sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

PAI DO RÁDIO E DEFENDOR DA MISTURA DAS RAÇAS





Há  70  anos , o  Brasil perdia Edgar  Roquette  Pinto ,fundador  da  Rádio  Sociedade do Rio de Janeiro , em 1923 . Esse  carioca  foi mais  que o  pioneiro  do  rádio . Foi médico  legista ,ensaísta  e  antropólogo  de  prestígio . No início dos  anos 1930 , sob a  liderança de Gilberto Freyre , ele foi um  dos  signatários  do  “ Manifesto  dos intelectuais  brasileiros  contra o pre-conceito  racial “ . “ O  documento  reafirmava  que  a antropologia que  eles  praticavam  não  permitiria  a  disseminação  de  ideias  racistas , como  a  eugenia , que começava  a  ser im - plantada  pelo  estado  nazista alemão “ , diz . Vanderlei de Souza , 37 anos , professor de História  da Unicentro ,em Guarapuava ( PR ) , que acaba de concluir  “ Em busca  do  Brasil : Edgar  Roquette Pinto e o  retrato antropológico brasileiro ” . A tese de  doutorado analisa as  ideias de  Roquette  Pinto  acerca  das  características  raciais da população .


Aqui , Vanderlei  troca  dois  dedos de prosa  com Ana Claúdia  Guimarães , da turma da coluna .


Que  relações  Roquette  Pinto fazia  entre  raça  e  população ?


Enquanto setores da intelectualidade do início do  século  XX  viam com pessimismo a formação da nação  brasileira , muito  por conta  própria da  ampla  miscigenação  racial ,outros intelectuais refutavam as teses  racialistas e biologicamente deterministas . Roquette Pinto refutava a suposta degeneração das sociedades “ mestiças “ .Para ele ,discutir  o “ problema " da  formação da população não significava negar a misci-genação e a  constituição de  um  “ Brasil  Mestiço “ , mas , sim , refletir sobre as condições sociais em que  viva  essa  população. Ele  entendia que  os  problemas  dos brasileiros não  poderiam ser atribuídos à cons-tituição biológica , e  sim ao abandono  e  a  miséria  de grande  parte da população .


O  que  ele  e  Gilberto  Freyre  tinham  em  comum ?


Eles mantiveram contato  intelectual  próximo . Freyre  menciona  no prefácio de “  Casa  Grande  Senzala “, como Roquette Pinto lhe permitiu ver a miscigenação em termos positivos .Freyre confessa que sua impressão negativa dos marinheiros  brasileiros , “ mulatos e cafuzos “, que ele viu andando pela neve mole de Brookly , no início dos  anos  1920 , era devido à falta  de  conhecimento  do resultado da  miscigenação e da realidade  social  brasileira . E concluía : “ Faltou - me  quem  me  disesse , então , como , em 1929 , Roquette  Pinto aos  arianistas  do  Congresso  de  eugenia , que não eram simplesmente  mulatos  ou  cafuzos  os  indivíduos que eu julgava representarem o  Brasil , mas cafuzos e mulatos  doentes “ , repetindo  o argumento defendido  por  Roquette  Pinto . 


Fonte  -  Jornal   O  GLOBO   -  pág  23  -  RIO 

Data  -  Domingo , 16 - 11 - 2014  -  Coluna  Ancelmo


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