terça-feira, 3 de março de 2020

O centro de São Paulo



Ladeira  da  Memória 

Quem atravessa o  Viaduto  do  Chá , sobre o  Vale  do  Anhangabaú , em direção ao 
" centro  novo "  custa a acreditar que há pouco mais de um século esse caminho não era percorrido tão facilmente . Hoje em dia , sair da   Praça do  Patriarca , cruzar  a Líbero  Badaró e chegar ao outro lado do  Vale é tarefa simples .Aliás ,se aquela enorme praça embaixo do imponente  viaduto é um do vale ,  onde está  o rio ? 

Rio  Anhangabaú , afluente  do  Tamanduateí ,está canalizado desde o início do culo  XX ,e passa por baixo de todo o concreto que dá forma ao Vale  do AnhangabaúHá  100  anos , o centro  de  São  Paulo era muito diferente . E ainda mais quando a cidade nasceu  466 anos .

Os padres  jesuítas chegaram ao local onde está  a Praça  Pátio do  Colégio , em 1554,
e fundaram uma escola no entorno da qual se formou uma vila .  O  local escolhido, uma colina , era perfeito para a proteção dos religiosos contra  os  indígenas  que habitavam a região . Em um dos limites dessa colina está o  Rio  Tamanduateí e no outro,  o  Rio  Anhangabaú .

Foi nessa colina que cresceu a outrora  vila e, a partir de 1711 cidade de  São Paulo . Uma pacata  cidade  provinciana até meados  do  século  XIX , escolhida pelo governo  imperial para sediar  a  Faculdade de  Direito justamente por suas características  bucólicas.

São  Paulo era , então ,limitada pelo seu centro , por aquela colina escolhida pelos jesuítas e que concentrava toda a vida  da  cidade . O lento  Rio  Tamanduateí era dono de uma vultuosa várzea que impedia a ocupação de suas margens , e,  para além do  Anhangabaú , concentravam -se  chácaras , onde estão , por exemplo , as Ruas  Vinte e  Quatro  de  Maio  e  Barão de Itapetininga .

Foi no final do século  XIX que a  feição do centro  começou a mudar . O aumento no número de habitantes e o  crescimento  econômico fizeram com que novas construções surgissem , o  comércio  aumentasse e os  limites  urbanos ultrapassem a velha colina. Alguns anos depois , o  centro  da  cidade era outro.

A  natureza foi domada , os   cursos  d'água  canalizados  e  escondidos , as  várzeas saneadas para que pudessem ser ocupadas . Com a  expansão  urbana ,  tiveram de 
ser criados acessos aos outros lados da cidade . Ainda assim , o  centro continuava sendo por excelência a " cidade " . A pulsante   vida  urbana estava em suas ruas e casas comerciais.

Fonte  -   Revista   EM  CARTAZ  -    pág  72 
Maio  de  2009  - Natália   Maria  Salla 



Pinheiros  de  ontem  

A história do bairro sempre encontrou espaço na Gazeta de  Pinheiros . Uma consulta aos arquivos do jornal mostra  histórias  curiosas , divertidas ou tristes sobre pessoas e acontecimentos do  passado  pinheirense , narradas por historiadores locais que as viveram ou ouviram de  antepassados .

Três  cronistas  pinheirenses foram mais assíduos nas páginas da  GP  contando histórias do bairro e de sua gente : Albertino Iasi , que foi o fundador do  primeiro  jornal , que aqui circulou ( o  Pinheirense , 1923 ) , Ambrósio de Flório Sobrinho  ( o tio Ambrósio) e José Simão Filho , já falecidos. Os três assinaram colunas e artigos de sucesso na  Gazeta  de  Pinheiros, sempre contando aos mais novos , quase sempre de forma poética , histórias  do  passado  pinheirense .

Para recordar ,transcrevemos aqui um artigo de José Simão Filho ,publicado na edição de 15 de dezembro de 1961 , na coluna " Pinheiros  de  Outrora  , sobre a antiga  Rua  do  Comércio .

