terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O maior e melhor presente






Estamos em uma  época do  ano  em  que  presentes  estão  em  foco . Entre tantos presentes, pais ,avós ,madrinhas sonham em dar marcas  positivas  e  duradouras  para quem tanto amam .


Sem dúvida ,durante  o ano  todo , presentes  como educação ,conforto ,segurança ,estão 

na lista . Mas há um tesouro que  vale  mais  do  que  todos  a  fé .


A  fé  é a herança mais preciosa  que podemos  transmitir .Ela não se compra ,não se perde com o  tempo  e  cresce  à  medida que  é  vivida .

 

E  quando  essas crianças  se  tornarem  adultas , será  justamente  a  fé  que dará  paz  e  espe -rança ao coração delas ,nas tribulações da  vida . Em meio  às  incertezas e desafios, a  fé será o  porto  seguro que  as  lembrará  de que  nunca estão sozinhas .


Somente é verdadeiramente  feliz quem se reconhece como parte  da  criação de  Deus , dotado

de  dons, talentos e  muito amor . Quando o cristão compreende que sua vida tem um propósito e que é chamado a servir  e  amar , o  peso do dia  a  dia se torna mais leve  -  porque o sentido da  vida , enraizado  em  Deus ,sustenta todos  os  fardos . 


Assim , o  maior  legado que podemos deixar não está  em bens , mas em raízes espirituais que

sustentam  a  vida em qualquer  tempo . Ensinar  a  fé  e plantar  eternidade  no  coração  de quem  amamos .


Mas como dar  esse presente ? É na convivência diária , no exemplo  silencioso , nas orações

ções  compartilhadas  e  nos  gestos  de  amor que  a  fé  se  torna  real  no  coração  das crianças  e  adolescentes . Mais  do  que palavras ,  é  o  testemunho  de quem  crê  que constrói  uma  fé  sólida em quem vive conosco . 


Quando os pequenos vêem os pais ,avós ,pessoas  queridas confiando em  Deus , agra-decendo , perdoando ,amando e perdoando , eles aprendem o  caminho da verdadeira riqueza  - uma  vida  com  sentido , esperança  e  paz . 


Você vem testemunhando seu  amor  a  Nossa  senhora  Aparecida ? Vem dando  às crianças e jovens  materiais  da  Casa de  Nossa  Senhora ? 


Você já conhece  o projeto de Devotos  Mirins  ( para crianças ) e o Projeto Jovens de Maria ( para adolescentes e jovens ) ?  Já cadastrou a  criança que você ama ? 


O Santuário Nacional vai auxiliando famílias nessa honrosa missão de educar os pequenos e oferece materiais mensais que , entregues em cada  lar , são  a  presença  de  Deus e da Mãe

Aparecida , levando  alegria , amor  e  fé a  cada  coração .


Se ainda não cadastrou sua criança dê esse presente Natal para quem você ama e está crescendo na fé .


Fonte  - Revista  de  Aparecida  -  pág  11 -  DE  FAMÍLIA  PARA  A  FAMÍLIA

Data  -  Dezembro  de  2025  - Raquel  de  Godoy  Retz  Pompeo


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

A Imaculada Conceição na espiritualidade da Congregação do santíssimo Redentor

 








8  de  Dezembro dia  de  Nossa Senhora Imaculada Conceição 


Os  Missionários  Redentoristas  manifestam   grande  apreço e reconhecimento a Maria, 

mãe  de  Jesus ,primeiramente , porque pela redenção  abundante que ele experimentou,

torna-se  singular  figura  humana  agraciada . Com isso entende - se  facilmente  que  é impossível cancelar ou omitir  sua presença na  ação  redentora  de  Jesus e nos  primór-

dios  da  vida da  Igreja , que sempre  a  teve  em grande  estima  e  veneração . Somado 

a isso , como filhos  de  Santo Afonso  de  Ligório , os  redentoristas  jamais deixarão  de

cultivar amor e  devoção à Mãe do  Belo  Amor ,vista como a primeira  criatura redimida,

e que  por isso pode nos  favorecer e auxiliar  em  nosso  itinerário de vida e fé .


