quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A ' epidemia das bet ' s e a jogatina



    EDITORIAL



Ao cair da tarde de um domingo ,os adultos ,idosos e moços se reuniam para , entre  um jogo de cartas ou uma rodada de dominó , colocar a  conversa em dia ,recordar ‘ os casos’de família e se divertir . “ Vou ganhar de você ! Quer  apostar ? E sobre a mesa da cozinha ou no chão da sala se juntavam algumas notas de R$ 5 , R$ 10 ,R$ 20  de cada  jogador . Todos se conheciam e o jogo sempre acabava antes que alguém saísse de  carteira vazia .


Hoje , passadas algumas  décadas desta cena que era tão  corriqueira em alguns  lares brasileiros , outros adultos , idosos , jovens  e até  crianças continuam  “ jogando “ , mas imersos aos  apelos da indústria do entretenimento , já não o fazem pelo viés lúdico e de recreação de outrora . Individu-almente - cada um em seu  smartphone - e sob o controle dos algoritmos das bets - os  sistemas de apostas para conseguir rendosas premiações .Basta entrar no jogo e pagar  via pix ,débito em conta ou pelo  cartão de  crédito .


A  praticidade  em  apostar  e  a  promessa do  dinheiro  rápido  e  fácil têm causado uma  verdadeira  “ epidemia  das  bets “ ,que como toda a doença em descontrole afeta a  saúde física  e mental  e , neste caso ,também a  financeira . Uma recente pesquisa do Instituto Locomotiva apontou  que  86 %  dos que apostam nos  jogos on - line possuem dívidas ,e que a maioria dos apostadores , 79 % , per-tence às classes C , D e E . Outro levantamento, feito  pelo  Instituto  Datafolha  em  dezembro  do  ano  passado , indicou  que 1 7 %  dos beneficiários da  Bolsa  Família - ou  seja , pessoas  de  baixa  renda - já  disse  ter  feito apostas on - line e destes quase um terço gasta mais de R$ 100 por mês nestas plataformas . 

Sancionada em 29 de dezembro do ano passado , a lei 14. 790 / 2023 , a chamada “ Lei das Bets “ regularizou o mercado dos jogos e apostas  on - line no  Brasil ,o qual ,potencializado por patrocínios em times e  torneios de futebol , anúncios no rádio e na tevê e por  publicidades na  internet e  redes sociais , tem obtido um  crescimento exponencial , com os consequentes  malefícios já citados .


Na sexta - feira , 20 , durante  o 10 °  Encontro  Mundial  dos  Movimentos  Populares , em Roma , o  Papa Francisco revelou ficar  “ muito triste ao ver que alguns  jogos de  futebol e estrelas do esporte promovem plataformas de apostas . Isso não é um jogo , é um vício . É colocar a  mão nos  bolsos das  pessoas , especialmente dos  trabalhadores e dos  pobres  … Isso  destrói  famílias  inteiras .


Diante de tamanha  permissividade social  à  jogatina , não  é  sem  motivo  que a  Igreja  no  Brasil externa preocupação como a possível votação no Senado do projeto lei  2.234 / 2022, que  propõe regulamentar a instalação e operação de cassinos ,bingos ,caça-níqueis  e a exploração de jogos e apostas em  todo Brasil . A proposta foi já aprovada na  Câmara dos Deputados em 2022 , como PL  442 / 91 .


Em carta ao  episcopado brasileiro no  começo  deste mês , a  presidência  da  Conferência  Nacional  dos  Bispos do  Brasil  (CNBB )  apontou  que  o  “  jogo  de  azar  traz  consigo irreparáveis prejuízos  morais ,sociais  e , particularmente ,familiares “ ,  afetando  especialmente  as pessoas que  têm com-pulsão  por  jogos ; e  lembrou  que  os  argumentos de que a  regulamentação será  benéfica para  as  finanças do  País e a geração de empregos desconsideram  “ a  possibilidade  de  associação  dos  jogos  de  azar  com  a  lavagem de dinheiro e o crime organizado “ .


Portanto que não restem dúvidas : a jogatina , seja  presencialmente nas  casas de apostas, seja de modo on - line , é algo maléfico para o indivíduo e para toda a sociedade .Como  afirma o Catecismo  da Igreja Católica ,os  jogos  de  azar  e  as  apostas  “  tornam - se moralmente inaceitáveis quando privam  a pessoa do que lhe é necessário para as  suas necessidades e as de outrem .  A paixão do jogo pode tornar - se uma grave  servidão “ . ( CIC 2413 ) .


Fonte  -  Jornal  O  SÃO  PAULO  - pág 6  - PONTO  DE  VISTA 

Data  - 25 de  setembro  a  1° de  outubro  de  2024  - EDITORIAL 


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