terça-feira, 17 de julho de 2018

OS HOMENS PÚBLICOS E O CARÁTER NACIONAL



O caráter faz com quem o homem o verdadeiro sentido da vida, compreendendo que o luxo, a riqueza material, a vaidade, a inveja, o ódio , a corrupção e o vício , guardam estreita relação entre si . A covardia moral se manifesta através do homem fraco, debilitando-lhe o trabalho. Os desonestos  , os bajuladores , ao falsos , os mentirosos , procuram o poder – seja ele qual for - para alcançar satisfação própria. Não contentes em bajular os ricos, agora se voltaram para adular os pobres, procurando alcançar, por todos os meios, fins estritamente pessoais, desconsiderando a verdadeira construção social e a dignidade humana. O povo, transformado em massa de manobra, crê que exerce poder político – porém, não faz juízo crítico de que simplesmente segue condutores sem escrúpulos. Os políticos, completamente sem prontidão, descaracterizados pelos desvios de comportamento, governados pelo medo de perder o poder, passaram a acariciar a incompetência e a promover-lhe elogios. Mesmo sabendo que corrompem o caráter nacional, fingem ouvir as aspirações do povo, fazendo-lhe discursos para agradar. O fim é sempre obter favores. Preferem mostrar-se injustos, sem princípios, a serem impopulares. São heróis medíocres. O homem de caráter mantém o domínio de sua vontade em tudo o que faz, procurando educar por exemplo. Tentando se justo, é resoluto e magnânimo. Sabe que liberdade é a conquista de todos. Exerce a autoridade sem autoritarismo, tendo consciência de que somente se constrói a Nação pelo trabalho digno e diário de cada cidadão. Conclamo os homens decentes, cônscios de suas responsabilidades, a vencer o desânimo. E que moralizem toda a sua força , seu valor , seu conhecimento  , sua certeza de que o bem vence o mal, para nadarem contra a corrente – pois quem flutua sem reagir à peixe morto. A consciência da dignidade humana não permite condescendência servil em troca de popularidade. É lastimável que nos últimos tempos tenha crescido na Nação a tendência ao rebaixamento moral, à falta de ética , ao aviltamento de caráter dos chamados homens públicos. As consciências ficaram mais elásticas e todos se julgam salvadores da Pátria, prontos a ocupar os altos cargos do Estado. São homens vaidosos que não sabem o quanto se endividam espiritualmente pela má administração da coisa pública. Têm uma opinião para os comícios e outra para o desempenho do cargo. Os interesses individuais e dos partidos públicos promovem casuísmos, tornando-se maiores do que a pessoa humana. Já não se atacam as ideias e os atos, mas os homens. A mentira, a falta de ética, a incompetência e a hipocrisia  , desgraçadamente  , não aprecem mais como elementos vergonhosos  , indignos de se arrogar o homem público. A popularidade, como é obtida nestes dias, não é , de maneira nenhuma , presunção positiva em favor daquele que a consegue, tamanho é o descaso e a ausência de prontidão para o exercício do serviço à Pátria. A procura perseverante da verdade torna verdadeiro o homem. Portanto, o homem de caráter é aquele que tem a coragem moral de afirmar a verdade , mesmo que isso o deixe impopular. A coragem, unida à energia, à fé em Deus e à permanência do bem, triunfa sobre os obstáculos, aparentemente invencíveis. Caros irmãos, esta mensagem não deve representar desesperança, mas estímulo para uma vida absolutamente voltada ao serviço ao próximo e à dignidade humana. Democracia não é uma obstrução nem tampouco simples definição apresentada pela ciência política. Democracia é ação consciente de cidadãos que constroem o cotidiano e o futuro, com responsabilidade. 

Folheto do Centro  Espírita  Dr. Leocádio  José  Correia 
Ano  2017 


Quem  somos  mesmo ? 

UMA CONHECIDA ANEDOTA CONTA QUE, ao criar o Brasil, Deus caprichou: praias belíssimas, terra fértil, água abundante, paisagens de tirar o fôlego, vegetação esplendorosa, clima ameno... Sentindo-se injustiçados, os outros países logo protestaram e se queixaram a Deus, que lhes respondeu :
- Calma , esperem só para ver o povinho que eu vou colocar lá ! 

A anedota desnuda uma das mais significativas representações da nação brasileira, presente tanto nas ideias, nos sentimentos e na imaginação populares quanto nas produções e nos círculos de intelectuais, artistas e profissionais da mídia. O núcleo dessa representação reside na separação de uma lado, "a terra boa", o belo país "abençoado por Deus e bonito por natureza" cantado por por Jorge Benjor, de que nós brasileiros, tanto nos orgulhamos, e, de outro lado , "o povo ruim" , a gente brasileira que não está à altura da beleza e da fertilidade do país. A "ruindade" do povo ( ou seja , a "ruindade" de cada um de nós ), dependendo de quem fala, de quando fala e para quem fala, é explicada pela mistura ou degeneração das raças, pela preguiça, corrupção, presença de degredados, falta de patriotismo, séculos de colonialismo, escravidão, superexploração econômica, herança católica ibérica, malandragem, preconceitos, atraso, etc.

Essa postura inferiorizada costuma vir alternada com efusivas, e igualmente obsessivas, afirmações acerca das maravilhas do país Brasil, não só da sua terra, mas do seu povo, apresentado como cordial, guerreiro, alegre, honesto, amigo, sem preconceito racial, inteligente, musical, obediente, capaz, heroico, patriota, atleta e trabalhador, um povo mito melhor do que qualquer outro existente no planeta. Esse conjunto de ideias afirmativas e orgulhosas,  que, com freqüência descamba para o nacionalismo exaltado, representa a outra face da mesma moeda.

Os dois tipos de representação, tanto a que nos deprime quanto a que nos exalta, remontam ao início do período colonial e vêm, de muitas formas, se adensando entre nós. Elas envolvem todos nós em suas teias invisíveis, a ponto de existir hoje no país uma obsessão nacional acerca da própria identidade, num grau e numa intensidade que não se manifestam nos Estados Unidos nem nos países europeus

Como um pêndulo, nós nos movimentamos entre a sensação de que, no fundo, há algo de extremamente errado conosco, de que nunca "damos certo" - incapazes que somos de construir a nação que desejamos; e, no polo oposto, a também persistente sensação de que somos fantásticos , maravilhosos , capazes de estourar a boca de qualquer balão, e por isso exibimos esse imenso e desmedido orgulho de ser brasileiros. 

Nos limites desse pêndulo - que é uma armadilha - nós vivemos nos perguntando obsessiva, agitada, angustiadamente que país é este e qual será o nosso destino: um mítico abismo infalivelmente nos ronda, mas um pote de ouro e felicidade também espera logo ali, na esquina do futuro. Deslocados, ainda vivemos em busca da nossa própria identidade. 

Revista    -  História do Historiador    - BIBLIOTECA  NACIORANL - RIO DE JANEIRO
 pág   98   -   Ano 4 / n° 45    
Junho de 2007 - JANAÍNA  AMADO 

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