Assim , como  reflexo do mesmo zelo filial de toda a Igreja para com a pessoa de Maria,

os  redentoristas , desde a  origem  da  Congregação , incutiram  em seus membros esse

olhar contemporâneo dos  mistérios  da  Copiosa  Redenção , que  percebe  Maria total - mente relacionada  a  ele  e  de modo  privilegiado, pois recebeu a  abundância  do  dom 

divino . E foi com o  título  de  Imaculada  Conceição que  Maria figurou como a  prin - cipal padroeira desta família  missionária , por  desejo de recordar a  grandeza do  amor divino que prepara e  envolve  totalmente . Maria  para  se  tornar  a  mulher  redimida , desde a

sua  concepção , e a  intercessora de todos nós junto a  Deus .


Portanto , não  é  difícil  perceber que há uma  convergência entre o anúncio da  redenção 

com o  título  mariano  da Imaculada  Conceição , pois  o escopo final  é  exatamente  evi - denciar a  vitória  da  graça  sobre  o  pecado  e  a  abundância  do amor  misericordioso 

de  Deus  pela  humanidade . Ora , o que sempre irá caracterizar a vida  missionária cristã

e  redentorista  é  o  anúncio  do  Santíssimo  Redentor  e de  seu  projeto de vida . Porém ,

sempre teremos de  invocar  e  evocar  Maria  como  modelo  de  pessoa  na qual  a  graça 

divina  encontrou  abertura  e  pòde realizar  muitas  maravilhas , tornando - a  a Imaculada

Conceição  ! Mais  que  um  mero  capricho  devocional e  dogmático , nesta expressão  de 

afeto  marial está  retratada  a vocação  para  a  qual  toda  pessoa  humana é chamada  a  viver , isto  é , de responder  ao amor  de  Deus  e de estabelecer  comunhão  solidária com

os  irmãos , levando  o mundo a  ser  melhor  e  de  acordo  com o  plano do  Criador . Daí

vemos ter  sentido permanecer na  escola  de  Maria , pois  em  sua  companhia , segura -

mente , seremos  mais  de  Deus  e  mais plenos  de  esperança !  É  este o dom da espi-

ritualidade   mariana  e  redentorista para  o  nosso  tempo ! 


Fonte  _  Revista  de  Aparecida  -  pág  13  -  MENSAGEM  REDENTORISTA  

Data  - Dezembro  de  2025  -  Pe . Domingos  Sávio  , C. Ss. R . - Jornada Bíblica


sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

PAI DO RÁDIO E DEFENDOR DA MISTURA DAS RAÇAS





Há  70  anos , o  Brasil perdia Edgar  Roquette  Pinto ,fundador  da  Rádio  Sociedade do Rio de Janeiro , em 1923 . Esse  carioca  foi mais  que o  pioneiro  do  rádio . Foi médico  legista ,ensaísta  e  antropólogo  de  prestígio . No início dos  anos 1930 , sob a  liderança de Gilberto Freyre , ele foi um  dos  signatários  do  “ Manifesto  dos intelectuais  brasileiros  contra o pre-conceito  racial “ . “ O  documento  reafirmava  que  a antropologia que  eles  praticavam  não  permitiria  a  disseminação  de  ideias  racistas , como  a  eugenia , que começava  a  ser im - plantada  pelo  estado  nazista alemão “ , diz . Vanderlei de Souza , 37 anos , professor de História  da Unicentro ,em Guarapuava ( PR ) , que acaba de concluir  “ Em busca  do  Brasil : Edgar  Roquette Pinto e o  retrato antropológico brasileiro ” . A tese de  doutorado analisa as  ideias de  Roquette  Pinto  acerca  das  características  raciais da população .


Aqui , Vanderlei  troca  dois  dedos de prosa  com Ana Claúdia  Guimarães , da turma da coluna .


Que  relações  Roquette  Pinto fazia  entre  raça  e  população ?


