domingo, 31 de agosto de 2025

Quem tem medo de assombração ?






Desde  menino , em terras mineiras , ouvi  histórias de  assombração e outros  contos comseres  imaginários .

No  modo simples de  compreender a  vida , encontramos mecanismos para entender o inexplicável por meio

de imagens e de seres que perambulam pelo mundo, ora  amedrontando , ora  auxiliando o  ser humano .


Quando chega o mês  de  agosto essas histórias reaparecem  com  mais  força . Quem vai explicar o porquê do misticismo desse mês ?  O  certo é  que em agosto celebramos o Dia do  Folclore , recuperando essas histórias , contos , adivinhas , costumes e  tradições que enchem  a  vida  e as  casas de nosso povo . A palavra folclore tem origem inglesa e quer dizer justamente isso : conhecimentos  populares ! 


O  que  é  Folclore ?


Trocando em miúdos , folclore  é  o conjunto de todas  as tradições , lendas  e crenças de um país .O folclore pode ser percebido na alimentação , linguagem , artesanato, religiosidade e  vestimentas de uma nação . No caso do Brasil , o folclore foi resultado da união das culturas a  partir da mistura de  três  povos  : portugueses , negros  e  índios , o que faz da  tradição  brasileira é uma  complexa  expressão  de  sons , cores , formas e  sabores .


Todo esse conjunto de  valores é o modo que um povo tem para compreender o mundo em que vive . Conhe-cendo o  folclore de  um  país , podemos  compreender  o seu povo . Para que  um costume  seja  considerado  folclórico é preciso que seja  praticado por um grande número de  pessoas e que também tenha  origem anônima .


Por exemplo : quem nunca ouviu  falar do  saci - pererê ou do  boi - da - cara - preta  ?  Ou quem nunca brincou de  boi - bumbá ?  Estas e outras experiências  culturais fazem  parte  do  folclore  brasileiro . Por  isso , quando recordo as  estórias que ouvi de meus  tios e  tias na infância me  sinto  feliz  em  ter conhecido  esse  mundo  encantado  e  misterioso que raramente  poderíamos  encontrar nos livros .


Também me  sinto  plenamente  brasileiro  em saber  que  brinquei com  cantigas  de  roda , aprendi  trovas  e  adivinhas e até mesmo tive que  conviver com  costumes  religiosos que eram mais folclóricos  que cristãos ,como o costume de  guardar  ramos bentos do domingo de ramos para queimar  em dias de chuva forte . Que  mal  há  nisso ? Nenhum certamente. Aliás , sinto  pena das  novas  gerações que , envolvidas com  centenas de  novas  tecnologias , não mais  recebem a  beleza  dessas tradições . Qual  o  menino  ou  menina que hoje

senta  ao lado  de  seu pai  ou  mãe , avô  ou  avó  para  ouvir  a  triste  história  do negrinho do pastoreio  ou  as  divertidas  confusões  de  Pedro  Malasarte ?  


O  valor  do  Folclore 


Talvez eu pareça saudosista quando  escrevo estas  coisas . Mas não me  sinto assim . Hoje, quando preciso  imaginar  coisas que  enriqueçam  meu  trabalho e  minha  criatividade , eu mergulho  nessas  lembranças  e  descubro que  tudo  o que  hoje  carrego comigo é  fruto dessa  maravilhosa  teia  de  recordações que vivem  dentro de mim . Hoje , entendo  que o folclore nada mais  é  que o  colorido  que  me  faz  brasileiro , a colcha  de  retalhos culturais que  me  aquece e  dá  sabor  a  minha  vida .


Certamente , não tenho mais  medo do  lobisomem ou do  curupira , mas  sem eles eu não teria  tido a oportu-nidade  de  chamar minha  mãe para  ficar ao meu  lado de  noite , nas horas de  solidão . Talvez eu não  tenha mais o  costume de  pegar  florzinhas colocadas ao lado da  imagem  do Cristo Morto no andor da sexta - feira santa , mas aquelas que outrora eu peguei  ainda repousam  silenciosas entre  as  páginas  da  minha  Bíblia e me  trazem um  gostinho da  inocência  pueril .


Gosto  das  manifestações folclóricas , valorizo  as expressões  populares  de  meu povo  e tenho  certeza de que  uma  vida  bem  vivida não pode prescindir  desse gosto amargo  e doce  que acompanha  a vida  cultural do  povo  brasileiro . Que  venham os  novos  heróis e  novos  vilões , mas não  roubamos  de  nossas  crianças  o  direito de  aprender a cantar Ciranda , Cirandinha  e de  ter  medo do  Bicho  Papão .

 

Fonte  -  Revista  de  Aparecida  - Juventude  - pág  7

Pe. Evaldo  César  de  Souza  , C.Ss.R .   - Diretor  de Produção  - TV  Aparecida

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