domingo, 21 de setembro de 2025

SILVIO TENDLER

 



                          



         



Cineasta  estreou o  documentário  “  Dedo  na  Ferida “ , no qual aborda o  poderio  econômico  frente  ao  governo  e  à  população . O  longa  é  hors  concours  na 

Pemière  Brasil  do  Festival  do  Rio 

‘ SOU  UM  BRASILEIRO  CÉTICO ‘ 

No  documentário  “ Dedo  na  Ferida “ , o diretor  sílvio  Tendler , aborda o fim do estado  de  bem - estar  social  e da  interrupção  dos  sonhos  de uma vida  melhor  para todos , num cenário onde a  lógica do capital  financeiro  inviabiliza  alternativas de  justiça  social . Hors  concours na Premiére Brasil  do festival do  Rio ,o filme estreou no Cinepolis Lagoon.

O  que  motivou  a  fazer  “ Dedo  na  Ferida “ ?




Eu estava discutindo muito a questão sobre os donos do poder  e aí a  gente vê que  os donos  do poder são aqueles que controlam  a  economia . Vi que ,nos Estados Unidos ,o dono do poder  é a  indústria  bélica e ,aqui no Brasil ,é  o sistema  financeiro .Nenhum país no mundo ,nenhum tipo de economia , nem atrasada , nem desenvolvida ,tem a dívida pública que  o  Brasil tem  e nem paga  tanto dinheiro como paga aos bancos .Então eu resolvi discutir essa questão do sistema financeiro . É um assunto que eu trato desde  2007, quando lancei o  filme sobre o  Milton Santos  [ “ Encontro  com  Milton Santos  - ou  o  Mundo  Global  Visto do Lado  de  Cá “ , sobre o geógrafo  brasileiro morto em 2001] ,e que  a gente  percebe quanto o processo de globalização que vivemos hoje é  um processo  que beneficia  muito  as  mercadorias , o capital e muito pouco as pessoas .

Você  procura se manter  neutro a  questões políticas ao produzir  um documentário ?

Neutro ,jamais .Como diz um amigo meu , o  crítico César Augusto : imparcial ,só aquele desligado. Ligou  a câmera , aponto , então você está tomando posição .

Como  é  a  sua relação  com a política ?

Não me  envolvo  diretamente  com  política . Eu faço  política  através da arte  e todas as posições que eu tomo são a partir dos filmes que eu faço.Eu tomo partido,mas não tenho nenhuma militância  política e partidária . Eu tomo partido ,mas sou um brasileiro cético . 

Quais  questões  no  país o preocupam  atualmente ? 

A  questão da mídia me preocupa muito . Eu acho que os espaços  [ de cinema ]  que temos estão  pouco a pouco encurralados em nichos de mídia  muito pouco  expressivos  em relação  ao conjunto  da  sociedade . O  sistema  de  difusão de  filmes , por exemplo  :  eu   tenho  as  três  maiores  de  bilheterias  do  cinema  brasileiro  [ “ O  Mundo  Mágico  dos Trapalhões “   ( 1981 ) , com 1,8 milhão de  espectadores , “ Jango “ ( 1984 ) , 1 milhão , e   “ Os  Anos  de  JK “ ( 1980 ) , 800 mil ] .Outro dia , eu estava assistindo à palestra de  um   cineasta  todo orgulhoso , pois o filme dele teve  170 mil espectadores . Quer dizer , uma  bilheteria  ‘ blockbuster ‘ . Os [ filmes ] documentais têm muito  menos público do que eu fiz nos anos 1980 . Isso significa que o cinema está encurralado em pequenas salas , pequenos  horários e só  os  grandes filmes , das  grandes  empresas ,conseguem ocupar  salas de cinema .Hoje ,você só tem sala de cinema em  9 % do  território nacional  e ,mesmo assim, 98 % delas concentradas  em  shoppings . Isso gera a  noção de que o cinema deixou de ser  uma  coisa  reflexiva  para  se  tornar  exclusivamente  entretenimento . Você  tinha   [   cineastas ] Jean - Luc Godard , Fellini , Glauber [  Rocha ] e também grandes  espetáculos cinematográficos de  grande  público .E hoje ,os cinemas ‘ papo cabeça ‘ ,estão renegados ,com salas de público restrito. 

Fonte  -  Jornal  Metro  pág  26   -  CULTURA                                                                                 Data  - Rio de  Janeiro , quarta - feira , 11 de  outubro de  2017

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