Enquanto setores da intelectualidade do início do  século  XX  viam com pessimismo a formação da nação  brasileira , muito  por conta  própria da  ampla  miscigenação  racial ,outros intelectuais refutavam as teses  racialistas e biologicamente deterministas . Roquette Pinto refutava a suposta degeneração das sociedades “ mestiças “ .Para ele ,discutir  o “ problema " da  formação da população não significava negar a misci-genação e a  constituição de  um  “ Brasil  Mestiço “ , mas , sim , refletir sobre as condições sociais em que  viva  essa  população. Ele  entendia que  os  problemas  dos brasileiros não  poderiam ser atribuídos à cons-tituição biológica , e  sim ao abandono  e  a  miséria  de grande  parte da população .


O  que  ele  e  Gilberto  Freyre  tinham  em  comum ?


Eles mantiveram contato  intelectual  próximo . Freyre  menciona  no prefácio de “  Casa  Grande  Senzala “, como Roquette Pinto lhe permitiu ver a miscigenação em termos positivos .Freyre confessa que sua impressão negativa dos marinheiros  brasileiros , “ mulatos e cafuzos “, que ele viu andando pela neve mole de Brookly , no início dos  anos  1920 , era devido à falta  de  conhecimento  do resultado da  miscigenação e da realidade  social  brasileira . E concluía : “ Faltou - me  quem  me  disesse , então , como , em 1929 , Roquette  Pinto aos  arianistas  do  Congresso  de  eugenia , que não eram simplesmente  mulatos  ou  cafuzos  os  indivíduos que eu julgava representarem o  Brasil , mas cafuzos e mulatos  doentes “ , repetindo  o argumento defendido  por  Roquette  Pinto . 


Fonte  -  Jornal   O  GLOBO   -  pág  23  -  RIO 

Data  -  Domingo , 16 - 11 - 2014  -  Coluna  Ancelmo


quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Armando Marçal









Comemora-se  o  113 º  aniversário  de nascimento do compositor e percussionista  ARMANDO  MARÇAL  ( Armando Vieira  Marçal ) de  1902 . De família  pobre , teve infância  difícil , que mal lhe permitiu cursar o curso primário .Desde cedo iniciou-se no aprendizado de lustrador de móveis no qual se especializou .Formou , Alcebíades  Barcelos , uma  das  mais  importantes  duplas de  compositores da  Música Popular Brasileira . Era considerado um dos  Bambas  do Estácio de Sá , embora  morasse  no Catumbi . Exímio  percussionista , Marçal  tomou parte em  inúmeras gra -vações  na Victor , Odeon e Continental . Atuante a partir da  década de 30 , a  dupla  de com -

positores alcançou  o seu primeiro  sucesso com  “ Agora  é  cinza “ , samba inicialmente lançado no  Carnaval  de  1933 , na  escola  de  Samba Recreio de Ramos ,da qual  Marçal era o  vice - presidente . depois , modificado , o  samba foi  gravado  por Mário Reis , na  Victor , em outubro daquele ano e lançado para o  Carnaval de 1934 . No início desse mesmo  ano de 34 , Francisco  Alves gravou da dupla  “  Vivo  desse      amor “ e  “ Durmo  sonhando “ e mais no final do ano  gravou  “ Ama - se  uma  vez “ , todas na  Victor . O  próprio  Mário  Reis gravaria  em 1934  “ Meu  sofrimento “  e  “ Nosso  Romance “  e  Carmen  Miranda   gravou  “  Nunca  Mais  “ .  Assim , aos       poucos ,  a  dupla  foi  ficando  famosa  nos  meios  musicais . Armando  Marçal trabalhou ,a partir de  1939  na  Rádio  Nacional onde  tocava  humilde e tamborim tendo ,  inclusive , acompanhando o famoso Regional de  Benedito  Lacerda . Teve entre  seus  intérpretes a  fina  flor  da  música  popular  brasileira  da  época  como Francisco  Alves , Carmen Miranda , Mário  Reis , Sílvio Caldas, Almirante , Carlos  Galhardo  ( o  que  mais  gravou  músicas  da  dupla ) , Orlando  Silva , Anjos do     Inferno , Gilberto  Alves , 4  Azes e 1 Coringa e outros com menor número de gravações . Na sua  época , era com prazer  que  Armando  marçal  abria sua casa para as rodas  de  samba , às quais compareciam  Paulo da  Portela , Orlando  Silva , Sílvio  Caldas , Francisco  Alves  e Heitor  dos  Prazeres . Armando  Marçal  faleceu de uma parada cardíaca quando estava nos escritórios da  Victor e segundo a lenda morreu  rindo pois sofreu o infarto logo após  gargalhar de uma piada contada estúdio . 


