quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

A INFLUÊNCIA DO CARNAVAL NO CONTEXTO CULTURAL “LITERATURA DE CARNAVAL: Um capítulo à margem da história do samba“.

 

A história do Carnaval

Carnaval tem uma longa história atrás do que vemos hoje nos desfiles e nas ruas . Num breve retrospecto, o antropólogo Ari Araújo apontou ao MOVIMENTAÇÃO os principais acontecimentos da principal festa da cultura nacional.

O entrudo foi o início do carnaval , no século XIX . As famílias ficavam em casa , comendo e bebendo à vontade e viam os escravos fazendo a festa na rua , jogando água nos outros. Mais tarde foram criados os limões de cheiro,que eram bolas de cera contendo águas de cheiro e que também eram atiradas nas pessoas.Segundo Ari,uma brincadeira bastante bruta e muito apreciada por Pedro I .O entrudo era proibido e a polícia sempre coibia a comemoração. Mais tarde começaram a se formar os cordões que deram origem aos ranchos, grupos de pessoas que juntas cantavam e dançavam no meio da rua. Com a vinda dos baianos para o Rio de Janeiro e com eles o Terno de Reis,o rancho passou a se chamar Rancho de Reis. Logo em seguida começaram a ser formadas as Sociedades Carnavalescas, que agregavam intelectuais que saíam às ruas fazendo críticas ao governo.

Em 1998 , Ameno Rezedá introduziu no rancho a novidade dos carros alegóricos , que despertou admiração da classe média . Com a queda do rancho na década de 20, foram criadas as escolas de samba . Mais precisamente em 1929 os “ bambas “ do Estácio formaram o bloco “ Deixa Falar “ .

No ano seguinte , segundo Ari, surgiram mais cinco escolas de samba , num processo natural de criação das escolas que se copiam e promovem transformações e partir daí.

Nessa época as inovações se sucederam rapidamente . Em 1939oi criado o samba-enredo , que somente tornou vulto na década de 70 quando o Império Serrano , com tradição de rancho, inseriu no desfile fantasias e apresentou a escola dividida em alas.

Poucas coisas não atenção ao Samba no Brasil e uma delas é literatura sobre o carnaval. Restrito à projetos de monografias promovidos por órgãos públicos como a antiga FUNARTE ou à aventuras literárias de expoentes de nossa cultura , o carnaval é relegado a segundo plano quando o enredo é livro. A explicação para o isolamento do carnaval nas prateleiras é simples segundo o antropólogo Ari Araújo.

O povão está preocupado em ver e fazer e não em ler sobre o carnaval , define Ari . Profundo conhecedor do tema e diretamente ligado ao mundo do samba .Ari resolveu escrever o livro “ As Escolas de Samba - um episódio antropofágico “ na faculdade . Tendo que fazer uma monografia para se formar,ele escolheu falar sobre o que mais conhecia e conhece:as escolas de samba.Mais tarde editou seu trabalho pela editora Vozes , lançado em 1978 e reeditado em 1980 . Envolvido desde os 14 anos com o samba – época em que começou a frequentar as rodas . Ari, conta : que o patrocínio que o motivou a abordar o tema foi a mudança sofrida pelas escolas que começaram a ser administradas pelos banqueiros de bicho , os sambas-enredos sofreram transformações e a classe média passou a desfilar na avenida . Além disso ,o antropólogo procurou resgatar toda a história do samba , retratando detalhes do tipo como uma escola desfilava no início do século e antes ainda , como elas se formaram . “Isso não havia escrito em lugar nenhum “ , garante .

Samba e futebol andam lado a lado quando se trata da publicação de livros, segundo ele.“ O cidadão comum se acha suficientemente capaz de realizar o samba e o futebol sem precisar de nenhuma orientação“ , explica. E isso é verdade , levando-se em conta que várias monografias foram publicadas pela antiga pela antiga FUNARTE o outros tantos livros por Sérgio Cabral , Roberto Moura, Nei Lopes e Irã Araújo e ficaram engavetados .“ Só quem procura por esses livros são pessoas ligadas à área",

acredita . Assessor da presidência da Associação da Velha Guarda das escolas de Samba , Ari Araújo é também um dos fundadores do Instituto de Pesquisas das Culturas Negra e hoje trabalha na editora Palias , que publica trabalhos ligados ao tema.

Fonte - Jornal MOVIMENTAÇÃO ESPECIAL - DOCUMENTO E HISTÓRIA

Reportagem de MÔNICA RIANI CALIXTO

 

 
 

Eles só pensam em brilhar na avenida

Eles são cabeleireiros, decoradores , donas de casa , dentistas e até comerciários . Não se importam de passarem meses bordando suas ricas fantasias ou de gastarem pequenas fortunas que nunca serão recuperadas .O que vale mesmo é a emoção de ser o centro das atenções nas escolas de samba ou ganhar um concurso de fantasias.

Para alguns ,desfilar no carnaval é uma tradição familiar que começa na infância.

Maurício Pina , cabeleireiro de 27 anos , por exemplo , lembra com saudades das fantasias que sua mãe lhe fazia para abrilhantar os desfiles das escolas de samba da distante Getulina, cidade próxima a Marília , interior de São Paulo .

