Cineasta estreou o documentário “ Dedo na Ferida “ , no qual aborda o poderio econômico frente ao governo e à população . O longa é hors concours na
Pemière Brasil do Festival do Rio
‘ SOU UM BRASILEIRO CÉTICO ‘
No documentário “ Dedo na Ferida “ , o diretor sílvio Tendler , aborda o fim do estado de bem - estar social e da interrupção dos sonhos de uma vida melhor para todos , num cenário onde a lógica do capital financeiro inviabiliza alternativas de justiça social . Hors concours na Premiére Brasil do festival do Rio ,o filme estreou no Cinepolis Lagoon.
O que motivou a fazer “ Dedo na Ferida “ ?
Eu estava discutindo muito a questão sobre os donos do poder e aí a gente vê que os donos do poder são aqueles que controlam a economia . Vi que ,nos Estados Unidos ,o dono do poder é a indústria bélica e ,aqui no Brasil ,é o sistema financeiro .Nenhum país no mundo ,nenhum tipo de economia , nem atrasada , nem desenvolvida ,tem a dívida pública que o Brasil tem e nem paga tanto dinheiro como paga aos bancos .Então eu resolvi discutir essa questão do sistema financeiro . É um assunto que eu trato desde 2007, quando lancei o filme sobre o Milton Santos [ “ Encontro com Milton Santos - ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá “ , sobre o geógrafo brasileiro morto em 2001] ,e que a gente percebe quanto o processo de globalização que vivemos hoje é um processo que beneficia muito as mercadorias , o capital e muito pouco as pessoas .
Você procura se manter neutro a questões políticas ao produzir um documentário ?
Neutro ,jamais .Como diz um amigo meu , o crítico César Augusto : imparcial ,só aquele desligado. Ligou a câmera , aponto , então você está tomando posição .
Como é a sua relação com a política ?
Não me envolvo diretamente com política . Eu faço política através da arte e todas as posições que eu tomo são a partir dos filmes que eu faço.Eu tomo partido,mas não tenho nenhuma militância política e partidária . Eu tomo partido ,mas sou um brasileiro cético .
Quais questões no país o preocupam atualmente ?
A questão da mídia me preocupa muito . Eu acho que os espaços [ de cinema ] que temos estão pouco a pouco encurralados em nichos de mídia muito pouco expressivos em relação ao conjunto da sociedade . O sistema de difusão de filmes , por exemplo : eu tenho as três maiores de bilheterias do cinema brasileiro [ “ O Mundo Mágico dos Trapalhões “ ( 1981 ) , com 1,8 milhão de espectadores , “ Jango “ ( 1984 ) , 1 milhão , e “ Os Anos de JK “ ( 1980 ) , 800 mil ] .Outro dia , eu estava assistindo à palestra de um cineasta todo orgulhoso , pois o filme dele teve 170 mil espectadores . Quer dizer , uma bilheteria ‘ blockbuster ‘ . Os [ filmes ] documentais têm muito menos público do que eu fiz nos anos 1980 . Isso significa que o cinema está encurralado em pequenas salas , pequenos horários e só os grandes filmes , das grandes empresas ,conseguem ocupar salas de cinema .Hoje ,você só tem sala de cinema em 9 % do território nacional e ,mesmo assim, 98 % delas concentradas em shoppings . Isso gera a noção de que o cinema deixou de ser uma coisa reflexiva para se tornar exclusivamente entretenimento . Você tinha [ cineastas ] Jean - Luc Godard , Fellini , Glauber [ Rocha ] e também grandes espetáculos cinematográficos de grande público .E hoje ,os cinemas ‘ papo cabeça ‘ ,estão renegados ,com salas de público restrito.
Fonte - Jornal Metro pág 26 - CULTURA Data - Rio de Janeiro , quarta - feira , 11 de outubro de 2017
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