Fonte  -  Jornal  Posto  Seis    - Rio  de  Janeiro   -  Memória  Musical 

Data  -   1 ª  quinzena  de  novembro  de  2015  -  Edição  421 - pág  31 


quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O poeta e o sambista


 




                                      Dia  do Samba  -  2  de  Dezembro


“  QUE  LÍNGUA  DESGRAÇADA  !  QUE  VAIDADE !   mas  a gente não podia  deixar  de  gostar

dele desde logo , pelo menos os que são sensíveis ao sabor da  qualidade carioca “ . Com estas palavras ,perpassadas de humor e admiração . Manuel  Bandeira ( 1886 - 1968 ) nos narra na crônica  “ O  enterro de  Sinhô “ , publicada no Diário Nacional  em 1930 , seu primeiro  encontro com o " Rei  do  Samba “  dos  anos 1920 .


 O  poeta e o sambista  Sinhô se conheceram no velório  do  escritor e  jornalista  boêmio  Zeca  Patrocínio  - filho do  “ Tigre  da  Abolição “ , José  do  Patrocínio ( 1853 - 1905 ) . Foi imediata a identificação  poética  de  Bandeira com o músico  popular .Sua crônica revela um  encantamento tipicamente modernista : a desco-berta de um representante genuíno do  povo brasileiro , cuja linguagem era tão prezada por Manuel  Bandeira, que num de seus poemas ele faz a  apologia  da  “ língua  errada  do  povo , da  língua  certa  do povo, porque ele é que fala  gostoso  o  português  do  Brasil “ .


Encontros  entre artistas  cultos e  artistas  populares são importantes para a compreensão da história social e literária contemporânea .Podemos citar ,além do ocorrido entre Bandeira  e  Sinhô , o encontro de  Mário de Andrade  ( 1893 - 1945 ) com o tocador  de  coco Chico  Antônio  ( 1904 - 1993 ) , ou o do  antropólogo  Gilberto  Freyre ( 1900 - 1987 ) com o genial Pixinguinha  (  1897 - 1973 )  . Tratava -se  de uma apaixonada por  poetas , pensadores , prosadores  e  críticos  para desvelar a  verdade  do  país  na  sua  realidade  “ pro-funda “ , com o  intuíto de estabelecer  trocas  vivenciais  e  artísticas com os  representantes mais autênticos  da  cultura do  povo , vistos  agora sem  idealizações  românticas  ou ufanismos positivistas .


O objeto do desejo dessas aproximações era a incorporação pelos  modernistas da  criatividade  de  uma vasta  cultura  miscigenada  e  sincrética  para  conceber  uma  língua  literária , uma reflexão  crítica  e  uma  arte  verdadeiramente  brasileiras . E um dos momentos mais significativos dessa busca ,até hoje muito pouco estu-dado , foi o  mergulho  de  alguns modernistas , entre  eles  o próprio  Bandeira  e Heitor  Villa  -  Lobos 

( 1887 - 1959 ) , no  denso universo de relações  pessoais artísticas , de  classes e de raças  nascido da boêmia  carioca dos ano  20  do  século  XX .