Quando veio para a capital , aos 18 anos , em busca de trabalho, manteve a tradição, integrando-se a Unidos de Peruche ,onde figura como desta que até hoje. " A emoção é indescritível . Uma vez na avenida, você não consegue mais parar . É um vício que se renova a cada ano " , diz.

Inspirando-se no tema da escola: " Mercado, Mercador , Mercadoria " , Maurício criou a fantasia de um rico mercador de uvas , utilizando 15 metros de veludo, 5 mil paetês, 2200 penas de pavão , 2 mil penas de ema e 200 de avestruz. Por ter aproveitado o material de fantasias passadas , o custo final do traje ficou em torno de CR$ 6 milhões .Um montante que ele sabe que não vai reaver. " E isso importa ? A emoção não tem preço " , assegura.

Seu colega de profissão , o cabeleireiro Marcos Tenório , de 31 anos , compartilha da mesma euforia . " Passo o ano inteiro esperando este momento , quando me realizo como transformista, diz . Para a sua fantasia " A Deusa do Fogo " , que será destaque das Rosas de Ouro " e da Unidos de Peruche, Marcos vem bordando desde novembro, uma a uma , quase 10 mil lantejoulas, 50 broches de strass, além de montagem gigantesca de 400 plumas,400 rabos de galo entre outros materiais.Quanto a despesa de CR$ 54 milhões, somada ao longo dos meses, ele não quer nem pensar. " Cada um se diverte de uma forma . Alguns gastam isso em viagens ou comparas . E u prefiro satisfazer meu ego " .

Já o vitrinista e artista plástico João Pasqua Filho,de 40 anos , confecciona as fantasias como forma de expressar sua arte dia a dia .

Desde abril do ano passado ele vem trabalhando no Mago Merlim, que será destaque na Rosas de Ouro de São Paulo, e na Mangueira no Rio, além de percorrer as passarelas de vários clubes do interior paulista e do Rio. Ele acredita que o dinheiro gasto , quase CR$ 80 milhões e todo o trabalho de bordar 200 milhões de paetês , quilos e quilos de miçangas e a montagem de mais de 2 mil plumas , será compensado pelo " frisson"que causará na avenida e nas passarelas. " Principalmente em Ribeirão Preto, onde ganhei quatro vezes consecutivas ", assegura.

Escola - Veterano há 15 anos nos canaviais do Rio e São Paulo , o dentista Francisco Nemer diz ter aprendido com um dos mais famosos carnavalescos,o saudoso Evandro de Castro Lima, a arte de criar fantasias. " Todas as minhas indumentárias eram feitas no ateliê de Evandro , mas eu sempre queria mudar alguma coisa e o mestre não admitia. De tanto observar, comecei a soltar a imaginação e de alguns anos para cá, passei a criá-las sozinho ", conta Francisco. A ideia deu tão certo que hoje, além de ser o diretor de destaques da Unidos de Peruche , ele é também o primeiro destaque do Salgueiro do Rio.

Entre os intervalos de seus clientes no consultório, Francisco encontrou tempo para confeccionar o Almirante do Ita do Norte , um luxuoso oficial da Marinha, que defenderá as cores do Salgueiro , e o Rei Fenício , que será o primeiro destaque da Peruche de São Paulo. " Ter gasto quase CR$ 110 milhões nas duas fantasias e seis meses de trabalho compensam, porque o carnaval é a minha terapia ", diz.

Paixão pela Vai - Vai - Última escola paulistana a desfilar no domingo de manhã , a Vai-Vai do Bixiga , tem fiéis seguidores. A comerciária Fátima Acre , de 36 anos , divide seu tempo trabalhando numa loja de fantasias e num ateliê onde confecciona roupas para a escola e para ela própria brilhar na avenida . Com o tema " Nem tudo que reluza é ouro", Fátima garante que sua escola será a campeã deste ano. Desde agosto prepara seu Adorador dos Bezerros de Ouro . Para tanto gastou perto de CR$ 16 milhões para adquirir 20 metros de veludo negro , que contrasta com 3 mil plumas douradas , 50 mil lantejoulas e 30 metros de strass entre outros materiais .

Outra apaixonada pela Vai-Vai é Beni Zarpellon, uma dona de casa de 47 anos , que começou a desfilar na escola do Bixiga há 14 anos. " No início integrava as alas com fantasias mais simples , depois comecei a sair como destaque , mas ficava muito caro mandar confeccionar as fantasias, então resolvi eu mesma fazê-las " , conta . Seu traje este ano, de Madame Butterfly, custou-lhe perto de 8 meses de trabalho e Cr$ milhões . " Vale tudo pelo prazer de brilhar na minha escola preferida " , assegura.

O comerciário José Maria dos Santos de 42 anos , dividirá este ano sua paixão pela Vai-Vai , onde desfilo desde 78 , com a Caprichoso de Pilares do Rio de Janeiro . nas duas estará exibindo seu Marajá Oriental que lhe custou CR$ 15 milhões e 9 meses de trabalho.

Fonte - Shopping News - City News -Jornal da Semana Correio da Manhã São Paulo 14 de fevereiro de 1993 - pág 5 - COMPORTAMENTO

CARNAVALESCOS - ( Denise Berto de Martino )

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