sábado, 19 de outubro de 2024

DIA DO MÉDICO

 



O  MÉDICO  DA  FAMÍLIA  

Certo dia ,um amigo me contou que havia passado por  uma operação bastante  delicada . Descobriu que tinha um tumor  no cérebro  e precisou fazer  uma  intervenção imediatamente. Parte dos amigos nem ficou sabendo, de tão rápido que foi  o processo , da descoberta à operação .A grande maioria se deu conta , eu inclusive , somente no  pós - operatório ao vê-lo ,de repente, com a cabeça raspada nas fotos das redes  sociais  .

Ele ressaltou o quanto o  papel do médico de família foi  de extrema  importância ,do  diagnóstico ao trato do problema .Relatou ter procurado outros profissionais que até amenizaram o problema .O mé-dico que  estava tratando da  sua família  há tempos , no  entanto , foi decisivo .Ao olhar os resultados da bateria dos exames , entendeu que  ele precisava operar urgentemente .

O  diagnóstico foi  baseado também  no seu histórico familiar . Uma vez que o  mesmo médico tinha tratado um tumor semelhante em uma outra pessoa da família .De posse dessa informação ele fez toda a  diferença .

A  conversa sobre uma  situação pessoal foi pontapé para  refletirmos sobre assuntos diferentes . Um deles foi a constatação de que boa parte de pessoas  negras e indígenas   não tem médicos de  família que fazem parte da  rede de cuidado .E o quanto poder ter  uma  base em  históricos de familiares que acrescentar informações importantes aos  diagnósticos é um privilégio . 

Em nossa troca ,sobre vida , morte , saúde e  privilégios ,outro amigo mencionou que , de modo geral , a autópsia não  costuma ser  feita em membros da comunidade judaica .Isso por que o corpo , pela re-ligião ,é emprestado ,é emprestado e precisa ser devolvido como  foi recebido ,sem mexer nos órgãos, salvo exceções para  estudar de  históricos doenças . E esse  rito é  respeitado  por  hospitais e  insti-tuiçõs judaicas Também há o  respeito  à alimentação exclamou de produtos kosher , apropriada para judeus . 

Nessa troca ,falamos sobre  como  cada  religião e  cultura têm suas  vertentes e sua importância .Em tese ,cada uma delas deveria ser  respeitada sem  distinção .Assim como o próprio  acesso à  saúde de  qualidade deveria ser  universal , mas infelizmente ainda não é para  grande parcela  da  população .

Deveríamos ,por exemplo, ter ambientes hospitalares públicos e  privados mais comprometidos  em respeitar também as  tradições alimentares , feriados e outros  costumes das pessoas  dos  povos  ori-ginários ; daquelas que são  de religiões de  matriz africana ou outras não  hegemônicas . 

Quando pensamos na  lógica do  fim da vida , poder escolher os ritos de passagem é  também um pri-vilégio .Lembro ter ouvido  Helena Teodoro , recentemente , falando da  importância das Irmandades Negras se organizando para dar enterros dignos aos filhos de escravizados e seus descendentes , para não serem enterrados como  indigentes , já  que isso também  faz parte da  preservação da  memória .

Do  médico de  família , passando pela  preservação de  tradições ou ainda a  possibilidade de ter  um jazigo ou um  ritual de  passagem direito  ainda é parte de um privilégio ,restrito especialmente às pes-soas brancas e  abastadas . 

Quem  tem direito a  quê ?  Como dar tratamento digno para  todas as pessoas respeitando  sua  iden-tidade e culturas ? Há  camadas de  privilégio e desvantagens socais  que ainda ditam os  direitos e as  possibilidades das  pessoas a  partir de suas  identidades. E precisamos  nos atentar a  elas , para fazer um dia com que  direitos em vida  ou pós -vida deixem  de ser  apenas  privilégios  para poucos . 

Fonte  -   REVISTA  ELA - pág 26                                                                                                  LUANA  GÉNOT    -  CRÔNICA       


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