sábado, 6 de setembro de 2025

Interdependência ou morte








No  dia  7 de  setembro deste ano comemoramos em  nosso  país  os  200 anos  de 

independência  da  coroa  portuguesa  ( 1822 )


Deu-se início , então , a construção de um projeto próprio de  nação escalado a partir de uma  monarquia  - “ Império  do  Brasil “ , como  forma  de  governo  nacional . Essa  de

declinou - se   politicamente  em  1889 , começando  outra  maneira  de governar  :  a

república  democrática , que  passou  por diversas  fases históricas até  chegar nos dias

atuais .


Com a  independência  do  Brasil de  Portugal , entre os  avanços sociais , destaca - se ,

apesar  da demora , a  abolição  da  escravatura , em  1888 . Entretanto , ainda  hoje , 

existem realidades  de  trabalhos  análogos à  escravidão , com  contornos  modernos ,  

mantendo uma  desigualdade  social . Já  com a  República , ressaltamos  o  direito  da

participação popular na escolha de seus  representantes  através de eleições . Por isso,

nesses  200  anos  de  independência  , podemos  nos  perguntar  se  , como  nação 

brasileira , estamos  amadurecendo  socialmente  no  processo  democrático  de direito,

e se as intenções dos nossos representantes ,com suas formas de governar, convergem

para  esse  propósito . 


É certo que um importante  passo foi  dado  200 anos atrás em nossa história .Entretanto, precisamos continuar avançando com novos passos,atualizando e regulamentando nossa

democracia de 1988 . Vamos confiar na  proteção ,no respeito  e na  interdependência das

instituições democráticas e dos poderes  Executivo , Legislativo e Judiciário .Quando,para

governar , um  desses  poderes tenta a  “  independência “ ou o  controle de outro poder  maquia as intenções autoritárias, resultando em “ morte “ social .


Assim , no mês que vem , escolhamos representantes  que ( re ) construam  nosso Brasil 

com políticas efetivas de Estado , e não de governo apenas .Que a independência outrora 

conquistada , há 200 anos , não nos faça criar inimigos e dividir a nação , mas nos ajude a  olhar para essa história com mais desejo de responsabilidade  diante de nossos direitos e deveres  políticos ,como cidadãos que  amam esta  terra querida   que chamamos  Brasil .


Fonte  -  Revista  Aparecida  - pág 26  - ATUALIDADES 

Pe. Márcio Fabri  dos Anjos , C.Ss.R. 

















sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Colinização trouxe corruptos para o País

 








Em 1665 , o  Padre  Vieira  já denunciava , no “  Sermão  do  Bom Ladrão “ , a corrupção que grassava no  Brasil , praticada  principalmente  por  funcionários portugueses . Com  muitas colônias ,o Império Português não conseguia organizar uma burocracia eficiente, e a confusão favorecia a  proliferação de roubos e negociatas .Governadores , juízes e fiscais da  Coroa se aproveitavam da  falta de controle  e enriqueciam poucos  anos após  a  chegada  ao  Brasil

Em meados do século 17 , o Brasil já se encontrava à beira do abismo . Essa , pelo menos , é a desoladora certeza que deve ter ficado nos fiéis presentes à  Igreja da  Misericórdia de  Lisboa naquele domingo de 1665 em que o Padre  Antônio Vieira pronunciou as célebres frases do seu Sermão do Bom  Ladrão . “ Perde - se o Brasil ( digamo - lo em uma palavra) porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar nosso bem , vêm cá buscar nossos bens   ( … )  El - Rei  manda -os  tomar  Pernambuco  e eles  contentam - se com o tomar  ( … )  Toma  nossa  terra  o ministro  da  Justiça ?  Sim , toma . Toma  o  ministro da Fazenda ?  Sim , toma . Toma o  ministro da  República  ? Sim , toma . Toma o ministro do Estado ? Sim , toma . ( … ) e faltando a justiça punitiva para expelir os  humores nocivos e a distributiva para  alentar e alimentar o sujeito ,sangrando por  outra parte os  tributos em todas  as veias ,milagre é que não tenha  expirado ‘ .

