terça-feira, 17 de dezembro de 2019

MARATONA


Em  1896, em  Atenas, Spiridion  Louis  precisou  2h58min50 para  vencer  40 km; um século  depois, em  Atlanta,seria  apenas  o 40° - no  feminino.

Cem  anos  de  história  mudam  prova  mais  longa  do  atletismo. 

Desde  1986, distância superou  os  40 km  e  novas técnicas  auxiliam  o  desempenho dos  atletas.

A história é bonita, seja verdadeira ou não. No ano 490 a.C gregos e  persas estavam em guerra. Uma das batalhas foi na planície de  Maratona, com vitória dos   gregos  comandados pelo general  Milcíades. Comunicação já era importante naquele tempo e o soldado Philipedes foi designado para levar a notícia até  Atenas. Missão  cumprida, o mensageiro não pôde participar da festa que se seguiu. Vencido pelo esforço realizado morreu pouco depois.

Em 1896, nos primeiros Jogos  Olímpicos da  Idade  Moderna ,em Atenas ,o barão de Coubertin criou a  maratona para lembrar a história do disciplinado  soldado  grego. O vencedor, também grego, não morreu. Spiridion  Louis cobriu a distância em 2h58min50 num desempenho excelente, chegando oito minutos antes de seu compatriota  Charilaos  Vasilakosd.

Louis não teria chance nos tempos modernos. Se ele pudesse correr a Maratona  de  Atlanta , um século depois de ter alcançado a glória, e repetisse seu tempo, chegaria 20 minutos depois de 40 °. colocado. Da  prova  feminina. A  lituana  Stefanija  Statkuviene terminou a prova em 2h39min51. E com o percurso de 42.195 metros , maior que os 40 quilômetros de  Louis.

O ser humano tem transformado a  maratona  - uma prova criada para  superdotados – em uma brincadeira . Em  Nova  York , milhares de amadores correm apenas para ter direito a um adesivo que confirma o feito. Os atletas de ponta sonham em bater as 2h05min43 cravadas pelo marroquino Khalid  Kamnouchi, melhor marca mundial. O Comitê Olímpico Brasileiro fixou o índice 2h12  , que é mais rigoroso do  que o Comitê  Olímpico  Internacional , de 2h14 . Vanderlei  Cordeiro  de  Lima  ,  Éder  Fialho  , Osmiro  Silva  e  Luís  Antônio  dos  Santos atingiram índice. Outros  quatro têm chances de garantir a marca até 31 de maio, data final para a classificação. Apenas três irão a Sidney.

Ricardo d' Angelo , técnico de Vanderlei  , favoritíssimo a uma das vagas , aponta as causas da melhoria tão grande no desempenho dos maratonistas . "  Desenvolvimento da medicina , apoio a programas de treinamento, maior apoio de patrocinadores, mais tecnologia e, principalmente, o aprimoramento de técnicas de treinamento são os principais motivos da melhoria dos tempos " . O técnico fala de atletas de todo o mundo e não apenas do Brasil . Por isso inclui o item apoio a programas de treinamento , coisa inexistente por aqui . " Portugal e Espanha apoiam seus atletas e não é coincidência o espanhol Abel  Antón e o português Antônio Pinto  aparecerem como favoritos em Sydney " .

O apoio de patrocinadores permite a um atleta preparar-se melhor para alcançar seus objetivos . Vanderlei , por exemplo , tem um pequeno staff a ajudá-lo . Além  de Ricardo, conta com nutricionista , fisioterapeuta e um agente , que negocia cachês com organizadores de meetings de atletismo em todo o mundo . "A tecnologia  também ajuda , com relógios de pulso , óculos de sol e para neblina , além de tênis cada vez mais específicos para as diferentes provas de atletismo", completa Ricardo d'Angelo

TÁTICAS  DE  CORRIDA 

Fartlek 

Quando quatro ou cinco atletas estão correndo juntos, um deles começa a alternar o ritmo. Força durante 30 segundos, depois diminui. Repete a dose durante cinco quilômetros.

"Isso abala os outros atletas física e emocionalmente,  porque você está  dando todas as coordenadas, mostrando quem manda na prova".

Ataque  em quilômetro quadrado 

Alguns atletas programam seu ataque para o quilômetro  27,5 ou  31,5, sempre fugindo de números redondos.

"A maioria está com a programação feita de cinco em cinco quilômetros e um ataque em quilômetro quebrado surpreende a todos".

Ataque  na  subida ou  na descida 

O corredor tem a estratégia na cabeça e sabe a hora e o local em que tem de atacar para vencer. Se for um bom atleta, de subida , escolhe um aclive; se for melhor nas descidas da pista, é ali que atacará.

"O  Vanderlei é bom na subida; já o Delmir dos Santos, outro brasileiro, é ótimo nas descidas".

Corrida  em  grupo 

Quando está em um grupo, o atleta procura sempre ficar em último lugar. 

"Assim, ele escapa do vento e também encontra menos resistência do ar " .


Técnico  coordena  método  empírico  de  preparação 

Para Ricardo d'Angelo, que orienta Vanderlei Cordeiro, não basta ser ex-atleta para virar treinador.

Já vai longe o tempo em que livros estrangeiros eram traduzidos e as teorias ali descritas aplicadas ao pé da letra . Ricardo d' Angelo tem um exemplo pronto para mostrar como mudou a preparação esportiva para maratonistas.

"Era comum traduzir as teses usadas pelo técnico do checo  Emil  Zatopek   (vencedor da maratona na Olimpíada de 1952 , em Helsinque, e apelidado de Locomotiva Humana ) e obrigar nossos atletas a fazer igual, sem nenhuma adaptação nem resultados aparentes " , diz Ricardo , " Ninguém sabia se aquilo tudo era verdade " , completa .

D'Angelo assina revistas estrangeiras , compra livros , gasta tempo da  Internet , sempre em busca de novidades. Repudia o método  empírico , em que um ex-atleta virava treinador, passando por experiências , por meio de um bom bate-papo , ao novo pupilo. " Eu fui corredor de 400 metros e sou técnico de  maratona  porque estudei para isso , não por ser meu curioso " , diz.

Vanderlei Cordeiro já correu a maratona três vezes na casa de 2h08. Por isso, o pensamento - que já virou quase uma obsessão , está em conseguir o tempo de 2h07 . Para isso , é feita a divisão da prova . Ele deverá fazer os 21 quilômetros entre 1h03 e 1h03min30. Se chegar à metade da prova com tempo acima desse , deverá apertar o ritmo. Mas divisões não param por aqui. Para sonhar com um bom resultado , Vanderlei Cordeiro cobrir cada cinco quilômetros em 15 minutos . Um quilômetro deve ser coberto em apenas três minutos .

" Ele tem todos os números na cabeça ,e a cada quilômetros , sabe como apressar ou diminuir o ritmo , sempre com o tempo de duas horas e sete minutos como meta " explica Ricardo d' Angelo .

O avanço das técnicas esportivas criou várias táticas usadas por maratonistas em busca da vitória, dando muitas vezes um caráter extremamente estratégico à prova, que começou sem nada disso .

Fonte   -  Jornal   O  ESTADO  DE  SÃO  PAULO   -  pág E 3
Domingo , 5 de março de 2000 - ESPORTE -  LUÍS  AUGUSTO  SIMON 

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