quinta-feira, 23 de março de 2017

Visão das raízes de Sérgio Buarque de Holanda - Uma biografia do intelectual





O primeiro volume de Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos traz ainda uma cronologia do autor de Raízes do Brasil. Nascido em São Paulo em 11 de julho de 1902, ele se mudou em 1921 para o Rio de Janeiro  , onde estudou Direito. Em 1922 foi nomeado por Mário e Oswald de Andrade representante no Rio de Janeiro da primeira revista modernista, Klaxon. Em 1927, depois de colaborar com outros veículos de imprensa  , tornas-e colunista do Jornal do Brasil. Contratado por Assis Chateaubriand, em 1929 viaja para a Alemanha , Polônia e Rússia. Fixa residência em Berlim . Volta ao Brasil em 1930.
Em 1936 , publica Raízes do Brasil  , sua obra–prima. No ano seguinte  , assume as cadeiras de História da América e da Cultura Luso – Brasileira na então Universidade do distrito Federal  , no Rio de Janeiro.
Em 1946  , volta para São Paulo  , a fim de assumir a direção do Museu Paulista , também conhecido como Museu do Ipiranga, onde criou as seções História  , Etnologia ,  Numismática e  Lingüística. Torna-se professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1953, assume a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma, na Itália. Dois anos depois retorna a São Paulo como diretor do Museu Paulista. Assume em 1957 a cadeira de História da Civilização Brasileira na então chamada Faculdade de Filosofia  , Ciências e Letras  ( FFCL) da USP. Em 1958 recebe o grau de mestre em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia Política de São Paulo.
É eleito diretor do Instituto de Estudos Brasileiros  ( IEB ) da USP em 1962, pede aposentadoria na USP, em solidariedade aos professores aposentados pelo regime militar. Inscreve-se como membro fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980  . Morre no dia 24 de abril de 1982.

Variedade  - Além da gênese de Raízes do Brasil , há outras preciosidades em Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos. Os textos estão organizados cronologicamente, de acordo com as décadas em que foram publicados. Percebe-se, assim, os temas que foram objeto de atenção do historiador ao longo do século 20. O texto que abre a coletânea, por exemplo, é  Viva o imperador    , publicado na revista A Cigarra  e São Paulo  , em junho de 1920  . Nele, o jovem Sérgio Buarque de Holanda faz uma análise do governo de Dom Pedro II e de suas contribuições para o Brasil, argumentando a favor da revogação do decreto de banimento da família real  . O artigo defende que  , passados mais de 30 anos da publicação do decreto  , tanto sua revogação como a translação para o Brasil dos restos mortais do imperador, que morrera em Paris em 1891, seriam uma forma de homenagem pelos serviços prestados ao País.
Ainda em 1920 , também em A Cigarra , Sérgio Buarque publicou o artigo “ A bandeira nacional , em que critica a bandeira brasileira. Segundo ele o pavilhão nacional desrespeita a tradição histórica do Brasil, expõe erros grosseiros de astronomia e constitui uma agressão a estética. O artigo afirma, por exemplo  , que a divisa “ Ordem e Progresso “ pertence a uma seita  - o positivismo – cujos membros são “ minoria , exígua  , minutíssima minoria entre nós   .” na época  , quem leu esses textos que transitam entre tantos autores clássicos  não poderia imaginar que o autor daquelas consistentes reflexões, de sagacidade  crítica, seria um franzino jovem de 18 anos“, escreve o organizador  Marcos Costa, referindo-se  aos textos dos anos 20.
Nos anos 40  , a publicação do artigo “ Capelas antigas de São Paulo  “ revela , segundo Marcos Costa, que Sérgio Buarque já estava empenhado ao estudo dos meandros obscuros da história do Brasil  , especialmente de São Paulo. Dessa mesma época são os artigos sobre “ A língua geral em São Paulo  “ , “ Mentalidade capitalista e personalismo “ e “ Redes e redeiras em São Paulo “ .
A variedade de temas marca também os textos dos anos 50, que abrem o segundo volume de Sérgio Buarque de Holanda  - Escritos Coligidos. Alguns deles são “ Raça , cultura e clima “ , “ Algumas técnicas rurais no Brasil colonial “ , “ Piratininga “ e “ Uma povoação setecentista . Entre os textos da década de 70, que fecham o volume, estão “ Uma república não proclamada   , em que Sérgio Buarque  - em plena ditadura militar – faz um perfil dos militares e analisa suas estreitas relações com o poder. Essa variedade e a originalidade da obra do historiador parecem justificar a conclusão de Marcos Costa: Se a obra do intelectual brasileiro tivesse sido produzida na França, na Inglaterra ou na Alemanha, certamente seria uma referência mundial no campo da história das mentalidades ou da história cultural “ .

Fonte   -     JORNAL  DA  USP              pág  10         ESPECIAL 
De  13 a19 de junho  de 2011   
Sérgio  Buarque  de  Holanda  - Escritos Coligidos  , Livro de Márcio Costa
( organizador ) Editoras Perseu Abramo e UNESP  484 páginas

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