domingo, 16 de novembro de 2025

" Dilexi te " : o amor de Deus pelo pobre e a missão dos cristãos

 





Fé  e  cidadania


Com sua primeira exortação  apostólica  ,Leão XIV  confirma a  continuidade da longa  história que associou os pobres  à  Boa - Nova  cristã  ,desde  suas  origens . Boa parte  é  dedicado à  recordação de  como  o  amor  aos  pobres já  está  presente no  Antigo Testamento , na  vida  de Jesus e nas  primeiras  comunidades cristãs , chegando , em uma corrente  ininterrupta  , até nossos  dias . Com isso , o  Pontífice deixa  claro que a  “ opção preferencial  pelos  pobres “ não é um modismo ideológico de certo contexto eclesial , mas sim  um  elemento  essencial da  vida  cristã .








‘ Dilexi  te ‘  : o  amor  de  Deus  pelo  pobre  e a  missão  dos  cristãos 


Superando  o ranço de polêmicas  ideológicas que remetem ao  século  XX , encontramos um texto exigente ,mas carregado de grande ternura , que nos convida  a nos identificarmos  cada vez  mais  com  o  amor  de  Cristo  pela  humanidade ferida , seja como  coletividade  em geral, seja como pessoas  específicas .Existe um vínculo fundamental  entre esta  exortação  e  Dilexit  nos , a  última encíclica do Papa Francisco , que é  um comovente    retrato  do amor  de  Deus , expresso na imagem do coração de Jesus  aberto em  favor   de cada um de nós . É este funda- mento último , o amor de Deus que  estende  a  mão a  toda  humanidade e a cada  ser humano em particular , que motiva o compromisso cristão com  os  pobres , sem qualquer conotação  ideológica ou  moralista .Contudo ,permanece  falha e ilusória  toda declaração de  amor a Deus  que  não se manifeste também como amor aos  pobres , seja por comodismo  pessoal , seja por preconceitos  ideológicos  ou mesmo  um  espiritualismo  desencarnado . 


O texto apresenta inúmeras citações entre o amar a  Deus  e o  amor  ao  próximo nos Evan -gelhos . Por exemplo :  “  Sempre  que  fizestes  isto a  um  destes irmãos mais pequeninos ,

a mim mesmo o fizestes “ ( Mt  25 , 40 , em DT 5 ) ; “ No  início da  sua  vida  pública , Jesus  foi expulso De Nazaré depois de ter  anunciado  na sinagoga  que se cumpria  Nele o ano da graça no qual os  pobres se  rejubilam  “  ( cf.Lc 4 ,14 , em DT 27 ) . 






O  Papa  também lembra este  amor  ao  longo  da   história da  Igreja : São Lourenço [ … ]

 ao ser obrigado  pelas autoridades  romanas a  entregar os tesouros da Igreja , trouxe consigo , no dia seguinte , os pobres .Quando lhe perguntaram onde estavam os tesouros que prometera, mostrou pobres , dizendo  : “ estes  são  os  tesouros  da  Igreja  ‘ . Que melhores  tesouros teria  Cristo do que aqueles nos quais  Ele mesmo disse  que estava? “( DT 38 )  ; “ São Basílio Magno, na sua  Regra , não  via  contradição entre a  vida de  oração  e  recolhimento  dos  monges e a  ação em favor dos  pobres [ … ] . Os monges ,mesmo depois de terem deixado tudo para abraçar a  pobreza ,deveriam  ajudar os  mais pobres  “ ( DT 53 ) ; “ No  século  XIII [ … ] o  Espírito Santo suscitou na  Igreja  um novo tipo de  consagração  : as  Ordens  mendicantes  [ … ] como os  Franciscanos , os  Dominicanos , os Agostinianos e os  Carmelitas  [ …]  O  testemunho  dos  mendicantes desafiava  tanto a opulência clerical  quanto a frieza da sociedade urbana “ ( DT 63 ) .


Os  exemplos se repetem ao  longo  da  história  ,chegando a  Santa  Teresa  de  Calcutá e Santa  Dulce  dos  Pobres   ( DT 77 , 78 )   Algumas  citações dos  papas  recentes poderão até  surpre -ender , por sua força e  radicalidade : “ São Paulo  VI , na Audiência Geral de  11 de  novembro de  1964 , sublinhou que o pobre é representante de  Cristo  “ ( DT 85 ) ; “  São  João  Paulo  II recor-dava - nos de que  ‘ há  pessoa dos  pobres uma especial  presença  de Cristo  ,obrigando a Igreja  a uma  opção  preferencial por  ele  ‘ ( Novo  millennio ineunte ,  NMI 49 ) “ ( DT 79 ) .


Nos  tempos  atuais , contudo , o aspecto mais  polêmico do  amor aos  pobres  é a necessidade de ir além de uma postura apenas assistencialista  ,assumindo que ela implica programas efetivos de  promoção humana e , inclusive , em  mudanças , político - econômicas estruturais . Leão  XIV  não se  detém diante destes aspectos . A  exortação     é  firme em afirmar  : “ A  caridade  é  uma  força  que muda  a  realidade , um autêntico  poder histórico de transformação . Esta é a fonte da qual deve nutrir - se todo o compromisso para resolver as causas estruturais da  pobreza  e para  fazer  com  urgência  “ ( DT 91 ) ; Devemos  empenhar-nos cada vez mais em resolver as causas estruturais da pobreza “ ( DT 94 ) ; As estruturas de injustiça devem se reconhecidas e destruídas com a força   do  bem , por  meio da  mudança de  mentalidades  e , também , com a  ajuda  da  ciência  e  da  técnica  , por meio  do  desenvolvimento  de  políticas  eficazes  na  transformação     da  sociedade “ ( DT 97 ) .


Fonte  -  Jornal  O  SÃO  PAULO  -   CADERNO  ESPECIAL  - ( capa ) 

Data  -  15  de  outubro  de  2025  - Francisco  Borba  Ribeiro  Neto *


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