Em outro trecho igualmente  célebre do mesmo  sermão ,Vieira afirmava  que no Brasil“ conjugam  por todos os modos o verbo ‘ rapio ‘ , porque  furtam por todos  os  modos  da arte , não  falando  em  outros  novos  e  esquisitos “ . Críticos  de  hoje que têm o vezo de de atirar todas as  nossas mazelas à conta da  herança portuguesa  costumam citar ainda a  carta de Pero Vaz de Caminha , na qual ,em meio às novidades da descoberta ,o escriba teria encaixado um  pedido  de emprego  para  um  parente . Ao  peculato denunciado  por  Vieira , soma - se o  nepotismo presente no primeiro documento de  nossa história . 

Há em tudo isso  boa dose de inexatidão . Ao afirmar que o verbo  ‘ rapio ‘ se conjugava no Brasil em  “ todos  os  modos “ ,  Vieira estava apenas adaptando para a  nossa  terra  uma figura  de  retórica já  utilizada  por  São  Francisco  Xavier  em  carta  ao  rei  dom  João III  descrevendo  o  estado a  que haviam  chegado  as  colônias  portuguesas  na  Índia  .O fenômeno , aliás , nada tinha de exclusivo de  Portugal e seu  império .O  filósofo Edmund  Burke , referindo - se a Warren  Hastings , um dos  fundadores do  Império Britânico , que governou por 13 anos a  Província de Bengala , diria que ele era  “ não apenas um ladrão da coisa pública , mas o  organizador  geral da  roubalheira , o  chefe da quadrilha “ .

ESCÂNDALO 

Quanto ao  recado de  Pero Vaz de Caminha a  dom Manuel , o Venturoso , não se referia  à possibilidade de um emprego para um parente , como se tornou hábito de afirmar , mas era uma  súplica para que fosse perdoada a  pena de degredo na Ilha de  São Tomé que afligia seu genro, Jorge de Osório , já condenado por extorquir o  abade de Rio Mocinhos . Caso  se  tratasse  real-mente de pedido de emprego ,nada haveria  a estranhar .Como lembra Dauril Alden em Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial ,a frase  “ algum cargo da Justiça ou do do Tesouro “ era a resposta usual para qualquer requerente que apresentasse  folha de serviços digna de recompensa .Tais  cargos não eram somente dados a candidatos  em  perspectiva , mas também oferecidos a viúvas  ou órfãos como  dote . O mesmo ocorria no resto da Europa .

Dado o desconto para o que era próprio do tempo,no entanto,é de se convir que o Império Português, em geral , e o Brasil  Colônia , em particular , ofereciam terrenos  dos mais  propícios para o  vicejar da  corrupção . Mesmo o desencantado leitor dos dias de hoje não poderá evitar um arquear de sobrancelhas ao verificar a  infinidade de negociatas já praticadas  naquela  época , tais  como  se  encontram  minuciosamente  descritas  no  grande clássico da  língua : A primeira edição dessa obra trazia o nome do padre Vieira,como autor e a indicação de ter sido composta na tipografia Elviizirena, de Amsterdã, em 1652. Na verdade ,essa edição é de oura data ,foi composta em Lisboa e seu autor não é Vieira . Seria , talvez , Tomé  Pinheiro  da Veiga  ou Francisco Manoel  de Mello  ou , ainda , como sugerem alguns , Antônio de Sousa de Macedo .


Não importa .O embuste do autor e dos editores não impede que as personagens do livro ,continuem gritantes de realidade . Por  trás do nome arcaico dos  almotacés - encarregados de vigiar  “ padeiras , regateiras , estalagens e tavernas para ver se vendem cousas por seu preço  deixam  passar  por  estimação  de  anil  o  pacote  que tem  cheio de basares “ ? Já  naquele  tempo , havia  o  escândalo  dos ministros que enriqueciam vertiginosamente ,especialistas no tráfico de influências ,concorrências públicas fraudadas . 

