Há 70 anos , o Brasil perdia Edgar Roquette Pinto ,fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro , em 1923 . Esse carioca foi mais que o pioneiro do rádio . Foi médico legista ,ensaísta e antropólogo de prestígio . No início dos anos 1930 , sob a liderança de Gilberto Freyre , ele foi um dos signatários do “ Manifesto dos intelectuais brasileiros contra o pre-conceito racial “ . “ O documento reafirmava que a antropologia que eles praticavam não permitiria a disseminação de ideias racistas , como a eugenia , que começava a ser im - plantada pelo estado nazista alemão “ , diz . Vanderlei de Souza , 37 anos , professor de História da Unicentro ,em Guarapuava ( PR ) , que acaba de concluir “ Em busca do Brasil : Edgar Roquette Pinto e o retrato antropológico brasileiro ” . A tese de doutorado analisa as ideias de Roquette Pinto acerca das características raciais da população .
Aqui , Vanderlei troca dois dedos de prosa com Ana Claúdia Guimarães , da turma da coluna .
Que relações Roquette Pinto fazia entre raça e população ?
Enquanto setores da intelectualidade do início do século XX viam com pessimismo a formação da nação brasileira , muito por conta própria da ampla miscigenação racial ,outros intelectuais refutavam as teses racialistas e biologicamente deterministas . Roquette Pinto refutava a suposta degeneração das sociedades “ mestiças “ .Para ele ,discutir o “ problema " da formação da população não significava negar a misci-genação e a constituição de um “ Brasil Mestiço “ , mas , sim , refletir sobre as condições sociais em que viva essa população. Ele entendia que os problemas dos brasileiros não poderiam ser atribuídos à cons-tituição biológica , e sim ao abandono e a miséria de grande parte da população .
O que ele e Gilberto Freyre tinham em comum ?
Eles mantiveram contato intelectual próximo . Freyre menciona no prefácio de “ Casa Grande Senzala “, como Roquette Pinto lhe permitiu ver a miscigenação em termos positivos .Freyre confessa que sua impressão negativa dos marinheiros brasileiros , “ mulatos e cafuzos “, que ele viu andando pela neve mole de Brookly , no início dos anos 1920 , era devido à falta de conhecimento do resultado da miscigenação e da realidade social brasileira . E concluía : “ Faltou - me quem me disesse , então , como , em 1929 , Roquette Pinto aos arianistas do Congresso de eugenia , que não eram simplesmente mulatos ou cafuzos os indivíduos que eu julgava representarem o Brasil , mas cafuzos e mulatos doentes “ , repetindo o argumento defendido por Roquette Pinto .
Fonte - Jornal O GLOBO - pág 23 - RIO
Data - Domingo , 16 - 11 - 2014 - Coluna Ancelmo
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