Com sua primeira exortação apostólica ,Leão XIV confirma a continuidade da longa história que associou os pobres à Boa - Nova cristã ,desde suas origens . Boa parte é dedicado à recordação de como o amor aos pobres já está presente no Antigo Testamento , na vida de Jesus e nas primeiras comunidades cristãs , chegando , em uma corrente ininterrupta , até nossos dias . Com isso , o Pontífice deixa claro que a “ opção preferencial pelos pobres “ não é um modismo ideológico de certo contexto eclesial , mas sim um elemento essencial da vida cristã .
‘ Dilexi te ‘ : o amor de Deus pelo pobre e a missão dos cristãos
Superando o ranço de polêmicas ideológicas que remetem ao século XX , encontramos um texto exigente ,mas carregado de grande ternura , que nos convida a nos identificarmos cada vez mais com o amor de Cristo pela humanidade ferida , seja como coletividade em geral, seja como pessoas específicas .Existe um vínculo fundamental entre esta exortação e Dilexit nos , a última encíclica do Papa Francisco , que é um comovente retrato do amor de Deus , expresso na imagem do coração de Jesus aberto em favor de cada um de nós . É este funda- mento último , o amor de Deus que estende a mão a toda humanidade e a cada ser humano em particular , que motiva o compromisso cristão com os pobres , sem qualquer conotação ideológica ou moralista .Contudo ,permanece falha e ilusória toda declaração de amor a Deus que não se manifeste também como amor aos pobres , seja por comodismo pessoal , seja por preconceitos ideológicos ou mesmo um espiritualismo desencarnado .
O texto apresenta inúmeras citações entre o amar a Deus e o amor ao próximo nos Evan -gelhos . Por exemplo : “ Sempre que fizestes isto a um destes irmãos mais pequeninos ,
a mim mesmo o fizestes “ ( Mt 25 , 40 , em DT 5 ) ; “ No início da sua vida pública , Jesus foi expulso De Nazaré depois de ter anunciado na sinagoga que se cumpria Nele o ano da graça no qual os pobres se rejubilam “ ( cf.Lc 4 ,14 , em DT 27 ) .
O Papa também lembra este amor ao longo da história da Igreja : São Lourenço [ … ]
ao ser obrigado pelas autoridades romanas a entregar os tesouros da Igreja , trouxe consigo , no dia seguinte , os pobres .Quando lhe perguntaram onde estavam os tesouros que prometera, mostrou pobres , dizendo : “ estes são os tesouros da Igreja ‘ . Que melhores tesouros teria Cristo do que aqueles nos quais Ele mesmo disse que estava? “( DT 38 ) ; “ São Basílio Magno, na sua Regra , não via contradição entre a vida de oração e recolhimento dos monges e a ação em favor dos pobres [ … ] . Os monges ,mesmo depois de terem deixado tudo para abraçar a pobreza ,deveriam ajudar os mais pobres “ ( DT 53 ) ; “ No século XIII [ … ] o Espírito Santo suscitou na Igreja um novo tipo de consagração : as Ordens mendicantes [ … ] como os Franciscanos , os Dominicanos , os Agostinianos e os Carmelitas [ …] O testemunho dos mendicantes desafiava tanto a opulência clerical quanto a frieza da sociedade urbana “ ( DT 63 ) .
Os exemplos se repetem ao longo da história ,chegando a Santa Teresa de Calcutá e Santa Dulce dos Pobres ( DT 77 , 78 ) Algumas citações dos papas recentes poderão até surpre -ender , por sua força e radicalidade : “ São Paulo VI , na Audiência Geral de 11 de novembro de 1964 , sublinhou que o pobre é representante de Cristo “ ( DT 85 ) ; “ São João Paulo II recor-dava - nos de que ‘ há pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo ,obrigando a Igreja a uma opção preferencial por ele ‘ ( Novo millennio ineunte , NMI 49 ) “ ( DT 79 ) .
Nos tempos atuais , contudo , o aspecto mais polêmico do amor aos pobres é a necessidade de ir além de uma postura apenas assistencialista ,assumindo que ela implica programas efetivos de promoção humana e , inclusive , em mudanças , político - econômicas estruturais . Leão XIV não se detém diante destes aspectos . A exortação é firme em afirmar : “ A caridade é uma força que muda a realidade , um autêntico poder histórico de transformação . Esta é a fonte da qual deve nutrir - se todo o compromisso para resolver as causas estruturais da pobreza e para fazer com urgência “ ( DT 91 ) ; Devemos empenhar-nos cada vez mais em resolver as causas estruturais da pobreza “ ( DT 94 ) ; As estruturas de injustiça devem se reconhecidas e destruídas com a força do bem , por meio da mudança de mentalidades e , também , com a ajuda da ciência e da técnica , por meio do desenvolvimento de políticas eficazes na transformação da sociedade “ ( DT 97 ) .
Fonte - Jornal O SÃO PAULO - CADERNO ESPECIAL - ( capa )
Data - 15 de outubro de 2025 - Francisco Borba Ribeiro Neto *
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