domingo, 23 de novembro de 2025

Jorge de Lima , poesia nascida há 90 anos , na mesma Terra de Zumbi






Jorge de  Lima  ,o poeta de  “ O  Grande  Circo  Místico “ , foi lembrado neste mês ,em  que se comemora  90 anos do seu nascimento , enquanto , na  maior parte das vezes , a maioria  das pessoas é  incapaz de  recordar de qualquer  um seus versos . Quanto aosdireitos  autorais , a situação não é muito diferente .Sua  filha , Maria Teresa  Alves Jorge de Lima , disse ter recebido de uma editora , ainda recentemente , apenas  Cr$ 300 , ao passo que  dos  EUA , embora frequentando antologia de poetas  brasileiros ,os  dólares che - gam pontuais .De qualquer forma , apesar dos problemas , Jorge  de  Lima tem uma obra indiscutivelmente  bela , que leva as  universidades a  retomá - la  com  ênfase ,sobretudo agora. Em  Alagoas , está se provendo  seminários conferências . No  Rio , a UFRJ  fez uma exposição , “ Introdução  ao estudo  da  obra de Jorge  de  Lima “ , e  realizou um simpósio sobre a  literatura  alagoana ; Enfim , esforços para que  se leia o maior  autor de  “ Invenção de Orfeu “ . 


Ao  completar  90 anos  de  nascimento - 30  de morte , em  novembro  -  , o poeta  Jorge  Abreu de Lima , autor de “  essa  Nega  Fulô “ , “ Invenção  de Orfeu “ e o  “ Grande Circo  Místico “ , continua como uma figura  relativamente esquecida em sua terra . União  dos  Palmares , que deixou em  1903  e onde ninguém  se lembra que tenha voltado de forma mais demorada . Aliás , com duas grandes usinas , canaviais extensos que atapetam de  verde  os  imensos vales dominados ao  longe pela  legendária  Serra  da  Barriga , onde resistiu o  líder  negro  Zumbi , sua feira nordestina feia e suja .União  tem pouco espaço para a poesia . As  lembranças de  Jorge  de  Lima permanecem  no velho  sobrado onde  nasceu que  está  em  ruínas - e num busto esquecido numa pequena  praça da  cidade .


Em  Maceió - onde residiria aproximadamente  20 anos , até  1930 - mesmo assim com um período de afasta-mento para o concluir o  curso de  Medicina  em  Salvador  e  no  Rio  de Janeiro , um  grupo  de  intelectuais  ligados a  órgãos  acadêmicos  organiza  simpósios e  debates durante o transcorrer deste ano . O objetivo , segundo o professor  Aloysio Galvão  coordenador de Extensão Cultural da  Universidade  Federal de Alagoas é evitar que Jorge de Lima continue  a ser , aqui , um  “ poeta  que  muitos  conhecem de nome , mas de quem ignoram  a  obra “ . 


Jorge  de  Lima , como relata o escritor  Carlos  Moliterno , que na década  de  30 , junto com  outros  jovens  jornalistas e  intelectuais , praticava a cítica literária por intermédio  do  Jornal  Alagoas e  Gazeta de Alagoas não chegou no mesmo modo de viver com o grande momento de essência cultural  de Graciliano de Graciliano Ramos , Lins do Rego , Raquel de Queiroz , Alberto Passos , Guimarães Rosa , Sérgio Buarque de Holanda , Théo Brandão e Paulírio constituíam  uma  intelectualidade cosmopolita  na provinciana  Alagoas .


Jorge  de  Lima havia  partido para o Rio . Na sua biografia , há quem diga que o poeta foi vítima de uma cena de ciúmes . Ele sofreu um atentado a bala na rua do Comércio , quando se dirigia ao Lyceu Alagoano , onde voltara a ensinar,intimado que fora a assumir a cadeira de Literatura e Línguas Latinas por seu amigo Graciliano  Ramos , então diretor da Instrução  Pública  de  Alagoas . Ele deixou Alagoas depois do atentado ,confirma  Carlos Moliterno , mas não corrido , de imediato .


Em sua casa , no bairro do Farol , Moliterno guarda algumas  relíquias do poeta .Como duas apresentadas à cadeira  de  Literatura , no  Lyceu . A primeira  , “ O  Romance  de Marcel Proust “ ; a outra , “ Todos cantam  sua  Terra “  , e que traz substituto  , “ Considerações  em  torno  do  Modernismo “ , editadas  pela  Casa  Ramalho .





Sob a  tese  a respeito do romance de  Proust ,conta Moliterno que  Jorge de  Lima , surpreendeu  a  banca , que  não conhecia  a obra  do escritor francês .A respeito da intimidade do poeta com  Proust , diz que tudo se deveu uma coincidência . O  médico Jorge  de  Lima foi chamado para atender um piloto de um  avião  francês que fizera    pouso em  Maceió . Quando retornou da consulta , trazia o  livro de  Proust debaixo  do  braço .Depois mandaria buscar outros . Sua  tese terminaria traduzida para o  francês , em 1953 . Já  a tese modernista , relata  Militerno , foi fruto da  influência de  José  Lins  do  Rego , que  aqui  propagava  a  nova  estética . 