A obra do  Sinhô é importantíssimo  para  o desenvolvimento da  música popular brasileira por vários motivos. Surge ,por exemplo ,num momento em que ocorre a passagem da criação amadora para a produção profissiona, ligada ao mercado e à  indústria cultural . Por  outro lado , circulando por ambientes socialmente diferenciados, sinhô parece  personificar  a ascensão de um  gênero  musical  - o  samba - ainda não reconhecido e até mesmo  desprezado  e  esnobado pela  cultura  letrada  da  época .E é esta  sua  habilidade  que  encanta  e o põe face a face  com  Manuel  Bandeira .


Só possuímos  informações dess e encontro  a partir do que  o  poeta nos apresenta  em  suas  Crônicas  da  Província  do  Brasil ,  publicadas  em  livro  no ano de  19937 . São  textos  repletos de histórias  deliciosas  , escritas  no  tempo em  que  Bandeira viveu  na Ladeira  do  Curvelo , em Santa Teresa  , entre  1920 e 1933 , período em que também produziu Ritmo  dissoluto ( 1924 ) , Libertinagem  ( 1930 ) e grande parte de  Estrela da manhã . Testemunho  sensível e requintado do desejo direto com a realidade  cultural  do   “país  de um  “ viajante entre classes  sociais  , raças , religiões  e  paisagens  do  Brasil “ , o livro reúne algumas das crônicas  que  o  ´poeta escreveu para  diversos  jornais  e revistas  da  época , principalmente  A  Província  , de Recife, então dirigido  por  Gilberto Freyre  , e o Diário  Nacional , de  São  Paulo , a pedido  de seu grande  amigo   Mário de Andrade .


Os nomes  de  Gilberto  e  Mário não  surgem  aqui por acaso  : os dois foram os principais interlocutores de  Bandeira  no  seu  processo  particular de  descobrimento  poético  de  um  “  Brasil  profundo  “ . É bom frisar  que , para  Manuel  Bandeira  , o  mais  profundo  é  o  mais  cotidiano . Em  Crônicas  da  Província  o  Brasil  encontramos  a  três  crônicas   em que  Bandeira  se  refere  a  Sinhô  : “  Na  câmara - ardente  de  José  do  Patrocínio  Filho “ (  publicada  em  A   Província  de  12  de  outubro  de  1929  ) .  “ O  enterro  de  Sinhô  “  ( no  Diário  Nacional  de  9 de  agosto  de  1930  )  é  “  Sambistas “ ( na  Revista Souza  Cruz ,em dezembro  de  1930  e janeiro  de 1931 ) .


Sinhô foi apresentado a bandeira no auge de sua carreira musical , já entronizado como " rei do samba " pelo próprio Zeca do Patrocínio , após criar inúmeros sucessos , por toda a década de 1920 ,que se espa-lhavm pela cidade com a rapidez de fogo em mato seco : " Pé de anjo " , " Jura " , " Gosto que me enrosco " , " professor de violão " , " de que vale a nota sem o carinho da mulher ? " , " A cocaína " . Como o rádio ainda

não se impusera como meio de divulgação por excelência da música popular carioca ,os artistas divulgavam

suas músicas usando mil artifícios . Sinhô , malandro e vaidoso , se autopromove em qualquer situação , inclusive no velório do amigo José do Patrocínio Filho .


O sambista se torna conhecido entre 1919 e 1930 - ano em que morreu , vítima de uma hemoptise fulminante ,

dentro da barca que ligava a Ilha do Governador ao centro da cidade . Ficou marcado na história do samba pela

máxima que cunhou : " Samba é que nem passarinho , é do primeiro que pegar " . Polêmicas como essa estão

mesmo na raiz do gênero , já que " Pelo telefone " - considerado o primeiro samba , registrado em 1917

por Donga ( 1890 - 1974 ) , em parceria com o jornalista Mauro de Almeida ( 1882 - 1956 ) - foi , naverdade , uma criação coletiva feita numa das inúmeras festas que ocorriam na casa da Tia Ciata ( 1854 - 1924 ) .