" A Rua do Comércio iniciava-se em frente do  Mercado  de  Pinheiros  , terminando no Butantã . Era a artéria principal de  Pinheiros . A nossa rua de mais comércio  . É por esse motivo que era cognominada  Rua  do  Comércio . Era a rua de mais conveniente  entrada e  saída para o nosso bairro.  Era  a  nossa  grande  rua . A  via onde se desenrolavam os grandes acontecimentos  diurnos  e  noturnos .

Nessa época , era a rua da  lama  e  do  pó, por onde transitavam os saudosos carros de bois que na sua  marcha lenta e sonolenta , ao passo pachorrento de mansos bois , rangendo e chiando nos eixos , enchiam o  ar  de  melancolia com a toada  triste  do  carreiro . Desfilavam diariamente  tropas  de  animais , boiadas que , quando passavam ,o comércio geral cerrava suas portas para evitar a investida de bois bravios. Essas boiadas procediam de lugares distantes para matança e abastecimento da Capital . Vinham também de fora , dos municípios  próximos - Cotia , Caucaia , Itapecirica e Embu - os  burros  cargueiros , carregando em suas bruacas comestíveis destinados à venda no mercadinho  de  Pinheiros  , conhecido como o  " mercadinho  dos caipiras " . Essas  tropas  cargueiras  eram conduzidas pela  besta  madrinha  adornada de guizos  e cincerros.

Rua do Comércio , quanta saudade deixou na alma . Concentra-se nela toda a  história  pitoresca  e picaresca  de  Pinheiros . Com todo seu  bulício  tumultuoso , não possuía linguagem , mas tinha alma , tinha vida . Durante o dia , o movimento  era estonteante e dinâmico  . À noite , era calma , romântica como as  cidades  provincianas .

Pela madrugada começava a  vida  ativa. Vultos apressados de operários se agitavam para tomar  o  bonde , rumando para  a  cidade em busca do  labor  cotidiano . Outros aguardavam  a  chegada  do  bondinho  verde ,   " o cara  dura " , em que se  pagava  apenas 100 réis ( um tostão ) de passagem .  Quando se aproximava a tarde ,  o estrugido  do movimento esmorecia . À noitinha ,  no  Largo  de  Pinheiros , onde suavemente o rádio do  ' bar  do  Vale ' ( Vale é irmão do conhecido humorista de  rádio e televisão  Nhô  Totico ) fazia ouvir um  tango  lento ,surgiam grupos de  boêmios  e gaiatos  que conversavam  jocosamente .Próximo da  Rua São  Manoel estava instalado o barzinho " Buraco  da  Onça " ,de propriedade do sr. Carmo de Barros  ( pai do velho amigo  dr. José de Barros ) , antigo morador de nosso bairro no local onde estava instalado esse  célebre  barzinho,  em tempos distante funcionou  o  posto  policial  de  Pinheiros.

Era ali que se reuniam os veteranos políticos  de Pinheiros , que em tertúlias políticas saboreavam a gostosa e legítima  caninha  de  Parnaíba , recebidas diretamente , em grandes  cartolas  , pelo proprietário do bar. Os assíduos frequentadores eram o falecido escrivão Afonso Vaz , Pedrinho Cavalheiro , capitão Gabriel , Nestor Viasnamajor Belizário e outros mais .

Adiante , pelas ruas transversais , avistavam-se grupos de namorados que caminhavam entrelaçados , em longas confidências amorosas . Aos sábados à noite , surgiam sempre grupos empunhando  violões  e  sanfonas e que percorriam as nossas ruas , acordando as  belas donzelas com as suas modinhas , em serenata errante e boêmia. 

Eis aí um saudoso esboço do que foi a nossa  Rua  do  Comércio , hoje a  tumultuosa  e  trepidante  Rua  Teodoro  Sampaio , que finaliza no  Largo  de  Pinheiros .

Fonte  -    Jornal  GAZETA  DE  PINHEIROS  -   pág 3   
SUPLEMENTO  ESPECIAL    -  41°  aniversário

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