terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A dona da beleza eterna



Mito  da  Rainha  de  Sabá  sobrevive  por  milênios  e  influencia  culturas  

Ninguém sabe exatamente como ela se parecia ou vivia. Mas as histórias de sua beleza e seu poder impregnaram culturas e venceram séculos. Passados quase três milênios dos primeiros relatos sobre a Rainha de Sabá, ela ainda influencia mulheres no Oriente Médio e permanece viva no imaginário ocidental. Foi o fascínio pela força do mito e de suas raízes na História que levaram a arqueóloga e historiadora Fernanda de Camargo-Moro, uma especialista nas rotas do incenso e das especiarias e consultora da Unesco, a ir ao Iêmen em busca da rainha . O Iêmen , a antiga Arábia do Sul , é apontado por Fernanda como a provável d origem do mito . Coração da rota secular do incenso , o Iêmen é a terra onde a rainha ainda inspira as mulheres. O resultado desse trabalho está em “As caravanas da Lua “ ( Ed. Record ).  A seguir, Fernanda fala de suas pesquisas e da permanência de um personagem que mistura ficção e realidade .


- MITO  E  REALIDADE:

“Tudo leva a crer que houve uma rainha de grande personalidade que teria vivido no país de Sabá, ao sul da Arábia . Ela é citada em diversos documentos antigos . Eles mencionam não só os rinos da Arábia do Sul , os chamados Reinos Caravaneiros , mas a existência de rainhas. Foi achado num sítio arqueológico um texto que demonstra a existência de uma rainha exatamente ali. Esse documento foi encontrado em Jawl, na parte oriental  do Iêmen. Eu cheguei a ver o texto. A rainha teria vivido na Arábia do Sul, atual Iêmen

-INCENSO :

Sabá existiu e é citado em textos da Mesopotâmia ( Inscrições em tabletes de argila ) e do Egito . Ficava no atual Iêmen e ficou famoso por sua imensa riqueza oriunda do comércio do incenso , arômatas e produtos indianos , que chegava através dos portos de Mukala e Qana W. Os produtos eram levados por caravanas que atravessavam desertos e seguiam para Egito , Palestina , Síria. Sabe-se que Sabá foi governado por uma mulher. O número de rainhas na Arábia do Sul foi muito grande. 

- NOMES :

A figura majestosa da Rainha de Sabá aparece com vivacidade nas chamadas religiões do livro ( Judaísmo , Cristianismo e Islamismo ), e na cultura laica. Ela é a rainha que contracena com Salomão na Bíblia e no Alcorão. É a Rainha do Meio Dia ou Rainha do Sul no Novo Testamento . Para os etíopes , é Makeda. Mas é, sobretudo, a incrível Bilqis da tradição árabe, viva da Antiguidade aos nossos dias. São incontáveis os relatos , as poesias e as músicas sobre Bilqis" . 

- FORÇA  MILENAR :

"A Rainha de Sabá é o mais antigo mito de uma mulher que não era divindade. Forte, bela , reinou sobre terras importantes por séculos . Se acredita que as histórias datam dos séculos IX ou X a.C . Mas acho que o século VIII é o mais provável . O mito persiste. No Iêmen ela é um dos baluartes da projeção da atual mulher. Ela inspira o movimento de emancipação da mulher iemenita. Surpreendentemente , também é considerada a mulher ideal pelos beduínos nômades enas aldeias pesqueiras orientais . Ela permanece no mundo inteiro. Além do Oriente Médio e África , há histórias obre a rainha na Europa, na Índia e na China " . 

Do  romance  com  Salomão  à  política  etíope 

Personagem  citado  na  Bíblia  e no  Alcorão tem  muitas  interpretações 

- A Rainha de Sabá passeia pela História para atender aos mais diferentes propósitos . Ela está na Bíblia , no Novo Testamento , no Alcorão , na história da Etiópia , e em tradições judaicas. A arqueologia indica sua origem em algum momento entre os séculos X a.C e VIII a.C . Na Bíblia , a riquíssima rainha ( anônima ) do reino de Sabá ouve falar da grande sabedoria do rei Salomão de Israel e resolve visitá-lo e presenteá-lo. Ambos ficam mutuamente impressionados. O Cântico dos Cânticos tem trechos interpretados por alguns como indicações de um romance entre Salomão e a rainha. No Testamento , os evangelhos de Mateus e Lucas mencionam a Rainha do Sul , indicada por Jesus para julgar, com Ninevites , os contemporâneos que o rejeitaram . 

O historiador judeu Flávio Josefo destaca sua paixão por aprender e a chama de Nikaule . Ainda na tradição da judaica , ela , por vezes , é representada com pés de cabra. O Alcorão não menciona a rainha pelo nome , embora fontes árabes a chamem de Balqis . O relato é semelhante ao da  Bíblia . A figura da rainha é situada por fontes árabes quase sempre no atual Iêmen , mas há historiadores que discordam e digam que ela é originária do noroeste da Arábia. Há muitos relatos sobre a Rainha de Sabá na Etiópia , país que clama ser a sua pátria. Porém, lá o mito tem fortes raízes políticas, já que a família real etíope alega ser descendente direta de um suposto filho da rainha com Salomão. Na Etiópia, ela é conhecida como Makeda. No Ocidente, a mítica rainha inspira artistas desde a idade Média. Está ainda em peças de teatro , óperas , balés , filmes e livros . 

- EM  BUSCA  DE  UM  ROSTO :

"Há versões de que seria negra , como etíope , ou morena , como árabe. Acho que seria morena, parecida com as iemenitas. É preciso lembrar que a história da Rainha de Sabá foi levada para a Etiópia pelos árabes do sul da península. A documentação arqueológica oriunda da antiga Arábia do Sul demonstra que a rainha ou seu mito teriam se originado ali". 

- SOBERANIA  DA  BELEZA : 

"As descrições e a iconografia a fizeram linda. A arqueologia nos revela a pequenina e charmosa Maryan, uma figurinha linda de alabastro, porém ela não seria a Rainha de Sabá , e sim um protótipo anterior da figura feminina da região. Mesmo as citações de que teria pés de cabra não conseguiram obscurecer sua beleza. As mulheres e os homens do Iêmen a consideram a beleza perfeita . Chamar alguém de Rainha de Sabá e o maior elogio" . 

- SABEDORIA : 

"O mito da Rainha de Sabá tem muito a ensinar . Era persistente , sábia , responsável e, ao mesmo tempo, romântica. Antigos textos indicam que nos reinos da península arábica as mulheres não sofriam os cerceamentos vistos em outros povos do Oriente.
Hoje,  o  mito  é  inspiração  para  a  emancipação  da  mulher  do  Iêmen " . 

Fonte   -  Jornal    -  O  GLOBO  -    pág 44    -   CIÊNCIA   -  HISTÓRIA 
Sábado , 24 de março de  2007            -         ANA  LUCIA  AZEVEDO 

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