Jorge de Lima ,o poeta de “ O Grande Circo Místico “ , foi lembrado neste mês ,em que se comemora 90 anos do seu nascimento , enquanto , na maior parte das vezes , a maioria das pessoas é incapaz de recordar de qualquer um seus versos . Quanto aosdireitos autorais , a situação não é muito diferente .Sua filha , Maria Teresa Alves Jorge de Lima , disse ter recebido de uma editora , ainda recentemente , apenas Cr$ 300 , ao passo que dos EUA , embora frequentando antologia de poetas brasileiros ,os dólares che - gam pontuais .De qualquer forma , apesar dos problemas , Jorge de Lima tem uma obra indiscutivelmente bela , que leva as universidades a retomá - la com ênfase ,sobretudo agora. Em Alagoas , está se provendo seminários conferências . No Rio , a UFRJ fez uma exposição , “ Introdução ao estudo da obra de Jorge de Lima “ , e realizou um simpósio sobre a literatura alagoana ; Enfim , esforços para que se leia o maior autor de “ Invenção de Orfeu “ .
Ao completar 90 anos de nascimento - 30 de morte , em novembro - , o poeta Jorge Abreu de Lima , autor de “ essa Nega Fulô “ , “ Invenção de Orfeu “ e o “ Grande Circo Místico “ , continua como uma figura relativamente esquecida em sua terra . União dos Palmares , que deixou em 1903 e onde ninguém se lembra que tenha voltado de forma mais demorada . Aliás , com duas grandes usinas , canaviais extensos que atapetam de verde os imensos vales dominados ao longe pela legendária Serra da Barriga , onde resistiu o líder negro Zumbi , sua feira nordestina feia e suja .União tem pouco espaço para a poesia . As lembranças de Jorge de Lima permanecem no velho sobrado onde nasceu que está em ruínas - e num busto esquecido numa pequena praça da cidade .
Em Maceió - onde residiria aproximadamente 20 anos , até 1930 - mesmo assim com um período de afasta-mento para o concluir o curso de Medicina em Salvador e no Rio de Janeiro , um grupo de intelectuais ligados a órgãos acadêmicos organiza simpósios e debates durante o transcorrer deste ano . O objetivo , segundo o professor Aloysio Galvão coordenador de Extensão Cultural da Universidade Federal de Alagoas é evitar que Jorge de Lima continue a ser , aqui , um “ poeta que muitos conhecem de nome , mas de quem ignoram a obra “ .
Jorge de Lima , como relata o escritor Carlos Moliterno , que na década de 30 , junto com outros jovens jornalistas e intelectuais , praticava a cítica literária por intermédio do Jornal Alagoas e Gazeta de Alagoas não chegou no mesmo modo de viver com o grande momento de essência cultural de Graciliano de Graciliano Ramos , Lins do Rego , Raquel de Queiroz , Alberto Passos , Guimarães Rosa , Sérgio Buarque de Holanda , Théo Brandão e Paulírio constituíam uma intelectualidade cosmopolita na provinciana Alagoas .
Jorge de Lima havia partido para o Rio . Na sua biografia , há quem diga que o poeta foi vítima de uma cena de ciúmes . Ele sofreu um atentado a bala na rua do Comércio , quando se dirigia ao Lyceu Alagoano , onde voltara a ensinar,intimado que fora a assumir a cadeira de Literatura e Línguas Latinas por seu amigo Graciliano Ramos , então diretor da Instrução Pública de Alagoas . Ele deixou Alagoas depois do atentado ,confirma Carlos Moliterno , mas não corrido , de imediato .
Em sua casa , no bairro do Farol , Moliterno guarda algumas relíquias do poeta .Como duas apresentadas à cadeira de Literatura , no Lyceu . A primeira , “ O Romance de Marcel Proust “ ; a outra , “ Todos cantam sua Terra “ , e que traz substituto , “ Considerações em torno do Modernismo “ , editadas pela Casa Ramalho .
Sob a tese a respeito do romance de Proust ,conta Moliterno que Jorge de Lima , surpreendeu a banca , que não conhecia a obra do escritor francês .A respeito da intimidade do poeta com Proust , diz que tudo se deveu uma coincidência . O médico Jorge de Lima foi chamado para atender um piloto de um avião francês que fizera pouso em Maceió . Quando retornou da consulta , trazia o livro de Proust debaixo do braço .Depois mandaria buscar outros . Sua tese terminaria traduzida para o francês , em 1953 . Já a tese modernista , relata Militerno , foi fruto da influência de José Lins do Rego , que aqui propagava a nova estética .
