  salto  triplo  parado  , prova disputada em  Olimpíadas apenas em 1904 . 

O atleta , portanto passa a ser  considerado também  pioneiro de uma  escola de triplistas que conta com os  medalhistas olímpicos Adhemar Ferreira da Silva , Nélson prudêncio , João Carlos de Oliveira e, quem sabe, Jadel Gregório , representante em  Pequim .


Francis Holmes disputou duas provas nos  Jogos de Londres . A primeira , o  salto em distância pa-rado ,na qual ,de acordo com o relatório oficial do evento ,não ficou entre os cinco primeiros .Pre- Presume-se que tenha sido o 14 ° . No dia  23 de julho , foi a  vez do salto em altura parado . Ele  saltou  1,52m ,  ficando a três quilômetros do grego Kons -tantin Tsiclitiras e do  americano John Biller , que dividiram a  prata . Com o empate duplo , não houve  terceiro colocado , mas o  COI concedeu ao  brasileiro um  diploma de  mérito olímpico .

Do depatamento de Gestão da Informação do  COI , Tiago recebeu outra informação relevante . A de que  Francis Leroy Holmes era negro,embora o  único  registro  fotográfico mostre um  mulato claro . Seu nome  levantou outra  questão :  se era   filho de  uma  negra com um estrangeiro  - afinal ,entre o  final do século  18 e início do 19 ,boa parte da  população brasileira era de  imigrantes  -   ou  filho de escrava , já que , pelo seu  Seguro Social , emitido em  Ilinois , havia nascido em   23 de janeiro de 1885 ,  pouco antes do fim da  escravidão  no  Brasil .Apesar da busca , não foi possível afirmar co - mo,quando e por que ele foi para os  Estados Unidos . 

Uma das  maiores surpresas estava em  "   The African American Theatre Directory  , 1816-1960 : A comprehensive  guide  to  early  black  theatre " , de  Bernard Peterson , obra na qual o  autor cita  Francis  Leroy  Holmes  como  fundador do  Shadows  Art Theatre , ou  teatro das Sombras , criado para  "encenar trabalhos de roteiristas negros e textos sobre a  situação dos negros " . A  certidão de óbito diz que , nos últimos  60 anos de vida , ele  foi  artista gráfico .O primeiro  brasileiro  olímpico morreu em  Los Angeles, onde estava morando ,em 14 de fevereiro de 1980 , com  95 anos , de derrame cerebral , com quadro agravado por infecção pulmonar .

-  Francis Holmes foi  desimportante para o  olímpismo americano ,  mas , para nós , é  muito re- presentativo.  Falar  dele  é  uma  forma  de  homenageá-lo -  conclui  Tiago . 

Primazia  pode  ter  prazo  de  validade Comitê  Olímpico Americano  não  descarta brasileiros  antes  de  1908

. A  homenagem póstuma a  Francis Leroy Holmes corrige uma  injustiça histórica , mas sua condição de  primeiro brasileiro olímpico conhecido a disputar os  Jogos vive amea-çada  , segundo o próprio autor de " 1932 , uma aventura olímpica na  terra do cinema ".

O  jornalista  Tiago  Petrik lembra que Cindy Slater , do  Comitê  Olímpico  Americano , deixou
aberta apossibilidade de que , 1900 e 1904 , quando as competições , realizadas respectivamente
em  Paris e Saint Louis , no  Estados Unidos, tiveram inúmeros detalhes polêmicos ,outro atleta brasileiro tenha viajado por conta pró-pria para um dos eventos e competido .

- Naquela época , os Jogos Olímpicos aconteciam como parte de feiras mundiais, é difícil dizer que não houve um  brasileiro ,como  Francis , em 1908, entre os participantes -res-salta  Tiago , que adverte :  - A  descoberta de  Francis Holmes também faz  do Brasil o primeiro  país  sul-americano a ter um  atleta nos  Jogos , pelo menos de  acordo com os registros. 


O tenente do Exército e atirador  Guilherme Paraense continua sendo o primeiro brasi-leiro medalhista de ouro .Nos  Jogos da Antuérpia , em 1920 , considerado oficialmente pelo  COB como o primeiro a ter brasileiros , ele  ganhou aos  36 anos , a  prova do revólver , atualmente  tiro rápido , com  274  pontos  , dois a  mais do  que o  americano

Raymond Bracken ,que havia emprestado pistolas e cartuchos aos  atiradores brasileiros . Graças à equipe de tiro ,que garantiu nossas duas  outras medalhas  - prata , com  Afrânio da Costa ,que tam- bém foi o  porta-bandeira da  delegação - e  bronze por equipe  (com Afrânio Paraense , Sebastião Wolf ,Dario Barbosa e Fernando Soledade ), o país encerrou sua participação na  15 ª colocação no  quadro de  medalhas , à frente de  Austrália e Espanha . Nos  esportes aquáticos e no remo , o de - sempenho não foi o mesmo.

Na  natação , Angelo Gammaro disputouos  100 m  livres  masculinos  mas não se classificou para as  semifinais . Nos  saltos ornamentais ,Adolfo Wellish não chegou à final no trampolim  de 3m , mas terminou na  oitava colocação ,como finalista , a prova dos 5 m e 10 m . A equipe de  pólo aquático venceu a  França  por  6 a 2 na prorrogação , mas nas  quartas caiu  diante da  Suécia , por  7 a  3 , terminando em sexto . É , no remo ,  o  barco do quatro com chegou chegou  em segundo na  ter -ceira bateria das  semifinais e não  disputou  medalha.

Fonte  -  Jornal  O  GLOBO  - pág  42  -  ESPORTES
Domingo , 20 de Julho de 2008   - 2ª EDIÇÃO  * 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário sobre a postagem.