terça-feira, 20 de outubro de 2015

SEDE DE EMOÇÕES



SEDE  DE EMOÇÕES

À medida que vamos nos  adaptando a essas circunstâncias, somos forçados a conviver com nossas paixões frustradas e com mágoas sufocadas dentro de nós, sem sabermos o que fazer ou com quem falar a respeito. Não podemos revelar nossos sentimentos, não os entendemos e estamos ainda menos familiarizados com os sentimentos das outras pessoas. Quando estamos em dúvida, ocultamos nossas emoções, mentimos sobre elas ou fingimos não senti-las. Crescemos acostumados a agir sem dar atenção ao nosso universo emocional, ou até  mesmo agindo contra ele.
Inclusive em nossa vida afetiva, onde supostamente as emoções podem reinar soberanas, muitos de nós somos magoados com tamanha freqüência que nos mantemos sutilmente distanciados, mesmo quando nas garras do amor apaixonado. Dores afetivas há muito esquecidas impedem nossa completa abertura e entrega ao outro, sem mantermos uma certa distância defensiva e solitária. Raramente nós nos permitimos a mais bela das experiências emocionais - a vulnerabilidade de estar profundamente apaixonado por alguém, sem reservas.
Quase todos nós sentimos que a vida pode ser muito mais intensa.  Ansiamos pelo aconchego do sentimento profundo, pela conexão com o outro, pelo entendimento mútuo. Mas como chegar lá ? Sabemos, do fundo de nossos corações, que ser uma pessoa  emotiva, ter paixões fortes, chorar, vibrar, até mesmo sofrer, constituem experiências preciosas e fundamentais. Na verdade, estamos sempre buscando maneiras indiretas, artificiais ou dissimuladas de experimentar emoções. Tomamos drogas, nos apaixonamos ou por uma pessoa inatingível, ou vamos ver filmes românticos, de terror, ou de ação; assistimos a comédias de situação, melodramas e novelas na televisão, em busca de um estímulo emocional. Essas atividades nos proporcionam um gostinho daquilo que desejamos ardentemente, sem os riscos da participação real.
Todos temos sede de estímulo emocional, tanto assim que fazemos praticamente tudo que é possível para obtê-lo. Jogamos a dinheiro, saltamos de pontes amarrados pelos tornozelos  ou de pára-quedas. Um exemplo particularmente chocante e dramático desse anseio por experiências emocionais é apresentado no livro de  James Gilligan, Violence. Gilligan trabalhou por muitos anos com presidiários condenados por assassinatos cruéis.  O autor descobriu que esses homens vivem invariavelmente em estado de profunda insensibilidade emocional. Eles contam que são praticamente desprovidos de sensações emocionais ou físicas, a ponto de se considerarem mortos vivos.
Explicam que cometem violências indescritíveis na esperança de que tais excessos rompam com a insensibilidade e os façam sentir algo. Aquele que comete um assassinato brutal pode sentir, por um curto espaço de tempo, que despertou de sua anestesia semelhante à morte. Mas, invariavelmente, as emoções resolvidas pelo crime assentam e o entorpecimento retorna.
A insensibilidade desses homens não surgiu do nada. A pesquisa de Gilligan mostra que, em praticamente todos os casos, esses homens foram eles mesmos vítimas de agressão, bombardeados por repetidos traumas emocionais e físicos. Eis um exemplo concreto de como o trauma conduz à insensibilidade e à patologia emocional  grave. Se não for debelada, essa patologia poderá ser transmitida de geração em geração. Obviamente, há uma necessidade premente de romper com o ciclo da violência e do entorpecimento emocional. Uma maneira de fazer isso consiste no aprendizado da consciência emocional, desenvolvendo a empatia - a capacidade de sentir o que os outros estão sentindo. Ao decidirmos desenvolver nossa sensibilidade para as emoções alheias, estamos fazendo uma escolha moral definitiva, que nos dará a capacidade de ser compassivos e generosos.

Empatas e Psicopatas

Parece haver dois tipos de pessoas destinadas a ter poder na sociedade: os psicopatas, que nada sentem, ou os empatas, que estão em profunda sintonia com os sentimentos daqueles que os cercam.
Não leve esses dois tipos demasiado à sério; são caricaturas, extremamente raros na realidade. Vou usá-los apenas para expor meu ponto de vista.
Os psicopatas podem agir com facilidade sem as coerções que limitam outros mortais. Têm a capacidade de mentir,  furtar, extorquir, mutilar e matar sem culpa. Quando exercem influências sobre outras pessoas,  podem tornar-se tremendamente poderosos. Vejam Calígula, o imperador romano. Ou,  Adolf Hitler. Estes exemplos são óbvios, mas outros podem ser encontrados em toda parte: na política, nos negócios, nas gangues e até mesmo em determinadas famílias.
Os empatas, por outro lado, ganham ascendência graças a suas aptidões emocionais. Aqueles que nascem empatas têm um dom inato para a empatia, o qual é estimulado pela família e pelos professores ao longo da infância e da adolescência. Seu  talento para a cooperação afetuosa, para obter o melhor das pessoas, confere-lhes um poder que contrabalança os danos causados pelos psicopatas.
Repito: esses são dois extremos; muitas pessoas poderosas não são psicopatas nem empatas completos. Mas, se observá-las com atenção, provavelmente detectará uma preferência por um ou outro estilo.
Eu, é claro, estou encorajando-o a buscar o ideal da empatia.

Págs 30, 31 e 33

Empatia 

À medida que vamos descobrindo as diferentes emoções que sentimos, as variações na intensidade com que as sentimos e as suas razões, e à medida que a consciência de nossas emoções vai-se tornando refinada e sutil, começamos a perceber e intuir a complexidade  e sutileza das emoções daqueles que nos cercam.
A empatia é uma forma de intuição das emoções. O funcionamento da empatia é inteiramente surpreendente para o principiante, pois parece depender de uma aptidão que, às vezes, afigura-se perigosamente semelhante à clarividência.
Quando somos empáticos, não pensamos no fato de que entendemos, vemos ou ouvimos as emoções de outra pessoa. Acredita-se que, na verdade, a empatia  é um sexto sentido por meio do qual percebemos as energias emocionais assim como o olho percebe a luz. Sendo assim, a empatia acontece em um canal intuitivo - independente dos outros cinco sentidos - que penetra diretamente em nossa consciência. A ignorância emocional sobrevém quando, nos anos de formação da nossa juventude, deixamos de desenvolver esse sexto sentido. Em geral aprendemos a reprimi-lo com as constantes mentiras e a rejeição dos sentimentos comuns nas experiências infantis. Alguns nascem “empatas“, dotados de profunda sensibilidade para as emoções, e outros são emocionalmente insensíveis. Quase todos nós estamos em algum ponto médio, e todos podemos aprender ou reaprender a consciência empática.
A empatia, como toda  intuição, é imprecisa e pouco valiosa até desenvolvermos meios de confirmar objetivamente a exatidão de nossas percepções.


Págs 49 e 50

Fonte: "Educação Emocional - Um Programa Personalizado Para Desenvolver Sua Inteligência Emocional" - Claude Steiner, PhD com Paul Perry

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