Com 71 anos , o jornalista e poeta Jorge Cooper , filho de pai inglês e mãe alagoana , lembra que conheceu Jorge de Lima quando ainda era rapaz . Cooper foi apresentado ao poeta por seu pai : " Ele tinha consultório
médico no centro de Maceió e meu ppai falava que era um grande poeta . Não havia acontecido ainda a Semana da Arte Moderna " . Cooper , poeta também , com passagem pelo parnasianismo e que acabou aderinado à maré modernista , sofreu como Jorge de Lima críticas acirradas em Alagoas , pelo apoio aos principais do Modernismo , encompreendidos pelas " igrejunhas " intelectuais da época .
Ele recorda uma visita feita pelos jovens intelectuais a Jorge de Lima , quando do seu retorno do Rio de
Janeiro . " Tiramos algumas fotos em sua companhia e ele depois dedicou uma poesia a cada um de nós .Mas
não houve qualquer outra aproximação " , conta , lembrando o jeito reservado do poeta .
O professor Moacir Sant'Ana Arquivo Público de Alagoas , conseguiu ,no curso no curso de alguns meses ,
acrescentar novos elementos às obras completas de Jorge de Lima . Por meio de um minuciosos trabalho
que o levou a pesquisar durante longo tempo jornais de vários Estados brasileiros e de Portugal , além de
bibliotecas públicas e particulares , conseguiu colir 45 poesias esquecidas de Jorge de Lima .
Sant ' Ana , tmabém autor de um trabalho bibliográfico ´no qual reuniu um total de 80 tíitulos - obras do poeta em português , traduções e livros sobre Jorge de Lima - , juntou essas poesias em um volume . Trata - se de 37 poemas da fase modernista e oito do período imediatamente anterior , publicados em 19 diferentes periódicos .Todo esse material está servindo de base aos seminários e debates sobre a obra do poeta que se realizam em Alagoas este mês .
Aliás , sobre o seminário , o professor Aloysio Galvão conta que f oi muito difícil de conseguir recursos financeiros para montá - lo . Até mesmo porque a deficitária Universidade Federal de Alagoas resolveu trazer participantes , como a professora , Luciana Stegagno Picchio , da Universidade de Roma . O jeito foi apelar para o setor privado , observa .
Com 52 mil habitantes - 20 mil na sede do município - , União dos Palmares é hoje muito pouco diferente dos anos em que viveu o poeta Jorge de Lima . Cresceram os canaviais ,porque se consolidaram e ampliaram as usinas , motivo de lamento poético de Jorge de Lima , saudoso dos velhos engenhos banguês decadentes .
A cidade cresceu na periferia , expandindo - se por ruas esburacadas e desalinhavadas ,onde moram os pobres.
O velho sobrado ,onde nasceu o poeta - apesar do completo abandono - continua como o mais importante prédio
do centro da cidade , de onde , nos sábados , se espraia a feira , paisagem tão cara a Jorge de Lima .Se hoje ele chegasse à sacada do casarão , apenas se surpreenderia com a ausência da velha catedral - por ele cantada
em versos - , que desmoronou , sendo substituída por uma nova , de estilo " modernoso " .
A professora Salomé da Rocha Barros , 65 anos , que ,lembra pelo aspecto físico e voz autoritária das velhas matrarcas das casas grandes nordestinas , é a única a falar com segurança sobre Jorge de Lima na cidade .Ela o conheceu quando tinha 10 anos , levada pelo pai a seu escritório , na rua do Comércio , em Maceió .
Depois , ao que lembra , ele estava " posando para uma foto diante da estação de União , quando , em campanha política , no intervalo da para do trem ,mas nunca esteve aqui de forma demorada " . Dona Salomé da Rocha Barros garante que o poeta não gostava de sua terra . " Se gostasse , teria vindo mias vezes , o que
não fez " .
Ela , gosta mais das obras de Jorge de Lima do que das imporessões que dele teve nos contatos pessoais , e justifica . " Era mulato e tinha complexo po isso , razão pela qual era muito fechado , embora fosse fino ,
educado .Além disso ,tinha uma atitude acentuada ,que procurava esconder com o uso permanente de chapéu".
um racismo latente . A cidade ainda não se libertou dos seuss fantasmas , mesmo após séculos do extermínio
físico dos milhares de negros da República dos Palmares Na cidade não há negros , " há cafuzos , mestiços , mulatos " , observa a professora , sem saber explicar a forma convinvente onde foram parar os moradores dos quilombos que junto com a religiosidade e a expressiva natureza local ,tanto sensibilizaram Jorge de Lima em sua obra afora .
Fonte - Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - pág 35
Data - 24 de abril de 1983 - STEFANE LINS Correspondente em Maceió
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