Fonte  -  Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO  - pág  18  -  CORRUPÇÃO Data   -  Domingo , 24  de  Março  de  1991  -  PEDRO  CAVALCANTI 

( o texto abaixo é continuação deste )


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Contrabandistas agiam com liberdade

 



A  tentativa  de  burlar o  Estado  era enorme , sobretudo porque esse tinha o hábito de praticar preços extorsivos . O próprio  sal  era artigo  de contrabando . Em 1707 , houve

grande escândalo em Santos quando se descobriu uma partida clandestina no convento

de  São Francisco . Ainda mais  comum , no entanto, era haver acordo irregular entre os

funcionários dos monopólios e açambarcadores semeando o caos no abastecimento do país, pequenos contrabandistas , mas os grandes eram incomodados .

Em 1721 , a polícia tomou de assalto uma fazenda na Serra de Paraopeba , em Minas Gerais , pertencente a uma quadrilha  de  fundidores  de  ouro  e moedeiros falsos . Nela trabalhavam 30 escravos bem armados e um pequeno grupo de hábeis artífices.Chefiava 

Inácio de Souza Ferreira , ex - frade oraroniano e ex - comandante de uma na de carreira da Índia Oriental , personagem singular que dirigia seus homens com disciplina de  ferro 

mas era muito bem relacionado onde convinha . Seu cúmplice principal em Vila Rica era  Manoel de Afonseca , secretário do governador  d. Lourenço de Almeida . Havia também 

outros agentes no Rio de Janeiro e dizem que em Lisboa ,onde um dos mais interessados 

seria o infante dom Francisco , irmão do  rei d. João V , célebre por atirar o esmo com uma espingarda de caça sobre os pescadores do  Tejo , diversão a que ele  chamava  “ tira  dos

patos “ .

Certo é que a quadrilha contava com algum tipo de proteção muito importante . Embora a maioria de seus membros , inclusive os chefes , tenha sido presa em flagrante e enviada a Lisboa , o julgamento não deu em nada e poucos anos mais tarde estavam eles de volta a  Minas Gerais .  

O destino acidentado do mais poderoso contratador  de diamantes , João Fernandes de  Oliveira , também esteve ligado à influência  inconstante de seus protetores em  Portugal . Em poucos anos à frente de algumas centenas de escravos , João  Fernandes acumulou  imensa  fortuna explorando as  lavras do  Distrito Diamantino em  regime de  monopólio .




Passa por ter  sido o homem mais  rico  de seu tempo . Ficou na  história a  extravagância

dos presentes que oferecia a  sua amante  Xica da Silva ,para quem mandou construir um 

lago  artificial  e  um  veleiro  para  dez pessoas  que  imitava a  forma  de uma  caravela . Subitamente ,caiu em desgraça . Para não ser preso , embarcou para Lisboa , onde tratou de arranjar  as  coisas . Conta  Joaquim  Felício  dos  Santos , em  Memórias  do  Distrito 

Diamantino , que o  Marquês de Pombal , sabendo que a  fortuna do  contratador nascera em  grande parte de infrações ,  obrigou - o  a entrar para os cofres reais com a imensa 

quantia de  11 milhões de  cruzados . João Fernandes pagou e continuou rico .

Isso ocorreu na segunda metade do século XVIII ,quando o Brasil Colônia já ia caminhando para seu ocaso .Daí em diante apesar de vagas violentíssimas de  repressão  desordenada, Portugal foi perdendo o controle sobre todas os seus monopólios ,inclusive o mais importante,  que era o comércio marítimo .De Londres e Liverpool zarparam regularmente navios que , a pretexto da caça  à baleia , vinham às costas do Brasil carregados de mercadorias voltavam  com os  produtos da  Colônia .

Em  1794 , 39  embarcações estrangeiras  aportaram no  Rio de  Janeiro sob  as vistas das autoridades  desleixadas  ou  coniventes . A  Abertura  dos  Portos , decretada  em  1808 ,  revogando disposições impossíveis de se fazerem cumprir,veio oficializar um estado de fato. Poucos  anos mais tarde , o Brasil se tornou independente . Já  não haveria mais como jogar  em cima dos fregueses a  culpa  pelos nossos problemas  com a  corrupção .