Com 71 anos , o jornalista e poeta Jorge Cooper , filho de pai inglês e mãe alagoana , lembra que conheceu Jorge de Lima quando ainda era rapaz . Cooper foi apresentado ao poeta por seu pai : " Ele tinha consultório

médico no centro de Maceió e meu ppai falava que era um grande poeta . Não havia acontecido ainda a Semana da Arte Moderna " . Cooper , poeta também , com passagem pelo parnasianismo e que acabou aderinado à maré modernista , sofreu como Jorge de Lima críticas acirradas em Alagoas , pelo apoio aos principais do Modernismo , encompreendidos pelas " igrejunhas " intelectuais da época .


Ele recorda uma visita feita pelos jovens intelectuais a Jorge de Lima , quando do seu retorno do Rio de

Janeiro . " Tiramos algumas fotos em sua companhia e ele depois dedicou uma poesia a cada um de nós .Mas

não houve qualquer outra aproximação " , conta , lembrando o jeito reservado do poeta .


O professor Moacir Sant'Ana Arquivo Público de Alagoas , conseguiu ,no curso no curso de alguns meses ,

acrescentar novos elementos às obras completas de Jorge de Lima . Por meio de um minuciosos trabalho

que o levou a pesquisar durante longo tempo jornais de vários Estados brasileiros e de Portugal , além de

bibliotecas públicas e particulares , conseguiu colir 45 poesias esquecidas de Jorge de Lima .


Sant ' Ana , tmabém autor de um trabalho bibliográfico ´no qual reuniu um total de 80 tíitulos - obras do poeta em português , traduções e livros sobre Jorge de Lima - , juntou essas poesias em um volume . Trata - se de 37 poemas da fase modernista e oito do período imediatamente anterior , publicados em 19 diferentes periódicos .Todo esse material está servindo de base aos seminários e debates sobre a obra do poeta que se realizam em Alagoas este mês .


Aliás , sobre o seminário , o professor Aloysio Galvão conta que f oi muito difícil de conseguir recursos financeiros para montá - lo . Até mesmo porque a deficitária Universidade Federal de Alagoas resolveu trazer participantes , como a professora , Luciana Stegagno Picchio , da Universidade de Roma . O jeito foi apelar para o setor privado , observa .


Com 52 mil habitantes - 20 mil na sede do município - , União dos Palmares é hoje muito pouco diferente dos anos em que viveu o poeta Jorge de Lima . Cresceram os canaviais ,porque se consolidaram e ampliaram as usinas , motivo de lamento poético de Jorge de Lima , saudoso dos velhos engenhos banguês decadentes .


A cidade cresceu na periferia , expandindo - se por ruas esburacadas e desalinhavadas ,onde moram os pobres.

O velho sobrado ,onde nasceu o poeta - apesar do completo abandono - continua como o mais importante prédio

do centro da cidade , de onde , nos sábados , se espraia a feira , paisagem tão cara a Jorge de Lima .Se hoje ele chegasse à sacada do casarão , apenas se surpreenderia com a ausência da velha catedral - por ele cantada

em versos - , que desmoronou , sendo substituída por uma nova , de estilo " modernoso " .


A professora Salomé da Rocha Barros , 65 anos , que ,lembra pelo aspecto físico e voz autoritária das velhas matrarcas das casas grandes nordestinas , é a única a falar com segurança sobre Jorge de Lima na cidade .Ela o conheceu quando tinha 10 anos , levada pelo pai a seu escritório , na rua do Comércio , em Maceió .


Depois , ao que lembra , ele estava " posando para uma foto diante da estação de União , quando , em campanha política , no intervalo da para do trem ,mas nunca esteve aqui de forma demorada " . Dona Salomé da Rocha Barros garante que o poeta não gostava de sua terra . " Se gostasse , teria vindo mias vezes , o que

não fez " .


Ela , gosta mais das obras de Jorge de Lima do que das imporessões que dele teve nos contatos pessoais , e justifica . " Era mulato e tinha complexo po isso , razão pela qual era muito fechado , embora fosse fino ,

educado .Além disso ,tinha uma atitude acentuada ,que procurava esconder com o uso permanente de chapéu".




E dona Salomé acha que o estigma da cor perseguiu Jorge de Lima .Afinal ,União é uma cidade onde subsiste

um racismo latente . A cidade ainda não se libertou dos seuss fantasmas , mesmo após séculos do extermínio

físico dos milhares de negros da República dos Palmares Na cidade não há negros , " há cafuzos , mestiços , mulatos " , observa a professora , sem saber explicar a forma convinvente onde foram parar os moradores dos quilombos que junto com a religiosidade e a expressiva natureza local ,tanto sensibilizaram Jorge de Lima em sua obra afora .


Fonte - Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - pág 35

Data - 24 de abril de 1983 - STEFANE LINS Correspondente em Maceió




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