grande escândalo em Santos quando se descobriu uma partida clandestina no convento
de São Francisco . Ainda mais comum , no entanto, era haver acordo irregular entre os
funcionários dos monopólios e açambarcadores semeando o caos no abastecimento do país, pequenos contrabandistas , mas os grandes eram incomodados .
Em 1721 , a polícia tomou de assalto uma fazenda na Serra de Paraopeba , em Minas Gerais , pertencente a uma quadrilha de fundidores de ouro e moedeiros falsos . Nela trabalhavam 30 escravos bem armados e um pequeno grupo de hábeis artífices.Chefiava
Inácio de Souza Ferreira , ex - frade oraroniano e ex - comandante de uma na de carreira da Índia Oriental , personagem singular que dirigia seus homens com disciplina de ferro
mas era muito bem relacionado onde convinha . Seu cúmplice principal em Vila Rica era Manoel de Afonseca , secretário do governador d. Lourenço de Almeida . Havia também
outros agentes no Rio de Janeiro e dizem que em Lisboa ,onde um dos mais interessados
seria o infante dom Francisco , irmão do rei d. João V , célebre por atirar o esmo com uma espingarda de caça sobre os pescadores do Tejo , diversão a que ele chamava “ tira dos
patos “ .
Certo é que a quadrilha contava com algum tipo de proteção muito importante . Embora a maioria de seus membros , inclusive os chefes , tenha sido presa em flagrante e enviada a Lisboa , o julgamento não deu em nada e poucos anos mais tarde estavam eles de volta a Minas Gerais .
O destino acidentado do mais poderoso contratador de diamantes , João Fernandes de Oliveira , também esteve ligado à influência inconstante de seus protetores em Portugal . Em poucos anos à frente de algumas centenas de escravos , João Fernandes acumulou imensa fortuna explorando as lavras do Distrito Diamantino em regime de monopólio .
Passa por ter sido o homem mais rico de seu tempo . Ficou na história a extravagância
dos presentes que oferecia a sua amante Xica da Silva ,para quem mandou construir um
lago artificial e um veleiro para dez pessoas que imitava a forma de uma caravela . Subitamente ,caiu em desgraça . Para não ser preso , embarcou para Lisboa , onde tratou de arranjar as coisas . Conta Joaquim Felício dos Santos , em Memórias do Distrito
Diamantino , que o Marquês de Pombal , sabendo que a fortuna do contratador nascera em grande parte de infrações , obrigou - o a entrar para os cofres reais com a imensa
quantia de 11 milhões de cruzados . João Fernandes pagou e continuou rico .
Isso ocorreu na segunda metade do século XVIII ,quando o Brasil Colônia já ia caminhando para seu ocaso .Daí em diante apesar de vagas violentíssimas de repressão desordenada, Portugal foi perdendo o controle sobre todas os seus monopólios ,inclusive o mais importante, que era o comércio marítimo .De Londres e Liverpool zarparam regularmente navios que , a pretexto da caça à baleia , vinham às costas do Brasil carregados de mercadorias voltavam com os produtos da Colônia .
Em 1794 , 39 embarcações estrangeiras aportaram no Rio de Janeiro sob as vistas das autoridades desleixadas ou coniventes . A Abertura dos Portos , decretada em 1808 , revogando disposições impossíveis de se fazerem cumprir,veio oficializar um estado de fato. Poucos anos mais tarde , o Brasil se tornou independente . Já não haveria mais como jogar em cima dos fregueses a culpa pelos nossos problemas com a corrupção .
Fonte - Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - pág 18 - Data - Domingo 24 de Março de 1991 - Pedro Cavalcanti
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