Fonte  - Jornal  O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO  - pág 18  -  Data  - Domingo 24 de Março de 1991 - Pedro Cavalcanti 




quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Brasil imperial a cores

 







Exposição  de  Rugendas  é  a  primeira de  uma  série  de  retratistas  do  século  XIX


A primeira de   três exposições com obras dos mais  conhecidos  retratistas do  Brasil do

início do  século XIX  foi aberta  ao público carioca numa terça - feira , no Centro Cultural 

Justiça Federal .“ Rugendas ,sem olhar inaugural “ traz 50 litogravuras do alemão Johann

Moritz Rugendas espalhadas pelas paredes de quatro salas  e projetadas em dois telões ,

num quinto cômodo . A série de eventos ligados aos  200 anos da chegada  Família Real 

Portuguesa  ao  Brasil  segue  com  uma  exposição  de  aquarelas , óleos , desenhos  e 

gravuras de  Jean - Baptiste Debret , na Casa  França - Brasil , a  partir  de 25 de março , outra com  83 obras  de  Nicolas - Antoine  Taunay , no Museu Nacional de  Belas Artes , com inauguração prevista  para  6  de maio . Os dois últimos foram membros da Missão Artística Francesa ,que aportou no Rio em 1816 ( formada por bonapartistas que não se

sentiam mais seguros  na  França  e  estavam desempregados ) , enquanto  Rugendas chegou em 1821 , integrando a expedição organizada  pelo  barão  Georg  Langsdorff ,

membro da  Academia de Ciências de São  Petersburgo e cônsul - geral  da Rússia no

Rio .


As gravuras de Rugendas que compõem a  exposição correspondem a metade das cem 

imagens  do  livro  “ Viagem pitoresca  através do  Brasil “ , editado em  1835 , em Paris . 

Suas páginas traziam traziam extensas observações dos artistas , que , infelizmente ,não

serão oferecidas aos visitantes do centro cultural . Rugendas escreveu ,por exemplo ,que 

os  negros que encontrara aqui não conservavam  os  costumes  e  as nações religiosas

de  suas  terras nativas  , e  eram violentamente  submetidos  à  doutrina  católica . Na

Europa , havia uma demanda enorme por  informações sobre o  Novo Mundo .


Viajantes  eram  vistos como  espiões 


Bandeira destaca que uma figura importante desse período  foi o  alemão  Alexander  von  Humboldt .


- Ele partiu para a  América  do  Sul  em  1799 , com uma carta ao rei da  Espanha que lhe permitia visitar todo o território da  América espanhola .Mas , para  Portugal ,era um espião,

como os viajantes . Foi  enviada  uma  carta ao governador do  Grão  - Pará alertando - o 

sobre Humboldt - explica ele .


Rugendas , voltando do  Brasil à  Europa , encontrou o naturalista  em Paris e ganhou sua  admiração ao lhe mostrar  os  desenhos que fizera da  natureza  brasileira . Outros temas que retratou foram o movimento da extração do ouro e pedras preciosas em  Minas Gerais,

os  costumes e as  danças de  negros na  Bahia  e  os  semblantes dos  escravos  trazidos 

de  nações africanas e  índios botocudos , macaxali e de outras tribos em ações de  caça e

pesca , rituais  e encontros com os  civilizadores europeus . Sua gravura “ Derrubada  de  uma  floresta “  (  incluída  na  exposição )  é  a primeira  documentação  da  destruição da  Mata  Atlântica .


Rugendas participou  da  expedição  de  Langsdorff  até  se  desentender  com  o  barão e tomar  seu  próprio  rumo . De  formação  acadêmica  e  romântica , ele  fez  um  trabalho documental e , ao mesmo tempo , idealizado .


O  acervo  exposto no  Rio de Janeiro vem de  Brasília  e pertence  a  Alcina Morato , que montou em  1985 , uma  mostra  na  capital federal  com  a arte produzida pela exposição Langsdorff e foi  presenteada , pela embaixada russa , com  cópias das gravuras  originais de  Rugendas .


Fonte  -  Jornal  O  GLOBO  -  pág 8  SEGUNDO  CADERNO  

Data  -  Domingo , 10 de agosto de 2008  - Eduardo  Fradkin