Depois do sucesso de " Pelo telefone  " , a famosa tia baiana , Sinhô e outras personalidades do mundo do samba que participaram da criação quiseram adquirir também sua parcela no que já virara um grande negócio .



Por essa perspectiva , o legado de Sinhô pode ser visto como uma espécie de antologia das vozes dispersas do Rio de então , assim como , guardadas as devidas proporções , a obra de Gregório de Matos foi no barroco brasileiro . Sinhô , usa , sem qualquer teoria ou conhecimento de causa , de modo pragmático , procedimentos típicos das vanguardas modernistas , como ,por exemplo , o jogo intertextual da paródia e da livre apropriação inventiva da obra alheia . E aqui podemos traçar um paralelo de atitudes criativas entre o semi - analfabeto Sinhô , primeiro grande ídolo da nascente cultura comercial de massa brasileira , e Bandeira , um dos poetas mais cultos e respeitados de nosso Modernismo , que dizia não haver nada no mundo de que gostasse mais do que a música .


Vamos nos deter em apenas dois casos exemplares de jogo intermusical , comum na estética modernista , utilizados nas obra sdos dois criadores . Bandeira , ao fazer a letra para um oratório de Francisco Mignone 1897 - 1986 ) , " Alegrias de Nossa Senhora " , recorre aos poemas de uma monja carmelita que lhe passava os versos , ansiosa para saber a opinião do poeta sobre a qualidade de sua poesia .Baseado no material apre-

sentado pela religiosa . Bandeira compos os versos para a obra Mignone ; contudo , o resultado final , segundo depoimento do próprio poeta , pareceu - lhe mais dela do que eu .


Sinhô , por sua vez , compôs a marchinha carnavalesca " Pé de Anjo " a partir da valsa francesa " Cest pas difficile ( Jenny ) " , numa dinâmica de criação singalaríssima . Após ouvir a melodia assobiada por uma freguesa da Casa Beethoven , que osambista frequentava para divulgar as partituras de suas canções , tocou e retocou a valsa várias vezes ao piano . Nesse processo , acabou por trocar o compasso tercenário original da música pelo binário sincopado brasileiro , fazendo ainda alterações sutis no ritmo e melodia , além de criar uma nova letra, ironizando os pés grandes da Cina , irmão de Pixinguinha .






A letra de " Pé de Anjo " dá prosseguimento à primeira grande polêmica criativa da canção popular brasileira - que terá outras , como as refregas musicais vividas por Noel rosa ( 1910 - 1937 ) e Wilson Batist a ( 1913 -

1968 ) ou Herivelto Martins ( 1912 - 1992 ) e Dalva de Oliveira ( 1917 - 1972 ) - , iniciada quando alguns artistas descendentes dos baianos no Rio , entre eles Donga e Pinxiguinha , ficaram ofendidos com os versos de" Quem são eles ? " , samba de 1918 de Sinhô que fala sem papas na língua , que " A Bahia é terra boa / ela lá e eu aqui " . A resposta dos " baianos " foi imediata , com " Fica calmo que aparece " ( Donga ) , " Não és tão falado assim " ( Hilário Jovino Ferreira ) e " Já te digo " ( China e Pixinguinha ) , em que Sinhô é pintado como um sujeito " alto, magro e feio " . o confronto inicial entre os artistas


A polêmica , na verdade , simboliza o confronto inicial entre os artistas ainda presos a raízes folclóricas e os compositores urbanos profissionalizados , que já trbalham comercilamente suas canções . Coisa que Sinhô fez de modo sistemático ,seja participando de concursos na Festa da Penha ,que ocorriam em outubro e que eram

eram uma espécie de vestibular para os sucessos de carnaval , seja dedicando suas canções a persona-lidades famosas - como Oswald de Andrade ( 1890 - 1954 ) , Tarsila de Amaral ( 1886 - 1973 ) e Roberto Marinho ( 1904 - 2003 ) , entre outros - em troca de proteção e patrocínio .


Fonte - Revista da História da Biblioteca Nacional - págs 69 a 73

Data - Outubro de 2007 - RHBN - n ° 25