terça-feira, 11 de novembro de 2025

Ary , meu Ary brasileiro







Documentário  de  André  Weller combina  imagens raras e dramatizações para recontar a  trajetória  do  compositor  de  ‘  Aquarela  do Brasil ‘ 

Ary  Barroso  já  era  um compositor consagrado em 1939 quando , numa  tarde  chuvosa em que se viu preso em casa ,começou a experimentar os  acordes do piano . A  melodia e  letra sairiam prontas em cerca  de  dez minutos  e  o  mineiro de Ubá acabava de criar “  Aquarela  do  Brasil  “ , uma  espécie de  “ Rhapsody  in  Blue  “ , de George  Gershwin  ( 1898 - 1937 ) , só que (  muito brasileira  ) .Essa é uma das histórias trazidas  à tela em “ Ary “ , documentário  de  André  Weller que fez sua estreia  mundial em  concorrida     sessão  no último domingo no  Festival do  Rio .

A  genialidade criativa de  Ary Barroso ( 1903 - 1964 ) ,um dos pilares fundamentais da música  brasileira , e sua  trajetória  artística e  pessoal é  apresentada  numa  narrativa que  mescla  imagens de  arquivo  do  músico ,compositor  e  radialista com  algumas dramatizações .Condu- zido  pela voz marcante  de  Lima  Duarte  ,que  empresta  sua interpretação  para  dar vida aos  próprios textos  e  entrevistas de  Ary  Barroso , o  documentário  é  costurado  por  canções  como  “ no  Rancho  Fundo “  (  parceria  com Lamartine  Babo ) , “ Baixa  do  Sapateiro “  e  “ Camisa Amarela  e  outros  marcos  de  brasilidade , além da própria   “ Aquarela  do Brasil “ , que  levaria  Ary  à  fama em  Hollywood e uma  indicação ao  Oscar , graças  à trilha sonora que compôs para “ Alô ,    Amigos “ ( 1942 ) , dos  Estúdios  Disney .

Para muitos , “ Aquarela  do  Brasil “ não passa de um  samba ufanista que serviu de propaganda  à ditadura varguista no Estado  Novo . Mas não  é bem assim .Sua letra destaca a miscigenação racial como elemento central da identidade  brasileira , Versos    como  “ Ô , abre  a  cortina do  passado tira a mãe preta do cerrado ,bota o rei congo no congado “ convidam o país a reconhecer  e  assumir  suas raízes  africanas . Já o verso  “terra  de  samba  e  pandeiro “  levou o compositor   a se  explicar  aos  censores  do temido  DIP  (  Departamento  de  Imprensa  e  Propaganda )  , o  órgão de  censura  de  Vargas . 

A  narrativa em primeira  pessoa  permite  ao  público  acompanhar  a  jornada  de  Ary desde os  primeiros  anos  em  Minas Gerais  até  a  consagração no  Rio de  Janeiro , incluindo o período  em que  ganhou a vida  como  pianista no  Cine  Íris  e no  Teatro  Carlos  Gomes  executando  trilhas de acompanhamento  para  filmes do cinema mudo. Foi a maneira  que encontrou  para se  manter depois  que o dinheiro que ganhou da família para se cursar  Direito  na capital Federal se  esvaiu .



A  pesquisa de arquivo realizada pela produção revela  material  inédito  de valor enorme 
histórico, incluindo registros  do  Museu  da  Imagem  e  do  Som da  Paramount  e dos  próprios  arquivos  Disney . Entre as  descobertas  mais  significativas  estão as imagens  dos  encontros  entre  Ary e  Walt  Disney , além de  registros únicos ao  lado de Carmem  Miranda ,documentário  momentos  cruciais  da  expansão da  música  brasileira no cenário internacional . O  filme  também  incorpora  registros  familiares  íntimos , como  cenas  no  sítio  em  Araras  ( R J ) e o casamento  da  filha  Mariúza . 

As  reencenações ,protagonizadas por um elenco que inclui  Dira Paes , Stepan Nercessian,  Leo  Jaime e  Alan  Rocha , revisitam  momentos como o  famoso  Calouros  em  Desfile nos quais o  compositor revelou talentos  como  Luiz  Gonzaga  e  Elizeth Cardoso , mas  gongou  se  piedade - até com humor  ácido -  os  candidatos  menos  talentos .

Além de  descobridor  de  novos  artistas , Ary foi um  poderoso  formador  de  opinião tanto no que se  relacionava  quanto ao próprio  futebol - era  torcedor  fanático  do  Flamengo   e  até jogos de  futebol  chegou  a  narrar . 

Cineasta  com trajetória  consolidada  no  documentário  musical  brasileiro  , André  Weller traz para  “ Ary “  a  experiência  acumulada  em obras premiadas como  “ No Tempo  de  Miltinho “ e “ Rubem  Braga “ : Olho  as  Nuvens  Vagabundas “  . A  direção  de fotografia  de Lula Carvalho, profissional renomado  por  trabalhos  em  “ Bingo “ : O  Rei das Manhãs”  e  “ Tropa de  Elite “ , é  um  capítulo  à  parte . “ Ary “   volta  a  ser exibido no  Festival  do  rio  em  sessões  nesta quinta - feira  ( 9 ) , às  13 h 45 , no Cinesystem  Belas Artes  5 , e sábado  ( 11 ) , às 16h  no Cine Santa Teresa .

Fonte  -  Jornal  Correio  da  Manhã  -  pág  4  -  CINEMA   Data  Quinta - feira , 9 de  outubro de 2025   - Por  Affonso  Nunes 


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